21.7.04

Redação de pré-vestibular

"Como cheguei neste cursinho"

Meu nome é Rosinha. Eu vim morar em Salvador quando tinha 17 anos. Hoje estou com 21. Sou do interior do Estado, filha de uma família grande e amorosa, mas humilde, com crianças ainda para criar. Então eu tive que vir para a cidade grande me virar.

Eu sempre sonhei em ser dançarina de banda de pagode. Lá na minha cidade, eu não perdia uma festa. Eu era conhecida como Rosinha Pé de Pagode. Só saía no fim da festa, com as primeiras luzes do dia, depois de quebrar e requebrar muito, descendo até o chão.

Vim para Salvador para trabalhar e estudar. Pelo menos, foi a desculpa que dei aos meus pais. Quando cheguei na capital, aproveitei para realizar meu grande sonho: eu me inscrevi na seleção para dançarina do grupo "Destruidores do Samba". Era a minha hora e vez, eu tinha que aproveitar.

No dia do concurso, eu me vesti no maior capricho. Coloquei a microssaia azul com babado na ponta. Pus o top justo amarelo-limão, que deixava a minha barriguinha à mostra, e calcei o sapato emprestado por Juliete, minha prima querida: uma sandália de plataforma que me daria segurança, altura e elegância para destroçar qualquer concorrência.

Eu estava preparada. Tinha passado horas treinando na frente do espelho. As primeiras candidatas fizeram bonito, mas nada ia ser páreo para mim. Chegou a minha vez. Esquentei os motores. Incorporei a pombagira-pagodeira e lá fui eu sambando, sambando, até encostar o dedo no chão. Dancei com tanta energia, que o pior aconteceu. O sapato escapou do meu pé suado, caí no chão com todas as forças. O cotovelo esquerdo me salvou de esborrachar o nariz. Fui muito aplaudida, mas não fui classificada.

Foi depois disso que eu resolvi estudar. Percebi que a vida no pagode não ia durar muito tempo. Acabei vindo parar neste cursinho e agora concentro os meus esforços para passar no vestibular. Por isso estou ralando para escrever contando como cheguei até aqui. Maldito sapato de plataforma.

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