5.6.04

Churrasco prá todo lado
Perto de onde trabalho, na região das Mercês, na Avenida Sete, fica o largo do Rosário. A região central de Salvador é cheia de ruas estreitas. Qualquer espaço maiorzinho é chamado de largo. O do Rosário tem uma igreja - não poderia faltar - e uma área, como se fosse uma praça, só que sem árvores e bancos. Tem também um monte de camelôs e o que seria o espaço de recreio de um colégio e curso pré-vestibular instalado no local.

Durante a semana, durante o dia, o local é relativamente calmo. À noite, além de alguns bares com movimento, tem um carrinho-churrascaria que vende churrasquinho de gato no espeto, com farofa e salada. O pior é que, quando saio do trabalho, com aquela fome, o cheiro do churrasquinho vem invadindo o nariz, dizendo: "venha me comer, venha me comer". Sem trocadilhos. Resisto estoicamente.

O largo está virando uma festa permanente, com mesas que se espalham por todos os cantos, à medida que anoitece. Mas é na sexta-feira que o couro come de verdade. A partir do meio-dia, quando vou passando em direção ao almoço e ao trabalho, o pagodão já está rolando, som saindo do fundo aberto dos carros. Mania baiana, nordestina e brasileira, do fusqueta acabado de guerra até o Golf luxuoso. Epa, o motor do fusca fica na traseira.

Estudantes da manhã e da tarde entregam-se à cerveja gelada. Enquanto uns vão trabalhar, outros se divertem. Quero ver o resultado no vestibular. Ô inveja. Vou passando, finjo que não percebo nada do movimento. Até que não ligo muito para o som rolando. Queria mesmo era não ir para o trabalho e ficar tomando uma cervejinha, no meio do agito.

O clima vai esquentando, as rebolativas e rebolativos vão embalando pelo álcool. Putões e periguetes à vontade. Putão é o cara pagodeiro, cheio de ginga e namorador. Periguete, dá para imaginar, é o feminino correspondente. De nada adianta o aviso no bar: "Proibido som de carros. Sujeito a multas". A bunda-music corre solta.

Hoje eu vi um cara, um garoto vendedor em uma sinaleira, em outro local da cidade, vestindo uma camiseta com a meiga inscrição: "Eu sou putão". Pensei em ir lá na Baixa dos Sapateiros, onde provavelmente se encontra uma daquelas, comprar e fazer um sorteio-surpresa entre as pessoas lá do trabalho. Imagine a gozação.

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