O tempo não pára
Feriado, dia chuvoso, véspera dos Dia dos Namorados, a cidade se deslocou para o shopping center. Fui cedo, para sessão dupla: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e a pré-estréia, aberta ao público, de Cazuza - O Tempo Não Pára. O almoço ficou entre as duas sessões.
O Tempo Não Pára é uma viagem ao rock dos anos oitenta. Final da ditadura militar, cena rocker se estabelecendo no país, com grande inspiração do que se fazia na Inglaterra (e isso deixou de ser feito?). Cazuza foi um grande poeta, cantor e um grande personagem. Ele ousou, em uma época em que a caretice voltava a querer se instalar, depois do desbunde dos anos 70.
Lembrei de tanta coisa. Do primeiro Rock in Rio, que assisti pela televisão. Da minha adolescência. De uma amiga minha, que ficou com um roadie do grupo Barão Vermelho, depois de um show. De uma das últimas apresentações de Cazuza em Salvador, em 89 ou 90, que eu não tive grana para ir.
O filme é bom, o ator Daniel Oliveira está fenomenal no papel principal, mas faltou contextualizar mais da época. Senti falta de alguns flashes do filme Bete Balanço, estrelado por Débora Bloch, que marcou época e que tinha música-tema cantada por Cazuza. A música aparece simplesmente emoldurada por um letreiro do filme. Quem está na faixa dos vinte e poucos anos não sabe do que se trata.
Apesar de mostrar bastante da "vida louca vida" do cantor, no filme há a presença constante da família, especialmente da mãe, Lucinha, vivida por Marieta Severo. Não é para menos, a família participou da produção. Dizem que a mãe sufocava Cazuza. Pelo filme, dá para ver que ela era mesmo intrometida, ainda que contasse com muita cumplicidade do filho.
Tem uma cena em que ela vai limpar o apartamento de Cazuza. Encontra um pacotão de maconha e joga tudo na privada. Cazuza fica puto e dispara: "Vá tomar no cu". Depois, ele está com o carro parado no trânsito. A mãe chega, lacônica, com um galão de gasolina, atendendo ao pedido do filho. "Por que você está assim?", ele pergunta. "Você não mandou eu tomar no cu? Estou tomando". Cazuza dá risada e ameaça explodir o galão, em cima da cabeça, com um isqueiro. Eles se abraçam e se beijam.
Faltou mais do Cazuza poeta e transgressor, apesar de haver cenas fortes com drogas e dos seus romances, heteros e homossexuais. O filme fica parecendo um documentário dos maiores sucessos do cantor, inclusive com algumas cenas - rápidas - retiradas de gravações dos shows.
Harry Potter, como sempre, foi muito legal. Muito suspense, ação, magia, perseguições. Os personagens estão quase adolescentes, na faixa dos treze anos. Apesar da censura livre, o filme não é para crianças muito pequenas.
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