28.9.04



O Pensador do Campo Grande
A obra mais famosa do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) pousou na praça do Campo Grande, em Salvador. Uma das 25 cópias da escultura O Pensador, que pertence a um colecionador americano, ficará a refletir sobre a realidade baiana, durante 60 dias.

A peça, feita em bronze e com pátina esverdeada sobre a superfície, foi instalada ao ar livre para não danificar o piso do Museu de Arte Moderna, já que pesa 800 quilos e está sobre um uma base de mármore baiano de 4.300 quilos, totalizando 5,1 toneladas.

Enquanto isso, o homem que pensa vai aproveitar para tomar um arzinho fresco, fora de algum museu. Satisfeito, poderá esticar os olhos e checar os andarilhos que passam para lá e para cá, em suas caminhadas matinais. Longe do teto seguro do museu, estará sujeito a receber algum presente aéreo dos pombos, o que lhe poderá, talvez, conferir boa sorte na estadia baiana.

Quem sabe será procurado pelos cachorros desavisados, que, acostumados ao território livre da praça, levantarão suas patinhas traseiras para homenagear tão famoso personagem da arte mundial.

Algum mendigo passeador, familiarizado com a sombra e o conforto da estátua de Castro Alves, poderá buscar aconchego junto àquele francês e intelectual. Ao confundir cordialidade brasileira com aridez européia, será prontamente demovido do seu objetivo pelos seguranças.

Ainda assim, O Pensador terá bastante tempo para analisar o cenário social e político baiano. Nas madrugadas, com acesso fechado ao público, poderá meditar sobre a pobreza, as diferenças sociais, as eleições e seus candidatos, com tantas promessas de melhorias.

Melhor seria se tivesse vindo durante o Carnaval, para conferir ao vivo a propalada alegria do povo baiano. Instalado em ponto central da festa, poderia ser agraciado com um camarote-homenagem, bancado pelo poder público, assim como foi bancada a sua viagem até Pindorama. Imagine a boca-livre, regada a champagne, foie gras e acarajé com vatapá. O Pensador iria enlouquecer: "Ué, cadê a miséria?".

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