O Natal vem e vai, chega e sai. É hora de rever pessoas, de rezar, de confraternizar, de brincar. Algum dia poderei estar distante deste Natal familiar.
Algum dia terei a vizinhança de um frio congelante. Possivelmente terei menos gente ao redor. Certamente sentirei falta do calor. De gente. Mas talvez estarei mais comigo mesmo. E assim, do mesmo modo, estarei contente.
Talvez tenha demorado muito a brincar mais, a me expandir mais, a chegar mais próximo de quem me é próximo. Talvez a mudança tenha me proporcionado a mudança. Aprender a amar ainda mais o que já é tão querido.
Talvez seja mesmo assim a história: um ir-e-vir sem fim. Um pé aqui outro acolá. O sol que brilha aqui, o frio aconchegante em outro lugar.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
25.12.07
24.12.07
Comentários
Com a ausência prolongada dos comentários antigos, ativei os comentários do blogger.com. O resultado está aí. Oba! Já tem gente comentando.
23.12.07
Banquete de casamento
Casamento de uma prima querida. A parte da igreja é sempre menos agradável. Demora para começar, calorão de verão, sermão de padre. Mas, enfim, é o desejo dos noivos e os convidados seguem. A melhor parte é sempre a festa. E que festa.
Vista do Iate Clube
Eu não conhecia o Iate Clube de Ilhéus, fiquei encantado. A noite ajudou, a lua quase cheia prateava o mar calmo sobre o qual o clube está debruçado. Os barcos, as passarelas sobre o mar, a estátua de Netuno, as luzes da cidade. Tudo perfeito.
As mesas dos convidados ficavam debaixo de uma enorme tenda branca. Tudo foi pensado em mínimos detalhes. Havia grande fartura de comida e bebida. Uma mesa só com sushis - e sushiman fazendo a reposição. Outra mesa com pãezinho, queijos, salmão, vinagretes e outras tantas coisas que não consegui nem experimentar. Doces a perder de vista. Também foi servido um prato quente, que não consegui nem experimentar, pois não tinha mais lugar disponível no meu apetite. Pista de dança com DJ. Os convidados ficam ainda mais animados com a distribuição de máscaras, óculos e perucas coloridas, chapéus de plástico, pulseiras fluorescentes. A noiva e o noivo se esbaldaram de dançar. Tomei espumante a noite toda. Show.
Vista do Iate Clube
Eu não conhecia o Iate Clube de Ilhéus, fiquei encantado. A noite ajudou, a lua quase cheia prateava o mar calmo sobre o qual o clube está debruçado. Os barcos, as passarelas sobre o mar, a estátua de Netuno, as luzes da cidade. Tudo perfeito.
As mesas dos convidados ficavam debaixo de uma enorme tenda branca. Tudo foi pensado em mínimos detalhes. Havia grande fartura de comida e bebida. Uma mesa só com sushis - e sushiman fazendo a reposição. Outra mesa com pãezinho, queijos, salmão, vinagretes e outras tantas coisas que não consegui nem experimentar. Doces a perder de vista. Também foi servido um prato quente, que não consegui nem experimentar, pois não tinha mais lugar disponível no meu apetite. Pista de dança com DJ. Os convidados ficam ainda mais animados com a distribuição de máscaras, óculos e perucas coloridas, chapéus de plástico, pulseiras fluorescentes. A noiva e o noivo se esbaldaram de dançar. Tomei espumante a noite toda. Show.
18.12.07
Retrospectiva
Inspirado por outros blogs, eis que decido fazer uma retrospectiva de 2007. Não sou muito de ficar lembrando nem registrando o que passou. Nem ao menos lembro direito o que fiz ou deixei de fazer. Sempre tenho em vista o que virá. Sou muito disperso para ficar anotando filmes, livros e acontecimentos da vida social. Leio um livro e tempos depois mal consigo lembrar dos fatos e personagens.
Mesmo assim, em resumo, 2007 foi um ano especial. Um ano de grandes mudanças. Desfiz o meu apartamento, pedi afastamento do trabalho, joguei tudo para cima e fui viajar. Fui buscar um novo cotidiano, uma vez que o antigo estava me sufocando. Quando a vida chega à rotina da contagem dos minutos de uma trajetória que se repete a cada novo dia, é hora de mudar. Achei uma coragem que pensava que não tinha. Às vezes, durante alguns dias difíceis, tinha a impressão que tateava no escuro e que tudo com que podia contar era uma gigantesca vontade de mudança e de liberdade. Às vezes, em momentos nebulosos, tudo com que a gente conta é simplesmente a esperança.
Parti em busca de um sonho e continuo lutando por ele. A espera não é sempre agradável, às vezes é torturante. Mas tem fundamento. Tudo tem um sentido, nada que ocorre é em vão, nada é atraso. O tempo é mais um aliado para que os tijolos se encaixem. É um novo ciclo que se inicia, tenho certeza disso. A roda da fortuna, segundo o tarô, mais do que riqueza, é o início de nova etapa.
Mesmo assim, em resumo, 2007 foi um ano especial. Um ano de grandes mudanças. Desfiz o meu apartamento, pedi afastamento do trabalho, joguei tudo para cima e fui viajar. Fui buscar um novo cotidiano, uma vez que o antigo estava me sufocando. Quando a vida chega à rotina da contagem dos minutos de uma trajetória que se repete a cada novo dia, é hora de mudar. Achei uma coragem que pensava que não tinha. Às vezes, durante alguns dias difíceis, tinha a impressão que tateava no escuro e que tudo com que podia contar era uma gigantesca vontade de mudança e de liberdade. Às vezes, em momentos nebulosos, tudo com que a gente conta é simplesmente a esperança.
Parti em busca de um sonho e continuo lutando por ele. A espera não é sempre agradável, às vezes é torturante. Mas tem fundamento. Tudo tem um sentido, nada que ocorre é em vão, nada é atraso. O tempo é mais um aliado para que os tijolos se encaixem. É um novo ciclo que se inicia, tenho certeza disso. A roda da fortuna, segundo o tarô, mais do que riqueza, é o início de nova etapa.
16.12.07
Bem próximo do mar
Fim de semana em frente ao mar. Na praia do São Miguel, no litoral norte de Ilhéus. As obras do porto da cidade alteraram a configuração das praias. Na região central a praia cresceu. Na região do São Miguel, próxima da desembocadura do Rio Almada, a praia diminuiu. Pior, a maré avança sem parar. Já consumiu casas e terrenos que ficavam na beirada do mar. Foram construídos alguns cais de pedra para tentar conter a fúria das águas, mas não foi suficiente. Comenta-se que houve desvio de parte do dinheiro público destinado à construção dessas proteções de pedras que caminham mar adentro. Ficaram menores do que deveriam ser. A população protesta, mas ninguém se responsabiliza pelo patrimônio privado que já foi consumido. O governo promete novas obras para melhorar a situação.
Esquecendo dos problemas, a visão e proximidade do mar durante o final de semana encheram os meus olhos. As tardes, regadas de barulhos de ir e vir de ondas, foram deliciosas para a leitura agradável. Um bem-vindo intervalo na navegação na internet. Que quebro agora.
Esquecendo dos problemas, a visão e proximidade do mar durante o final de semana encheram os meus olhos. As tardes, regadas de barulhos de ir e vir de ondas, foram deliciosas para a leitura agradável. Um bem-vindo intervalo na navegação na internet. Que quebro agora.
14.12.07
Na pele cansada
Tem gente que nasce jovem, mas não tira a velhice de dentro do peito. Tem gente que fica velho, mas não aprende a respirar. Tem gente que fica velho, mas não fica livre dos seus muros. Tem gente que fica velho, mas esquece o que aprendeu no caminho de casa. Tem gente que fica velho, sofre, mas parece que não sofreu o suficiente. Tem gente que fica velho, e ainda quer sofrer mais. Tem gente que fica velho, mas insiste em manter a juventude rebelde. Tem gente que fica velho, e cada vez mais velho, sem cessar por um só momento. Sem se permitir rejuvenescer. Nunca. A juventude é boa. É a alegria, é a energia, é a vitalidade. A juventude é ruim quando a pessoa não aceita se dobrar a nada. Quando não reconhece nada, quando não sabe transformar e relativizar. Tem jovem que nasce velho. Tem velho que quer ser jovem rebelde a vida toda. E quem disse que a rebeldia não é boa? A rebeldia inova. A rebeldia é criativa e produtiva. Porém a rebeldia apenas pela teimosia não serve para nada. É alimento para a criança que habita dentro do velho. Serve apenas para dizer o não e encerrar a conversa. Serve apenas para maltratar a própria pele.
13.12.07
Diferenças
O debate sobre as "acomodações razoáveis" dos imigrantes no Quebec continua pegando fogo. No Canadá inglês a discussão é mais antiga, mas o tema é tão complexo que não tem previsão de ser acalmado. Para colocar mais gasolina na fogueira, um muçulmano de Mississauga, Ontário, matou a filha que não queria vestir o hidjab, o véu que cobre orelhas e cabelos.
Uma reportagem no "La Presse" fala das dificuldades de acomodações antes mesmo das crianças irem à escola. Os problemas começam na cheche. Tem criança judia que não come carne de porco. Tem criança indiana que é vegetariana. Tem criança muçulmana que não come frango que não foi abatido do jeito que a religião indica. E, mais recentemente, algumas das novas guardiãs das crianças, que são muçulmanas, podem estar na sua semana anual de jejum. Ou estão conversando entre si na sua língua nativa, que ninguém entende.
Subindo na faixa etária, já na escola, as adolescentes muçulmanas têm que vestir o véu e os jovens sihks indianos têm portar a faca que indica o início da fase adulta.
Complexidade é pouco.
Uma reportagem no "La Presse" fala das dificuldades de acomodações antes mesmo das crianças irem à escola. Os problemas começam na cheche. Tem criança judia que não come carne de porco. Tem criança indiana que é vegetariana. Tem criança muçulmana que não come frango que não foi abatido do jeito que a religião indica. E, mais recentemente, algumas das novas guardiãs das crianças, que são muçulmanas, podem estar na sua semana anual de jejum. Ou estão conversando entre si na sua língua nativa, que ninguém entende.
Subindo na faixa etária, já na escola, as adolescentes muçulmanas têm que vestir o véu e os jovens sihks indianos têm portar a faca que indica o início da fase adulta.
Complexidade é pouco.
12.12.07
Turistas, ora bolas
Continuo trabalhando no receptivo de turistas que chegam no porto de Ilhéus. Na última segunda-feira chegaram dois navios. Chegou gente de vários cantos do mundo. Conversei com indianos, espanhóis, italianos, franceses e até filipinos!
Os filipinos eram bem jovens, três rapazes e uma garota. O motorista que os levou para a praia ficou muito feliz. O acerto do pagamento foi feito em dólares. Eles pagaram a mesma quantidade em euros.
Os indianos seguiram em um grande grupo, que incluía avós, filhos e netos. Foram junto com alguns espanhóis, também idosos. O senhor indiano que negociou o preço do passeio pechinchou até não poder mais. E depois eu soube que eles reclamaram para visitar lugares que não constavam no acerto feito. Depois ainda falam que brasileiro é que quer ser esperto.
Tenho um amigo brasileiro que é guia turístico na América do Norte. Ele faz o seu trabalho em espanhol, com grupos que chegam normalmente da Espanha e do México. De vez em quando faz grupos portugueses. Ele já trabalhou com turistas brasileiros mas prefere não fazer mais isso.
Os brasileiros não gostam de pagar gorjeta, alguns costumam tratar o guia e o motorista do ônibus como simples serviçais. Outros ainda têm aquela "adorável" característica brasileira da gozação depreciativa. Aquele humor barulhento quase sempre ancorado na diminuição do outro. Uma "jóia" da cultura nacional. Sem contar aqueles prepotentes classe-média-alta-em-viagem, que na hora das discussões inflamadas sacam da carteira o "Sabe com quem você está falando?".
Alguém se salva?
Os filipinos eram bem jovens, três rapazes e uma garota. O motorista que os levou para a praia ficou muito feliz. O acerto do pagamento foi feito em dólares. Eles pagaram a mesma quantidade em euros.
Os indianos seguiram em um grande grupo, que incluía avós, filhos e netos. Foram junto com alguns espanhóis, também idosos. O senhor indiano que negociou o preço do passeio pechinchou até não poder mais. E depois eu soube que eles reclamaram para visitar lugares que não constavam no acerto feito. Depois ainda falam que brasileiro é que quer ser esperto.
Tenho um amigo brasileiro que é guia turístico na América do Norte. Ele faz o seu trabalho em espanhol, com grupos que chegam normalmente da Espanha e do México. De vez em quando faz grupos portugueses. Ele já trabalhou com turistas brasileiros mas prefere não fazer mais isso.
Os brasileiros não gostam de pagar gorjeta, alguns costumam tratar o guia e o motorista do ônibus como simples serviçais. Outros ainda têm aquela "adorável" característica brasileira da gozação depreciativa. Aquele humor barulhento quase sempre ancorado na diminuição do outro. Uma "jóia" da cultura nacional. Sem contar aqueles prepotentes classe-média-alta-em-viagem, que na hora das discussões inflamadas sacam da carteira o "Sabe com quem você está falando?".
Alguém se salva?
8.12.07
HR Pufnstuf
O You Tube tem inúmeras coisas bacanas. Uma delas é o registo de eventos em que a pessoa (que pode ser eu, você, ou quem quer que seja) esteve, mas a pessoa não filmou nem fotografou. E quase sempre há um vídeo disponível sobre o assunto. Outra coisa que acho fantástica é o acesso a registros de antigos programas da tv.
Eu me lembrava que, quando era criança, havia um programa que eu gostava muito, mas eu não lembrava o nome. Não tinha certeza se era um seriado ou o mesmo filme que sempre era reprisado na tv.
Havia um garoto e bonecos que se movimentavam. Havia uma bruxa e uma flauta mágica que falava. Eu lembrava que a flauta, que pertencia ao garoto, nas horas de perigo o chamava com uma voz fina e esganiçada: "Oh, Jimmy".
Só que eu não lembrava o nome do programa, mas tinha a impressão que se chamava "A Flauta Mágica". Coloquei na pesquisa do You Tube, porém todos os resultados foram da ópera alemã famosa, que tem o mesmo nome. Fui para o Google e achei aqui a ficha do programa de tv. No Brasil se chamava mesmo A Flauta Mágica.
Descobri que o título original do seriado é H.R. Pufnstuf. Voltei para o You Tube e refiz a pesquisa. Há episódios inteiros disponíveis. Em inglês, no entanto. Só fiquei com mais uma dúvida: acho que na tv brasileira o programa era exibido em preto-e-branco. Mas isso o You Tube não soube responder. Ainda.
Eu me lembrava que, quando era criança, havia um programa que eu gostava muito, mas eu não lembrava o nome. Não tinha certeza se era um seriado ou o mesmo filme que sempre era reprisado na tv.
Havia um garoto e bonecos que se movimentavam. Havia uma bruxa e uma flauta mágica que falava. Eu lembrava que a flauta, que pertencia ao garoto, nas horas de perigo o chamava com uma voz fina e esganiçada: "Oh, Jimmy".
Só que eu não lembrava o nome do programa, mas tinha a impressão que se chamava "A Flauta Mágica". Coloquei na pesquisa do You Tube, porém todos os resultados foram da ópera alemã famosa, que tem o mesmo nome. Fui para o Google e achei aqui a ficha do programa de tv. No Brasil se chamava mesmo A Flauta Mágica.
Descobri que o título original do seriado é H.R. Pufnstuf. Voltei para o You Tube e refiz a pesquisa. Há episódios inteiros disponíveis. Em inglês, no entanto. Só fiquei com mais uma dúvida: acho que na tv brasileira o programa era exibido em preto-e-branco. Mas isso o You Tube não soube responder. Ainda.
5.12.07
Bola de cristal
Depois de contar a história do imigrante que voltou nadando para os Estados Unidos, aí abaixo, leio reportagem do New York Times que fala justamente do contrário. Alguns imigrantes brasileiros ilegais estão deixando a terra do Tio Sam.
As razões são as dificuldades que o governo americano está impondo (não é mais possível revalidar a carteira de motorista), o dólar em baixa (o dinheiro ganho lá já não vale tanto aqui), a crise do sistema imobiliário americano (alguns imigrantes estão entregando os seus imóveis) e na construção civil (uma das maiores fontes de renda dos ilegais), a falta de perspectiva de obter a regularização do status de imigrante e a real possibilidade de ser deportado a qualquer momento.
Somando tudo isso, pessoas com mais de 10 anos por lá, inclusive com filhos nascidos nos EUA, estão voltando para o Brasil. A reportagem do NYT se questiona se o retorno dos imigrantes aos países de origem é uma tendência que os brasileiros estão antecipando em relação a outras nacionalidades.
Eu acho que essa é uma tendência apenas entre os imigrantes de melhores condições econômicas e educacionais. Também acho que a situação econômica nos EUA vai piorar e muito. Espera um pouco. Vou ali pegar a bola de cristal, já volto.
Alguns astrólogos projetam para o ano de 2010 alguns aspectos astrais muito tensos, com uma grave crise no sistema capitalista. Os aspectos são muito semelhantes àqueles da depressão econômica de 1930. Leia aqui. Espero que as previsões não se concretizem.
As razões são as dificuldades que o governo americano está impondo (não é mais possível revalidar a carteira de motorista), o dólar em baixa (o dinheiro ganho lá já não vale tanto aqui), a crise do sistema imobiliário americano (alguns imigrantes estão entregando os seus imóveis) e na construção civil (uma das maiores fontes de renda dos ilegais), a falta de perspectiva de obter a regularização do status de imigrante e a real possibilidade de ser deportado a qualquer momento.
Somando tudo isso, pessoas com mais de 10 anos por lá, inclusive com filhos nascidos nos EUA, estão voltando para o Brasil. A reportagem do NYT se questiona se o retorno dos imigrantes aos países de origem é uma tendência que os brasileiros estão antecipando em relação a outras nacionalidades.
Eu acho que essa é uma tendência apenas entre os imigrantes de melhores condições econômicas e educacionais. Também acho que a situação econômica nos EUA vai piorar e muito. Espera um pouco. Vou ali pegar a bola de cristal, já volto.
Alguns astrólogos projetam para o ano de 2010 alguns aspectos astrais muito tensos, com uma grave crise no sistema capitalista. Os aspectos são muito semelhantes àqueles da depressão econômica de 1930. Leia aqui. Espero que as previsões não se concretizem.
4.12.07
Blogosfera
Adicionei gente nova aí ao lado. Tem gente que não conheço. Gente para quem nem ao menos mandei um e-mail ou comentário. Mas eu gosto dos blogs e pronto. Essa coisa de gostar do que uma pessoa escreve é muito relativa. Tem escritor super-badalado que não me diz nada. Tem outros com os quais me identifico totalmente. Não vou dar nomes, para não polemizar. Gosto é gosto. Gosto e pronto. Às vezes dá para discutir. Às vezes prefiro não fazer isso. Caaansa.
2.12.07
Na fronteira da sobrevivência
Parece até história de filme. Ou de novela. Ou de blog. No final dos anos 90, o rapaz saiu do Brasil para ir aos Estados Unidos. Insatisfeito com as condições de trabalho, sem formação universitária, foi tentar a sorte em um país rico. Onde ele não precisaria ter que fazer um curso superior meia-boca para ter asseguradas condições razoáveis de vida e de trabalho.
Dificuldades de língua, solidão, saudade. Ele sentiu dificuldades comuns a todos que se aventuram em terras distantes. Fez vários serviços, pouco qualificados, mas que asseguravam grana para pagar as despesas e ainda sobrar um tanto para mandar para a família no Brasil. O tempo passou, mais adaptado, foi entregando pizza que ele começou a ganhar mais dinheiro. Pensou em trabalhar por conta própria. Era empreendedor, como vários outros brasileiros.
Para ajudar a trabalhar na entrega de pizzas, chamou o irmão mais novo, que ainda morava no Brasil. Ele tinha esse irmão, que era o do meio, e mais uma irmã, a caçula. O irmão do meio, mais dedicado aos estudos, havia passado em dois vestibulares. Nessa época, passar em um vestibular ainda era uma grande realização, pois não havia a quantidade imensa de faculdades do tipo "pagou-passou" como hoje.Ele havia sido aprovado em Química, em uma faculdade pública, e em Direito, em uma faculdade privada, mas bem conceituada.
O desejo do irmão do meio era cursar a faculdade de Direito, mas se via impossibilitado, pois não podia pagá-la. Eles haviam perdido o pai ainda jovem. A pensão que a mãe recebia não dava para muita coisa. Apenas para viver dignamente. Então o irmão do meio cursava a faculdade pública, mesmo sendo um curso que não o conquistava.
O irmão do meio decidiu jogar tudo para cima e viajou para os Estados Unidos. Antes de 2001 era mais fácil conseguir vistos para entrar no país. Ele também entrou na atividade da entrega de pizzas, junto com o "brother" mais velho. O dinheiro começou a entrar. Tempos depois foi a vez de chamar a irmã caçula também para se mudar para lá. Do mesmo modo, ela deixou o Brasil em busca de trabalhos mais rentáveis.
O irmão do meio, mais estudioso, fez diversos cursos. Fez faculdade de administração, pagando do próprio bolso. Nada de ajuda do governo americano. Todos os três continuavam ganhando dinheiro, mas continuavam na condição de imigrantes ilegais. Sem direito a saúde, educação ou apoio governamental. Mas pagando impostos.
Anos se passaram. Depois de uma relação tumultuada com uma mexicana, o irmão mais velho reencontrou uma ex-namorada brasileira. A energia do reencontro foi forte. Mesma língua, mesma cultura, até a confiança em alguém que ele conhecera no passado, em sua terra natal. A mesma saudade do dendê e do acarajé. Ficaram juntos. Tiveram um filho que nasceu em solo americano. Americaníssimo o garoto. Mais uma contribuição para o crescimento do país.
O irmão do meio, por sua vez, depois de algumas namoradas, caiu de amores por uma inglesa já naturalizada americana. Entre os participantes do eixo EUA-Canadá-Reino Unido-Austrália é tudo mais fácil. Estão todos debaixo da mesma coroa. Ele se casou com a inglesa e automaticamente virou cidadão americano.
O irmão mais velho, a mulher e o pequeno filho se cansaram daquela vida. Sem poder sair do solo americano, sem poder levar levar o filho para conhecer o país dos seus pais. Sem direito algum dentro de um pais estrangeiro. Decidiram voltar para o Brasil. Voltar para Pindorama. Recomeçar a vida, agora uma família. Tudo seria mais fácil. Eles se achavam mais fortalecidos.
Voltaram.
(Não acabou. Continua no post abaixo)
Dificuldades de língua, solidão, saudade. Ele sentiu dificuldades comuns a todos que se aventuram em terras distantes. Fez vários serviços, pouco qualificados, mas que asseguravam grana para pagar as despesas e ainda sobrar um tanto para mandar para a família no Brasil. O tempo passou, mais adaptado, foi entregando pizza que ele começou a ganhar mais dinheiro. Pensou em trabalhar por conta própria. Era empreendedor, como vários outros brasileiros.
Para ajudar a trabalhar na entrega de pizzas, chamou o irmão mais novo, que ainda morava no Brasil. Ele tinha esse irmão, que era o do meio, e mais uma irmã, a caçula. O irmão do meio, mais dedicado aos estudos, havia passado em dois vestibulares. Nessa época, passar em um vestibular ainda era uma grande realização, pois não havia a quantidade imensa de faculdades do tipo "pagou-passou" como hoje.Ele havia sido aprovado em Química, em uma faculdade pública, e em Direito, em uma faculdade privada, mas bem conceituada.
O desejo do irmão do meio era cursar a faculdade de Direito, mas se via impossibilitado, pois não podia pagá-la. Eles haviam perdido o pai ainda jovem. A pensão que a mãe recebia não dava para muita coisa. Apenas para viver dignamente. Então o irmão do meio cursava a faculdade pública, mesmo sendo um curso que não o conquistava.
O irmão do meio decidiu jogar tudo para cima e viajou para os Estados Unidos. Antes de 2001 era mais fácil conseguir vistos para entrar no país. Ele também entrou na atividade da entrega de pizzas, junto com o "brother" mais velho. O dinheiro começou a entrar. Tempos depois foi a vez de chamar a irmã caçula também para se mudar para lá. Do mesmo modo, ela deixou o Brasil em busca de trabalhos mais rentáveis.
O irmão do meio, mais estudioso, fez diversos cursos. Fez faculdade de administração, pagando do próprio bolso. Nada de ajuda do governo americano. Todos os três continuavam ganhando dinheiro, mas continuavam na condição de imigrantes ilegais. Sem direito a saúde, educação ou apoio governamental. Mas pagando impostos.
Anos se passaram. Depois de uma relação tumultuada com uma mexicana, o irmão mais velho reencontrou uma ex-namorada brasileira. A energia do reencontro foi forte. Mesma língua, mesma cultura, até a confiança em alguém que ele conhecera no passado, em sua terra natal. A mesma saudade do dendê e do acarajé. Ficaram juntos. Tiveram um filho que nasceu em solo americano. Americaníssimo o garoto. Mais uma contribuição para o crescimento do país.
O irmão do meio, por sua vez, depois de algumas namoradas, caiu de amores por uma inglesa já naturalizada americana. Entre os participantes do eixo EUA-Canadá-Reino Unido-Austrália é tudo mais fácil. Estão todos debaixo da mesma coroa. Ele se casou com a inglesa e automaticamente virou cidadão americano.
O irmão mais velho, a mulher e o pequeno filho se cansaram daquela vida. Sem poder sair do solo americano, sem poder levar levar o filho para conhecer o país dos seus pais. Sem direito algum dentro de um pais estrangeiro. Decidiram voltar para o Brasil. Voltar para Pindorama. Recomeçar a vida, agora uma família. Tudo seria mais fácil. Eles se achavam mais fortalecidos.
Voltaram.
(Não acabou. Continua no post abaixo)
29.11.07
Não são somente os cubanos
Continuação
Primeiros dias de reencontros e festas. A família dela era maior. Ela tinha passado menos tempo fora do Brasil, tinha laços de amizade mais intensos. Ele tinha família menos numerosa e poucos amigos restavam em sua lista desatualizada de telefones. Mas os parentes queriam mesmo era conhecer o pequeno americano de sangue brasileiro.
Chegou a hora de procurar trabalho. A boa reserva financeira que trouxeram não duraria a vida toda. Foi aí que começou a dificuldade. Toca a procurar emprego. Não achavam nada que pagasse mais que dois salários mínimos. Uma miséria em relação ao que estavam acostumados a ganhar. Um terror. Viram a vida cair vertiginosamente de padrão. Nada mais de eletrodomésticos de última geração. As compras no supermercado ficaram caras demais. O plano de saúde estava fora do alcance.
O trabalho que ele mais gostou foi em uma escola de mergulho. Além de administrar o escritório, ele conheceu muitas pessoas e ainda tomou curso de mergulho profissional. Foi algo que iria lher servir mais do que ele poderia imaginar.
A insatisfação profissional foi crescendo. Começaram a ficar preocupados com o futuro do filho. Afinal, ele era americano, teria direito a maiores possibilidades. Quando o irmão do meio ligava de lá para conversar, a dor no peito aumentava. O arrependimento crescia vertiginosamente. Em um ímpeto decidiram voltar.
Como?
O filho era americano. Para a mãe ainda seria possível retornar, pois o visto para os Estados Unidos, apesar de difícil de ser conseguido, normalmente permite múltiplas entradas no país e tem duração longa. Ainda estava na validade. Para ele, no entanto, seria impossível.
Foi então que lembraram dos vários casos de imigrantes que entravam nos Estados Unidos ilegalmente via México. Um particularmente havia marcado a lembrança. O imigrante havia entrado nadando no país. Um barco o deixou perto da costa e o imigrante seguiu batendo braços e pernas na água. Não eram somente os cubanos que faziam isso. Talvez fosse a única solução, uma vez que as entradas terrestres estavam mais que vigiadas.
Ele resolveu então tentar do mesmo modo. Nadando. O curso de mergulho seria mais do que útil nesse momento. Ela chorou, achou que ele poderia morrer. Mas aceitou, não tinha uma outra possibilidade.
Compraram as passagens. O visto para o México ainda não era obrigatório como hoje. Ele viajou direto para lá, enquanto ela partiu para os Estados Unidos com algumas roupas e documentos dele. No México ele pagou alguns milhares de dólares para um homem que organizaria tudo.
O barco o deixou a uma distância da praia que seria impossível para alguém com pouco fôlego e sem preparo. Na praia, exausto, caminhou até encontrar o próximo vilarejo e um telefone público. Para ligar para o irmão.
- Cheguei. Estou bem. Venha me pegar.
Primeiros dias de reencontros e festas. A família dela era maior. Ela tinha passado menos tempo fora do Brasil, tinha laços de amizade mais intensos. Ele tinha família menos numerosa e poucos amigos restavam em sua lista desatualizada de telefones. Mas os parentes queriam mesmo era conhecer o pequeno americano de sangue brasileiro.
Chegou a hora de procurar trabalho. A boa reserva financeira que trouxeram não duraria a vida toda. Foi aí que começou a dificuldade. Toca a procurar emprego. Não achavam nada que pagasse mais que dois salários mínimos. Uma miséria em relação ao que estavam acostumados a ganhar. Um terror. Viram a vida cair vertiginosamente de padrão. Nada mais de eletrodomésticos de última geração. As compras no supermercado ficaram caras demais. O plano de saúde estava fora do alcance.
O trabalho que ele mais gostou foi em uma escola de mergulho. Além de administrar o escritório, ele conheceu muitas pessoas e ainda tomou curso de mergulho profissional. Foi algo que iria lher servir mais do que ele poderia imaginar.
A insatisfação profissional foi crescendo. Começaram a ficar preocupados com o futuro do filho. Afinal, ele era americano, teria direito a maiores possibilidades. Quando o irmão do meio ligava de lá para conversar, a dor no peito aumentava. O arrependimento crescia vertiginosamente. Em um ímpeto decidiram voltar.
Como?
O filho era americano. Para a mãe ainda seria possível retornar, pois o visto para os Estados Unidos, apesar de difícil de ser conseguido, normalmente permite múltiplas entradas no país e tem duração longa. Ainda estava na validade. Para ele, no entanto, seria impossível.
Foi então que lembraram dos vários casos de imigrantes que entravam nos Estados Unidos ilegalmente via México. Um particularmente havia marcado a lembrança. O imigrante havia entrado nadando no país. Um barco o deixou perto da costa e o imigrante seguiu batendo braços e pernas na água. Não eram somente os cubanos que faziam isso. Talvez fosse a única solução, uma vez que as entradas terrestres estavam mais que vigiadas.
Ele resolveu então tentar do mesmo modo. Nadando. O curso de mergulho seria mais do que útil nesse momento. Ela chorou, achou que ele poderia morrer. Mas aceitou, não tinha uma outra possibilidade.
Compraram as passagens. O visto para o México ainda não era obrigatório como hoje. Ele viajou direto para lá, enquanto ela partiu para os Estados Unidos com algumas roupas e documentos dele. No México ele pagou alguns milhares de dólares para um homem que organizaria tudo.
O barco o deixou a uma distância da praia que seria impossível para alguém com pouco fôlego e sem preparo. Na praia, exausto, caminhou até encontrar o próximo vilarejo e um telefone público. Para ligar para o irmão.
- Cheguei. Estou bem. Venha me pegar.
24.11.07
Roteiro turístico
Chego cansado de uma manhã de turismo. Cansado, mas satisfeito. Fui mostrar a cidade para turistas estrangeiros. Um casal de americanos. Um senhor e uma senhora bem simpáticos.
A cidade de Ilhéus tem a sorte e o privilégio de estar incluída no roteiros dos navios que cruzam a costa brasileira. Até março, final da temporada de verão, a programação prevê que mais de 40 navios, com turistas brasileiros e estrangeiros, ancorem no porto ilheense. Os visitantes ficam um dia inteiro na cidade e depois seguem viagem.
A Prefeitura tem carência de pessoas que trabalhem como intérpretes de inglês. Fui lá, ofereci meus serviços e atuei no stand turístico, dando informações sobre roteiros de visitas e transportes. Mas o meu intuito era mesmo de acompanhar os passeios, fazendo o papel de intérprete e ajudando a descrever a cidade, sua cultura, economia e locais históricos.
O casal americano, assim como vários outros grupos, recusou o city-tour oferecido por empresas de turismo e preferiu contratar um táxi para um passeio individualizado. Especificamente visita a uma fazenda de cacau. Eu segui junto.
A Fazenda Primavera fica na estrada Ilhéus-Itabuna, bela rodovia de vegetação verde-brilhante, alguns resquícios da Mata Atlântica. A fazenda foi palco da filmagem da novela Renascer, da Globo, e hoje serve de ponto turístico. Além das árvores de cacau, os turistas são apresentados aos equipamentos de processar cacau, recebem informações da produção de chocolate, provam suco de cacau. De quebra ainda visitam o museu instalado na casa-grande da fazenda, que conta a história das famílias Berbert (da qual tenho descendência distante) e Amorim.
Depois da fazenda de cacau, seguimos para uma volta pela cidade. Tive a surpresa de conferir que a capela da escola em que estudei está bem conservada e transformada em um pequeno e interessante museu. A escola tem 90 anos, foi fundada pela irmãs Ursulinas, e continua funcionando a todo vapor. Atualmente até uma faculdade funciona no local.
O navio, com bandeira de Malta, veio dos Estados Unidos. Partiu de Miami, passou pelo Caribe e aportou no Brasil via Recife. Parou em Salvador, depois Ilhéus e segue até São Paulo, onde os turistas americanos tomarão vôos para seus lares. O navio, que inicialmente achei gigantesco, tem capacidade de 800 pessoas. É um dos menores. Por aqui passam daqueles imensos que cabem até 3.000 passageiros.
Foi uma experiência muito interessante, por várias razões. Pude praticar inglês, com gente nativa, durante uma manhã inteira. Ajudei a divulgar a cidade e a atender melhor os turistas, que normalmente dependem de motoristas de taxi - que não falam nada de inglês - para fazer passeios. E ainda ganhei pelos meus préstimos. Nada mal para quem nunca havia trabalhado como guia turístico.
A cidade de Ilhéus tem a sorte e o privilégio de estar incluída no roteiros dos navios que cruzam a costa brasileira. Até março, final da temporada de verão, a programação prevê que mais de 40 navios, com turistas brasileiros e estrangeiros, ancorem no porto ilheense. Os visitantes ficam um dia inteiro na cidade e depois seguem viagem.
A Prefeitura tem carência de pessoas que trabalhem como intérpretes de inglês. Fui lá, ofereci meus serviços e atuei no stand turístico, dando informações sobre roteiros de visitas e transportes. Mas o meu intuito era mesmo de acompanhar os passeios, fazendo o papel de intérprete e ajudando a descrever a cidade, sua cultura, economia e locais históricos.
O casal americano, assim como vários outros grupos, recusou o city-tour oferecido por empresas de turismo e preferiu contratar um táxi para um passeio individualizado. Especificamente visita a uma fazenda de cacau. Eu segui junto.
A Fazenda Primavera fica na estrada Ilhéus-Itabuna, bela rodovia de vegetação verde-brilhante, alguns resquícios da Mata Atlântica. A fazenda foi palco da filmagem da novela Renascer, da Globo, e hoje serve de ponto turístico. Além das árvores de cacau, os turistas são apresentados aos equipamentos de processar cacau, recebem informações da produção de chocolate, provam suco de cacau. De quebra ainda visitam o museu instalado na casa-grande da fazenda, que conta a história das famílias Berbert (da qual tenho descendência distante) e Amorim.
Depois da fazenda de cacau, seguimos para uma volta pela cidade. Tive a surpresa de conferir que a capela da escola em que estudei está bem conservada e transformada em um pequeno e interessante museu. A escola tem 90 anos, foi fundada pela irmãs Ursulinas, e continua funcionando a todo vapor. Atualmente até uma faculdade funciona no local.
O navio, com bandeira de Malta, veio dos Estados Unidos. Partiu de Miami, passou pelo Caribe e aportou no Brasil via Recife. Parou em Salvador, depois Ilhéus e segue até São Paulo, onde os turistas americanos tomarão vôos para seus lares. O navio, que inicialmente achei gigantesco, tem capacidade de 800 pessoas. É um dos menores. Por aqui passam daqueles imensos que cabem até 3.000 passageiros.
Foi uma experiência muito interessante, por várias razões. Pude praticar inglês, com gente nativa, durante uma manhã inteira. Ajudei a divulgar a cidade e a atender melhor os turistas, que normalmente dependem de motoristas de taxi - que não falam nada de inglês - para fazer passeios. E ainda ganhei pelos meus préstimos. Nada mal para quem nunca havia trabalhado como guia turístico.
13.11.07
Ao fundo do fim. De volta ao começo
Um ciclo se inicia. Para que ele comece, no entanto, é preciso retornar a um ponto de partida. Cá estou. Vinte anos depois, retorno à minha cidade natal. Muita coisa mudou em minha vida. Há pessoas que não estão mais aqui. Eu sou uma outra pessoa. Talvez melhor. Talvez mais generoso comigo mesmo e com o mundo.
Retorno para a mesma academia de ginástica e musculação que freqüentei quando era adolescente. O prédio tem outro endereço, mas é a mesma academia. Madonna ainda está lá, animando os exercícios.
Na minha adolescência, os hits eram “Like a Virgin”, “Holliday”, “Lucky Star”. Hoje os últimos hits são “Jump”, “Get Together”, “Isaac”. Isto é, até o lançamento do próximo disco, ops, CD. Tudo gira e tudo volta à mesma coisa. Curioso foi ouvir na academia o remix de “Total Eclipse of the Heart”. Vinte anos depois essa música chatinha não desiste, continua tocando. É resistência e tanto. Essa musica era figurinha repetida em nossas festinhas adolescentes.
Nessa época ainda existiam as “músicas lentas” nas festas. Era a hora de dançar em pares e, quem sabe, ganhar um beijo. Alguns anos depois, essa prática ainda persistia. Nas boates de Salvador, onde morava alguns anos depois, existia o mesmo hábito. Depois das músicas mais agitadas, vinha a sessão das lentas. O axé e o pagode ainda não faziam parte do set list do DJ. Discotecário, disk jockey? Alguém lembra se era assim mesmo que se chamava?
Eu sempre gostei de disco music, de música para dançar. Desde “Os Embalos de Sábado à Noite”, com John Travolta. A adolescência passou, mudei de cidade, fui impregnado pela música baiana, apesar de nunca esquecer a disco music. Nos anos 80 e 90, ela acabou eclipsada pelo pop-rock inglês e nacional.
No meado da década de 90 fiquei muito curioso com o novo tipo de som que se apresentava (pelo menos para mim): a música eletrônica, o techno. Conhecia o trabalho do grupo alemão Kraftwerk, do final dos anos 80, um dos precussores, mas não era uma coisa muito dançável.
Em 97 fui à Inglaterra conferir o som bate-estaca mais de perto. O que para mim era algo relativamente novo, para os ingleses era algo consolidado. A capa da revista Time Out trazia um smile (aquela figurinha de cara redonda amarela, ou seria um comprimido de ecstasy?), comemorando 10 (!) anos do surgimento da música eletrônica. Não perdi tempo.
Cada noite fui a um lugar diferente de Londres para conhecer o som e o ambiente. O dia era quase todo para dormir. Só no quinto dia da viagem, o domingo, fui dar uma caminhada na cidade para conhecer os tradicionais pontos turísticos. Até então, o que mais havia me marcado na cidade tinha sido, ao voltar de uma festa, apreciar a noite deserta. O cais do rio Tâmisa, os prédios e monumentos, tudo bem iluminado na madrugada, revelando a beleza tranquila da Londres agitada. Como sempre acontece comigo nessas ocasiões, uma emoção profunda se instalou. Eu faço então uma espécie de agradecimento aos céus por ter a oportunidade de viajar e de estar em lugares impensáveis na minha rotina, em momentos tão especiais.
Retorno para a mesma academia de ginástica e musculação que freqüentei quando era adolescente. O prédio tem outro endereço, mas é a mesma academia. Madonna ainda está lá, animando os exercícios.
Na minha adolescência, os hits eram “Like a Virgin”, “Holliday”, “Lucky Star”. Hoje os últimos hits são “Jump”, “Get Together”, “Isaac”. Isto é, até o lançamento do próximo disco, ops, CD. Tudo gira e tudo volta à mesma coisa. Curioso foi ouvir na academia o remix de “Total Eclipse of the Heart”. Vinte anos depois essa música chatinha não desiste, continua tocando. É resistência e tanto. Essa musica era figurinha repetida em nossas festinhas adolescentes.
Nessa época ainda existiam as “músicas lentas” nas festas. Era a hora de dançar em pares e, quem sabe, ganhar um beijo. Alguns anos depois, essa prática ainda persistia. Nas boates de Salvador, onde morava alguns anos depois, existia o mesmo hábito. Depois das músicas mais agitadas, vinha a sessão das lentas. O axé e o pagode ainda não faziam parte do set list do DJ. Discotecário, disk jockey? Alguém lembra se era assim mesmo que se chamava?
Eu sempre gostei de disco music, de música para dançar. Desde “Os Embalos de Sábado à Noite”, com John Travolta. A adolescência passou, mudei de cidade, fui impregnado pela música baiana, apesar de nunca esquecer a disco music. Nos anos 80 e 90, ela acabou eclipsada pelo pop-rock inglês e nacional.
No meado da década de 90 fiquei muito curioso com o novo tipo de som que se apresentava (pelo menos para mim): a música eletrônica, o techno. Conhecia o trabalho do grupo alemão Kraftwerk, do final dos anos 80, um dos precussores, mas não era uma coisa muito dançável.
Em 97 fui à Inglaterra conferir o som bate-estaca mais de perto. O que para mim era algo relativamente novo, para os ingleses era algo consolidado. A capa da revista Time Out trazia um smile (aquela figurinha de cara redonda amarela, ou seria um comprimido de ecstasy?), comemorando 10 (!) anos do surgimento da música eletrônica. Não perdi tempo.
Cada noite fui a um lugar diferente de Londres para conhecer o som e o ambiente. O dia era quase todo para dormir. Só no quinto dia da viagem, o domingo, fui dar uma caminhada na cidade para conhecer os tradicionais pontos turísticos. Até então, o que mais havia me marcado na cidade tinha sido, ao voltar de uma festa, apreciar a noite deserta. O cais do rio Tâmisa, os prédios e monumentos, tudo bem iluminado na madrugada, revelando a beleza tranquila da Londres agitada. Como sempre acontece comigo nessas ocasiões, uma emoção profunda se instalou. Eu faço então uma espécie de agradecimento aos céus por ter a oportunidade de viajar e de estar em lugares impensáveis na minha rotina, em momentos tão especiais.
10.11.07
O que me espera
Um amigo que mora no Canadá, em Toronto, me informa via Msn que as primeiras neves já caíram em pontos nos arredores da cidade. Ué, mas o inverno não começa formalmente só no dia 21 de dezembro? Normalmente sim, mas no Canadá o inverno dura 5 meses! Tô frito!
O lado bom é que nada pára por causa disso. O meu amigo que informa que, com frio ou sem frio, ele estaria saindo para uma festa que vai rolar com os melhores DJs do país.
O lado bom é que nada pára por causa disso. O meu amigo que informa que, com frio ou sem frio, ele estaria saindo para uma festa que vai rolar com os melhores DJs do país.
9.11.07
Aluguel e dor-de-cabeça
Depois de três meses vazio, finalmente consigo alugar o meu apartamento quarto-e-sala, que fica em Salvador, na Barra. O último inquilino saiu em no final de julho. Eu ainda estava no Canadá. A imobiliária fez a burrice de não me comunicar via e-mail, para que eu autorizasse uma nova contratação. Eles alegaram que haviam tentado me contactar via telefone. É claro que não me acharam. Nem fizeram o esforço de mandar uma correspondência escrita. Eu já tinha atualizado o meu endereço e havia feito isso via e-mail! Ainda tem empresa na qual os funcionários não sabem utilizar correio eletrônico.
No final de agosto, eu me dei conta da falta do pagamento, liguei para a imobiliária e fui informado. Fiquei puto, mas fazer o que, autorizei a busca de novo inquilino. O tempo foi passando e nada de gente interessada. Enquanto isso, eu tinha que pagar condomínio, taxas extras e IPTU.
Há algumas semanas viajei e fui conferir se havia algum problema com o apartamento. É claro que havia. Depois de 2 anos e meio de aluguel, sempre há alguma coisa para fazer. Deixei uma lista na imobiliária com tudo que precisava ser feito. Mas vi que seria preciso mais do que isso para atrair gente nova.
Então tive que gastar uma grana para dar uma melhorada. Comprei espelho novo para o banheiro. Coloquei novas esquadrias de alumínio na sala e no quarto. Reformei uma parede do banheiro, quebrei o azulejo antigo e pintei de tinta esmalte branca. Fiz uma operação tapa-buraco no mármore Bege Bahia da pia do banheiro. Para completar, quase tudo pronto, na hora de verificar uma suspeita de vazamento na parede do quarto, tive uma surpresa chata. Havia praticamente um córrego que vinha do andar superior. Lá fui eu convencer o morador a verificar o vazamento.
O apartamento de cima é alugado por temporada. A dona mora em São Paulo e atualmente está na Europa. Que dificuldade. Quem administra o imóvel é uma argentina que mora no prédio, no apartamento que fica dois andares acima do meu. Ela foi simpática e, por sorte, a pessoa que estava ocupando o imóvel por temporada era um espanhol que não se incomodou de abrir a porta para nos atender.
Resultado, o vazamento era em uma tubulação do prédio. Felizmente a síndica também foi muito solícita e resolveu tudo. Inclusive refez a pintura da parede e do armário. Eu estava lá todo o tempo, de olho, conferindo que os trabalhos caminhassem. Tive que estender a minha estadia em Salvador para resolver as coisas. Pelo menos tudo foi feito.
A boa notícia é que um novo contrato de locação já foi assinado. É aquela velha história, o dono tem que estar por perto para que as coisas andem. Essa grana será fundamental para pagar as minhas despesas quando voltar para o Canadá.
No final de agosto, eu me dei conta da falta do pagamento, liguei para a imobiliária e fui informado. Fiquei puto, mas fazer o que, autorizei a busca de novo inquilino. O tempo foi passando e nada de gente interessada. Enquanto isso, eu tinha que pagar condomínio, taxas extras e IPTU.
Há algumas semanas viajei e fui conferir se havia algum problema com o apartamento. É claro que havia. Depois de 2 anos e meio de aluguel, sempre há alguma coisa para fazer. Deixei uma lista na imobiliária com tudo que precisava ser feito. Mas vi que seria preciso mais do que isso para atrair gente nova.
Então tive que gastar uma grana para dar uma melhorada. Comprei espelho novo para o banheiro. Coloquei novas esquadrias de alumínio na sala e no quarto. Reformei uma parede do banheiro, quebrei o azulejo antigo e pintei de tinta esmalte branca. Fiz uma operação tapa-buraco no mármore Bege Bahia da pia do banheiro. Para completar, quase tudo pronto, na hora de verificar uma suspeita de vazamento na parede do quarto, tive uma surpresa chata. Havia praticamente um córrego que vinha do andar superior. Lá fui eu convencer o morador a verificar o vazamento.
O apartamento de cima é alugado por temporada. A dona mora em São Paulo e atualmente está na Europa. Que dificuldade. Quem administra o imóvel é uma argentina que mora no prédio, no apartamento que fica dois andares acima do meu. Ela foi simpática e, por sorte, a pessoa que estava ocupando o imóvel por temporada era um espanhol que não se incomodou de abrir a porta para nos atender.
Resultado, o vazamento era em uma tubulação do prédio. Felizmente a síndica também foi muito solícita e resolveu tudo. Inclusive refez a pintura da parede e do armário. Eu estava lá todo o tempo, de olho, conferindo que os trabalhos caminhassem. Tive que estender a minha estadia em Salvador para resolver as coisas. Pelo menos tudo foi feito.
A boa notícia é que um novo contrato de locação já foi assinado. É aquela velha história, o dono tem que estar por perto para que as coisas andem. Essa grana será fundamental para pagar as minhas despesas quando voltar para o Canadá.
6.11.07
Luz do sol
Voltei para a academia. Não a científica, a da malhação mesmo. Vou ver se ainda dá tempo de recuperar o corpitcho até o verão - que na realidade já está instalado. Até que não estou fora de forma. Alguns minutos de bicicleta ergométrica em casa estavam ajudando a segurar as calorias dentro do limite. Ontem, o primeiro dia de exercícios foi sem muitas dificuldades. Hoje estou sentindo o esforço feito nos músculos dos braços. As pernas não sentem dores, estavam mais acostumadas.
O sol traz um brilho especial para a cidade. Os turistas dão as caras. Assim como Salvador, Ilhéus também atrai muitos turistas. Menos estrangeiros, mais gente que vem de Minas, Goias, Brasília e Espírito Santo.
Por falar em estrangeiros e luz do sol, li uma crônica interessante no jornal "La Presse" (www.cyberpresse.ca), de Montréal, na qual o cronista reclamava que estava se sentindo muito cansado e com sono. É outono no Canadá, o frio já chegou e a luz do dia vai diminuindo.
Nos comentários, os leitores, preocupados com os sintomas de depressão, recomendam que o jornalista faça desde exercícios até a utilização de "photothérapie (ou luminothérapie)". Um deles faz uma recomendação ainda mais interessante. O jornalista deverá usar sandálias amarelas (de preferência Havaianas - isso mesmo, havaianas!). Para quando o olhar deixar a linha do horizonte e for baixando, irá encontrar de supetão uma sandália amarela brilhante. O ânimo será então prontamente recuperado. O leitor ainda diz que pode parecer esnobe da parte dele, mas é melhor que o jornalista utilize as havaianas. Ou seja, é chique usar havaianas.
Outro conselho do mesmo leitor era pedir a um amigo para dar um chute nas canelas. Assim o jornalista não iria conseguir dormir. Humor canadense, sem muita graça.
O que eu achei mais engraçado é que, há algumas semanas, eu comprei exatamente um par de havaianas amarelas para levar para o Canadá. Daquelas bem nacionalistas, nas cores do país, amarelona com três linhas finas (nas cores azul, branca e verde) entre as borrachas do solado. E com bandeirinha do Brasil presa na tira verde, igual à da foto. Espero com isso ficar preparado para o outono canadense. Humor brasileiro, sem graça nenhuma.
Eis a transcrição do recado, para não parecer invenção.
"Achètes-toi des gougounes jaunes (je voudrais pas passer pour un snob, mais je pense que ça fonctionne mieux avec de Havaianas). Quand ton regard va quitter la ligne d’horizon, il va descendre tranquilement et PAF!!! va frapper du jaune flashant et tu vas revenir instantanément à tes esprits.
Un autre truc, un peu plus radical celui-là, est de demander à un ami de te donner un bon coup de pied dans les schnoles. Difficile de se rendormir après ça.
Si t’as d’autres problèmes à régler, n’hésite pas! On a des solutions!"
O sol traz um brilho especial para a cidade. Os turistas dão as caras. Assim como Salvador, Ilhéus também atrai muitos turistas. Menos estrangeiros, mais gente que vem de Minas, Goias, Brasília e Espírito Santo.
Por falar em estrangeiros e luz do sol, li uma crônica interessante no jornal "La Presse" (www.cyberpresse.ca), de Montréal, na qual o cronista reclamava que estava se sentindo muito cansado e com sono. É outono no Canadá, o frio já chegou e a luz do dia vai diminuindo.
Nos comentários, os leitores, preocupados com os sintomas de depressão, recomendam que o jornalista faça desde exercícios até a utilização de "photothérapie (ou luminothérapie)". Um deles faz uma recomendação ainda mais interessante. O jornalista deverá usar sandálias amarelas (de preferência Havaianas - isso mesmo, havaianas!). Para quando o olhar deixar a linha do horizonte e for baixando, irá encontrar de supetão uma sandália amarela brilhante. O ânimo será então prontamente recuperado. O leitor ainda diz que pode parecer esnobe da parte dele, mas é melhor que o jornalista utilize as havaianas. Ou seja, é chique usar havaianas.
Outro conselho do mesmo leitor era pedir a um amigo para dar um chute nas canelas. Assim o jornalista não iria conseguir dormir. Humor canadense, sem muita graça.
O que eu achei mais engraçado é que, há algumas semanas, eu comprei exatamente um par de havaianas amarelas para levar para o Canadá. Daquelas bem nacionalistas, nas cores do país, amarelona com três linhas finas (nas cores azul, branca e verde) entre as borrachas do solado. E com bandeirinha do Brasil presa na tira verde, igual à da foto. Espero com isso ficar preparado para o outono canadense. Humor brasileiro, sem graça nenhuma.
Eis a transcrição do recado, para não parecer invenção.
"Achètes-toi des gougounes jaunes (je voudrais pas passer pour un snob, mais je pense que ça fonctionne mieux avec de Havaianas). Quand ton regard va quitter la ligne d’horizon, il va descendre tranquilement et PAF!!! va frapper du jaune flashant et tu vas revenir instantanément à tes esprits.
Un autre truc, un peu plus radical celui-là, est de demander à un ami de te donner un bon coup de pied dans les schnoles. Difficile de se rendormir après ça.
Si t’as d’autres problèmes à régler, n’hésite pas! On a des solutions!"
Casas e ruas
Visitei a Casa de Jorge Amado, aqui em Ilhéus, onde ele viveu a infância e adolescência e escreveu "O País do Carnaval". O acervo é pequeno, pois a maior parte das coisas está em Salvador, com a família, e na Casa de Jorge Amado, no Pelourinho. Mesmo assim vale a pena dar uma olhadinha. O escritor esteve na inauguração do museu ilheense, ocorrida há uns 10 anos.
O primeiro nome da rua em que moro era Jorge Amado. Depois que a Prefeitura organizou o Quarteirão Cultural, no centro da cidade, a minha rua precisou trocar de nome. Virou rua Vinte e Oito de Junho, que é a data de aniversário de Ilhéus. A rua Jorge Amado agora fica no centro da cidade. É a rua onde está a Casa de Jorge Amado.
Preciso ler urgente Gabriela Cravo e Canela. Li pouca coisa de Jorge Amado.
O primeiro nome da rua em que moro era Jorge Amado. Depois que a Prefeitura organizou o Quarteirão Cultural, no centro da cidade, a minha rua precisou trocar de nome. Virou rua Vinte e Oito de Junho, que é a data de aniversário de Ilhéus. A rua Jorge Amado agora fica no centro da cidade. É a rua onde está a Casa de Jorge Amado.
Preciso ler urgente Gabriela Cravo e Canela. Li pouca coisa de Jorge Amado.
29.10.07
Prazos
Continuo em Salvador resolvendo coisas de reformas. Que coisa mais chata. Conserta-se uma coisa e outra se quebra. O serviço fica mal feito. Demora. Mas, enfim, é preciso ter paciência e persistência.
Esses dias fico hospedado em casa de amigos. A estadia é longa, mas prazeirosa. Para mim e para eles, espero. Ficamos fora de casa o dia inteiro. As refeições são feitas na rua. Procuro ajudar no que posso e procuro não sujar a casa. O tempo em que estamos em casa é dedicado a longas e saborosas conversas. É tempo de rever os amigos, matar saudades de pessoas queridas. Pois daqui para a frente os intervalos de encontros serão mais espaçados.
O consulado do Canadá estabeleceu um prazo médio para a liberação da documentação. É um pouco maior do que a minha vontade esperava, mas pelo menos agora tenho uma estimativa. Posso planejar as atividades do período.
Esses dias fico hospedado em casa de amigos. A estadia é longa, mas prazeirosa. Para mim e para eles, espero. Ficamos fora de casa o dia inteiro. As refeições são feitas na rua. Procuro ajudar no que posso e procuro não sujar a casa. O tempo em que estamos em casa é dedicado a longas e saborosas conversas. É tempo de rever os amigos, matar saudades de pessoas queridas. Pois daqui para a frente os intervalos de encontros serão mais espaçados.
O consulado do Canadá estabeleceu um prazo médio para a liberação da documentação. É um pouco maior do que a minha vontade esperava, mas pelo menos agora tenho uma estimativa. Posso planejar as atividades do período.
26.10.07
Diferenças
Passando uns dias em Salvador, aproveito para passear, rever amigos, ir ao médico, resolver pendências. Também dei um pulo em Feira de Santana, a princesinha do sertão, segunda maior cidade da Bahia, a uns 100 km da capital. Apesar do calor que faz na cidade sertaneja, a urbanização e o desenvolvimento dão mostras do progresso.
O verão já chegou de vez. Um calorão em qualquer hora. Os turistas já são vistos em todos os lugares. Enquanto isso em Montréal... 7 graus centígrados no outono.
O verão já chegou de vez. Um calorão em qualquer hora. Os turistas já são vistos em todos os lugares. Enquanto isso em Montréal... 7 graus centígrados no outono.
4.10.07
1.10.07
Chacais
Tem gente nova aí do lado. O belo blog do Luiz Goulart, com opiniões fortes e relatos que emocionam.
Chacais sempre espreitam
Chacais sempre espreitam
16.9.07
De volta às panelas
Acho que ando em um vácuo criativo. Sem o impluso de escrever alguma coisa. Mas vou tentar. Tenho lido tanta bobagem em alguns blogs que resolvi também escrever mais algumas bobagens. Que posso contar? Que ando fazendo? Estudando francês. Cozinhando de vez em quando. Nadando na internet. Bicicleta ergométrica para regular as calorias extras.
Preparei há alguns dias uma paella. Peguei a minha querida panela azul espanhola e fui cumprir a promessa feita. Saí para comprar mariscos. Achei camarões, mexilhões e polvo. Açafrão eu uso o da terra, esse pó amarelinho de um tubérculo chamado cúrcuma. A paella tradicional espanhola traz carne de porco, linguiça, frango e mariscos. Mas a minha favorita leva somente mariscos.
O polvo foi cozinhado com antecedência, para não haver erros. O polvo precisa ser bem cozido para não ficar duro. Costumo limpá-lo e colocá-lo na panela somente com cebolas inteiras. Não precisa nem colocar água. O próprio polvo deixa escapar água de suas células e é cozido nesse líquido. A cebola ajuda a amolecer. A dica para checar o ponto do cozimento é verificar quando a cebola começa a desmanchar. Aí então o polvo estará bom.
Cortei em pedaços e reservei o polvo. No dia seguinte fiz o preparo dos camarões e mexilhões. Alho, cebola, pimentão vermelho e amarelo, tomate picado (sem sementes) e salsa picada. Também fiz um pouco de caldo com as cabeças de camarão, que iria ajudar no cozimento do arroz, na hora da preparação final da paella. Cozinhar os mariscos previamente ajuda a dar mais sabor, assim eu creio.
Na hora h, cebolas picadas na paellera azul, azeite de oliva. Arroz parboilizado, para ficar mais solto. Mais alguns pedaços de tomate. O caldo de camarão para cozinhar o arroz. Os mariscos em seguida, junto com o caldo do cozimento. As ervilhas frescas, que são encontrada congeladas. Açafrão para tudo ficar dourado e saboroso. E toca a mexer, para o arroz não pegar no fundo da panela. Azeite de oliva para arrematar. Quarenta minutos para o arroz cozinhar, absorver o caldo e pegar gosto. Ficou uma delícia, verdade seja dita, amparada pela repetições dos pratos.
A repetição do prato pelo convidado pode até ser algo não recomendável para quem está de regime. Mas é a glória do cozinheiro.
Preparei há alguns dias uma paella. Peguei a minha querida panela azul espanhola e fui cumprir a promessa feita. Saí para comprar mariscos. Achei camarões, mexilhões e polvo. Açafrão eu uso o da terra, esse pó amarelinho de um tubérculo chamado cúrcuma. A paella tradicional espanhola traz carne de porco, linguiça, frango e mariscos. Mas a minha favorita leva somente mariscos.
O polvo foi cozinhado com antecedência, para não haver erros. O polvo precisa ser bem cozido para não ficar duro. Costumo limpá-lo e colocá-lo na panela somente com cebolas inteiras. Não precisa nem colocar água. O próprio polvo deixa escapar água de suas células e é cozido nesse líquido. A cebola ajuda a amolecer. A dica para checar o ponto do cozimento é verificar quando a cebola começa a desmanchar. Aí então o polvo estará bom.
Cortei em pedaços e reservei o polvo. No dia seguinte fiz o preparo dos camarões e mexilhões. Alho, cebola, pimentão vermelho e amarelo, tomate picado (sem sementes) e salsa picada. Também fiz um pouco de caldo com as cabeças de camarão, que iria ajudar no cozimento do arroz, na hora da preparação final da paella. Cozinhar os mariscos previamente ajuda a dar mais sabor, assim eu creio.
Na hora h, cebolas picadas na paellera azul, azeite de oliva. Arroz parboilizado, para ficar mais solto. Mais alguns pedaços de tomate. O caldo de camarão para cozinhar o arroz. Os mariscos em seguida, junto com o caldo do cozimento. As ervilhas frescas, que são encontrada congeladas. Açafrão para tudo ficar dourado e saboroso. E toca a mexer, para o arroz não pegar no fundo da panela. Azeite de oliva para arrematar. Quarenta minutos para o arroz cozinhar, absorver o caldo e pegar gosto. Ficou uma delícia, verdade seja dita, amparada pela repetições dos pratos.
A repetição do prato pelo convidado pode até ser algo não recomendável para quem está de regime. Mas é a glória do cozinheiro.
1.9.07
//
Eu estou habitando um mundo paralelo. Essa faixa de terra compreende um quarto, acesso à internet em alta velocidade, TV por assinatura via satélite, livros, dicionários, cadernos, lápis e canetas. Entremeando tudo, existem deliciosas mesas, postas em horários programados, uma bela vista para o mar e pessoas simpáticas, que foram selecionadas por mim. Ninguém entra sem o meu consentimento, sou o feitor.
21.8.07
Salto
Eu ouvia muito isso aí. Sempre tocava nas baladas. A letra é bobinha, mas tem muito a ver com o momento. Sempre Madonna.
"Jump"
There's only so much you can learn in one place
The more that I wait, the more time that I waste
I havn't got much time to waste
It's time to make my way
I'm not afraid of what I'll face
But I'm afraid to stay
I'm going down my road and I can make it alone
I'll work and I'll fight till I find a place of my own
[Chorus]
Are you ready to jump
Get ready to jump
Don't ever look back oh baby
Yes, I'm ready to jump
Just take my hand
get ready to jump
We learned out lesson from the start
My sisters and me
The only thing you can depend on
Is your family
Life's gonna drop you down like a limb from a tree
It sways and it swings and it bends until it makes you see
[Chorus]
Are you ready?
There's only so much you can learn in one place
The more that you wait
The more time that you waste
I'll work and I'll fight till I find a place of my own
It sways and it swings and it bends until you make it your own
I can make it alone [repeat]
(my sisters and me)
"Jump"
There's only so much you can learn in one place
The more that I wait, the more time that I waste
I havn't got much time to waste
It's time to make my way
I'm not afraid of what I'll face
But I'm afraid to stay
I'm going down my road and I can make it alone
I'll work and I'll fight till I find a place of my own
[Chorus]
Are you ready to jump
Get ready to jump
Don't ever look back oh baby
Yes, I'm ready to jump
Just take my hand
get ready to jump
We learned out lesson from the start
My sisters and me
The only thing you can depend on
Is your family
Life's gonna drop you down like a limb from a tree
It sways and it swings and it bends until it makes you see
[Chorus]
Are you ready?
There's only so much you can learn in one place
The more that you wait
The more time that you waste
I'll work and I'll fight till I find a place of my own
It sways and it swings and it bends until you make it your own
I can make it alone [repeat]
(my sisters and me)
10.8.07
Astral
Hoje é um dia especial. Hoje fui aprovado na entrevista de seleção para o Québec. Valeu a pena o esforço e a grana que foram gastos. A viagem a Montréal foi mais do que necessária para conseguir a pontuação. Estou muuuuito satisfeito. Depois de uma deliciosa viagem de quatro meses, a ansiedade bateu forte na véspera da entrevista. Mas tudo correu muito bem. O trígono de Júpiter e Mercúrio, o último sendo o regente de gêmeos, estava prometendo. E cumpriu bem.
Estou teclando do hotel em São Paulo.
Estou teclando do hotel em São Paulo.
31.7.07
Parte XII
Sem dar noticias há alguns dias, pois o tempo apertou mais ainda. Reta final do curso de francês e muita coisa para fazer. Só agora estou mais folgado.
Redação, apresentação oral, análise de texto, prova escrita. Optar por estudar francês no curso de extensão de uma universidade teve inúmeras vantagens. Aprendi muito sobre a cultura do Québec. A escrita se desenvolveu bastante, quase não consigo acreditar quando vejo a diferença nos primeiros textos. A grámatica foi esquadrinhada. Mas também há algumas desvantagens.
A parte de conversação fica em segundo plano - e ela é essencial para mim. Para compensar, ao mesmo tempo me matriculei em um curso somente de conversação. Foi aí que realmente consegui colocar em prática o conhecimento gramatical aprendido. A professora Tessa, francesa formada em Direito e Pedagogia, casada com um quebequense, que já morou e estudou na Alemanha e na Inglaterra (fala bem também inglês e alemão), me proporcionou (e tem me proporcionado, pois ainda não acabou) aulas muito agradáveis, nas quais a discussão sobre temas diversos corre livre.
Quando se viaja para estudar uma língua, normalmente compra-se o pacote de escola + hospedagem com família em alguma agência de viagem. As escolas sabem que os visitantes procuram conjugar estudos e diversão. O ritmo é menos exigente. Aprende-se muito bem, mas sem tantas minúncias de notas, informações históricas e avaliação detalhada de apresentação oral. Normalmente as testes são mais curtos e ocorrem cada semana, na sexta-feira, para evitar que os assuntos acumulem. E que os estudantes aumentem o fim-de-semana, dando prosseguimento à festa da quinta-feira. As escolas também são mais caras!
Bom, nas duas modalidades, em uma escola de línguas e em uma universidade, é inegável que aprende-se bastante.
Durantes as aulas de conversação aprendi coisas muito interessantes com os alunos que vêm de outros continentes, como os norte-africanos da Tunísia e da Argélia. Por exemplo, a colega muçulmana opta por não usar o véu, que se chama hidjab. Como, em uma cultura tão rígida, em que as mulheres não podem mostrar orelhas e cabelos, pode existir algo sensual como a dança do ventre? A colega da Argélia me disse que é uma religião muito contraditória, na qual existem pessoas que seguem do modo como acham correto. Tem gente que fuma, bebe, tem gente que não reza na hora exata e tem gente que não usa o véu. E eu que pensava que essas transgressões só eram comuns no catolicismo...
=x=x=x=x=
O verão em Montréal. Depois do frio de abril, o verão se instala sem dó. Há um fenômeno que ocorre no verão, que se chama "canicule". Durante esse período faz um calor de rachar durante três semanas. Até agora, o canicule não chegou. Mas o calor atinge os 35 graus. Dentro de casa! a manteiga, coitada, teve que ir para a geladeira, pois corria o risco de sumir. Para piorar a situação, em Montréal não tem aquela brisa fresca do mar da Bahia. Mas o povo daqui não tá ligando muito, não. Quer mais é aproveitar, pois acaba logo e a neve em breve volta a cair durante um período de mais de quatro meses.
Montréal é uma cidade essencialmente turística. Os americanos vem para cá com a impressão de ter acesso a uma Europa mais próxima e acessível. Para animar a cidade, em julho acontecem inúmeros festivais. Depois do Festival Internacional de Jazz, ocorreram o Juste Pour Rire (de paradas e shows de humor), a Love Parade (festas e músicas), parada LGTB, festival de cinema, festival de música africana. Agora ocorre o FrancoFolies, festival de música francesa. Artistas e cantores do mundo inteiro se apresentam na cidade.
Teatro Pavana (da Itália) presente no Festival Juste pour Rire
Julho vai acabando e as aulas vão retornando. Os operários da construção civil voltam a trabalhar. Alguns restaurantes, que estavam fechados para as férias de verão, reabrem. Aliás isso é algo inconcebível para mim. Como, em uma cidade turística, os restaurantes podem se dar o luxo de fechar em plena alta estação? Claro que são restaurantes de pessoas do Québec. Um imigrante chinês, italiano, vietnamita ou polonês nunca fecharia o seu estabelecimento no verão. Os turistas precisam comer. E estão dispostos a pagar.
E os operários da construção? Eles formam uma das classes profissionais mais invejada do país. Além do bom salário (melhor do que muitos trabalhadores com diploma universitário), durante o inverno brabo, eles não trabalham, pois o clima não permite. O governo paga uma espécie de seguro-desemprego para eles, que não é muito abaixo do que normalmente recebem. No verão eles têm direito a duas semanas de férias, para que possam curtir o sol e viajar. Para que melhor?
=x=x=x=
Existem muitas diferenças entre um país rico e um país em desenvolvimento. Comparando a vida das pessoas aqui no Canada, dá para se perceber algumas coisas interessantes. Os salários não são exageradamente altos. Mas o mínimo fica em torno de 1.200 dólares. Dá para a pessoa pagar aluguel, comida, transporte e viver com dignidade.
Como se não bastasse ganhar mais, as tarifas públicas ainda sao menores que no Brasil. O telefone custa somente 40 dólares com pulsos livres. Normalmente os prédios sao baixos de apenas três andares, não tem o custo dos elevadores. Nem o custo de porteiros, uma prática que a violência urbana obriga os condomínios brasileiros a manter.
Outro dia fui almoçar em um restaurante popular, de comida típica do Québec, em um bairro tido como "pobre" em Montréal. As casas são praticamente idênticas às do resto da cidade. Se eu não soubesse que se tratava de um bairro proletário, não saberia identificar a diferença. O professor canadense, que acompanhava o grupo no passeio, me disse: "Não dá para comparar com as favelas do Brasil, não é mesmo?".
O que distingue as pessoas que moram naquele bairro é que normalmente não trabalham e quase sempre têm problemas com drogas e álcool. Não trabalham. Como assim?
É. Vivem com o dinheiro do seguro-desemprego e com a ajuda de 100 dólares mensais que o governo paga por cada filho. Tem gente que vive com isso e só de vez em quando faz algum bico para complementar a renda. A escola das crianças é pública. Tudo bem, no Brasil a escola também é pública e existe a bolsa-escola para cada criança. Só que a ajuda ($$$) governamental brasileira não dá para quase nada.
E aqui nem há a desculpa que emprego é difícil, como no Brasil. O resultado é que há um certo comodismo. Vive-se de seguro-desemprego e de fazer bicos "por debaixo da mesa", como se diz por aqui.
E além disso, uma coisa que se percebe por aqui é que a rede de ação social é um artigo de primeira qualidade.
Vou explicar. No Canadá, assim como nos Estados Unidos e em boa parte da Europa desenvolvida, o trabalho voluntário faz parte da cultura. No Québec, talvez seja até um pouco menor do que no restante do Canadá inglês, onde esse aspecto parece ser mais intenso.
Parece que, quanto mais frio um povo (no sentido de relações pessoais), mais articulado socialmente ele se torna. Por aqui, vários eventos são feitos com a ajuda de voluntários ("bénevoles", em francês). Aqui existe um site no qual se fica sabendo em que projeto ou evento se tem necessidade de voluntários. E os canadenses reservam uma parte do seu tempo para isso. Desde a participação na organização da festa da escola do filho, até participação em "marchas" pela cidade, para protestar ou chamar a atenção sobre um tema.
Aliás o pessoal de Montréal adora fazer uma passeata para qualquer coisa. Principalmente no início do verão. Vi marcha para chamar atenção para o cancêr abaixo da cintura (em homens e mulheres), marcha para o câncer infantil, marcha para proteção dos animais de estimação, marcha dos ciclistas pelo respeito no trânsito, marcha pela liberação da maconha, marcha de ciclistas nudistas. Isso, os peladões desfilaram para chamar a atenção não sei para que motivo, talvez para incentivar a produção de bicicletas com selins mais confortáveis, digamos assim.
Quando Montréal sofreu, há alguns anos, um grave problema do "verglas", em que a chuva caía líquida e congelava sem virar neve, formando grandes blocos de gelo, que derrubavam árvores e destruíam toda a rede elétrica, em pleno inverno de -30 graus, a população se articulou. As pessoas mais abastadas acolhiam os outros em suas casas com lareiras. O trabalho voluntário chega a contar até como ponto extra no currículo profissional.
Eu mesmo participei de um curso de conversação de francês feito por voluntários canadenses para imigrantes de todas as nacionalidades.
No Brasil, a rede social começou a se articular há menos tempo. Diferente dos Estados Unidos ou Europa, dificilmente no Brasil se vê a figura do ricaço que doa uma parte do seu patrimônio para uma obra social, uma escola, museu ou universidade. O empresário brasileiro ainda acha que pelo simples fato de empregar pessoas está fazendo um "grande" papel social. Ele não lembra que é o empregado que gera a sua riqueza.
Pois bem, eu acredito que para um país se desenvolver, a sociedade tem que estar muito bem articulada. O tema social é tão complexo, que somente o governo não vai conseguir dar conta de tudo. Nunca.
Redação, apresentação oral, análise de texto, prova escrita. Optar por estudar francês no curso de extensão de uma universidade teve inúmeras vantagens. Aprendi muito sobre a cultura do Québec. A escrita se desenvolveu bastante, quase não consigo acreditar quando vejo a diferença nos primeiros textos. A grámatica foi esquadrinhada. Mas também há algumas desvantagens.
A parte de conversação fica em segundo plano - e ela é essencial para mim. Para compensar, ao mesmo tempo me matriculei em um curso somente de conversação. Foi aí que realmente consegui colocar em prática o conhecimento gramatical aprendido. A professora Tessa, francesa formada em Direito e Pedagogia, casada com um quebequense, que já morou e estudou na Alemanha e na Inglaterra (fala bem também inglês e alemão), me proporcionou (e tem me proporcionado, pois ainda não acabou) aulas muito agradáveis, nas quais a discussão sobre temas diversos corre livre.
Quando se viaja para estudar uma língua, normalmente compra-se o pacote de escola + hospedagem com família em alguma agência de viagem. As escolas sabem que os visitantes procuram conjugar estudos e diversão. O ritmo é menos exigente. Aprende-se muito bem, mas sem tantas minúncias de notas, informações históricas e avaliação detalhada de apresentação oral. Normalmente as testes são mais curtos e ocorrem cada semana, na sexta-feira, para evitar que os assuntos acumulem. E que os estudantes aumentem o fim-de-semana, dando prosseguimento à festa da quinta-feira. As escolas também são mais caras!
Bom, nas duas modalidades, em uma escola de línguas e em uma universidade, é inegável que aprende-se bastante.
Durantes as aulas de conversação aprendi coisas muito interessantes com os alunos que vêm de outros continentes, como os norte-africanos da Tunísia e da Argélia. Por exemplo, a colega muçulmana opta por não usar o véu, que se chama hidjab. Como, em uma cultura tão rígida, em que as mulheres não podem mostrar orelhas e cabelos, pode existir algo sensual como a dança do ventre? A colega da Argélia me disse que é uma religião muito contraditória, na qual existem pessoas que seguem do modo como acham correto. Tem gente que fuma, bebe, tem gente que não reza na hora exata e tem gente que não usa o véu. E eu que pensava que essas transgressões só eram comuns no catolicismo...
=x=x=x=x=
O verão em Montréal. Depois do frio de abril, o verão se instala sem dó. Há um fenômeno que ocorre no verão, que se chama "canicule". Durante esse período faz um calor de rachar durante três semanas. Até agora, o canicule não chegou. Mas o calor atinge os 35 graus. Dentro de casa! a manteiga, coitada, teve que ir para a geladeira, pois corria o risco de sumir. Para piorar a situação, em Montréal não tem aquela brisa fresca do mar da Bahia. Mas o povo daqui não tá ligando muito, não. Quer mais é aproveitar, pois acaba logo e a neve em breve volta a cair durante um período de mais de quatro meses.
Montréal é uma cidade essencialmente turística. Os americanos vem para cá com a impressão de ter acesso a uma Europa mais próxima e acessível. Para animar a cidade, em julho acontecem inúmeros festivais. Depois do Festival Internacional de Jazz, ocorreram o Juste Pour Rire (de paradas e shows de humor), a Love Parade (festas e músicas), parada LGTB, festival de cinema, festival de música africana. Agora ocorre o FrancoFolies, festival de música francesa. Artistas e cantores do mundo inteiro se apresentam na cidade.
Teatro Pavana (da Itália) presente no Festival Juste pour Rire
Julho vai acabando e as aulas vão retornando. Os operários da construção civil voltam a trabalhar. Alguns restaurantes, que estavam fechados para as férias de verão, reabrem. Aliás isso é algo inconcebível para mim. Como, em uma cidade turística, os restaurantes podem se dar o luxo de fechar em plena alta estação? Claro que são restaurantes de pessoas do Québec. Um imigrante chinês, italiano, vietnamita ou polonês nunca fecharia o seu estabelecimento no verão. Os turistas precisam comer. E estão dispostos a pagar.
E os operários da construção? Eles formam uma das classes profissionais mais invejada do país. Além do bom salário (melhor do que muitos trabalhadores com diploma universitário), durante o inverno brabo, eles não trabalham, pois o clima não permite. O governo paga uma espécie de seguro-desemprego para eles, que não é muito abaixo do que normalmente recebem. No verão eles têm direito a duas semanas de férias, para que possam curtir o sol e viajar. Para que melhor?
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Existem muitas diferenças entre um país rico e um país em desenvolvimento. Comparando a vida das pessoas aqui no Canada, dá para se perceber algumas coisas interessantes. Os salários não são exageradamente altos. Mas o mínimo fica em torno de 1.200 dólares. Dá para a pessoa pagar aluguel, comida, transporte e viver com dignidade.
Como se não bastasse ganhar mais, as tarifas públicas ainda sao menores que no Brasil. O telefone custa somente 40 dólares com pulsos livres. Normalmente os prédios sao baixos de apenas três andares, não tem o custo dos elevadores. Nem o custo de porteiros, uma prática que a violência urbana obriga os condomínios brasileiros a manter.
Outro dia fui almoçar em um restaurante popular, de comida típica do Québec, em um bairro tido como "pobre" em Montréal. As casas são praticamente idênticas às do resto da cidade. Se eu não soubesse que se tratava de um bairro proletário, não saberia identificar a diferença. O professor canadense, que acompanhava o grupo no passeio, me disse: "Não dá para comparar com as favelas do Brasil, não é mesmo?".
O que distingue as pessoas que moram naquele bairro é que normalmente não trabalham e quase sempre têm problemas com drogas e álcool. Não trabalham. Como assim?
É. Vivem com o dinheiro do seguro-desemprego e com a ajuda de 100 dólares mensais que o governo paga por cada filho. Tem gente que vive com isso e só de vez em quando faz algum bico para complementar a renda. A escola das crianças é pública. Tudo bem, no Brasil a escola também é pública e existe a bolsa-escola para cada criança. Só que a ajuda ($$$) governamental brasileira não dá para quase nada.
E aqui nem há a desculpa que emprego é difícil, como no Brasil. O resultado é que há um certo comodismo. Vive-se de seguro-desemprego e de fazer bicos "por debaixo da mesa", como se diz por aqui.
E além disso, uma coisa que se percebe por aqui é que a rede de ação social é um artigo de primeira qualidade.
Vou explicar. No Canadá, assim como nos Estados Unidos e em boa parte da Europa desenvolvida, o trabalho voluntário faz parte da cultura. No Québec, talvez seja até um pouco menor do que no restante do Canadá inglês, onde esse aspecto parece ser mais intenso.
Parece que, quanto mais frio um povo (no sentido de relações pessoais), mais articulado socialmente ele se torna. Por aqui, vários eventos são feitos com a ajuda de voluntários ("bénevoles", em francês). Aqui existe um site no qual se fica sabendo em que projeto ou evento se tem necessidade de voluntários. E os canadenses reservam uma parte do seu tempo para isso. Desde a participação na organização da festa da escola do filho, até participação em "marchas" pela cidade, para protestar ou chamar a atenção sobre um tema.
Aliás o pessoal de Montréal adora fazer uma passeata para qualquer coisa. Principalmente no início do verão. Vi marcha para chamar atenção para o cancêr abaixo da cintura (em homens e mulheres), marcha para o câncer infantil, marcha para proteção dos animais de estimação, marcha dos ciclistas pelo respeito no trânsito, marcha pela liberação da maconha, marcha de ciclistas nudistas. Isso, os peladões desfilaram para chamar a atenção não sei para que motivo, talvez para incentivar a produção de bicicletas com selins mais confortáveis, digamos assim.
Quando Montréal sofreu, há alguns anos, um grave problema do "verglas", em que a chuva caía líquida e congelava sem virar neve, formando grandes blocos de gelo, que derrubavam árvores e destruíam toda a rede elétrica, em pleno inverno de -30 graus, a população se articulou. As pessoas mais abastadas acolhiam os outros em suas casas com lareiras. O trabalho voluntário chega a contar até como ponto extra no currículo profissional.
Eu mesmo participei de um curso de conversação de francês feito por voluntários canadenses para imigrantes de todas as nacionalidades.
No Brasil, a rede social começou a se articular há menos tempo. Diferente dos Estados Unidos ou Europa, dificilmente no Brasil se vê a figura do ricaço que doa uma parte do seu patrimônio para uma obra social, uma escola, museu ou universidade. O empresário brasileiro ainda acha que pelo simples fato de empregar pessoas está fazendo um "grande" papel social. Ele não lembra que é o empregado que gera a sua riqueza.
Pois bem, eu acredito que para um país se desenvolver, a sociedade tem que estar muito bem articulada. O tema social é tão complexo, que somente o governo não vai conseguir dar conta de tudo. Nunca.
11.7.07
Mais notícias - parte XI
Aniversário
Depois da comemoração da data nacional do Québec no dia 24 de junho, no dia 1 de julho é o dia do Canadá celebrar o seu aniversário. Data de aniversário? Coisa estranha para a gente. No Brasil, a data nacional é considerada como sendo o dia sete de setembro, data da independência. Mas não se fala em aniversário. Pelo menos é o que os astrólogos consideram na hora de fazer as previsões do país. O Brasil seria então do signo de virgem e o Canadá do signo de câncer.
Diferente da comemoração que aconteceu no Québec, o Canadá fez e faz questão de valorizar as comunidades de imigrantes. E o país inteiro valoriza as chamadas "minorias" - nem tão minorias assim. Por exemplo, o representante da rainha da Inglaterra no Canada, chamado de governador-geral, é uma mulher. Negra. O ministério do patrimônio canadense é chefiado por uma mulher. Japonesa. Dá para sentir que não se trata apenas de querer ou não valorizar. É um fato incorporado às características do país.
A governadora-geral esteve recentemente em visita ao Brasil. Ela é ex-apresentadora de TV e bastante carismática. Como é negra e de origem haitiana, ela é bastante simpática aos povos negros do terceiro mundo. Quando esteve no Mali foi recepcionada por uma multidão. No Brasil ela fez questão de ir à Salvador.
Quanto ao Québec, compreende-se que a província a todo tempo queira reafirmar a sua identidade e as suas origens. É a forma encontrada para se diferenciar do resto do país. Nas placas dos veículos do Québec existe a inscrição "Je me souviens", que quer dizer "Eu me lembro". O povo do Quebec não quer esquecer as tais origens francesas. E, fiel ao seu passado, acaba por dificultar a incorporação de novos elementos culturais. Faz até um certo sentido, pois os quebequenses conseguiram manter a língua francesa depois de dois séculos (!) de dominição inglesa.
Mas no desfile do aniversário do Quebec não havia praticamente referência às comunidades culturais de imigrantes presentes na província. Nos festejos que aconteceram em Ottawa, a capital do Canadá, o tema sempre esteve presente, do discurso do Primeiro-ministro aos shows que foram apresentados.
Achei interessante que durante a transmissão da festa, o canal de televisão fez a seguinte pergunta para várias crianças: "Para você, o que é o Canadá?". Uma das crianças dissse: "É um país para onde vem gente até do fim do mundo". Acho que o menino quis dizer que vem gente de todo o mundo.
É mesmo essa a impressão, depois de sair na rua e ver indiana vestindo sari, indiano sikh com o turbante enorme na cabeça (o cabelo e a barba não podem ser cortados), libanesa usando hidjab (o véu que cobre cabelos e orelhas), africanos usando túnicas coloridas e até canadenses de longa data, cheios de piercings e roupas pretas. Todos dentro do mesmo ônibus.
Bóia-fria
Uma mania nacional no Canadá é a farofada. Como assim? Claro que eles nao costumam consumir farofa, uma coisa que nem em sonho aparece por aqui. Os canadenses têm o hábito de levar lanches para todos os lugares. Um hábito que provavelmente herdaram dos ingleses, que se comportam da mesma forma, como pude conferir na minha viagem à Inglaterra, há alguns anos.
O lanche vai para todos os lugares e ocasiões. Para o parque, para a escola, para o passeio na beira do rio, para o curto intervalo de almoço de trabalho. Qualquer intervalo lá estão eles, os farofeiros (quantas vezes também encomendei a marmita durante o trabalho?) sacando sanduíches, bolos, sucos de caixa, frutas frescas e secas, biscoitos, barras de cereais e tudo mais que pode ser carregado dentro de uma bolsa ou mochila. Além de custar mais barato, o lanche é mais saudável do que comer hamburgueres ou pizzas e nem sempre há nos parques local disponível para comprá-los.
Não há vendedor de churrasquinho de gato, nem baiana de acarajé, nem ambulante com isopor oferecendo cerveja e refrigerante, nem barraca de praia com um monte de tira-gostos no cardápio, nem queijinho coalho com fogareiro causador de queimaduras. Aliás um dos mistérios mais intrigantes da Bahia é como o vendedor de queijo coalho consegue passar no meio de uma multidão, no meio de uma festa popular, e não queimar ninguém? Nunca consegui entender isso, e para evitar, sempre preferi me desviar quando algum vendedor desses aparece.
Para quebrar o galho com o lanche, aqui há sempre máquinas de bebidas e lanches. Colocou a moedinha, voilà, comida e bebida na mão. No Québec também existem os "depanneurs", que são correspondentes às lojas de conveniência. Depanneur é uma palavra que no francês da França tem um outro sentido. Lá a palavra significa o mecânico de carros que presta assistência a qualquer hora. O "depanneur" do Québec, por sua vez, presta os primeiros-socorros noturnos essenciais, como cervejas, vinhos, cigarros, chocolates, jornais, leite e lanches. Essas coisinhas sem as quais fica muito dificil viver em cidade grande. Em Montréal, a cada dois ou três quarteirões se acha um depanneur. Quase sempre de propriedade de imigrantes. Tem loja de chinês, árabe, indiano, libanês e por aí vai. Os depanneurs são típicos do Québec e são algo de que os quebequenses se orgulham.
Então, em vez de comprar mais caro no depanneur, o Canadense sabidamente leva na bolsa o seu lanche.
O Québec tem tradição de mais liberalidade do resto do Canadá inglês. Na província francesa, as bebidas alcoólicas podem ser vendidas nos mercados e nos depanneurs. No restante do Canadá inglês, não. Somente nas lojas especializadas em bebidas. Outra diferença é o horário das casas noturnas. Na parte inglesa, inclusive na metrópole Toronto, as casas noturnas fecham às 2 da manhã. No Québec a tolerância é maior, a lei permite o funcionamento até e a venda de bebidas alcoólicas até as 3 da manhã. Mas, em nenhum dos dois locais se pode sair às ruas bebida alcoólica, uma vez que a maior parte tem embalagens de vidro. Ok, tudo bem, até na nossa velha Salvador, a venda de cerveja em garrafa é probida nas festas de largo. Para prevenir aquela tradição ancestral de brigas e acidentes com cacos de vidro em forma de armas. O que acontece é que há o "jeitinho popular", como em qualquer cultura latina. Para disfarçar, o povo do Québec, quando está na rua bebe a cerveja enrolada no saco de papel marrom ou de plástico do supermercado.
Além do lanche, a mochila do quebequense carrega o capacete da bicicleta, a garrafa de água e o pulôver para a mudança do tempo, que pode ocorrer qualquer hora. E, de acordo com o gosto, algum trago de bebida quente ou qualquer outra substância para animar a festa.
Os carros de bebês
Para poder sair de casa, os canadenses que têm filhos pequenos não se apertam. Em um país em que não existem babás e que as avós normalmente estão viajando pelo mundo, com os seus novos namorados ou em seus programas com os grupos da terceira idade, os pais tem que levar as crianças, não importa o jeito. Os carrinhos de bebê estão por todos os lados. No início, depois de ver tantos carrinhos de bebês pelas ruas, pensei que essa história de baixa natalidade fosse conversa para boi dormir. Depois vi que os pais andam com os carrinhos por todos os lados. No metrô, nos ônibus, nas festas populares e nos shows. Para não perder o calor do verão e os eventos, vale tudo. Já vi carrinho de bebê rebocado por bicicleta. Já vi gente de patins empurrando o carrinho. Já vi bicicleta dupla, em que o pai vai pedalando na frente e o filho vai atrás, fingindo que também pedala. Já vi gente que carrega filho junto do corpo, enrolado em panos, como nas tribos africanas, como se fosse uma bolsa de canguru. Tudo vale a pena para poder sair de casa no verão.
Aí é que fui perceber um lado cruel da violência e da desorganização do Brasil. Simplesmente não e possível tomar um ônibus ou metrô com um carrinho de bebê ou se deslocar em grandes distâncias pelas ruas brasileiras empurrando o tal carrinho. Os pais não se atrevem a fazer isso. A calçada é esburacada e interrompida. Ok, aqui também, nas estações de metrô, faltam rampas para deficientes físicos e que também serviriam para os carrinhos de bebê. As mães precisam de braços fortes para subir os degraus com o peso duplo de bebês e carrinhos.
No Brasil, por sorte, as famílias permanecem um pouco mais compreensivas e de vez em quando aparece algum parente caridoso para dar uma força quando os pais quem sair. A avó e o avô, tradicionalmente encarregados no passado, talvez estejam com a agenda cheia de compromissos e não tenham muita disponibilidade. O âmbito familiar, no Brasil, ainda cumpre o papel de apoio que nem o governo, nem a rede de organização social, cumprem com eficiência.
Depois da comemoração da data nacional do Québec no dia 24 de junho, no dia 1 de julho é o dia do Canadá celebrar o seu aniversário. Data de aniversário? Coisa estranha para a gente. No Brasil, a data nacional é considerada como sendo o dia sete de setembro, data da independência. Mas não se fala em aniversário. Pelo menos é o que os astrólogos consideram na hora de fazer as previsões do país. O Brasil seria então do signo de virgem e o Canadá do signo de câncer.
Diferente da comemoração que aconteceu no Québec, o Canadá fez e faz questão de valorizar as comunidades de imigrantes. E o país inteiro valoriza as chamadas "minorias" - nem tão minorias assim. Por exemplo, o representante da rainha da Inglaterra no Canada, chamado de governador-geral, é uma mulher. Negra. O ministério do patrimônio canadense é chefiado por uma mulher. Japonesa. Dá para sentir que não se trata apenas de querer ou não valorizar. É um fato incorporado às características do país.
A governadora-geral esteve recentemente em visita ao Brasil. Ela é ex-apresentadora de TV e bastante carismática. Como é negra e de origem haitiana, ela é bastante simpática aos povos negros do terceiro mundo. Quando esteve no Mali foi recepcionada por uma multidão. No Brasil ela fez questão de ir à Salvador.
Quanto ao Québec, compreende-se que a província a todo tempo queira reafirmar a sua identidade e as suas origens. É a forma encontrada para se diferenciar do resto do país. Nas placas dos veículos do Québec existe a inscrição "Je me souviens", que quer dizer "Eu me lembro". O povo do Quebec não quer esquecer as tais origens francesas. E, fiel ao seu passado, acaba por dificultar a incorporação de novos elementos culturais. Faz até um certo sentido, pois os quebequenses conseguiram manter a língua francesa depois de dois séculos (!) de dominição inglesa.
Mas no desfile do aniversário do Quebec não havia praticamente referência às comunidades culturais de imigrantes presentes na província. Nos festejos que aconteceram em Ottawa, a capital do Canadá, o tema sempre esteve presente, do discurso do Primeiro-ministro aos shows que foram apresentados.
Achei interessante que durante a transmissão da festa, o canal de televisão fez a seguinte pergunta para várias crianças: "Para você, o que é o Canadá?". Uma das crianças dissse: "É um país para onde vem gente até do fim do mundo". Acho que o menino quis dizer que vem gente de todo o mundo.
É mesmo essa a impressão, depois de sair na rua e ver indiana vestindo sari, indiano sikh com o turbante enorme na cabeça (o cabelo e a barba não podem ser cortados), libanesa usando hidjab (o véu que cobre cabelos e orelhas), africanos usando túnicas coloridas e até canadenses de longa data, cheios de piercings e roupas pretas. Todos dentro do mesmo ônibus.
Bóia-fria
Uma mania nacional no Canadá é a farofada. Como assim? Claro que eles nao costumam consumir farofa, uma coisa que nem em sonho aparece por aqui. Os canadenses têm o hábito de levar lanches para todos os lugares. Um hábito que provavelmente herdaram dos ingleses, que se comportam da mesma forma, como pude conferir na minha viagem à Inglaterra, há alguns anos.
O lanche vai para todos os lugares e ocasiões. Para o parque, para a escola, para o passeio na beira do rio, para o curto intervalo de almoço de trabalho. Qualquer intervalo lá estão eles, os farofeiros (quantas vezes também encomendei a marmita durante o trabalho?) sacando sanduíches, bolos, sucos de caixa, frutas frescas e secas, biscoitos, barras de cereais e tudo mais que pode ser carregado dentro de uma bolsa ou mochila. Além de custar mais barato, o lanche é mais saudável do que comer hamburgueres ou pizzas e nem sempre há nos parques local disponível para comprá-los.
Não há vendedor de churrasquinho de gato, nem baiana de acarajé, nem ambulante com isopor oferecendo cerveja e refrigerante, nem barraca de praia com um monte de tira-gostos no cardápio, nem queijinho coalho com fogareiro causador de queimaduras. Aliás um dos mistérios mais intrigantes da Bahia é como o vendedor de queijo coalho consegue passar no meio de uma multidão, no meio de uma festa popular, e não queimar ninguém? Nunca consegui entender isso, e para evitar, sempre preferi me desviar quando algum vendedor desses aparece.
Para quebrar o galho com o lanche, aqui há sempre máquinas de bebidas e lanches. Colocou a moedinha, voilà, comida e bebida na mão. No Québec também existem os "depanneurs", que são correspondentes às lojas de conveniência. Depanneur é uma palavra que no francês da França tem um outro sentido. Lá a palavra significa o mecânico de carros que presta assistência a qualquer hora. O "depanneur" do Québec, por sua vez, presta os primeiros-socorros noturnos essenciais, como cervejas, vinhos, cigarros, chocolates, jornais, leite e lanches. Essas coisinhas sem as quais fica muito dificil viver em cidade grande. Em Montréal, a cada dois ou três quarteirões se acha um depanneur. Quase sempre de propriedade de imigrantes. Tem loja de chinês, árabe, indiano, libanês e por aí vai. Os depanneurs são típicos do Québec e são algo de que os quebequenses se orgulham.
Então, em vez de comprar mais caro no depanneur, o Canadense sabidamente leva na bolsa o seu lanche.
O Québec tem tradição de mais liberalidade do resto do Canadá inglês. Na província francesa, as bebidas alcoólicas podem ser vendidas nos mercados e nos depanneurs. No restante do Canadá inglês, não. Somente nas lojas especializadas em bebidas. Outra diferença é o horário das casas noturnas. Na parte inglesa, inclusive na metrópole Toronto, as casas noturnas fecham às 2 da manhã. No Québec a tolerância é maior, a lei permite o funcionamento até e a venda de bebidas alcoólicas até as 3 da manhã. Mas, em nenhum dos dois locais se pode sair às ruas bebida alcoólica, uma vez que a maior parte tem embalagens de vidro. Ok, tudo bem, até na nossa velha Salvador, a venda de cerveja em garrafa é probida nas festas de largo. Para prevenir aquela tradição ancestral de brigas e acidentes com cacos de vidro em forma de armas. O que acontece é que há o "jeitinho popular", como em qualquer cultura latina. Para disfarçar, o povo do Québec, quando está na rua bebe a cerveja enrolada no saco de papel marrom ou de plástico do supermercado.
Além do lanche, a mochila do quebequense carrega o capacete da bicicleta, a garrafa de água e o pulôver para a mudança do tempo, que pode ocorrer qualquer hora. E, de acordo com o gosto, algum trago de bebida quente ou qualquer outra substância para animar a festa.
Os carros de bebês
Para poder sair de casa, os canadenses que têm filhos pequenos não se apertam. Em um país em que não existem babás e que as avós normalmente estão viajando pelo mundo, com os seus novos namorados ou em seus programas com os grupos da terceira idade, os pais tem que levar as crianças, não importa o jeito. Os carrinhos de bebê estão por todos os lados. No início, depois de ver tantos carrinhos de bebês pelas ruas, pensei que essa história de baixa natalidade fosse conversa para boi dormir. Depois vi que os pais andam com os carrinhos por todos os lados. No metrô, nos ônibus, nas festas populares e nos shows. Para não perder o calor do verão e os eventos, vale tudo. Já vi carrinho de bebê rebocado por bicicleta. Já vi gente de patins empurrando o carrinho. Já vi bicicleta dupla, em que o pai vai pedalando na frente e o filho vai atrás, fingindo que também pedala. Já vi gente que carrega filho junto do corpo, enrolado em panos, como nas tribos africanas, como se fosse uma bolsa de canguru. Tudo vale a pena para poder sair de casa no verão.
Aí é que fui perceber um lado cruel da violência e da desorganização do Brasil. Simplesmente não e possível tomar um ônibus ou metrô com um carrinho de bebê ou se deslocar em grandes distâncias pelas ruas brasileiras empurrando o tal carrinho. Os pais não se atrevem a fazer isso. A calçada é esburacada e interrompida. Ok, aqui também, nas estações de metrô, faltam rampas para deficientes físicos e que também serviriam para os carrinhos de bebê. As mães precisam de braços fortes para subir os degraus com o peso duplo de bebês e carrinhos.
No Brasil, por sorte, as famílias permanecem um pouco mais compreensivas e de vez em quando aparece algum parente caridoso para dar uma força quando os pais quem sair. A avó e o avô, tradicionalmente encarregados no passado, talvez estejam com a agenda cheia de compromissos e não tenham muita disponibilidade. O âmbito familiar, no Brasil, ainda cumpre o papel de apoio que nem o governo, nem a rede de organização social, cumprem com eficiência.
A turma do nivel 5 na UQAM
Aí a turma do nível 5 do curso de francês da UQAM. A maior parte é de canadenses anglófonos, mas tem um brasileiro (eu, é claro!), uma colombiana, um mexicano e um catalão (espanhol). Além de uma búlgara e uma filipina, mas essas duas são imigrantes.
O professor é esse de camisa listrada, quebequense de raiz, que nos proporcionou um curso riquíssimo sobre a cultura e a história do Québec. O que nem sempre acontece por aqui. Dos 5 professores que tive até agora, 3 sao franceses, acredite. Clicando na imagem ela amplia.
A foto foi tirada depois do almoço de despedida em um restaurante de comida québecois. Comi uma deliciosa "Tourtière", uma torta de carne típica da região.
O professor é esse de camisa listrada, quebequense de raiz, que nos proporcionou um curso riquíssimo sobre a cultura e a história do Québec. O que nem sempre acontece por aqui. Dos 5 professores que tive até agora, 3 sao franceses, acredite. Clicando na imagem ela amplia.
A foto foi tirada depois do almoço de despedida em um restaurante de comida québecois. Comi uma deliciosa "Tourtière", uma torta de carne típica da região.
30.6.07
Não é fácil aprender francês. Nao se trata somente de aprender um novo sistema fonético e adquirir novo vocabulário. O buraco é mais profundo. Aprender francês aqui no Québec significa aprender três idiomas. Vou explicar.
Primeiro, a pronúncia do francês é diferente do que se escreve. As palavras são escritas de uma forma e são pronunciadas de outra forma. Isso acontece porque a últimas letras das palavras quase nunca são pronunciadas. Por exemplo, a terceira pessoa do plural do verbo parler (falar), ils parlent (eles falam) se pronuncia somente "parle". O "ent" do final da palavra é simplesmente desprezado.
Aí o que acontece é que a gente aprende a gramática, consegue ler relativamente bem, mas não consegue entender direito o que as pessoas falam. Para dificultar ainda mais a situação, o habitante do Québec fala de um modo muito característico, quase um dialeto, uma linguagem familiar a eles que é chamada de "joual". Há inclusive dicionário de "québecois-francês" para facilitar a compreensão. Aprende-se a língua culta na escola, mas na rua ouve-se uma outra linguagem, mais popular e menos correta.
Mesmo quem vem da França às vezes tem dificuldade de entender o francês do Québec. Então quem vem para cá tem que aprender o francês que se fala de um jeito, o francês que se escreve de outro jeito e ainda aprender as palavras nativas do Quebec, que só eles falam e que nem os grandes dicionários de francês, normalmente editados na França, trazem. Pfff!
Isso inclui, como no Brasil, as palavras de origem indígena. Por exemplo, Canadá e Québec são palavras dos indios daqui. Uma outra província do Canada, que fica bem no meio do país, tem nome quase impronunciável: Saskatchewan. Algumas cidades do Québec: Atibiti-Temiscamingue, Chibogamau, Saguenay. Nomes que são pronunciados com sotaque francês. Bom, para quem é brasileiro e tem nomes vários nomes indígenas em cidades, do tipo Itaquaquecetuba, Itapetinga e Pindamonhangaba, não pode reclamar de nada.
Os indígenas daqui são considerados preguiçosos e fazedores de confusão. Volta e meia eles aparecem fazendo manifestações e cobrando mais ajuda do governo. Aliás, chamar os indígenas ou "autochtones" do Canadá de esquimós é uma grosseiria. A palavra esquimó significa "aquele que come carne crua". Entra as tribos que existem por aqui, as mais importantes são as dos inuits, iroqueses e hurons.
=x=x=x=x=x=x=
Um dos fenômenos de popularidade na internet do Québec são animações humorísticas Têtes à Claque (www.tetesaclaque.tv). A última esquete do programa explora bem essa diferença entre França e Québec.
No episódio mais recente, um casal de quebequenses vai passear em Paris. O garçom francês que os atende inicialmente não entende os canadenses. Mas conversa vai, conversa vem, o papo aumenta. O garçom diz que admira o Canadá e gostaria de visitar o país e levar a família. Diz que tem dois filhos ("gosses") lindos. O casal de quebequenses se entreolha ressabiado. "Gosses" no Québec significa... testículos! O garçom vai adiante e pergunta se eles não querem ver uma foto dos seus "gosses". O casal só falta morrer de vergonha e não sabe o que dizer. É muito engraçado.
=x=x=x=x=
O padroeiro do Québec é São João (Saint-Jean). Na mesma data dos festejos do Brasil, ocorre aqui um desfile que comemora a data "nacional". Sim, o Québec se considera um outro país e sempre luta pela separação do restante do Canadá. Durante a festa, ocorre um desfile que conta alguns aspectos da história do Québec e reafirma o orgulho quebequense de ser um povo dentro de um país.
Tudo bem, o Québec tem um histórico de dominação pelos ingleses, do qual nem gostam de lembrar, mas não sei se eles farão bom negócio em se separar. O Québec, apesar de produzir em torno de 30% da riqueza do Canadá (agricultura, indústria farmacêutica e aeroespacial), ainda recebe alguns milhões do governo federal para cobrir os déficits. Aqui no Canadá funciona assim: os Estados ricos dividem o bolo com os mais pobres. Será que no Brasil acontece desse jeito$ Mistério e bolas de goma, como se diz por aqui. O Estado de Alberta, grande produtor de petróleo, é o primo rico.
Pois bem, o Québec há tempos vem tentando se separar. Já ocorreram dois plebiscitos, mas a separação não foi aprovada. Da segunda vez a diferença foi muito pequena. Há alguns dias a televisão noticiava que foi descoberto que o governo federal "distribuiu" algum dinheiro para que a população votasse na época contra a separação. O Canadá não quer peder uma parte significativa da sua riqueza, inclusive cultural, que o Québec representa.
Assim como os americanos, em sua extensa ignorância da geografia e da cultura mundial, acham que os brasileiros falam espanhol, a gente tem a tendência a pensar que canadenses e americanos são farinha do mesmo saco. Mas não é bem assim. Os canadenses fazem questão de afirmar a sua identidade nacional.
Isso é notado nas três características apontadas pelos canadenses para diferenciar o Canadá dos Estados Unidos: a parte francesa (o Québec), a monarquia (sim, a rainha da Inglaterra ainda é a rainha do Canadá!) e o sistema público de assistência de saúde, apontado como bem melhor do que o americano. Mas os canadenses também não gostam da monarquia. Eu soube que da última vez que a rainha esteve aqui, ocorreram vários protestos da população. As pessoas acham que o país gasta muito dinheiro para manter a estrutura monárquica. Depois dos protestos, ela não teve mais coragem de voltar.
Mas o Québec é ainda mais anti-americano. Na época da segunda guerra mundial o Québec protestou conta a participação do Canada. O canadense e o quebequense fazem questao de pregar um valor bem diferente dos americanos: a simplicidade. Quando se fala de características físicas, a obesidade americana é sempre lembrada. O canadense é bem mais magro e procura a alimentação mais natural. Ele valoriza os esportes e gosta de se locomover de bicicletas e patins.
Aliás, o quebequense tem um jeito meio riponga de ser. Acho que já falei disso antes, mas acho muito interessante. Agora no verão, eles ficam em grupos, com muitas mochilas sujas, dormindo nas praças e debaixo de qualquer teto, quase sempre acompanhados de cachorros, quase sempre com garrafas de bebidas envolvidas em sacos de papel de embrulho para escondê-las, pois não se pode beber na rua. Muitos tomam drogas pesadas. Eles possuem piercings, usam coturnos, calças rasgadas, cintos de metal, adereços que lembram os punks. Ás vezes pedem esmolas. Algumas vezes resolvem limpar os vidros dos carros.
Depois vim a saber que são realmente punks que vem de Toronto ou Vancouver para aproveitar o verão em Montréal. Para descolar um troco ficam limpando os pára-brisas nos cruzamentos movimentados, principalmente nas ruas onde existem bares e restaurantes
Pois bem, voltando à festa de São João, o Québec é celebrado como país. E, internamente no Canada, tem uma autonomia maior que os demais Estados, o que gera até certo ciúme. No desfile do São João, algumas das minhas colegas canadenses do curso de francês se sentiram hostilizadas porque falavam inglês.
Durante o desfile de São João, uma surpresa. Uma das bandas tocando a música "Mamãe eu quero (mamar)". Quase não acreditei. Que diabos isso faz aqui? A história é a seguinte: há algum tempo, um grupo musical brasileiro, formado por três garotas, fez o maior sucesso internacionalmente cantando a tal música em um ritmo dançante, mas não igual ao original. Por conta do sucesso popular, a bandinha do desfile incluiu a canção em seu repertório.
=x=x=x=x=x=
O Festival Internacional de Jazz de Montréal começou bem. O show de estréia foi de Carlinhos Brown. Equipe do cantor teve um pequeno, para não dizer gigantesco, contratempo. Todos, eu disse todos, os instrumentos ficaram perdidos em algum ponto do vôo de Chicago a Montréal. O baiano simplesmente teve que fazer o show sem nenhum dos seus fantásticos instrumentos de percussão. Foi tudo emprestado dos músicos canadenses. Até o timbau que ele utilizou não era nem de madeira. Era de metal, enrolado com fita adesiva para parecer um tambor tribal.
Aconteceu de tudo: microfonias, instrumentos que deram problema, as backing vocals segurando o timbau para que ele pudesse tocar, uma vez que não havia suporte para o instrumento. Mesmo assim, Carlinhos Brown deu um show de animação. Para quem começou a carreira liderando timbaleiros nas ruas da Barra, não deve ser sido problema fazer um belo show naquelas condições. Acho que um outro músico não conseguiria.
O show foi incrementado com a presença de um grupo de dançarinos vestidos de branco, umas doze ou quinze pessoas. Pensei que eram brasileiros, pois dançavam bem, com bastante suingue. Depois foram apresentados, foi revelado que eram canadenses ou pessoas de outras origens que moram no Quebec.
O público gostou muito, a estimativa de público foi de mais de 100 mil pessoas. Os brasileiros nas primeiras filas, Carlinhos Brown misturando inglês, francês, espanhol e aquele português que só ele sabe falar. Se a animação do público não é igual a um show no Brasil, vale a pena ter o conforto de não levar empurrões ou pisões no pé e de ter o metrô esperando para conduzir o público para casa.
É impressionante como a cultura brasileira está presente aqui. Os quebequenses adoram a percussão e são fascinados pela música brasileira. O prêmio mais importante do Festival de Jazz se chama Antônio Carlos Jobim.
Primeiro, a pronúncia do francês é diferente do que se escreve. As palavras são escritas de uma forma e são pronunciadas de outra forma. Isso acontece porque a últimas letras das palavras quase nunca são pronunciadas. Por exemplo, a terceira pessoa do plural do verbo parler (falar), ils parlent (eles falam) se pronuncia somente "parle". O "ent" do final da palavra é simplesmente desprezado.
Aí o que acontece é que a gente aprende a gramática, consegue ler relativamente bem, mas não consegue entender direito o que as pessoas falam. Para dificultar ainda mais a situação, o habitante do Québec fala de um modo muito característico, quase um dialeto, uma linguagem familiar a eles que é chamada de "joual". Há inclusive dicionário de "québecois-francês" para facilitar a compreensão. Aprende-se a língua culta na escola, mas na rua ouve-se uma outra linguagem, mais popular e menos correta.
Mesmo quem vem da França às vezes tem dificuldade de entender o francês do Québec. Então quem vem para cá tem que aprender o francês que se fala de um jeito, o francês que se escreve de outro jeito e ainda aprender as palavras nativas do Quebec, que só eles falam e que nem os grandes dicionários de francês, normalmente editados na França, trazem. Pfff!
Isso inclui, como no Brasil, as palavras de origem indígena. Por exemplo, Canadá e Québec são palavras dos indios daqui. Uma outra província do Canada, que fica bem no meio do país, tem nome quase impronunciável: Saskatchewan. Algumas cidades do Québec: Atibiti-Temiscamingue, Chibogamau, Saguenay. Nomes que são pronunciados com sotaque francês. Bom, para quem é brasileiro e tem nomes vários nomes indígenas em cidades, do tipo Itaquaquecetuba, Itapetinga e Pindamonhangaba, não pode reclamar de nada.
Os indígenas daqui são considerados preguiçosos e fazedores de confusão. Volta e meia eles aparecem fazendo manifestações e cobrando mais ajuda do governo. Aliás, chamar os indígenas ou "autochtones" do Canadá de esquimós é uma grosseiria. A palavra esquimó significa "aquele que come carne crua". Entra as tribos que existem por aqui, as mais importantes são as dos inuits, iroqueses e hurons.
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Um dos fenômenos de popularidade na internet do Québec são animações humorísticas Têtes à Claque (www.tetesaclaque.tv). A última esquete do programa explora bem essa diferença entre França e Québec.
No episódio mais recente, um casal de quebequenses vai passear em Paris. O garçom francês que os atende inicialmente não entende os canadenses. Mas conversa vai, conversa vem, o papo aumenta. O garçom diz que admira o Canadá e gostaria de visitar o país e levar a família. Diz que tem dois filhos ("gosses") lindos. O casal de quebequenses se entreolha ressabiado. "Gosses" no Québec significa... testículos! O garçom vai adiante e pergunta se eles não querem ver uma foto dos seus "gosses". O casal só falta morrer de vergonha e não sabe o que dizer. É muito engraçado.
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O padroeiro do Québec é São João (Saint-Jean). Na mesma data dos festejos do Brasil, ocorre aqui um desfile que comemora a data "nacional". Sim, o Québec se considera um outro país e sempre luta pela separação do restante do Canadá. Durante a festa, ocorre um desfile que conta alguns aspectos da história do Québec e reafirma o orgulho quebequense de ser um povo dentro de um país.
Tudo bem, o Québec tem um histórico de dominação pelos ingleses, do qual nem gostam de lembrar, mas não sei se eles farão bom negócio em se separar. O Québec, apesar de produzir em torno de 30% da riqueza do Canadá (agricultura, indústria farmacêutica e aeroespacial), ainda recebe alguns milhões do governo federal para cobrir os déficits. Aqui no Canadá funciona assim: os Estados ricos dividem o bolo com os mais pobres. Será que no Brasil acontece desse jeito$ Mistério e bolas de goma, como se diz por aqui. O Estado de Alberta, grande produtor de petróleo, é o primo rico.
Pois bem, o Québec há tempos vem tentando se separar. Já ocorreram dois plebiscitos, mas a separação não foi aprovada. Da segunda vez a diferença foi muito pequena. Há alguns dias a televisão noticiava que foi descoberto que o governo federal "distribuiu" algum dinheiro para que a população votasse na época contra a separação. O Canadá não quer peder uma parte significativa da sua riqueza, inclusive cultural, que o Québec representa.
Assim como os americanos, em sua extensa ignorância da geografia e da cultura mundial, acham que os brasileiros falam espanhol, a gente tem a tendência a pensar que canadenses e americanos são farinha do mesmo saco. Mas não é bem assim. Os canadenses fazem questão de afirmar a sua identidade nacional.
Isso é notado nas três características apontadas pelos canadenses para diferenciar o Canadá dos Estados Unidos: a parte francesa (o Québec), a monarquia (sim, a rainha da Inglaterra ainda é a rainha do Canadá!) e o sistema público de assistência de saúde, apontado como bem melhor do que o americano. Mas os canadenses também não gostam da monarquia. Eu soube que da última vez que a rainha esteve aqui, ocorreram vários protestos da população. As pessoas acham que o país gasta muito dinheiro para manter a estrutura monárquica. Depois dos protestos, ela não teve mais coragem de voltar.
Mas o Québec é ainda mais anti-americano. Na época da segunda guerra mundial o Québec protestou conta a participação do Canada. O canadense e o quebequense fazem questao de pregar um valor bem diferente dos americanos: a simplicidade. Quando se fala de características físicas, a obesidade americana é sempre lembrada. O canadense é bem mais magro e procura a alimentação mais natural. Ele valoriza os esportes e gosta de se locomover de bicicletas e patins.
Aliás, o quebequense tem um jeito meio riponga de ser. Acho que já falei disso antes, mas acho muito interessante. Agora no verão, eles ficam em grupos, com muitas mochilas sujas, dormindo nas praças e debaixo de qualquer teto, quase sempre acompanhados de cachorros, quase sempre com garrafas de bebidas envolvidas em sacos de papel de embrulho para escondê-las, pois não se pode beber na rua. Muitos tomam drogas pesadas. Eles possuem piercings, usam coturnos, calças rasgadas, cintos de metal, adereços que lembram os punks. Ás vezes pedem esmolas. Algumas vezes resolvem limpar os vidros dos carros.
Depois vim a saber que são realmente punks que vem de Toronto ou Vancouver para aproveitar o verão em Montréal. Para descolar um troco ficam limpando os pára-brisas nos cruzamentos movimentados, principalmente nas ruas onde existem bares e restaurantes
Pois bem, voltando à festa de São João, o Québec é celebrado como país. E, internamente no Canada, tem uma autonomia maior que os demais Estados, o que gera até certo ciúme. No desfile do São João, algumas das minhas colegas canadenses do curso de francês se sentiram hostilizadas porque falavam inglês.
Durante o desfile de São João, uma surpresa. Uma das bandas tocando a música "Mamãe eu quero (mamar)". Quase não acreditei. Que diabos isso faz aqui? A história é a seguinte: há algum tempo, um grupo musical brasileiro, formado por três garotas, fez o maior sucesso internacionalmente cantando a tal música em um ritmo dançante, mas não igual ao original. Por conta do sucesso popular, a bandinha do desfile incluiu a canção em seu repertório.
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O Festival Internacional de Jazz de Montréal começou bem. O show de estréia foi de Carlinhos Brown. Equipe do cantor teve um pequeno, para não dizer gigantesco, contratempo. Todos, eu disse todos, os instrumentos ficaram perdidos em algum ponto do vôo de Chicago a Montréal. O baiano simplesmente teve que fazer o show sem nenhum dos seus fantásticos instrumentos de percussão. Foi tudo emprestado dos músicos canadenses. Até o timbau que ele utilizou não era nem de madeira. Era de metal, enrolado com fita adesiva para parecer um tambor tribal.
Aconteceu de tudo: microfonias, instrumentos que deram problema, as backing vocals segurando o timbau para que ele pudesse tocar, uma vez que não havia suporte para o instrumento. Mesmo assim, Carlinhos Brown deu um show de animação. Para quem começou a carreira liderando timbaleiros nas ruas da Barra, não deve ser sido problema fazer um belo show naquelas condições. Acho que um outro músico não conseguiria.
O show foi incrementado com a presença de um grupo de dançarinos vestidos de branco, umas doze ou quinze pessoas. Pensei que eram brasileiros, pois dançavam bem, com bastante suingue. Depois foram apresentados, foi revelado que eram canadenses ou pessoas de outras origens que moram no Quebec.
O público gostou muito, a estimativa de público foi de mais de 100 mil pessoas. Os brasileiros nas primeiras filas, Carlinhos Brown misturando inglês, francês, espanhol e aquele português que só ele sabe falar. Se a animação do público não é igual a um show no Brasil, vale a pena ter o conforto de não levar empurrões ou pisões no pé e de ter o metrô esperando para conduzir o público para casa.
É impressionante como a cultura brasileira está presente aqui. Os quebequenses adoram a percussão e são fascinados pela música brasileira. O prêmio mais importante do Festival de Jazz se chama Antônio Carlos Jobim.
12.6.07
Os palavrões
As aulas começaram na UQAM, a "Université du Québec à Montréal". O meu nível melhorou, agora já consigo entender televisao e escutar programas de rádio. Estou no curso de francês língua segunda, junto com canadenses anglófonos de outras províncias, um mexicano, um espanhol, uma colombiana, uma filipina que imigrou para o Canadá e uma búlgara que mora em Ottawa, cujos pais imigraram para o país há alguns anos.
Aqui no Canadá há uma mistura maluca e interessante das nacionalidades. Na sala há um canadense com nome árabe, filho de filipina e indiano. Os pais se conheceram no Canadá. Ele nasceu em Toronto mas mora na província de Nova Escócia, próxima do Québec, no lado do Atlântico.
Orgulhoso de suas raízes, ele resolveu se juntar à outra filipina da sala, atualmente cidada canadense. Na aula os dois falaram um pouco da cultura das Filipinas e cantaram o hino nacional. Foi aí que fiquei sabendo que o país já esteve sob o domínio espanhol e posteriormente domínio americano.
A multiculturalidade traz esse aspecto bacana de uniao e aprendizagem. Na escola as crianças aprendem a língua (ou as línguas) do país em que vivem. Em casa, quase sempre falam a língua materna, que pode ser mais de uma, caso os pais tenham nacionalidades diferentes. Ou seja, os filhos de pais imigrantes sao criados tendo acesso a duas, três ou mais línguas.
Outra colega minha, agora do curso de conversaçao, tem traços orientais e aprende francês. Magra, alta e bonita, ela foge do padrao físico típico chinês e trabalha com moda em Montréal Os pais dela sao de Hong Kong, mas ela nasceu na Nova Escócia, no Canadá, que fica no lado atlântico. Foi educada em inglês. Em casa, ela aprendeu cantonês, que é a língua da regiao de Hong Kong e proximidades, e mandarim, que é a língua mais falada na China.
Ela veio para Montréal estudar na Universidade McGill, cujos cursos sao totalmente em inglês. Ela trabalha com pessoas que falam inglês e agora exercita o francês para poder falar corretamente com as pessoas da cidade. Ufa!
=x=x=x=x=
Fui a um bar que toca música brasileira. Conheço o cantor, ele é canadense, mas é louco por música brasileira. E - milagre! - canta em português impecável. A noite foi bem interessante, brasileiros e gringos se requebraram aos som de samba, axé e MPB.
Os músicos de Montréal e outras pessoas com cultura mais extensa, admiram e respeitam a música brasileira. Meu professor de francês na UQAM simplesmente fala português! Volta e meia, durante a aula, ele faz algum comentário sobre a cultura brasileira. Ele estudou com outra professora da UQAM, uma brasileira de Minas Gerais.
O Canadá, talvez por lidar melhor com a junçao de várias culturas, demonstra mais interesse pelas demais línguas e culturas da América. Bem diferente dos Estados Unidos. A UQAM abre as portas para diversos pesquisadores brasileiros. Aqui já conheci duas baianas que fazem doutorado na Universidade. Duas nao, uma. Uma é de Salvador. A outra é gaúcha, mas é professora na UESC, em Ilhéus, a minha terra natal. Veja só. E eu que nao conhecia ninguém da UESC, vim conhecer aqui.
=x=x=x=
Agora que o verão se aproxima, faz muito calor. O dia acorda às 4 da manhã e a noite só chega às 9 horas. O dia fica muito comprido. É uma boa compensaçao para um país que passa um tempão com os dias frios e curtos. Em pleno verão, a luz do dia só termina às 10 das noite. Por enquanto, a temperatura está quente mas ainda suportável. A previsão para julho é de muito calor. No ano passado, a sensação térmica (temperatura mais umidade, que se sente na pele) chegou a 40 graus.
=x=x=x=
No estudo das línguas, os palavrões são sempre um capítulo interessante. Na maior parte das línguas, os palavrões têm conotação sexual. Seja em português, inglês, espanhol ou francês, é sempre assim. Menos no Québec.
Depois de séculos de influência maciça católica, qual a coisa mais transgressora que poderia existir? Falar em vão o santo nome das coisas da Igreja. Então ficou combinado assim. Depois de topar o dedão do pé na perna da mesa, apertar o dedo na porta, ou mesmos xingar uma pessoa, nada melhor do que citar os santos nomes da Igreja Católica. Nomes sagrados, que não deveriam ser pronunciados em qualquer ocasião. Cálice, óstia, sacramento, tabernáculo. Para quem não sabe - eu mesmo não sabia - tabernáculo é o "pequeno armário ou caixa com tampa que contém as hóstias da Eucaristia e ocupa, geralmente, numa igreja, o meio do altar". Quando se emenda um nome no outro, é uma loucura. O palavrão fica mais pesado, aumenta a potência. Cálice-da-óstia-do-sacramento-do-tabernáculo é um terror. Sai de baixo.
Falar essas palavras no dia-a-dia significa proferir palvrões. Durante a missa católica, é claro, não há problema. Para quem vem da cultura latina, isso parece algo engraçado e até ingênuo. Mas são coisas da cultura de um outro povo.
Aqui no Canadá há uma mistura maluca e interessante das nacionalidades. Na sala há um canadense com nome árabe, filho de filipina e indiano. Os pais se conheceram no Canadá. Ele nasceu em Toronto mas mora na província de Nova Escócia, próxima do Québec, no lado do Atlântico.
Orgulhoso de suas raízes, ele resolveu se juntar à outra filipina da sala, atualmente cidada canadense. Na aula os dois falaram um pouco da cultura das Filipinas e cantaram o hino nacional. Foi aí que fiquei sabendo que o país já esteve sob o domínio espanhol e posteriormente domínio americano.
A multiculturalidade traz esse aspecto bacana de uniao e aprendizagem. Na escola as crianças aprendem a língua (ou as línguas) do país em que vivem. Em casa, quase sempre falam a língua materna, que pode ser mais de uma, caso os pais tenham nacionalidades diferentes. Ou seja, os filhos de pais imigrantes sao criados tendo acesso a duas, três ou mais línguas.
Outra colega minha, agora do curso de conversaçao, tem traços orientais e aprende francês. Magra, alta e bonita, ela foge do padrao físico típico chinês e trabalha com moda em Montréal Os pais dela sao de Hong Kong, mas ela nasceu na Nova Escócia, no Canadá, que fica no lado atlântico. Foi educada em inglês. Em casa, ela aprendeu cantonês, que é a língua da regiao de Hong Kong e proximidades, e mandarim, que é a língua mais falada na China.
Ela veio para Montréal estudar na Universidade McGill, cujos cursos sao totalmente em inglês. Ela trabalha com pessoas que falam inglês e agora exercita o francês para poder falar corretamente com as pessoas da cidade. Ufa!
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Fui a um bar que toca música brasileira. Conheço o cantor, ele é canadense, mas é louco por música brasileira. E - milagre! - canta em português impecável. A noite foi bem interessante, brasileiros e gringos se requebraram aos som de samba, axé e MPB.
Os músicos de Montréal e outras pessoas com cultura mais extensa, admiram e respeitam a música brasileira. Meu professor de francês na UQAM simplesmente fala português! Volta e meia, durante a aula, ele faz algum comentário sobre a cultura brasileira. Ele estudou com outra professora da UQAM, uma brasileira de Minas Gerais.
O Canadá, talvez por lidar melhor com a junçao de várias culturas, demonstra mais interesse pelas demais línguas e culturas da América. Bem diferente dos Estados Unidos. A UQAM abre as portas para diversos pesquisadores brasileiros. Aqui já conheci duas baianas que fazem doutorado na Universidade. Duas nao, uma. Uma é de Salvador. A outra é gaúcha, mas é professora na UESC, em Ilhéus, a minha terra natal. Veja só. E eu que nao conhecia ninguém da UESC, vim conhecer aqui.
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Agora que o verão se aproxima, faz muito calor. O dia acorda às 4 da manhã e a noite só chega às 9 horas. O dia fica muito comprido. É uma boa compensaçao para um país que passa um tempão com os dias frios e curtos. Em pleno verão, a luz do dia só termina às 10 das noite. Por enquanto, a temperatura está quente mas ainda suportável. A previsão para julho é de muito calor. No ano passado, a sensação térmica (temperatura mais umidade, que se sente na pele) chegou a 40 graus.
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No estudo das línguas, os palavrões são sempre um capítulo interessante. Na maior parte das línguas, os palavrões têm conotação sexual. Seja em português, inglês, espanhol ou francês, é sempre assim. Menos no Québec.
Depois de séculos de influência maciça católica, qual a coisa mais transgressora que poderia existir? Falar em vão o santo nome das coisas da Igreja. Então ficou combinado assim. Depois de topar o dedão do pé na perna da mesa, apertar o dedo na porta, ou mesmos xingar uma pessoa, nada melhor do que citar os santos nomes da Igreja Católica. Nomes sagrados, que não deveriam ser pronunciados em qualquer ocasião. Cálice, óstia, sacramento, tabernáculo. Para quem não sabe - eu mesmo não sabia - tabernáculo é o "pequeno armário ou caixa com tampa que contém as hóstias da Eucaristia e ocupa, geralmente, numa igreja, o meio do altar". Quando se emenda um nome no outro, é uma loucura. O palavrão fica mais pesado, aumenta a potência. Cálice-da-óstia-do-sacramento-do-tabernáculo é um terror. Sai de baixo.
Falar essas palavras no dia-a-dia significa proferir palvrões. Durante a missa católica, é claro, não há problema. Para quem vem da cultura latina, isso parece algo engraçado e até ingênuo. Mas são coisas da cultura de um outro povo.
7.6.07
Futebol e religião
O mundo tem coisas que a gente não imagina. Conversando com algumas pessoas, soube de aspectos interessantes que ocorrem aqui em Montréal.
A Copa do Mundo e a Copa das Américas movimentam as comunidades dos imigrantes no Canadá. Durante a época da Copa do Mundo, principalmente, Montréal se enche de bandeiras. As mais vistas: Portugal, Itália e França (países que cederam inúmeros imigrantes para o Canadá). E, claro, não poderiam ser esquecidas, as bandeiras do Brasil.
Bacana é que não só os brasileiros as conduzem pela cidade. Praticamente todos os latinos: venezuelanos, colombianos, mexicanos, paraguaios, bolivianos. Não acredito que haja argentinos que façam isso. Até os haitianos, que formam um grande contingente dos imigrantes daqui, pois também têm o francês como língua materna, torcem pelo Brasil.
Nos táxis, que os haitianos costumam conduzir, a bandeirinha do Brasil fica presa na antena do carro durante a Copa. Aqueles jogos amistosos, que o Brasil faz de décadas em décadas no país deles, parecem surtir efeito impressionante. A que isso será devido? A vingança do futebol americano terceiro-mundista contra as potências européias?
Para os canadenses de origem parece ser um espetáculo estranho, uma vez que o esporte nacional aqui é o hóquei, praticado sobre o gelo.
Diferente do que acontece com muitas comunidades de imigrantes, que se reúnem em determinados bairros, os brasileiros se espalham por toda a cidade. Mas eles se reúnem principalmente nos eventos musicais da cidade, quando se apresenta algum artista brasileiro. Nesses eventos, os brasileiros ficam no gargarejo, nas primeiras filas. O Festival de Jazz deste ano será aberto por Carlinhos Brown. No ano passado o papel foi de Daniela Mercury. A brasileirada, com certeza, vai se reunir.
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Montréal tem uma característica interessante, que lembra Salvador. A quantidade de igrejas. O Québec é majoritariamente católico, devido à herança francesa. Até as décadas de 60 e 70, a influência da Igreja Católica sobre a população era intensa, chegando a pregrar que os casais tivessem grande quantidade de filhos casais. Depois da "revolução tranquila", a partir do final dos anos 60, coincidente com a revolução sexual, a influência da Igreja Católica diminuiu. Alguns templos chegaram a ser vendidos, mas a maior parte persiste e existem alguns exemplares fantásticos. O "Oratoire Saint-Joseph" fica em uma colina e é deslumbrante. De lá tem-se uma vista genial da cidade. A igreja tem um órgão gigantesco e guarda os restos mortais de um religioso do Québec que foi canonizado.
A experiência de visitar templos religiosos grandiosos é sempre emocionante. Por mais que a não-prática da religião seja mais forte do que a prática cotidiana, a relembrança da educação e criação familiar sob os preceitos religiosos, e, mais intensamente, a lembrança de pessoas queridas e devotas, sempre me causa muita emoção.
A Catedral de Notre Dame é um outro belo tesouro, ainda a ser visto. Outro aspecto religioso é que aqui em Montréal tem até procissão, realizada pela comunidade portuguesa. Com andor e senhoras com véu. Dá para crer?
A Copa do Mundo e a Copa das Américas movimentam as comunidades dos imigrantes no Canadá. Durante a época da Copa do Mundo, principalmente, Montréal se enche de bandeiras. As mais vistas: Portugal, Itália e França (países que cederam inúmeros imigrantes para o Canadá). E, claro, não poderiam ser esquecidas, as bandeiras do Brasil.
Bacana é que não só os brasileiros as conduzem pela cidade. Praticamente todos os latinos: venezuelanos, colombianos, mexicanos, paraguaios, bolivianos. Não acredito que haja argentinos que façam isso. Até os haitianos, que formam um grande contingente dos imigrantes daqui, pois também têm o francês como língua materna, torcem pelo Brasil.
Nos táxis, que os haitianos costumam conduzir, a bandeirinha do Brasil fica presa na antena do carro durante a Copa. Aqueles jogos amistosos, que o Brasil faz de décadas em décadas no país deles, parecem surtir efeito impressionante. A que isso será devido? A vingança do futebol americano terceiro-mundista contra as potências européias?
Para os canadenses de origem parece ser um espetáculo estranho, uma vez que o esporte nacional aqui é o hóquei, praticado sobre o gelo.
Diferente do que acontece com muitas comunidades de imigrantes, que se reúnem em determinados bairros, os brasileiros se espalham por toda a cidade. Mas eles se reúnem principalmente nos eventos musicais da cidade, quando se apresenta algum artista brasileiro. Nesses eventos, os brasileiros ficam no gargarejo, nas primeiras filas. O Festival de Jazz deste ano será aberto por Carlinhos Brown. No ano passado o papel foi de Daniela Mercury. A brasileirada, com certeza, vai se reunir.
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Montréal tem uma característica interessante, que lembra Salvador. A quantidade de igrejas. O Québec é majoritariamente católico, devido à herança francesa. Até as décadas de 60 e 70, a influência da Igreja Católica sobre a população era intensa, chegando a pregrar que os casais tivessem grande quantidade de filhos casais. Depois da "revolução tranquila", a partir do final dos anos 60, coincidente com a revolução sexual, a influência da Igreja Católica diminuiu. Alguns templos chegaram a ser vendidos, mas a maior parte persiste e existem alguns exemplares fantásticos. O "Oratoire Saint-Joseph" fica em uma colina e é deslumbrante. De lá tem-se uma vista genial da cidade. A igreja tem um órgão gigantesco e guarda os restos mortais de um religioso do Québec que foi canonizado.
A experiência de visitar templos religiosos grandiosos é sempre emocionante. Por mais que a não-prática da religião seja mais forte do que a prática cotidiana, a relembrança da educação e criação familiar sob os preceitos religiosos, e, mais intensamente, a lembrança de pessoas queridas e devotas, sempre me causa muita emoção.
A Catedral de Notre Dame é um outro belo tesouro, ainda a ser visto. Outro aspecto religioso é que aqui em Montréal tem até procissão, realizada pela comunidade portuguesa. Com andor e senhoras com véu. Dá para crer?
29.5.07
Diversos
Montréal é uma cidade que finge falar francês, mas na verdade fala muitas línguas. As pessoas se restringem ao francês no restante do Québec, mas Montréal faz concessões à pujança econômica do Canadá inglês. Isso tem explicações históricas, não começou agora. Montréal sempre foi um porto de intenso comércio .
Na atualidade existem duas universidades na cidade com os cursos totalmente em inglês. Muitos estudantes estrangeiros também vêm fazer cursos de francês e inglês aqui, nas escolas de línguas. Os orientais que atendem nos restaurantes praticamente só conseguem falam inglês. Aliás, a razão pela qual o inglês se tornou uma língua mundial vai além da questão econômica. O inglês é um pouco mais simples do que as demais linguas ocidentais. Mais fácil do que português, francês, espanhol, italiano, alemão e demais variações. A razão é simples: no inglês não há conjugação de verbos. Nem modos verbais, como o famigerado subjuntivo.
O tenebroso subjuntivo, que também existe no francês, é complicado de ser aprendido -e utilizado. No português quase nunca é falado corretamente. Desconfio que no francês é a mesma coisa.
Em Montréal as pessoas primam pela facilidade com que transitam pelo francês e inglês. Ao menor sinal de dificuldade do ouvinte, mudam logo para o inglês. E com pouco sotaque, pois desde crianças aprendem as duas línguas na escola e cedo adquirem facilidade em passear pelas duas.
Todo o tempo se discute a questão da multiculturalidade por aqui. Dos imigrantes que chegam no país, a maior parte é composta de trabalhadores qualificados e vem de todos os continentes. Há muitos muculmanos, a maior parte vem do norte da Africa. As mulheres portam o hidjab, o véu que cobre os cabelos. Há tambem refugiados, que o Canadá acolhe quando eles que conseguem provar as dificuldades em seus países de origem. Mas a maior parte dos imigrantes é mesmo de trabalhadores, de nível superior ou técnico, que vêm em busca de melhores salários.
São engenheiros, medicos, enfermeiros, analistas de sistema que chegam ao pais com o aval do governo, mas nem sempre conseguem emprego em suas profissões. O motivo? Quase sempre são as restrições das associações profissionais. O caso mais famoso é o dos médicos. O país tem carência dos trabalhadores da saúde, mas o conselho de profissionais nao permite que pessoas formadas em outros paises exerçam a profissão no Canadá.
Alguns acreditam que é mais fácil começar do zero, voltar para a faculdade - com bolsa do governo -, do que conseguir a validação do diploma para exercer a atividade profissional no Canadá. Outro dia, a polêmica sobre foi tão intensa que o ministro da saúde foi à televisão para falar sobre o assunto. Junto com o presidente do conselho dos médicos e o representante da associação dos médicos graduados no exterior. Aqui tem todo tipo de associação, até essa.
Na revista L´Actualité, a Veja aqui do Quebec, há uma grande reportagem sobre a integracao dos latinos na Provincia. Latinos são todos os paises da America Central e do Sul. A integracao dos latinos é muito bem vista. A proximidade da língua, o comportamento amigável, a culinária, os ritmos musicais e as danças são aspectos que facilitam a incorporação ao país. Os orientais tem um pouco mais de dificuldade, pela diferenca da língua e dos costumes. Com os muçulmanos, não dá nem para comentar, pois a rigidez dos seus hábitos fazem com que permaneçam afastados.
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Parlamento
Fui conhecer Ottawa, a capital do Canada, durante feriado nacional, o Dia do Patriota. Ottawa - ou Outaoais em francês - fica a 150 km de Montreal, mas faz parte da Província de Ontário, onde também fica Toronto, a maior cidade do país. Ottawa fica na divisa entre Ontário e Québec. No lado do Québec fica a cidade de Gatineau. Do outro lado do rio, também chamado de Ottawa, fica a capital do país. De um lado da ponte fala-se francês. Do lado lado, mais inglês do que francês.
Fiquei surpreso com a beleza da cidade, não esperava tanto. O dia estava ensolarado, perfeito para o passeio. Fui, junto com o grupo da escola, ao museu das civilizações canadenses, uma construção bela, moderna e funcional, na beira do rio. O museu reconstitui parte da história e da arte das tribos indígenas do Canada, particularmente da região da costa Oeste, do lado do Pacífico.
Da área externa do museu dá para ver o belo Parlamento, que seria a nossa próxima parada. Na colina em que o imponente prédio do parlamento fica instalado, centenas de turistas tiveram a mesma idéia de visitá-lo. Fotos e mais fotos para eternizar um momento fugidio. A parada seguinte foi o Festival de Tulipas. Não é só a Holanda que possui muitas tulipas. Aqui no Canadá, essas flores são muito comuns.
A história das tulipas no Canadá remonta a época da Segunda Guerra Mundial, quando o país acolheu a família real holandesa. Em retribuição à hospedagem, a realeza da Holanda enviou milhares de bulbos de tulipas de presente. O festival, que ocorre todos os anos, celebra os laços de amizade entre os dois países. Depois da guerra, muitos holandeses imigraram para o Canada.
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A existência e utilização duas línguas tão diferentes no mesmo país proporciona o movimento interessante de mudanca fácil de uma coisa para a outra. O que não é fácil para quem mora em um país em que só se fala uma língua. Percebe-se isso claramente no trabalho da cantora Celine Dion, canadense do Québec, que ficou conhecida mundialmente pela música-tema do filme Titanic, "My heart will go on". No feriado, um dos canais de televisão (em francês, existem outros em inglês) transmitiu o show do lançamento do disco D'Elles, de Celine Dion. O disco, todo cantado em françês, tem as música compostas somente por mulheres.
Algumas escritoras e poetas do Quebec tiveram suas palavras e versos musicados e transformados em emoção crescente na voz de La Dion. A união da literatura e da música. Olha que coisa bacana.
Fiquei babando e imaginando como seria interessante ver isso no Brasil, em uma época em que as letras das músicas soam tão vazias. Que tal Gal, Betânia ou mesmo Daniela Mercury cantando versos de Miriam Fraga, de Aninha Franco, de Mabel Veloso? No show televisionado, as escritoras deram os seus depoimentos sobre a alegria de verem suas palavras na voz da cantora que é um dos orgulhos da nação quebequense.
Em minha opinião Celine Dion canta melhor em francês do que em inglês.
Na atualidade existem duas universidades na cidade com os cursos totalmente em inglês. Muitos estudantes estrangeiros também vêm fazer cursos de francês e inglês aqui, nas escolas de línguas. Os orientais que atendem nos restaurantes praticamente só conseguem falam inglês. Aliás, a razão pela qual o inglês se tornou uma língua mundial vai além da questão econômica. O inglês é um pouco mais simples do que as demais linguas ocidentais. Mais fácil do que português, francês, espanhol, italiano, alemão e demais variações. A razão é simples: no inglês não há conjugação de verbos. Nem modos verbais, como o famigerado subjuntivo.
O tenebroso subjuntivo, que também existe no francês, é complicado de ser aprendido -e utilizado. No português quase nunca é falado corretamente. Desconfio que no francês é a mesma coisa.
Em Montréal as pessoas primam pela facilidade com que transitam pelo francês e inglês. Ao menor sinal de dificuldade do ouvinte, mudam logo para o inglês. E com pouco sotaque, pois desde crianças aprendem as duas línguas na escola e cedo adquirem facilidade em passear pelas duas.
Todo o tempo se discute a questão da multiculturalidade por aqui. Dos imigrantes que chegam no país, a maior parte é composta de trabalhadores qualificados e vem de todos os continentes. Há muitos muculmanos, a maior parte vem do norte da Africa. As mulheres portam o hidjab, o véu que cobre os cabelos. Há tambem refugiados, que o Canadá acolhe quando eles que conseguem provar as dificuldades em seus países de origem. Mas a maior parte dos imigrantes é mesmo de trabalhadores, de nível superior ou técnico, que vêm em busca de melhores salários.
São engenheiros, medicos, enfermeiros, analistas de sistema que chegam ao pais com o aval do governo, mas nem sempre conseguem emprego em suas profissões. O motivo? Quase sempre são as restrições das associações profissionais. O caso mais famoso é o dos médicos. O país tem carência dos trabalhadores da saúde, mas o conselho de profissionais nao permite que pessoas formadas em outros paises exerçam a profissão no Canadá.
Alguns acreditam que é mais fácil começar do zero, voltar para a faculdade - com bolsa do governo -, do que conseguir a validação do diploma para exercer a atividade profissional no Canadá. Outro dia, a polêmica sobre foi tão intensa que o ministro da saúde foi à televisão para falar sobre o assunto. Junto com o presidente do conselho dos médicos e o representante da associação dos médicos graduados no exterior. Aqui tem todo tipo de associação, até essa.
Na revista L´Actualité, a Veja aqui do Quebec, há uma grande reportagem sobre a integracao dos latinos na Provincia. Latinos são todos os paises da America Central e do Sul. A integracao dos latinos é muito bem vista. A proximidade da língua, o comportamento amigável, a culinária, os ritmos musicais e as danças são aspectos que facilitam a incorporação ao país. Os orientais tem um pouco mais de dificuldade, pela diferenca da língua e dos costumes. Com os muçulmanos, não dá nem para comentar, pois a rigidez dos seus hábitos fazem com que permaneçam afastados.
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Parlamento
Fui conhecer Ottawa, a capital do Canada, durante feriado nacional, o Dia do Patriota. Ottawa - ou Outaoais em francês - fica a 150 km de Montreal, mas faz parte da Província de Ontário, onde também fica Toronto, a maior cidade do país. Ottawa fica na divisa entre Ontário e Québec. No lado do Québec fica a cidade de Gatineau. Do outro lado do rio, também chamado de Ottawa, fica a capital do país. De um lado da ponte fala-se francês. Do lado lado, mais inglês do que francês.
Fiquei surpreso com a beleza da cidade, não esperava tanto. O dia estava ensolarado, perfeito para o passeio. Fui, junto com o grupo da escola, ao museu das civilizações canadenses, uma construção bela, moderna e funcional, na beira do rio. O museu reconstitui parte da história e da arte das tribos indígenas do Canada, particularmente da região da costa Oeste, do lado do Pacífico.
Da área externa do museu dá para ver o belo Parlamento, que seria a nossa próxima parada. Na colina em que o imponente prédio do parlamento fica instalado, centenas de turistas tiveram a mesma idéia de visitá-lo. Fotos e mais fotos para eternizar um momento fugidio. A parada seguinte foi o Festival de Tulipas. Não é só a Holanda que possui muitas tulipas. Aqui no Canadá, essas flores são muito comuns.
A história das tulipas no Canadá remonta a época da Segunda Guerra Mundial, quando o país acolheu a família real holandesa. Em retribuição à hospedagem, a realeza da Holanda enviou milhares de bulbos de tulipas de presente. O festival, que ocorre todos os anos, celebra os laços de amizade entre os dois países. Depois da guerra, muitos holandeses imigraram para o Canada.
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A existência e utilização duas línguas tão diferentes no mesmo país proporciona o movimento interessante de mudanca fácil de uma coisa para a outra. O que não é fácil para quem mora em um país em que só se fala uma língua. Percebe-se isso claramente no trabalho da cantora Celine Dion, canadense do Québec, que ficou conhecida mundialmente pela música-tema do filme Titanic, "My heart will go on". No feriado, um dos canais de televisão (em francês, existem outros em inglês) transmitiu o show do lançamento do disco D'Elles, de Celine Dion. O disco, todo cantado em françês, tem as música compostas somente por mulheres.
Algumas escritoras e poetas do Quebec tiveram suas palavras e versos musicados e transformados em emoção crescente na voz de La Dion. A união da literatura e da música. Olha que coisa bacana.
Fiquei babando e imaginando como seria interessante ver isso no Brasil, em uma época em que as letras das músicas soam tão vazias. Que tal Gal, Betânia ou mesmo Daniela Mercury cantando versos de Miriam Fraga, de Aninha Franco, de Mabel Veloso? No show televisionado, as escritoras deram os seus depoimentos sobre a alegria de verem suas palavras na voz da cantora que é um dos orgulhos da nação quebequense.
Em minha opinião Celine Dion canta melhor em francês do que em inglês.
16.5.07
O mico e a jiboia
Pela primeira vez vi um mico-leao-dourado. Aqui no Canada. O bichinho parece mesmo um pequeno leão. É minúsculo e tem um inacreditável pêlo brilhante. O mico fica pulando de galho em galho no Biodôme, um parque coberto e climatizado aqui em Montreal. Nesse parque, com a forma de uma grande cúpula, cabem varios ambientes. O polo sul e seus pinguins. Floresta tropical com capivara, papagaios barulhentos e micos do Brasil e da Colômbia. Passando pela floresta temperada canadense.
Biodome
O tempo quente faz os canadenses irem para as ruas praticar todos os esportes que nao podem no tempo frio. São patins, bicicletas, patinetes, motos. Tudo o que fica guardado nos cinco meses de inverno. Até o detestável costume de passear em fantásticos carros conversíveis. Os precos dos carros sao de chorar de inveja. Alguns daqueles jipes, fantasticos bebedores de combustivel, além de outros grandes e confortaveis carros japoneses (Honda, Toyota, etc.) estao disponiveis por 15 a 20 mil dolares, um pouco mais do que um carro popular no Brasil. Os financiamentos variam de acordo com o modelo, mas com 200 dolares canadenses de prestacao, durante 50 ou sessenta meses, compra-se um carro luxuoso para os padroes brasileiros. Dizem que o dificil eh pagar o seguro.
Uma loja que faz a festa dos brasileiros no Canada é a Dollarama. Tudo é vendido por um dolar. É a versão original das nossas combalidadas lojas de 1,99 do Brasil. Só que aqui, inacreditavelmente, é possível comprar praticamente todos os artigos de uma casa (artigos de cozinha, limpeza, além de presentes, papelaria, miudezas) por 1 dolar. Até pratos brasileiros, daquele tipo duralex, que no Brasil custam 4 ou 5 reais, aqui eu vi por CAN $ 1,14 (um dolar mais 0,14 de impostos). O que equivale aproximadamente a 2,14 reais. No Brasil, os impostos respondem por boa parte do preço dos produtos, que deveriam ser mais acessíveis à população. Quase todos os produtos da Dollarama vem da China. A diferença é que, ao contrário do que se acha nos camelôs do Brasil, os produtos tem mais qualidade.
As pêras que vem da Argentina tambem estão mais baratas aqui do que no Brasil. Vinhos chilenos e argentinos são facilmente encontrados nas prateleiras dos mercados e "depanneurs", como são chamadas as lojas de conveniência. As uvas chilenas estão por toda a parte. Frutas dos México, da Colômbia, da America Central. Enquanto o Brasil mantém preconceitos idiotas com o comércio com os Estados Unidos e Canada, os vizinhos do cone sul seguem na frente, entupindo as prateleiras. Outro produto brasileiro que orgulhosamente está presente aqui é a multinacional cerveja Brahma. E com propaganda em português na rua! Em um país multicultural, uma propaganda em uma linguagem pouco conhecida, mas relativamente possivel de ser lida (para quem fala francês, nao para os anglofonos), é um charme extra.
Uma coisa que gosto muito aqui sao os jornais. Alguns são distribuídos gratuitamente. O Canada é um dos maiores produtores de papel do mundo. Publicações em inglês e francês entopem as bancadas das estações de metrô. As notícias são as mesmas em todos os jornais. Na entrada do metrô ficam entregadores. As pessoas aceitam e vão lendo durante a viagem. Chegam atualizados no trabalho e na faculdade. Há inclusive cadernos culturais. A minha leitura em francês tem melhorado bastante em função dos minutos que ganho na leitura diária, enquanto aguardo chegar a estação onde irei descer.
No bairro em que estou morando há várias lojas temáticas de roupas. Tem loja de roupa punk-dark, onde quase todas as roupas são pretas, com motivos de aranhas, caixões, caveiras, esqueletos e tudo mais que faz a festa dos metaleiros e afins. Uma outra loja eh inspirada no Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o famoso disco dos Beatles. Outra vende só chapéus e bonés. Outra só narguilés, aqueles apetrechos usados para fumar. Outra vende bonecos e artigos inspirados em personagens do cinema, como robôs e naves de "Guerra nas Estrelas". Muitos filmes americanos são rodados no Canadá, principalmente em Toronto. A filmagem é mais barata aqui. Sabe aquela cena em que o cara entra em um beco escuro, que tem escadas de incêndio e lixeiras grandes^ Aqui em Montréal tem um monte desses becos. De vez em quando paro para olhar e fico imaginando se já vi algum filme gravado ali.
Voltando a falar sobre vestuário, as pessoas pessoas estao acostumadas com as esquisitices que raramente olham para os lados. Isso parece ser coisa de gente menos acostumada com isso, como eu, que gosto de ficar reparando, mas disfarço para ninguem perceber. Mas no ultimo domingo eu vi uma coisa que tirou alguns canadenses do sério. Caminhando em direção ao parque, para onde seguiam varias outras pessoas, um rapaz portava um adereço inusitado em volta do pescoço e dos ombros: uma bela jibóia. Pela primeira vez eu vi canadenses se virarem para olhar alguma coisa. Talvez nem tanto pela curiosidade, mas pelo medo da cobra. E lá seguia o rapaz, com a cobra fazendo o papel de "foulard", o cachecol utilizado em volta do pescoço para vencer os dias frios.
Fiquei imaginando que, para uma cobra, mesmo não venenosa, ficar tao tranquila em volta de um suculento pescoço, ela deve estar muitíssimo bem alimentada. Que o cara não entre no parque Biodôme, aquele que tem o mico brasileiro. Provavelmente será impedido. A tal da cobra, saudosa dos sabores tropicais, pode querer matar a nostagia. O pobre do miquinho, quem sabe, iria se extinguir de vez, com tempero tropical e tudo, no estômago da jibóia.
Biodome
O tempo quente faz os canadenses irem para as ruas praticar todos os esportes que nao podem no tempo frio. São patins, bicicletas, patinetes, motos. Tudo o que fica guardado nos cinco meses de inverno. Até o detestável costume de passear em fantásticos carros conversíveis. Os precos dos carros sao de chorar de inveja. Alguns daqueles jipes, fantasticos bebedores de combustivel, além de outros grandes e confortaveis carros japoneses (Honda, Toyota, etc.) estao disponiveis por 15 a 20 mil dolares, um pouco mais do que um carro popular no Brasil. Os financiamentos variam de acordo com o modelo, mas com 200 dolares canadenses de prestacao, durante 50 ou sessenta meses, compra-se um carro luxuoso para os padroes brasileiros. Dizem que o dificil eh pagar o seguro.
Uma loja que faz a festa dos brasileiros no Canada é a Dollarama. Tudo é vendido por um dolar. É a versão original das nossas combalidadas lojas de 1,99 do Brasil. Só que aqui, inacreditavelmente, é possível comprar praticamente todos os artigos de uma casa (artigos de cozinha, limpeza, além de presentes, papelaria, miudezas) por 1 dolar. Até pratos brasileiros, daquele tipo duralex, que no Brasil custam 4 ou 5 reais, aqui eu vi por CAN $ 1,14 (um dolar mais 0,14 de impostos). O que equivale aproximadamente a 2,14 reais. No Brasil, os impostos respondem por boa parte do preço dos produtos, que deveriam ser mais acessíveis à população. Quase todos os produtos da Dollarama vem da China. A diferença é que, ao contrário do que se acha nos camelôs do Brasil, os produtos tem mais qualidade.
As pêras que vem da Argentina tambem estão mais baratas aqui do que no Brasil. Vinhos chilenos e argentinos são facilmente encontrados nas prateleiras dos mercados e "depanneurs", como são chamadas as lojas de conveniência. As uvas chilenas estão por toda a parte. Frutas dos México, da Colômbia, da America Central. Enquanto o Brasil mantém preconceitos idiotas com o comércio com os Estados Unidos e Canada, os vizinhos do cone sul seguem na frente, entupindo as prateleiras. Outro produto brasileiro que orgulhosamente está presente aqui é a multinacional cerveja Brahma. E com propaganda em português na rua! Em um país multicultural, uma propaganda em uma linguagem pouco conhecida, mas relativamente possivel de ser lida (para quem fala francês, nao para os anglofonos), é um charme extra.
Uma coisa que gosto muito aqui sao os jornais. Alguns são distribuídos gratuitamente. O Canada é um dos maiores produtores de papel do mundo. Publicações em inglês e francês entopem as bancadas das estações de metrô. As notícias são as mesmas em todos os jornais. Na entrada do metrô ficam entregadores. As pessoas aceitam e vão lendo durante a viagem. Chegam atualizados no trabalho e na faculdade. Há inclusive cadernos culturais. A minha leitura em francês tem melhorado bastante em função dos minutos que ganho na leitura diária, enquanto aguardo chegar a estação onde irei descer.
No bairro em que estou morando há várias lojas temáticas de roupas. Tem loja de roupa punk-dark, onde quase todas as roupas são pretas, com motivos de aranhas, caixões, caveiras, esqueletos e tudo mais que faz a festa dos metaleiros e afins. Uma outra loja eh inspirada no Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o famoso disco dos Beatles. Outra vende só chapéus e bonés. Outra só narguilés, aqueles apetrechos usados para fumar. Outra vende bonecos e artigos inspirados em personagens do cinema, como robôs e naves de "Guerra nas Estrelas". Muitos filmes americanos são rodados no Canadá, principalmente em Toronto. A filmagem é mais barata aqui. Sabe aquela cena em que o cara entra em um beco escuro, que tem escadas de incêndio e lixeiras grandes^ Aqui em Montréal tem um monte desses becos. De vez em quando paro para olhar e fico imaginando se já vi algum filme gravado ali.
Voltando a falar sobre vestuário, as pessoas pessoas estao acostumadas com as esquisitices que raramente olham para os lados. Isso parece ser coisa de gente menos acostumada com isso, como eu, que gosto de ficar reparando, mas disfarço para ninguem perceber. Mas no ultimo domingo eu vi uma coisa que tirou alguns canadenses do sério. Caminhando em direção ao parque, para onde seguiam varias outras pessoas, um rapaz portava um adereço inusitado em volta do pescoço e dos ombros: uma bela jibóia. Pela primeira vez eu vi canadenses se virarem para olhar alguma coisa. Talvez nem tanto pela curiosidade, mas pelo medo da cobra. E lá seguia o rapaz, com a cobra fazendo o papel de "foulard", o cachecol utilizado em volta do pescoço para vencer os dias frios.
Fiquei imaginando que, para uma cobra, mesmo não venenosa, ficar tao tranquila em volta de um suculento pescoço, ela deve estar muitíssimo bem alimentada. Que o cara não entre no parque Biodôme, aquele que tem o mico brasileiro. Provavelmente será impedido. A tal da cobra, saudosa dos sabores tropicais, pode querer matar a nostagia. O pobre do miquinho, quem sabe, iria se extinguir de vez, com tempero tropical e tudo, no estômago da jibóia.