13.7.04

Ratos na mídia

Um jornalista americano, Robert Sullivan, fez um livro-reportagem sobre um assunto um tanto quanto, digamos, diferente: ratos. O livro Rats é recém-lançado nos Estados Unidos e, segundo a revista Veja, ajuda a suprir a lacuna de estudos sobre o Rattus norvegicus, a popular ratazana de esgoto, uma praga que se alastra pelas cidades grandes.

A pesquisa foi feita em Nova York, num beco a dois quarteirões da Bolsa de Valores. Durante um ano, os ratinhos tiveram as suas vidas acompanhadas pelo corajoso e meticuloso jornalista, munido de óculos intravermelhos. Isso porque o animalzinho (o rato, não o jornalista, que fique registrado) tem hábitos noturnos. Se bem que há muito jornalista com hábitos de bicho noturno. Muitos gostam de ler até tarde, navegar na internet, ver filmes ou dedicar-se a badalações noturnas. Será que é isso que os aproxima?

É um tema útil, sem dúvida, conhecer mais sobre aqueles animais peludos e dentuços - não é nenhum daqueles jornalistas que você conhece, veja bem. O americano poderia ter retratado outros ratos, como políticos e policiais corruptos, executivos do mercado financeiro, operadores de bolsas, mas preferiu se concentrar nos roedores, pois, além de transmitir doenças, os ratos adoram roer cabos da rede elétrica e de linhas telefônicas. Aí eles provocam a ira dos profissionais da mídia, ao prejudicar o funcionamento dos amados telefones.

O jornalista verificou que os ratos prosperam nas cidades grandes devido à fartura de comida nas lixeiras. Bem, ele está falando de Nova York, próximo da Bolsa de Valores, local dos restos mortais das delícias que os mendigos e os executivos apressados adoram se servir: hambúrgueres, ovos com bacon, cachorros-quentes, donuts, e aqueles cafés em copos descartáveis. Um trabalho posterior do jornalista pode ser como os ratos de lá conseguem sobreviver com tanta comida de paladar duvidoso. Se os executivos sobrevivem, por que os ratos não conseguirão?

Na França, os ratos têm maior probabilidade de se servir bem. Conseguindo descobrir os endereços da alta gastronomia, podem até encontrar algum restinho de foie gras, salmão, coq au vin, ossinhos roídos de codorna, perdiz ou faisão. Melhor ainda se descolarem a lixeira dos agraciados com as três estrelas do guia Michelin. É a festa total.

No comments: