18.4.04

Cultura das celebridades
Na edição de abril da Cult, revista sobre literatura e cultura, há uma entrevista com o antropólogo Hermano Vianna (foto), 43, autor de O mundo funk carioca e O mistério do samba (Ed. Jorge Zahar). Ele também é um dos criadores do projeto Brasil Total, na Rede Globo. Pelo sobrenome e pela semelhança física - que inclui a careca - dá pra perceber que o entrevistado é irmão de Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso.

A revista afirma que o antropólogo é cotado extra-oficialmente para ocupar o cargo de assessor especial do ministro da Cultura Gilberto Gil. Durante a entrevista, Vianna diz que o jornalismo brasileiro e setores dominantes da sociedade são irresponsáveis. E também defende a cultura das celebridades como fator de união nacional. Para ele, o caso Luma de Oliveira, além de ser "um bom exemplo da simbiose entre informação e divertimento", é "uma alegre comoção nacional envolvendo escola de samba, alta sociedade, símbolos sexuais, fidelidade, ciúme, partilha de bens e por aí vai, por aí todos vamos".

"Parece uma partida de futebol de final de campeonato, quando o país inteiro comenta o mesmo assunto - e por isso mesmo se sente mais 'nação'". Segundo Vianna, alguns estudiosos acham que as pessoas vêem TV aberta mais para conversarem depois sobre o que viram, para ter assuntos comuns com as outras pessoas com quem convivem, do que por realmente gostarem do que a TV oferece. "É a experiência mais próxima de um ritual coletivo, criando os laços de pertencimento a uma mesma comunidade, que as nossas sociedades complexas e gigantescas podem produzir. Por isso precisamos falar sobre a Luma, mesmo sem nenhum interesse real pelo seu 'caso'. Isso não quer dizer que as pessoas sejam ingênuas ou que sejam manipuláveis pela mídia de massa".

Hermano Vianna diz que lê a revista Caras "como quem lê as páginas de finanças dos jornais". "Nunca vi uma mistura tão séria de divertimento e informação. Parece uma bolsa de valores do mundo do entretenimento nacional e do patrocínio para o entretenimento nacional. Está todo mundo ali vendendo alguma coisa. O público não é bobo e se diverte com isso, vendo como seus ídolos são espertos ou trouxas".

Segundo ele, quase todo o jornalismo cultural brasileiro virou um negócio, em que assessores de imprensa e departamentos de marketing de gravadoras, editoras, televisões, etc. têm muitas vezes mais poderes que os editores. "Não tenho certeza sobre as razões que levaram os cadernos culturais dos jornais e a imprensa brasileira em geral a ficarem assim. Penso que tem a ver com a dura crise que assola a mídia brasileira. Mas também tem a ver com certa irresponsabilidade geral que tomou conta de boa parte dos setores dominantes da nossa sociedade".

Por análises desse tipo é que considero que estão entre os antropólogos algumas das melhores cabeças da cultura nacional. Eles quase sempre têm opiniões mais embasadas, mais isentas e com menos preconceitos que os jornalistas.

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