26.9.04

Escolhas
Uma peça filmada, um texto com momentos de profundidade que dificilmente se vêem no cinema. Em A Dona da História, Carolina (Débora Falabella), 18 anos, descobre o amor com o idealista Luiz Cláudio (Rodrigo Santoro). O tempo passa, Carolina (Marieta Severo) continua casada com Luiz Claúdio (Antônio Fagundes). Quatro filhos criados e longe de casa, o casal decide vender o apartamento em que morou por 32 anos.

A proposta é mudar para um local menor e aproveitar o dinheiro para uma sonhada viagem ao exterior. Só que Carolina agora está na menopausa, passa por reposição hormonal e questiona as suas escolhas de vida. Com direção de Daniel Filho, o filme é baseado no texto da peça de sucesso de João Falcão, encenada também por Marieta Severo e por Andréa Beltrão.

As duas Carolinas dialogam e discutem diferentes caminhos. Ela poderia ter sido uma atriz famosa. Ou uma solteirona amarga que trabalha em uma locadora de vídeo. Ou talvez uma dondoca que se casou por dinheiro.

As relembranças e o questionamento do presente a partir de escolhas passadas de A Dona da História fazem eco aos recentes Efeito Borboleta e Brilho Eerno de Uma Mente Sem Lembranças. É coincidência demais para não notar que o cinema está refletindo a inquietação do ser humano em tempos de futuro sombrio e de escolhas cada vez mais variadas e possíveis. Em um milênio que inicia, parece que todos estão a se perguntar se escolheram os caminhos corretos e se fariam tudo igual novamente.

O texto é bem humorado, o que diminui o peso do drama do envelhecimento e dos conflitos. A reconstituição de época, principalmente das festas, ficou muito bacana. Marieta Severo está excelente, o bom resultado do filme é todo dela. É uma oportunidade para quem não pôde ir ao teatro.

No final do projeção, já na parte dos créditos, preste atenção na belíssima voz que canta a música "Sombra na Roseira", de Tom Jobim. Pensei que se tratava de Maria Rita. Surpresa geral: nada mais, nada menos que Sandy. Dêem a ela um bom repertório e aguardem o show de voz: doce, melódica, uma cotovia. É simplesmente demais, de cair o queixo, de arrepiar. E, por um instante, inacreditável.

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