23.7.04

Chuva e armas em potencial

Guarda-chuvas ao vento. Guarda-chuvas que se abrem a pedido e a contragosto. Frágeis guarda-chuvas que não aguentam e se abrem sob o vento forte. Guarda-chuvas que não guardam nada dos corpos. Em dia de chuva, os guarda-chuvas são vendidos aos berros pelos ambulantes do centro da cidade. Os preços aumentam.

As pessoas só lembram dos guarda-chuvas quando estão na rua, em dia de pé-dágua de surpresa. Mas nunca esquecem de largá-los nos lugares mais improváveis. Nas cidades em que há muito sol e pouca chuva, há pouca prática de uso de guarda-chuvas, como em Salvador. Pedestres passam a transitar pela rua porque as calçadas estreitas ficam cheias de armas em potencial, com as suas pontas sempre predispostas ao ataque. Os mais atenciosos levantam os guarda-chuvas para facilitar o trânsito. O menos educado, e mais apressado, se esconde atrás do seu escudo de nylon e sai quase derrubando tudo à sua frente.

Os ambulantes vendem guarda-chuvas de dois tamanhos. Os pequenos dobráveis, que não tem nada de notáveis - não protegem de nada. Os grandes com cabo de bengala e que parecem acessórios de lordes ingleses ou de dândis. Esses são os que a gente desejaria ter na chuva forte. Melhor ainda seria usar aquelas capas plásticas transparentes, de corpo todo, que não deixam molhar as pernas.

Aos homens falta o providencial auxílio do guarda-chuva guardado dentro da bolsa, que as mulheres prevenidas sempre sacam nas horas de necessidade. E elas ainda os chamam delicadamente de sombrinha, fazendo pouco caso do sexo dos guarda-chuvas, como se eles servissem somente para proteger a pele delicada do sol causticante. É uma expressão em completo desuso.

Seja fazendo uma "sombrinha" ou se protegendo da chuva, as mulheres nos matam de inveja ao sacar da bolsa o equipamento de proteção para a chuva inesperada. E lá se vão, incólumes chuva adentro, sem ter que esperar sob as marquises.

Melhor mesmo seria usar aquela roupa plastificada que os motoboys elegeram como traje de gala em dia de chuva. Além de proteger do frio, a água bate e escorre, sem molhar o protagonista da história. O problema é o aspecto levente associado a um ser extraterrestre, um astronauta ou mesmo uma formiga atômica. O capacete é que faz a faz a diferença.

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