2.10.04

Sobre camarões escondidos e ilhados

Não posso falar pelo resto do país, mas os consumidores baianos parecem estar voltando a consumir em restaurantes à la carte. Mesmo que sejam daqueles que servem só alguns poucos pratos, que ficam semiprontos, em que o consumidor só escolhe os acompanhamentos.

Os restaurantes de refeições fast food estão se proliferando. No shopping Iguatemi, em Salvador, há quatro dessa categoria. Enfileirados, servindo pratos com um certo toque de refinamento. Camarões, filés, frangos, saladas, peixes e massas em diferentes versões.

Os preços não são exorbitantes. Ao menos quando comparados com os dos restaurantes a quilo. As porções são generosas.O preço parece ser um dos motivos por que esses locais de prato-pronto-feito-na-hora estão tendo tanto sucesso.

Não consigo conceber por que certos restaurantes, principalmente vegetarianos, precisam ter o quilo a quase vinte e quatro reais. Ainda que utilizem alguns ingredientes caros ( cogumelos, temperos importados, tofu, etc.) não há justificativa para o preço abusivo. As comidas são feitas de uma vez só, a maior parte dos ingredientes - os vegetais - são mais baratos que as carnes. O resultado é que é possível pedir prato pronto, feito na hora, por preço mais em conta, quando se pensa na quantidade de comida.

Hoje experimentei um escondidinho de camarão, em um dos restaurantes fast food do shopping. Camarões com cebolas, tomates, leite de coco e requeijão cremoso, recoberto por um purê de aipim. Não estava de todo mal, mas não era nenhuma maravilha. Parecia que tinham misturado o camarão aferventado com molho e temperos e jogaram o purê de aipim por cima. O que provavelmente foi feito. Faltava incorporação do sabor ao camarão. Faltava um toque manteiga no purê de aipim.

Em um restaurante sertanejo de Salvador, há um prato chamado "O Sertão vai Virar Mar", que é o camarão ensopado, com leite de coco, rodeado de purê de aipim. A mesma receita do escondidinho, com outra arrumação do prato. O camarão fica no centro, ilhado, esperado para ser salvo por algum garfo providencial.

Há um tempo, a jornalista e mestra Helô Sampaio publicou a receita no jornal A Tarde. Na época ela fazia a coluna Comes e Bebes. Preparei o prato e, modéstia à parte, ficou excepcional. Melhor do que aquele que comi no shopping.

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