Hipermasculinidade
A antropóloga Alba Zaluar estuda a violência urbana brasileira há mais de 20 anos. Em entrevista à Folha de São Paulo, ela tece considerações muito interessantes. Segundo ela, apenas pobreza e desigualdade não explicam a presença de adolescentes na criminalidade. Há um fator a mais, ligado a um "etos de masculinidade", que leva jovens a entrar no tráfico de drogas em busca de reconhecimento social por meio da imposição do medo.
A equipe de Alba Zaluar, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), elaborou um levantamento na favela de Cidade de Deus, na zona oeste do Rio. Na pesquisa, verificou-se que apenas 2% da população de lá está está envolvida com o crime. Então como explicar, somente pelas questões econômica e social, que a maioria das pessoas não se envolve com o tráfico? Daí a hipótese da "hipermasculinidade", que vem sendo estudada também em outros países.
Não é que pobreza e desigualdade não tenham a ver com a violência. Têm sim, e bastante. Mas só essas hipóteses não justificam por que cidades ricas como Londrina, no Paraná e Campinas, em São Paulo, tenham índices de violência tão altos. Leia a entrevista completa. A pesquisa da antropóloga foi a base para o roteiro do filme Cidade de Deus, do escritor Paulo Lins.
No livro Seis balas em um buraco só, o escritor João Silvério Trevisan tenta explicar, sob a ótica freudiana, o que vem causando a "crise do masculino", que é a incapacidade de se impor enquanto "homem", sem precisar se valer de violência. A grosso modo: dificuldade em lidar com o novo papel social da mulher, detentora de poder; incapacidade de alguns exemplares masculinos em se harmonizar com o seu lado feminino; ausência de modelos de masculinidade, com orgulho em conter a violência e respeitar o adversário.
Segura que lá vem o chavão: o buraco é mais em baixo.
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