5.7.04

Música e dança popular
O ritmo Arrocha mereceu quadro especial no programa do Faustão do último domingo. Todas as estrelas da novidade baiana estiveram presentes e cantando. Foram mostradas imagens de Salvador e de Candeias, cidade da região metropolitana, tida como a pátria do Arrocha.

Todo o tempo, Faustão discursou tentando convencer ao público que o Arrocha é um movimento musical que veio do povo e merece respeito. Sim, tem origem popular, mas não é um movimento de raízes culturais antigas. É uma dança que foi criada em cima dos boleros tocados ao som de órgão eletrônico, daqueles com bateria. E a televisão - fiquei imaginando quem serão os produtores da Bahia que estão por trás disso - tenta agora vender como se fosse algo do quilate da música sertaneja, que tem uma tradição no país, desde o tempo da moda de viola. Houve uma convite à perda do preconceito com os ritmos "brega", amparado na opinião de Hermano Vianna, antropólogo, e no depoimento de Zezé de Camargo.

Não tenho nada contra, acho interessante para a divulgação do Estado. Há também o argumento que o Arrocha volta a valorizar a dança de casais. Sim, mas alguma vez o forró deixou de fazer isso? Só dá pena de cantores e músicos que têm um trabalho muito bacana, refinado, e que não têm o mesmo espaço na televisão. Nunca vi Lucas Santana, Paulinho Moska ou Zeca Baleiro no Domingão do Faustão.

O Arrocha veio do povo. É o ritmo mais ouvido por taxistas, caminhoneiros, vendedores ambulantes, etc. Basta ir no parque de camelôs que fica em frente à estação rodoviária de Salvador para sentir como faz parte do gosto popular. É interessante notar que o ritmo se espalhou naturalmente, sem nenhum tipo de divulgação comercial. De uma hora para outra, ao se constatar o alcance do novo ritmo, e junto com o declínio do axé, tem muito produtor correndo para colher dividendos com o Arrocha.

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