11.7.04

De acarajés e abarás
O sol vai baixando, é sexta-feira à tarde, o final de semana se aproxima. É quando o cheiro inconfundível do azeite-de-dendê começa a se espalhar por toda Salvador, principalmente pela orla marítima. Baianos e turistas dirigem-se à hora feliz: direto à cerveja e ao popular acarajé. Montados os tabuleiros, as baianas Dinha, Regina e Cira - a tríade das rainhas do acarajé no Rio Vermelho - recebem os clientes e as filas começam a ser formar. Os barzinhos em volta acolhem os consumidores em suas mesas, para cervejas, refrigerantes e drinques, atores coadjuvantes dos sabores do acarajé e do abará.

O acarajé e o abará são bolinhos salgados com receitas semelhantes, basicamente azeite-de-dendê, feijão-fradinho moído e cebola. A grande diferença é que, enquanto o acarajé é frito e o dendê fica concentrado na casca, o abará é cozido, envolvido em folha de bananeira, e o dendê fica distribuído na massa.

O acarajé saboroso é aquele que tem a massa fofa e macia. A fritura no dendê faz a parte externa do bolinho ficar dourada e crocante. A parte de dentro fica branquinha. Para obter este resultado, as baianas de acarajé não param de bater a massa na panela, com a ajuda de uma grande colher de pau.

Inteiros, para comer com guardanapo, ou cortados no prato, acompanhados de vatapá, molho de camarão, salada de tomate picado, molho de pimenta e até caruru, os acarajés e abarás servem de refeição completa, ou de tira-gosto a preço acessível. Ao mesmo preço, ou mais em conta que batatas fritas, carne-do-sol, filezinho ou caldos. Os clientes encaram filas demoradas para conseguir os petiscos democráticos. Algumas vezes, há algum um pedinte requisitando ajuda para comprar o seu almoço ou jantar - o próprio acarajé.

O acarajé e o abará são ícones da cozinha baiana. Dá para imaginar em uma grande cidade como São Paulo, na movimentada Avenida Paulista, uma senhora trajando trajes típicos, com ares majestosos, calmamente fritando ou cozinhando bolinhos de feijão? Em Salvador, em vários locais, existem baianas que vendem há mais de 30 anos. Trabalhando diariamente, fazem da venda de comida o sustento para suas famílias. E a tradição vai passando para as novas gerações.

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