31.1.04

Dia longo

Fui na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), na Rua Carlos Gomes, pegar o meu número de registro como jornalista. A documentação já tinha chegado e a anotação foi feita na minha carteira de trabalho.

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Almoço no Restaurante-escola do Senac, no Pelourinho. Eu nunca havia provado a comida, apesar de já ter ido lá fazer umas fotos e ter lido muito coisa sobre o local - a tese de doutorado do antropólogo Ericivaldo Veiga. Para quem não conhece, é um restaurante-escola em que são formados cozinheiros e garçons. Fica no Largo do Pelourinho e é especializado em culinária baiana.

O vatapá e o caruru estavam deliciosos, ainda que com um pouco de gordura em excesso. As moquecas de peixe, sururu e ostra também estavam muito boas. A de camarão é que deixou a desejar. Os crustáceos eram pequenos e estavam borrachudos e sem gosto. Com certeza não eram frescos. Os mini acarajés e abarás estavam divinos. No bufê, a metade dos pratos leva dendê, a outra metade não.

Por R$ 17,90, sem taxa de serviço, come-se quanto quiser, com direito a várias sobremesas. Estas, sim, encerraram o banquete de modo glorioso. Nunca comi um quindim tão bom. A ambrosia (doce de leite em grumos) estava fenomenal. O manjar branco de coco podia ser acompanhado de baba de moça e calda de ameixa. Também havia doce de abóbora, cocadas e doce de banana, mas não os experimentei. Não havia mais espaço no estômago. Quase não consigo levantar da mesa depois de comer tanto. A saída foi caminhar, para ajudar a digestão.

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Uma circulada pela Praça da Sé e passagem nos sebos, que andam caríssimos. Ao pensar em comprar um livro usado, verifique antes o preço do novo. Os livreiros dos sebos andam querendo enfiar a mão no bolso sos clientes, sem aviso. Os saldos das livrarias estão mais em conta - quando há algo que valha a pena. Comprei Berinjela se Escreve com J, de Josimar Melo, crítico de gastronomia da Folha de São Paulo. O livro contém a grafia de mais de 10.000 termos gastronômicos, em várias línguas.

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O X Salão do Museu de Arte Moderna da Bahia privilegiou a fotografia e a pintura. As instalações estão em menor número. Ou menos bizarras. Consegui enxergar algo de belo em todas elas. Esta versão do Salão não traz nada de asqueroso, a exemplo dos cérebros de boi e dentes pendurados vistos antes.

Em telas pretas, um artista de Belo Horizonte pintou corpos humanos nus. O trabalho é um tríptico. A pintura é difusa, parece ter sido feita com spray, mas na placa de identificação constava apenas tinta acrílica. Provavelmente foi usado o pincel. O efeito é genial, as figuras humanas parecem andróides futuristas.

Um dos trabalhos vencedores é composto de três telas enormes, escoradas no chão e na parede, pintadas como três folhas em branco de cadernos. De cara, não entendi porque um trabalho relativamente simples como aquele havia sido um dos vencedores. Até que uma criança bem pequena, que estava ao meu lado, acompanhada da mãe, exclamou: "É papel!". A ficha caiu imediatamente.

Os quadros são pintados de forma tão perfeita, que parecem ter sido impressos. A tela branca é lisíssima, as linhas são micrometricamente perfeitas. Um trabalho de precisão. Nada como o auxílio de uma criança para tentar entender a arte...

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Ainda no Museu, fui (re)visitar a Sala Rubem Valentim (1922-1991), que é, para mim, um dos melhores pintores baianos de todos os tempos. A ele cabe uma análise mais detalhada em outra ocasião. É um artista cujas linhas são perfeitas, irretocáveis. Sem contar com a força simbólica dos elementos da cultura africana e indígena que ele utilizou.

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