4.3.04

Mercado de rua
Apesar do tamanho e do desenvolvimento, Salvador por vezes parece uma cidade interiorana. No Rio Vermelho, conhecido como o bairro boêmio da cidades, o tráfego é intenso nas avenidas principais. Mas há várias ruas internas, em que a movimentação é menor. É aí que o bairro muda de cara.

Logo do início da manhã, lá pelas 6h30, na rua em que moro, passa uma mulher cantando (ou gritando?): "Olha o cuscuz e a pamonha". A voz da criatura tem um alcance inacreditável. Ela está no início da rua e já se ouve o seu berro escandaloso. É um horário em que não há tráfego, portanto o barulho é menor. A voz ecoa longe. Pode ter certeza que se a janela estiver aberta, aquele que dorme será acordado para comprar pamonha, mesmo que não queira.

Quase todo dia passa uma kombi vendendo frutas e verduras, no meio da manhã. Como sempre acontece nas kombis e vans, há um motorista e um atendente, que também faz o papel de megafone, bradando alto, anunciando batatas, laranjas, cebolas, bananas e o que mais houver. A feira ambulante é bem requisitada, dizem que os preços são melhores que no mercado.

Os caminhões de venda de gás são os mais insistentes. Passam várias vezes, ficam dando voltas, subindo e descendo pela rua, anunciando e insistindo na venda do gás, funcionários gritando a plenos pulmões: "Olha o gaêeeeeeeees". Parece até que os moradores compram botijões de gás todos os dias. Pelo menos aboliram aquelas musiquinhas tétricas que eram tocadas antes.

Por falar nessas musiquinhas, lembro que, durante as comemorações do aniversário de São Paulo, alguém comentou que a música mais característica da cidade não é Sampa, de Caetano. É "Pour Elise", de Beethoven, tocada ininterruptamente nas ruas pelos caminhões de venda de gás.

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