12.9.04

Canto afrolírico

Havia quase quatro anos que Virgínia Rodrigues não se apresentava na Bahia. A cantora baiana promove a carreira musical fora do país. O último disco, Mares Profundos, foi gravado na Alemanha. O show ocorrido no Pelourinho, hoje, foi presenciado por uma platéia educada que demonstrava boa aproximação com o trabalho da mezzosoprano.

No repertório da apresentação, músicas dos discos O Sol Negro (1996) e Nós (2000), este último uma homenagem aos blocos afros baianos. Foi emocionante, envolvente, de fazer brotar lágrimas. Virgínia usa tons de canto lírico em canções da MPB. A cantora parece tomada por alguma divindade que agracia aqueles que estão presentes e usufruem da sua voz que parece não ser deste planeta. É um timbre completamente diferente.

Além de composições brasileiras, também famosas em outras vozes, ela cantou a Ave Maria de Gounod. Foi de fazer crer os mais céticos. Mas ainda não foi dessa vez que pude conferir Canto de Iemanjá, que faz parte do CD Mares Profundos, e é uma das minhas canções favoritas na voz dela.

O Quincas Berro D'Água não estava cheio em demasia, quase todo mundo pôde apreciar sentado. Fiquei assistindo e provando um arrumadinho de carne-do-sol no Pomerô. Pelo show, bastava pagar apenas uma lata de leite em pó como ingresso. Ô vida difícil... Não é por nada não, mas é por essas e por outras que morar em Salvador tem vantagens.

Na mesa ao lado estavam quatro negras bem arrumadas, com cabelos que justificavam o texto publicado aí abaixo. Cada uma delas tinha arranjos diferentes, tranças ou dread locks. Depois fiquei sabendo que uma delas era famosa cabeleleira do Pelourinho, especialista em penteados afro. Ela inclusive havia feito o penteado da cantora e foi citada entre os agradecimentos do show.


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