Mais Arrocha
Por que tanta gente insiste em diminuir o valor do ritmo Arrrocha? Que mania é essa de criticar antes de perceber a cultura popular enquanto fenômeno de massa?
É certo que o Arrocha não é um "novo movimento cultural", como tenta ser vendido por produtores locais. Não provoca nem traz em si nenhum lampejo de criatividade. É simplesmente uma nova forma de tocar e dançar músicas populares, novas ou já consagradas, em ritmo próximo ao bolero. De criatividade não tem nada. Talvez por isso o modismo não dure muito tempo. Talvez.
A gozação que se ouve e lê por aí, feita com o ritmo, parece ter um dos pés fincados em preconceitos com a cultura popular, produzida e consumida principalmente por classes de baixa renda.
O Arrocha talvez também não consiga o alcance do axé e do pagode. Talvez não seja batucado em ônibus. Talvez não seja tocado em uma roda de amigos, durante o intervalo da aula na escola pública ou particular. Talvez não seja batido em latas pelas ladeiras de Salvador. Talvez ninguém leve um órgão eletrônico para tocar no boteco, com se faz com o cavaquinho, típico do pagode.
O Arrocha não traz em seu interior a batida forte dos tambores que consagram os ritmos afro-americanos. Mas, ainda assim, contagia uma multidão de pessoas, seja de pele clara ou escura, com creme hidratante ou não no cabelo, morenos de olhos claros, escuros ou com lentes de contatos coloridas. Pessoas que irão aos shows e terão que esperar o dia clarear para voltar de ônibus, como sempre fazem ao sair à noite.
Não morro de amores pelo tal do ritmo. Não sei dançar. É difícil, tente para ver. Exige muito molejo e coordenação de passos. Ainda assim, prefiro o tom romântico do Arrocha ao estilo quase sempre desrespeitoso e grosseiro dos tigrões, lacraias e outros bichos.
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