7.5.04

Contradição
O amor me conquistou, me dominou. O amor me fez rezar todas as orações de amparo. O amor me provocou com todos os seus cheiros e suas delícias. O amor recusou todos os meus convites. Um dia, o amor cedeu.

O amor me convidou a entrar em um mundo desconhecido. O amor me instigou a me desconhecer. O amor revelou a sua face mais bondosa e a mais perversa.

O amor conquistou todos os meus pertences, as minhas insinuações. Devorou os meus conflitos, gerou várias inquisições. O amor concebeu um ser renovado. O amor criou um ente disforme, com suas leis e razões.

O amor me deu um beijo de alívio e um suspiro renovado. O amor, que legou ao mundo as rídículas ações, e a poesia contida. O amor me desbancou no comando dos meus atos. Fez, refez e desfez. Conteve o meu desespero e instituiu nova realidade. O amor é um ser mitológico de dez cabeças, de todos os dez mil pecados do mundo.

O amor lustrou o meu orgulho e decretou a minha prisão. O amor me separou de todos os meus utensílios de perversão. O amor realizou um trabalho inimaginável. Dançou comigo por toda a festa dos meus 300 anos e algumas encarnações.

O amor dedicou-se a apertar todos os pinos da máquina do meu tempo. A ativar os cavalos de batalha da mente. A desativar os assuntos dolorosos. A reagir contra provocações.

O amor me transformou em uma criança reticente. O amor descontrolou o meu peso e as infiltrações da alma. O amor me cegou, me fez perder o ego e recuperar a estima. O amor criou vários conflitos. O amor escreveu um monte de palavras desconexas. E desaguou em um rio de prazeres.

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