28.2.04



O site Galeria Online vende obras de vários artistas baianos. Junto com alguns mais conhecidos, como Goca Moreno, Guache Marques, Edgard Oliva, Eliezer Araújo e Jucira Araújo, desponta o talento do jovem Igor Souza, autor da tela acima. Tenho um quadro dele, que gosto muito, pendurado na parede da sala.

O trabalho de Igor Souza nitidamente tem influências das histórias em quadrinhos. O artista utiliza cores vibrantes, as figuras não possuem volume. Os seus quadros são divididos em pequenas cenas, mostrando temas urbanos em imagens confusas, contornos rápidos e irregulares. A moderna vida urbana, externa, caótica, em oposição complementar ao intimismo. Em um modo alegre e lúdico.

27.2.04

Menos
Na Bahia, fevereiro é o mês mais quente do ano. Tanto na animação quanto na temperatura ambiente. Haja calor. Com o fim do Carnaval - e do mês-, a temperatura vai ficando mais agradável, o clima ameno e tranquilo. Ainda dá para ir à praia, o sol está presente, mas já não "corta como faca".

Este ano, graças aos céus, não houve horário de verão na Bahia. Uma das melhores coisas decorrentes disso era poder assistir à programação de final de noite da TV, já que o horário acompanhava o do Sul do País. A Bahia ficava uma hora adiantada. A volta da programação ao horário normal foi o modo de saber que o restante do país já havia retornado o relógio à posição normal.

Para os baianos, foliões incansáveis, agora se inicia o ciclo das Micaretas, carnavais fora de época, no interior do Estado. Fenômeno que a axé music conseguiu estender ao restante do país. Durante o ano, algumas das maiores estrelas da música baiana fazem shows por todo o país. O resultado é que quase não há shows em Salvador, descontados os dos cantores e grupos iniciantes.

Há alguns anos, antes da explosão da axé music, grupos como Chiclete com Banana e Asa de Águia faziam grandes festas nos clubes de Salvador. Hoje, além do Carnaval, esses shows só acontecem em momentos bem específicos, como no Festival de Verão. O que rola atualmente são espetáculos menores, em casas fechadas, como o Rock in Rio Café, no Aeroclube. Sim, quase tripudiando em cima do nome da casa, o Rock in Rio Café hoje é a meca da axé music e do pagode.

26.2.04

A percepção do que acontece nos camarotes de Salvador, alheios à animação do Carnaval de rua, foi bem registrada reportagem "Uns puxam corda, outros comem avestruz", da jornalista Mary Weinstein, publicada em A Tarde do dia 26.02. Confira alguns trechos:

"Carnaval (...) hoje não é uma manifestação popular. É um circo de autopromoção. Camarote é um balcão de negócios", Mário Cravo Neto, fotógrafo e autor de livros sobre a cultura baiana.

"O camarote é uma coisa muito boa porque tira as pessoas menos interessantes da rua. Se estivessem na avenida essas pessoas poderiam contaminar as outras com sua desanimação. O que vejo nas sacadas dos camarotes são uns indivíduos com cara de tédio, fingindo que estão participando, enquanto a festa tá rolando no chão." João Reis, historiador, professor doutor da Universidade Federal da Bahia.

"Nos camarotes, pouca coisa se mistura, além de comidas como avestruz e sushi, acarajé e sopa de alho poró", Mary Weinstein.

25.2.04

Matisse


Cidade de Cinzas
Na quarta-feira de Cinzas a cidade se recupera. O comércio não abre totalmente. Os bancos funcionam com pouco movimento. As igrejas enchem com os fiéis se preparando para a Páscoa. Estes são os mais animados da cidade, agora. A cidade está sonolenta, até um pouco triste pela volta à rotina de trabalho.
Por alguns dias, durante a festa, grande parte da população vive um sonho de despojamento e alegria sem fim. Um mundo dionisíaco, em que tudo é voltado para o prazer e o contentamento. É hora de retornar.
Mais
- A Timbalada parecia um bloco de europeus, por conta do grande número de turistas com cabeleiras alouradas. Cada vez menos o povo da terra participa dos blocos bacanas, cada vez mais caros. É coisa só para turi$ta.

- Alguém por favor me explique o que é o Cortejo Afro. É um bloco? Um afoxé? Um grupo musical? No domingo foi o dia do trio-instalação do marido da Bjork. Comenta-se que a coisa não aconteceu, não houve empatia com o público. Era algo já esperado, até pelo artista. Na segunda, o trio estava bem ornamentado, com luminárias laterais, revestidas de estampa de santos. O mesmo tecido do abadá que Gilberto Gil usou no sábado. O Cortejo tem som de ótima qualidade, com vocais acompanhados pela potente bateria multirracial, com integrantes de várias nacionalidades. Com boa parte dos integrantes brancos feito leite, parece bloco afro para turista ver e poder participar.

- Durante o percurso do Camarote Andante, de Carlinhos Brown, acontecia a filmagem de "Milagre do Candeal", do cineasta espanhol Fernado Trueba.

24.2.04

Hot

- Margareth Menezes vai fazer um show no Central Park, em Nova York. A notícia deve sair logo depois do Carnaval.

- Uma das bailarinas do trio de Daniela Mercury é Giovana, filha da cantora, que parece estar seguindo os passos da mãe. Daniela é formada em Dança pela UFBA.

- Apesar de situado em ponto top da festa, no Edifício Oceania, comenta-se que o camarote da Vogue foi um mico. Centenas de camisetas distribuídas, bebida e comida não foram suficientes para tanta gente. Quem entrou disse que o local estava super desanimado.
Segunda de Carnaval

Carlinhos Brown dá show de energia e animação. O seu trio "Camarote Andante" é uma aula de boa música, fundindo base eletrônica e tambores vigorosos, conduzindo a multidão pelas searas da animação. Brown é responsável pela composição de "Maimbé Dandá", sucesso neste Carnaval na voz de Daniela.

Outra música forte candidata ao posto de favorita do Carnaval 2004 é "Toté de Maiangá", cantada por Margareth Menezes - e pelo resto da Bahia. A música é uma composição do genial Gerônimo, músico e cantor de primeira linha, um dos pioneiros da axé music, e de Saul Barbosa, instrumentista de mão cheia, natural de Ilhéus.

Gerônimo, apesar de ter lançado "Eu sou negão", uma das pedras fundamentais da axé music, não se dobrou ao apelo fácil do sucesso. Faz um som mais trabalhado, com influências caribenhas. Além de ritmo e do balanço, Toté de Maiangá tem uma bela letra, com vários elementos da cultura do candomblé. Aliás, a presença de refrões ligados à cultura africana parece ser condição quase indispensável para construir um sucesso no Carnaval da Bahia. A festa de 2004 está criativa e rica de boas músicas. Há tempos não aparecia uma safra tão boa de composições

Margareth chegou no Farol da Barra às 2h30 da manhã da terça. Pouca gente, mas muita animação. Era possível dançar tranquilamente, bem próximo do trio. Quem apareceu como convidada foi Adriane Galisteu, usando uma calça colante e cheia de brilhos, de múltiplas cores, que ficou junto de Margareth, dançando e acenando para o público - e para as câmeras. Nem dançarina, nem cantora, La Galisteu fazia papel de celebridade-convidada-turista-deslumbrada.

A Globo não fez o menor esforço para divulgar o Carnaval da Bahia. Encerrado o desfile das escolas de samba de São Paulo e do Rio, nem uma "chancha" para a Bahia. Em plena terça-feira de Carnaval, feriado nacional, durante a tarde, a reprise de uma novela, em "Vale a Pena Ver de Novo". A Globo nem precisaria fazer um grande investimento, já que bastaria retransmitir a cobertura - ou parte dela - feita pelas afiliadas TV Bahia e TV Salvador. Parece até campanha contra a Bahia. Mais uma vez, a Bandeirantes fica de parabéns, por apostar no Carnaval daqui.

22.2.04

O Expresso 2222 este ano é pilotado por Daniela Mercury. A decoração do trio elétrico simula panos-da-costa, tecidos brancos rendados, utilizados pelas baianas. Além do mini-palco, na frente do caminhão, onde normalmente o cantor fica, há uma passarela acima dos músicos, na qual ficam bailarinas que usam perucas black power. Daniela circula pela passarela, cantando e acenando para todos os lados.

Ontem, sábado, ela recebeu Gilberto Gil para dividir os vocais. O ministro trajava um abadá bacana com estampa de vários santos. Com certeza para pedir proteção. Como ele mesmo disse, "quem não dança, dança". Gil animou o Farol da Barra cantando antigos sucessos, como Toda Menina Baiana, Palco e Realce. Hoje clássicos da MPB, mas que muita gente da geração nova não sabe cantar.

Cantar em cima de um trio elétrico requer, além de muita empatia com o público, um ritmo acelerado e vibrante. É justamente o que não ocorreu com Preta Gil e com o grupo Biquini Cavadão, que se apresentaram no trio de Margareth Menezes, na quinta e no sábado, respectivamente. O Biquini tirou a música "Tédio" do baú. Foi literalmente um tédio.

21.2.04

Camarotes, camisetas e abadás
O mercado paralelo no Carnaval de Salvador chegou até os camarotes. Quase meia página do caderno de classificados de sábado do jornal A Tarde está dedicada à compra, venda ou troca de kits (camisetas, pulseiras ou ingressos) de acesso às festas privadas. Além dos camarotes que têm entrada paga, tem gente querendo comprar camiseta do camarote de Daniela Mercury, que são distribuídas aos convidados da cantora.

A seção de compra e venda de abadás é antiga. Também há uma seção de troca-troca de abadás, para quem comprou o kit de vários dias em um bloco e quer pular pelo menos um dia em outro. Só neste sábado são três paginas do jornal dedicadas aos freqüentadores dos blocos. Por alguns dias, na cidade ninguém quer vender ou comprar mais nada, além de roupas para a grande festa.

A reclamação por conta do acesso não permitido à Sala do Coro do TCA (leia logo abaixo) foi publicada hoje, sábado, na coluna Tempo Presente, do jornal A Tarde. O meu texto foi resumido e publicado em duas notas, intituladas "Regra velha" e "Província", logo no ínicio da coluna.

Ainda estou aguardando resposta da assessoria do TCA. Agora é estender o debate a outros jornais do país. Soube que uma vez o diretor Márcio Meirelles, do Teatro Vila Velha, em resposta à restrição do TCA, convidou o público em geral a frequentar o seu estabelecimento, em que não haveria nenhuma proibição de vestimenta.

20.2.04

Chuva e festa Quinta-feira, primeiro dia de Carnaval, saída do bloco Mascarados. Muita gente prefere não pagar e sair acompanhando o bloco do lado de fora das cordas. Inclusive gente fantasiada. É animação do mesmo jeito. Na concentração do bloco, em um estacionamento na Barra, fica rolando som, para os Mascarados dançarem. Comenta-se que é um espaço meio apertado, e alguns foliões, mesmo pagantes, preferem ficar do lado de fora, na rua.

Muita fantasia criativa e engraçada. Três drag queens enormes, vestidas de policiais, com enormes perucas louras estavam chamando a atenção. Um rapaz vestido de touca de natação, com um maiô daqueles do tempo das avós, longos cílios postiços azuis e enchimento imitando seios, estava hilário. Havia uma mulher vestida de cachorro dálmata. Vários foliões vestidos de índios e piratas.

Um grupo de garotas caracterizadas de prostitutas: Suzette, Juliette, Bendita Geni e seus cabelos cor de fogo, Madame Cashmere Bouquet. Havia também dois pierrots perfeitamente caracterizados. Vladimir Brichta vestido de Super Homem. Um grupo de quatro pessoas conduzindo alegorias em forma de máscaras tribais.

Muito atraso na saída do trio. Comentava-se que por conta de quebra do trio de Ivete, lá na frente do desfile. Margareth só começou a cantar quando as pessoas já estavam se cansando. Era mais de uma hora da manhã.

Quando o trio vai chegando no Farol, o maior pé d'água. O jeito foi dançar com a água despencando e a lama acumulando. Plumas, penas e boás ficam murchos, mas a animação continuou.

Preta Gil fez participação sem graça, logo depois que o trio passou pelo Farol. Depois do camarote de Daniela, o trio, que é movido a gás natural, teve que trocar o gerador. Margareth pediu desculpas e parecia irritada com os atrasos. Em poucos minutos o trio voltou a funcionar. Mas já era tarde, mais de quatro da manhã e o bloco não chegara nem ao Cristo da Barra. Foi a hora de muita gente ir embora.


19.2.04

"Sim, eu fiquei com pena dele. Pena propriamente não, preciso de uma palavra mais adequada. Fiquei numa postura meio filosófica, meio melancólica... Não é bem melancolia, é a de um sorriso chapliniano, talvez. Tem uma palavra inglesa que está zanzando aqui, em torno da minha cabeça como uma mariposa em torno de uma lâmpada. Detesto usar palavras estrangeiras porque as portuguesas me faltaram, me sinto uma débil mental, isso só se perdoa em alemão, que tem palavras para designar coisas que só alemão sente."
J. Ubaldo Ribeiro A Casa dos Budas Ditosos

18.2.04

Programação de Carnaval:

Saída dos Descarados (a pipoca dos Mascarados) na quinta-feira, na Barra. Saída do Ilê Ayê, no Curuzu. Daniela Mercury com seu som eletrônico, no Expresso 2222. Cortejo Afro e o trio-instalação do artista Matthew Barney, marido da cantora Bjork. Uma olhada no trio "dance" de Simone Sampaio. Um pulo no Pelourinho, para conferir o movimento e a decoração, durante a tarde. E nada mais. Tá bom.
Às vezes, para ter mais informações sobre o que acontece na Bahia, é preciso ler a Folha de São Paulo. Na versão online, há muita informação "chupada" dos jornais de Salvador. Mas também há uma visão independente. Na mídia baiana há muita preocupação ($$$) com a divulgação de festas, shows, camarotes e artistas.

Da Folha Online:

Carnaval em Salvador começa na quinta e espera receber 1 milhão
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u90183.shtml

Salvador leva número recorde de trios independentes às ruas
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u90184.shtml

Cervejaria entra em Salvador e acirra disputa por camarotes
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u90185.shtml

Artista americano cria trio elétrico na BA
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u90143.shtml
Nestes dias que antecedem o Carnaval, há um bombardeio de publicidade dos camarotes que se instalam para a grande festa que acontece em Salvador. São locais para visualização da folia da rua com mais conforto, mas estão se tornando festas privadas: bufês, shows , DJs de música eletrônica, serviços de cabeleleiro, acesso a internet, banheiros high-tech. O movimento de "camarotização" parece ser um retorno às antigas festas que havia nos clubes. A folia nas ruas passa a ser somente no trajeto de chegada e saída do camarote.

Os melhores camarotes, aqueles de artistas famosos, que oferecem comida e bebida de graça, têm acesso disputado a tapa. Os demais são caros e de bufê beeeem reduzido. Os detentores de acesso nos bons camarotes são os próprios patrocinadores, já que os artistas - que emprestam o nome aos locais - praticamente não abrem o bolso para montar a estrutura física e de serviços.

Durante a festa, o que se vê são camarotes frequentemente vazios, contrastando com a animação das ruas. Semelhante ao que havia nas festas fechadas de outrora, "todo mundo na praça, muita gente sem graça no salão".

17.2.04

O show do Ilê Ayê, no último sábado, na Concha Acústica, foi rápido, mas marcante. Foram trinta minutos de espetáculo, em que o som e a performance do Ilê transmitiram equilíbrio e tranquilidade. Um pouco diferente da batida nervosa da música axé-comercial, que se faz na Bahia.

A batida do Ilê soa como um cântico de homenagem aos orixás. Os bailarinos dançam com suavidade, executando um balé embalado por sons que vêm das raízes. É mesmo muito "bonito de se ver", como dizem Caetano e Moreno Veloso.

O show abriu a noite da percussão, no Projeto Petrobrás. Logo depois, vieram Naná Vasconcelos e O Cordel do Fogo Encantado.
Comenta-se em Salvador que jornal Correio da Bahia está perto de ser vendido para a Igreja Universal. O big boss ACM só estaria aguardando as eleições estaduais para concretizar a venda.

Se isso se tornar realidade, o que será do caderno cultural, indiscutivelmente a melhor parte do jornal? As recentes demissões já acarretaram redução do conteúdo. Imagine com as restrições dos evangélicos.

16.2.04

Mascarados
Na sexta-feira ocorreu o último ensaio, antes do Carnaval, do Bloco Mascarados, de Margareth Menezes, no Armazém 1 da Codeba, no Porto de Salvador, que fica na região do Comércio. A festa contou com a participação da banda Babado Novo e de Armandinho.

A banda Babado Novo, com a vocalista Cláudia Leite faz sucesso com a galera bem jovem. Já Margareth e Armandinho têm públicos de uma faixa etária um pouco acima. Armandinho reviveu sucessos de antigos carnavais. As suas músicas têm ritmo mais acelerado do que os sons do axé e do pagode. É música para sair pulando. Margareth, como sempre, com domínio total do público.

O ponto fraco foram as longas filas para comprar ingressos e entrar na festa, por conta da lotação. Brigas, roubos e confusão. O seguranças no local afirmavam que só eram responsáveis na parte interna. Os cambistas insistiam em não deixar ninguém se aproximar da bilheteria, berrando que os ingressos estavam esgotados. A Polícia Militar foi chamada para espantar os atravessadores, que pouco tempo depois voltaram ao local. Por conta da confusão, várias pessoas desistiram de entrar.

Lá dentro, galpão lotado. A vantagem do local é que há o espaço ao ar livre, com telões mostrando os shows, na beira da Baía de Todos os Santos, com a brisa marítima a refrescar os foliões. Uma delícia. Barcos se aproximam para conferir a festa.

A Prefeitura de Salvador tem planos de transformar os armazéns do porto em ponto turístico, com a abertura de bares, restaurantes e lojas. A exemplo de outras cidades do mundo. É uma idéia muito interessante. Antecipando ações governamentais, a produção de Margareth ajudou a provar que o local é excepcional .

15.2.04

Discriminação para homens
Passei por uma situação bizarra e constrangedora, hoje, domingo, na Sala do Coro do TCA. Fui assistir a peça teatral Comédia do Fim - Quatro Peças e uma Catástrofe, às 20 h. Comprei o meu ingresso antecipadamente. Quando cheguei para assistir o espetáculo, tive o meu acesso impedido, pois, segundo o argumento da portaria, estaria trajando "roupa não permitida".

Tratava-se de uma camisa de malha, sem mangas, junto com calça jeans e tênis. O argumento é que o teatro não permite o acesso de homens vestidos de "camiseta, bermuda ou sandália". Fiquei estupefato, não estava acreditando no que estava ouvindo. O problema é que a minha camisa não possuía mangas, e foi taxada de "camiseta". Havia pessoas com camisas de malha surrada, quase rasgadas, mas que podiam entrar, pois havia mangas. Outros, de bermudas, também foram impedidos de entrar.

Solicitei o acesso à pessoa responsável pela Sala. Mais uma vez o argumento foi repetido, com a alegação que são as normas estabelecidas pela direção do teatro. O porteiro, por sua vez, orgulhosamente, não cansava de dizer "são normas que existem há 11 anos" naquele teatrinho, em que se entra pelos fundos do teatro principal.

Em que província nós vivemos? Enquanto a Prefeitura do Rio de Janeiro possibilita o uso de bermudas por policiais, motoristas e funcionários públicos, por conta do calor do verão, a direção arrojada da Sala do Coro do Teatro Castro Alves não permite a entrada de público - pagante - por conta de regras estabelecidas há décadas.

O clima quente de Salvador permite - e exige - o uso de roupas leves. Além disso, a discriminação seria só para os homens? Sim, porque as mulheres podem entrar de camiseta, bermuda ou sandália. No mesmo dia, havia mulheres que adentravam o teatro trajando blusas tomara-que-caia, quase pondo seios à mostra, saias minúsculas, e não havia nenhum tipo de restrição. Que código de vestimenta é esse que anda prejudicando os homens, enquanto permite toda liberdade às mulheres?

E logo no teatro dos fundos? Se ainda fosse na sala principal, ainda vá lá. Mas na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, é um fato inaceitável. Foi algo muito desagradável ter passado por uma situação assim. Por conta de atitudes e regras deste tipo, estabelecidas pela direção do teatro, é que o mercado cultural de Salvador ainda tem muito chão a percorrer antes de se tornar uma atividade desenvolvida. Tenho pena dos profissionais do teatro baiano, que lutam tanto para modernizar, trazendo inovações à sua arte, e têm que ver a sua platéia reduzida, por estar sujeita a regras deste tipo. Não quero nem imaginar quais são as imposições internas de um teatro como esse.

Que lei é essa que restringe a entrada de pessoas nos ambientes por conta da vestimenta? Parece ser discriminação grosseira, já que é possível todo tipo de roupa para mulheres, enquanto há proibição para homens. Pelo menos, tive o valor do ingresso devolvido. E esta reclamação já foi para os jornais de Salvador.
O blog Festa dos Sentidos foi escolhido para fazer parte da Lista do Top 5 no site Blog List e ficará em destaque até o dia 22 de fevereiro de 2004.





Parabéns!

Equipe Blog List
Seu diretório de blogs brasileiros!
http://www.bloglist.com.br

Re: Gostei!
A programação anda tão intensa, junto com a volta ao trabalho, que não ando escrevendo nada.
=x=x=x=
O wbloggar voltou a funcionar, depois de acertos em linhas de comando, seguindo as instruções do site. Para quem não conhece, é um instrumento bem bacana de edição de blogs.

12.2.04

Israelenses na Bahia

Como tem gringo visitando a Bahia! Fiquei curioso ao pensar em qual seria o ranking das nacionalidades que mais visitam o Morro de São Paulo. O dono da agência de turismo e internet café, que nos vendeu os bilhetes do passeio de barco, nos deu uma dica. Ele verifica que a maior quantidade é de israelenses, na faixa de 20 e poucos anos.

Em Israel, após cumprir o serviço militar, os jovens costumam fazer longas viagens pelo mundo, que duram de 4 a 9 meses. Isso mesmo. Os destinos mais procurados são a Tailândia e o Brasil. Daí a grande quantidade deles em praias brasileiras. E como descobrem Morro de São Paulo? A explicação é que eles conversam muito entre si e trocam informações via internet. Até em Barra Grande, um local que só agora começa a ser descoberto pelo turismo em massa, no ano passado encontrei israelenses.

Eles passam quase despercebidos, pois têm pele morena clara e quase sempre cultivam um visual meio ripongo, meio latino. Ficam parecidos com argentinos ou mesmo com brasileiros. Segundo Vered Cohen, uma israelense de 27 anos, morena queimada de sol, com feições de brasileira, que viaja há quatro meses, o Brasil tem preferência por ser um país tranquilo. Antes de chegar à Bahia, ela passou pela Argentina e veio passeando pelo sul do país, sempre de ônibus.

Vered conta que o serviço militar em Israel é obrigatório para moças e rapazes. Para elas, a duração é de um ano e nove meses, enquanto para eles é de três anos. Depois que terminam, alguns passam um tempo trabalhando lá mesmo em Israel ou no exterior, juntando grana para viajar.

A presença de turistas israelenses na Bahia, especialmente no Carnaval, é muito grande. Acho que as entidades responsáveis pelo turismo ainda não se deram conta disso, pois nunca vi nenhuma iniciativa de recepção diferenciada para eles ou reportagem nos meios de comunicação da Bahia ou do Brasil sobre o assunto. Segundo o dono de uma pousada em Morro de São Paulo, uma característica interessante dos israelenses é que geralmente são corretos e bons pagadores.

Um passeio de lancha pelas ilhas de Tinharé, Boipeba e Cairu. A primeira parada é nas piscinas com recifes de corais em Boipeba. Há bares flutuantes e os turistas descem para explorar o fundo do mar - bem rasinho, quando a maré está baixa -, com óculos de mergulho e respirador (snokel). Eu me senti dentro do filme "Procurando Nemo", observando uma variedade incrível de peixes coloridos. Mas não vi nenhum peixe-palhaço, daquele vermelho com listas brancas, da espécie de Nemo. Um amigo meu disse que viu. Em outras lanchas, e também na nossa, vários turistas estrangeiros faziam a festa.

Este blog recebeu indicação na coluna Eu e o Blog, o Blog e Eu, do caderno de Informática de A Tarde. Por conta disso, um bom aumento no número de acessos.

11.2.04

Comida no Morro

Na ânsia de comer camarão, já final da tarde, voltando da praia, entramos em um restaurante arrumado, com nome italiano. Fomos atendidos por um garçom argentino. Inventei de pedir ensopado de camarão, que viria acompanhado de arroz e pirão.

O camarão veio fumegando, em panela de barro. Até aí tudo bem. Ao mergulhar a colher veio um caldo vermelho, consiste e - após prová-lo - ácido. Era tomate quase puro. O pirão, que é normalmente feito com o caldo do marisco, também era puro tomate - e também ácido. O resultado estava sofrível. Talvez fosse o caso do camarão ser acompanhado por algum tipo de massa, já que havia tanto tomate no molho. Parece que adicionaram uma caixa inteira de polpa - e das grandes. Para completar, o camarão era pequeno e estava borrachento.

A insistência em pedir frutos do mar foi por conta do dia anterior, quando provei um bom filé de badejo grelhado, acompanhado de batatas sauté e salada, em um restaurante também de nome italiano e de atendimento de argentinos.

Um ensopado de camarão bem feito é um prato divino. Temperos verdes, azeite de oliva, cebola, alho, um pouco de leite de coco e tomate suficiente apenas para dar um pouco de cor. Nada mais que isso.

Sempre que vou a restaurante e o prato não está ao meu gosto, fico imaginando que o faço melhor e mais saboroso. Estou ficando exigente demais ou simplesmente chato? Para mim, Morro de São Paulo deixou muito a desejar na qualidade das refeições, tanto nos restaurantes mais ajeitados como nos mais simples, a quilo. Além do badejo, o melhor que provei foi uma moqueca de aratu, PF com arroz e feijão, em um restaurante de comida caseira. E só. Até o simples crepe, servido em uma lanchonete bacana, que tinha iluminação e som techno de "buati" - além de um poster de Amelie Poulain -, deixou a desejar.

10.2.04

Quanto de poesia há neste lugar. Quanto de emoções, retiradas pela urbanidade? Quanto de alegria perdida. Quanto há do nada-fazer? Quanto de poesia há nas palavras escritas nos muros. Quanto de alegria que não é nossa?
Simplicidade. A bela lua cheia que delineia um coqueiro. Chuva fina que traz saudade do aconchego. Intimismo: a ele nos devotamos e nos apaixonamos.
Pela paz do lar abandonamos prazeres mundanos. Soluções tecnológicas nos seduzem. A resolução de vazios, em qualquer lugar. Chuva fina que nos abraça.
A temperatura certa do bem-estar. Um mergulho em águas mornas. Brisa doce que nos acaricia. Um pleno sentido.
Cor róseo-salmão nas luzes do dia. E em nossa visão. Felicidade quase cor-de rosa. Pés azuis. Chão amarelo. Ares de borboleta esperta e fagueira.
Por onde andam as borboletas que marcaram a nossa infância? Aquelas amarelas, simplezinhas, esbeltas como bambus, livres como gaivotas.
Por onde andam aquelas aves que marcaram a adolescência tardia? Para onde elas migram e vão se esconder?
Por onde andam as baleias da nossa adultice? Onde estão seus jatos e seus urros?
Por onde andam os elefantes da maturidade? Ah, eles correm por aí, atrás de comida.
Por onde andam as borboletas da nossa velhice? Elas flanam pelas flores das nossas lembranças.

9.2.04

Música de rua

Em Morro de São Paulo, o luxo de lojas e restaurantes contrasta com as estreitas ruas de areia, nas quais não há tráfego de veículos. Em plena areia, um um grupo de músicos toca na praça, quase todos os dias. Com violão, atabaque, acordeom, triângulo e chocalho, o grupo tira um som gostoso, entre a MPB e o forró, que atrai os turistas. Legal é que sempre há algum visitante interessado em juntar-se ao grupo, tocando um instrumento. Vira quase uma jam session.
Em busca de cenas pitorescas, os atletas das máquinas fotográficas e das filmadoras vão atrás de registros de momentos únicos. Será que é tão difícil encontrar música ao vivo nas ruas de outros locais?
Os músicos repetem o mito da cigarra, trazendo a alegria e vitalidade à noite do vilarejo. E, como animadores, ganham presentes dos comerciantes
Voltando para Salvador amanha, terca-feira. Back to life, back to reality. Bem-vindo ao trabalho. Novos projetos, mas a disposicao provavelmente só vai chegar depois do Carnaval.

Quase uma semana de praia, caminhadas, descanso, festas, musica. Os relatos virão daqui a pouco.

7.2.04

Pontes Digitais

Morro de Sao Paulo eh um vilarejo que fica na Ilha de Tinharé, municipio de Cairu, na Costa do Dende, Bahia. Eh de lah que eu teclo agora, tentando conciliar acentos e a edição deste post.
O vilarejo eh uma babel de linguas. Portugues, espanhol, italiano, ingles, hebraico, alemao. Viajantes de varias partes do mundo se reunem por aqui. Eh dificil ouvir portugues nas ruas. Os turistas estrangeiros circulam por todos os cantos e recantos. Uma consequencia imediata dessa presenca eh a grande quantidade de locais com acesso aa internet. Há varios cafes e lojas nos quais eh possivel acessar a rede em alta velocidade, descarregar fotos e ate gravar CDs.
Isso mesmo. Um vilarejo do litoral da Bahia, que hah uns vinte anos mal tinha luz e agua encanada hoje estah conectada ao mundo em alta velocidade. A internet estabelece pontes digitais da ilha com o resto do mundo.
Morro de São Paulo eh um local tranquilo, onde não há circulacao de carros . Tudo eh feito a peh, ou, no máximo, com a ajuda de "taxis" de bagagem: carrinhos de mão.

3.2.04

O mundo vazio das celebridades
A novela Celebridade, cumprindo a rotina de divulgar costumes e modismos de época, tem mostrado a vida fútil de famosos e de aspirantes a famosos. Um vazio absoluto de crenças e idéias. Para alguns personagens, o mais importante de tudo é aparecer em jornais e revistas, a qualquer custo. Mesmo que não tenham nenhuma atividade que justifique isso. Não são atores, nem criadores. São arremedos de estrelas. As manicures da novela são os exemplos mais evidentes.

Que modelos são esses passados pela televisão para uma grande população que tem pouca massa crítica? Somente a escravidão ter o ego alimentado pela fama e reconhecimento? Que pessoas são essas que estão sendo nutridas por esses modelos de comportamento?

Está criada uma sociedade fútil e vazia, artificial, sem valores morais. As pessoas não estão se dando conta de que as maiores prejudicadas são elas mesmas, pois a luta pelo reconhecimento popular é contínua e ingrata. Na internet, o fenômeno também se repete, em sites e blogs exibicionistas. Frutos de uma época narcísica e esvaziada.

A conseqüência mais visível desse quadro é o fenômeno da depressão. Nunca as pessoas e as empresas gastaram tanto dinheiro tratando de males da alma. A depressão é o grande "mal do século" de nossa época. Os remédios antidepressivos vendem a rodo. Os consultórios psicoterapêuticos e hospitais psiquiátricos andam mais cheios que nunca. Por conta do mundo veloz e louco, as pessoas não param para analisar se realmente precisam de tudo aquilo que desejam: celulares, carros, roupas, ambição profissional, etc. Sentem-se frágeis para negar o que a publicidade e a mídia esperam delas: o consumo.

E cada conquista pessoal vai perdendo o seu significado, pois cada vez se deseja mais, seja luxo ou fama. O mundo está precisando voltar para dentro de si, voltar a olhar a natureza, as pessoas ao redor, os pequenos objetos. Ver a poesia do cotidiano, algo que anda meio perdido. Volta, Drummond! Cazuza, há vários anos, em sua genialidade, já vislumbrava: "Ideologia, eu quero uma pra viver".

=x=x=xx

Este blog sai de férias por alguns dias. Vai atrás de umas paragens tranquilas, lá pelas bandas de Morro de São Paulo. Até mais.

2.2.04

Fui para a Festa de Iemanjá no final da tarde, sol quase se pondo. Desço a ladeira, reto pela Osvaldo Cruz, até chegar na Praia da Paciência. Não havia mais flores disponíveis. Uma oração para a deusa das águas salgadas, em frente ao mar. Pedras secas, pedras escorregadias.

Passagem na Gráfica Venture, onde estava ocorrendo um show de Márcio Melo. A rua não teve tráfego interrompido. As pessoas dançavam em meio aos veículos passando. Mesmo assim, estava legal. Um público bem bacana, bem Rio Vermelho. Uma galera que frequenta o bairro desde a época do Extudo e do Rio de Janeiro(!), um boteco que não tinha mesas, ficávamos bebendo na rua. Depois teve a época do Alambique, com suas noites memoráveis. Pessoas que eu quase só vejo no Rio Vermelho. É quase uma confraria: atores, publicitários, jornalistas, drogados, estudantes, etc.

Ao lado da Venture, um bar vendendo cervejas e lanches e uma bela pintura de Iemanjá. Um quadro um tanto naif, muito bacana. Parecia uma daquelas pinturas que havia nas tradicionais barracas populares, com bancos coloridos empilhados, na Festa do Rio Vermelho. Expressões da cultura popular que motivaram vários trabalhos fotógraficos. Algo que não mais se vê atualmente, praticamente não há mais barracas para sentar e beber.

Depois uma passada no Micelânea Café. O DJ Márcio Santos no som. Hits dos anos 70, rock-pop nacional. Voltamos para a Venture, em busca do resto da turma e para conferir o show de Lazzo. Mais tráfego na rua. Mais algumas cervejas, o encontro com uma parte da galera. Boas risadas. Casa e novamente o feijão com verduras do almoço.
Cinema
Assisti Party Monster, na Sala do Museu, e Tiresia, na Sala do Bahiano. Gostei mais de Party Monster, com Macaulay Culkin. Tiresia também é muito bom, mais denso. Party Monster é mais divertido, ainda que a história se trate de um assassinato. Macaulay Culking interpreta Michael Alig, personagem da noite novaiorquina da década de noventa. O filme é quase um documentário, baseado no livro do também personagem James St. James.

Tiresia tem o mérito de mostrar a vida dos travestis brasileiros na França. Há canções e diálogos em português, ainda que o filme seja francês. A presença da bela Clara Choveaux é marcante. A atriz, que mora na França, esteve há pouco tempo em Salvador, divulgando o filme. O personagem Tiresia é interpretado por Clara e por Thiago Teles, também brasileiro.

1.2.04

"Maga" da animação
O palco principal do VI Festival de Verão é melhor ao vivo do que pela TV. Na telinha não dá para perceber a grandiosidade e a força que o palco e a iluminação têm. No show de Margareth Menezes, ontem, ainda houve a projeção de fotos de negros, com pinturas tribais e adereços, ou simplesmente mostrando a força dos traços da raça. Foi a gravação do primeiro DVD de Margareth.

Bem vestida, elegante, ela foi uma verdadeira embaixadora da música baiana, ao receber a cantora Alcione e a bateria da Escola de Samba Estação 1ª da Mangueira. Emocionante ouvir Alcione cantar "Não Deixe o Samba Morrer", canção na qual registra o pedido feito a um sambista mais novo. Se for por conta de Margareth, o caminho será tranquilo.

É muito interessante e bem pensada a aproximação do carnaval da Bahia com o do Rio de Janeiro. Ao luxo da animação carioca precisa ser adicionada mais participação popular. Os poucos blocos do Rio resistem em aumentar o número de participantes. Coisa de intelectual, que quer ver a sua agremiação com aura de patrimônio histórico. Nesse ponto, o marketing dos blocos de Salvador é uma escola. O carnaval da Bahia, por sua vez, só tem a ganhar com o ritmo do samba e a beleza e organização das escolas, como foi visto na participação da bateria da Mangueira no show.

Margareth tem feito "ensaios" dos Mascarados no Canecão, no Rio de Janeiro, com ótima recepção de público e - por que não? - da crítica. Ah, sim, Margareth não é minha parente ;-).