Em homenagem aos santos gêmeos Cosme e Damião - e ao meu estômago-, resolvi fazer vatapá e caruru, aproveitando alguns quiabos que ganhei de presente. Mesmo quem mora em cidade grande, às vezes, se o santo ajuda, abocanha alguma lembrancinha que vem da zona rural.
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Para começar, toca a cortar os quiabos. Que dureza. Primeiro é preciso selecionar os que estão macios e serão utilizados. Para isso, pressiona-se a ponta inferior, mais fina. Se partir o pedaço inteiro, está bom. Se não partir, e em vez disso abrir, é porque o quiabo está duro e fibroso, não serve para cozinhar. Entre os quiabos que havia ganho, nem todos estavam macios, tive que descartar alguns.
Lavei os quiabos e cortei fora as cabeças. Cortei em cruz e fui picando tudo. A epopéia começou aí. Tem que cortar bem pequeno. Meia hora depois, quiabos picotados, pus em um pouco de água com sal e levei a ferver. Enquanto isso, moí os camarões secos e defumados no liquidificador, separando alguns inteiros para colocar na panela. Peneirei e joguei fora o que não passou pela peneira. Para os gatos (em meu caso) ou para o cachorro. A mesma coisa com os amendoins e as castanhas.
Nas receitas dos vatapá e caruru, a única coisa fácil de fazer é quanto aos temperos. Basta jogar cebolas, alhos, tomates e temperos verdes no liquidificador e bater tudo.
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Fiz o vatapá com farinha de trigo. Também pode ser usada farinha de mandioca ou pão francês (de sal) embebido (parece bêbado, mas não é!) no leite. Pus a farinha no liquidificador junto com leite de coco e um pouco de leite de vaca, para misturar sem embolar.
Joguei a massa na panela com os temperos e fui mexendo, mexendo, mexendo (a colher de pau, não as cadeiras!), adicionando mais leite para não ficar grosso. No final do cozimento, o toque de cor e sabor: o dendê.
Entre uma coisa e outra, ainda coloquei alguns pedaços de bacalhau para aferventar e tirar o sal. Retirei peles e espinhas, desfiei. O objetivo era misturar no vatapá, mas, atendendo a pedidos, deixei separado. Coloquei um pouco do tempero (o mesmo do vatapá, que serviu para tudo), azeite de oliva e salsa picada. Depois de tudo pronto, ainda preparei o arroz branco.
A brincadeirinha durou mais de duas horas e meia. Ainda acham que comida baiana é simples. Muito pelo contrário. É trabalhosa, refinada e os ingredientes não são baratos - são todos especiais para a ocasião. Não é aquela comida que se faz com "o que tem na geladeira". Mas o resultado compensa.
Se for bem feita, a comida de dendê não é pesada. O problema é que os pratos quase sempre são sobrecarregados de azeite e leite de coco. Procuro usar o mínimo possível. Comida, para estar saborosa, não precisa de muita gordura. Aliás, comida gordurosa está sempre mal-feita, pode reparar. O que dá sabor é o tempero.