29.9.04

Estratégias e artifícios do cinema
O ato de ver ou rever bons e premiados filmes antigos é sempre um exercício interessante. Muitas vezes as narrativas parecem ingênuas. Outras vezes, a montagem e as imagens parecem toscas, sem o auxílio das tecnologias. Com o perdão da palavra, forte para obras de arte, alguns filmes hoje parecem datados. Ou simplórios, não no conteúdo, mas na forma.

Vi Teorema, do italiano Pier Paolo Pasolini, em DVD que aluguei na Casa de Cinema, no Shopping Rio Vermelho.

Em 1968, em rapaz misterioso (Terence Stamp) se hospeda na casa do rico industrial italiano Paolo (Massimo Girotti). Aos poucos, o estranho envolve-se com todos os componentes da família, incluindo a empregada, o filho e a esposa (Silvana Mangano). Causando a degradação da família burguesa.

Teorema é tido como a obra-prima de Pasolini (1922-1975). Proibido durante anos, em vários países, hoje talvez não tivesse censura 14 anos. Poderia estar tranquilamente entre os filme da TV. Não há cenas de sexo, é tudo sugerido. Mas a censura não era por conta das rápidas cenas de nudez. Era por causa da crítica feroz à estrutura capitalista em que está inserida - até hoje - a família burguesa. Então, para tentar burlar o controle da censura, os cineastas tinham que recorrer às metáforas e alegorias, contando com o entendimento inteligente do público.

A impressão de ingenuidade, ou de marcado pela época, acontece ao perceber os artifícios utilizados no filme para dizer coisas óbvias hoje. Aquilo que o cineasta precisou fazer para enviar o recado do que desejava criticar. Aí residia, sem dúvida, grande parte do talento.

Hoje, o trabalho é mais direto. Se Shyamalan faz uma alegoria sobre o medo presente entre os americanos em A Vila, é porque assim o desejou, para dar mais charme. Michael Moore não precisou nem de ficção: fez um documentário atacando os envolvidos em cultivar o medo dentro do próprio país. Mais incisivo impossível, ainda que não haja em Fahrenheit 9/11 nenhuma crítica a ideologias políticas. Em nenhum momento o capitalismo americano é atacado. Moore critica as ações do governo Bush.

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