23.1.04

Afoxé jeje-nagô

A leitura do livro A família de santo nos candomblés jeje-nagos da Bahia, do professor Vivaldo da Costa Lima é um mergulho profundo na cultura afro-baiana. No livro, o autor detalha a estrutura hierárquica e as relações dentro dos candomblés, de origem africana, que são os "grupos religiosos caracterizados por um sistema de crenças em divindades chamadas de santos ou orixás".

É impressionante a riqueza da cultura afro-baiana, mantida principalmente por conta das crenças religiosas. E pensar que tudo isso está tão próximo, aqui mesmo em Salvador, e às vezes nem nos damos conta. Culturas orais, crenças que vieram da África e aqui permaneceram, com algumas alterações e se perpetuam, por meio de intruções orais e pela música das cerimônias.

Os compositores música popular feita na Bahia sempre beberam na fonte da cultura negra. Os primeiros sucessos da axé-music utilizaram em suas letras informações e termos da língua iorubá. Língua que já fez incorporar ao português vários termos, como orixá, ialorixá, babalorixá, ijexá, ogã, axé. Além dos nomes dos orixás: Oxalá, Xangô, Yemanjá, Iansã, Oxum, entre outros. Caetano e Gilberto Gil fizeram letras excepcionais sobre o assunto. Por exemplo, nos versos de Milagres do povo, de Caetano:

Oju Obá ia lá e via
Oju Oba ia
Xangô manda chamar
Obatalá guia
Mamãe Oxum chora
Pétala de Yemanjá
Iansã Oyá ria
Ojú Obá ia lá e via
Ojú Obá ia
Obá

Com tanta riqueza cultural no Estado, o que faz a atual música baiana ser tão pobre de conteúdo - e espírito - nas letras? Nas canções dos pagodeiros imperam os versos que descambam para o duplo sentido e a baixaria. Está faltando leitura e imersão na própria cultura baiana, por parte dos compositores. E inteligência para perceber isso.

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