Come-come
A festa de Natal foi cheia de gente. Gente que não acaba mais. Em uma bela e gande casa, mais de cinquenta pessoas. A família vai aumentando, as crianças de ontem vêm com seus pares. Já trazem até filhos.
Uma brincadeira de amigo-ladrão para agitar. Uma mesa de entrada com uma conserva de berinjela e picles, com pouca acidez. Pãezinhos delícia, que são os pães de queijo da Bahia. Uma guloseima que só por aqui se acha e que um dia ainda vai se tornar expressão da cozinha baiana. É um pão de massa delicada, que desmancha na boca. Quase sempre vem acompanhado de recheio de queijo e polvilhado com queijo ralado. Nas festas, os pãezinhos são também utilizados sem recheio, para que os convidados os preencham com frios, patês ou conservas
Um lauto e belo jantar para agradar aos olhos e ao estômago. Apesar de arriscado, o costume de cada ala da família trazer um prato diferente acaba dando certo. As saladas foram o destaque da noite. As pessoas quase não chegaram no peito de peru, pernil, presunto e no bacalhau.
Salada de massa em formato de grão de arroz, com tomate seco, amêndoas, um pouco de maionese, temperos e coroada por folhas de manjericão. Salada de maçã, kani e mais outras coisas. Uma salada de molho escuro, agridoce, com queijo e presunto em cubos, mais uvas, ameixas, amêndoas, damascos e outras coisinhas indefiníveis - ou não recordáveis. Uma salada de frango defumado com presunto, abacaxi e maionese. A grande quantidade e variedade era justificável pelo batalhão de pessoas presentes.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
28.12.04
Espírito de Natal
Na atualidade que nos cerca, o Deus Consumo parece ter ocupado o lugar anteriormente dedicado a outras forças mais elevadas. Em época de festas de Natal, o fato fica ainda mais visível.
Aumento de assaltos, conflitos domésticos, stress, energia conturbada nas ruas e centros de compras. Em uma época em que a paz deveria reinar, as necessidades afetivas, mais do que nunca, parecem vir à superfície. Não é fácil para a sociedade lidar com um espírito natalino desvirtuado.
Os ladrões estão soltos, ativos e operantes. Pudera, eles também querem reverenciar o Deus Consumo. As oferendas modernas são os presentes de shopping. Sejam comprados, roubados ou trocados em feiras-de-rato. Incensado pela TV e cultuado pelos comerciantes e pessoas de marketing, é no Natal que a adoração do consumo se torna mais intensa. Tristemente.
Na atualidade que nos cerca, o Deus Consumo parece ter ocupado o lugar anteriormente dedicado a outras forças mais elevadas. Em época de festas de Natal, o fato fica ainda mais visível.
Aumento de assaltos, conflitos domésticos, stress, energia conturbada nas ruas e centros de compras. Em uma época em que a paz deveria reinar, as necessidades afetivas, mais do que nunca, parecem vir à superfície. Não é fácil para a sociedade lidar com um espírito natalino desvirtuado.
Os ladrões estão soltos, ativos e operantes. Pudera, eles também querem reverenciar o Deus Consumo. As oferendas modernas são os presentes de shopping. Sejam comprados, roubados ou trocados em feiras-de-rato. Incensado pela TV e cultuado pelos comerciantes e pessoas de marketing, é no Natal que a adoração do consumo se torna mais intensa. Tristemente.
23.12.04
Entre a praia e a avenida
Uma grande cidade litorânea é um local de contrastes. Salvador, nem se fala. É uma terra incomum. Ao lado de engarrafamentos e de carros fechados em seus ares condicionados, na praia ao lado, a menos de 50 metros, pescadores, mergulhadores, bebedores, banhistas e jogadores de futebol passam o dia como se nada ocorresse no mundo vizinho.
A praia de Amaralina é um bom exemplo. Caminhar na beira da praia é passear no limite entre dois universos. Ônibus e carros passam atentos ao radar de velocidade. Na beira do mar, pescadores vêm puxando uma grande rede. Procurando os peixes e atraindo os olhares dos passantes, repetindo uma atividade que vem da Antiguidade, mas que não perde a beleza e a poesia, já cantada por mentes privilegiadas.
Na rua tranquila, garotos inventam um novo esporte. No país que não pára de gerar pés de talento, aparece o futevôlei sem a rede. Basta marcar o quadro no chão, times a postos, chutes e cabeceios de cá para lá, diversão garantida. Está criado o próximo esporte olímpico. Invenção genuína brasileira.
A maré está baixa, a areia é extensa. Forma-se uma pequena ilha cercada pelos recifes de coral. É espaço suficiente para atrair uma pessoa tocando atabaque e outros dançando ao redor. Ritmo religioso? Diversão? Em uma terra musical como Salvador, podem ser novos talentos - ou simplesmente gente que sabe apreciar as coisas simples da vida.
O sol vai sumindo, chamando para o conforto de casa. O prédio estabelecido ao longe, emoldurado pelas luzes do fim de tarde, sobre a grande pedra e olhando para o mar, é o exemplo mais puro dos contrastes da vida urbana. A caminhada vai terminando. O ritmo das pernas parecer ajudar a arrumar as idéias e a queimar as calorias extras das festanças de fim de ano.
Uma grande cidade litorânea é um local de contrastes. Salvador, nem se fala. É uma terra incomum. Ao lado de engarrafamentos e de carros fechados em seus ares condicionados, na praia ao lado, a menos de 50 metros, pescadores, mergulhadores, bebedores, banhistas e jogadores de futebol passam o dia como se nada ocorresse no mundo vizinho.
A praia de Amaralina é um bom exemplo. Caminhar na beira da praia é passear no limite entre dois universos. Ônibus e carros passam atentos ao radar de velocidade. Na beira do mar, pescadores vêm puxando uma grande rede. Procurando os peixes e atraindo os olhares dos passantes, repetindo uma atividade que vem da Antiguidade, mas que não perde a beleza e a poesia, já cantada por mentes privilegiadas.
Na rua tranquila, garotos inventam um novo esporte. No país que não pára de gerar pés de talento, aparece o futevôlei sem a rede. Basta marcar o quadro no chão, times a postos, chutes e cabeceios de cá para lá, diversão garantida. Está criado o próximo esporte olímpico. Invenção genuína brasileira.
A maré está baixa, a areia é extensa. Forma-se uma pequena ilha cercada pelos recifes de coral. É espaço suficiente para atrair uma pessoa tocando atabaque e outros dançando ao redor. Ritmo religioso? Diversão? Em uma terra musical como Salvador, podem ser novos talentos - ou simplesmente gente que sabe apreciar as coisas simples da vida.
O sol vai sumindo, chamando para o conforto de casa. O prédio estabelecido ao longe, emoldurado pelas luzes do fim de tarde, sobre a grande pedra e olhando para o mar, é o exemplo mais puro dos contrastes da vida urbana. A caminhada vai terminando. O ritmo das pernas parecer ajudar a arrumar as idéias e a queimar as calorias extras das festanças de fim de ano.
22.12.04
Crimes no cinema pornô
Baseado em fatos reais, Crimes em Wonderland (EUA, Canada, 2003) retrata John C. Holmes (Val Kilmer), um lendário astro do cinema pornográfico norte-americano dos anos 60 e 70, que viu sua carreira ruir pelo vício em drogas pesadas. Holmes associa-se a um bando de traficantes e ladrões conhecidos como a gangue de Wonderland, que atuava nos subúrbios de Los Angeles. Para pagar uma dívida, ele articula com a gangue um assalto à casa de Eddie Nash (Eric Bogosian), criminoso libanês. O assalto torna-se violento e Nash prepara sua vingança contra o bando, provocando uma sangrenta chacina testemunhada pelo ator.
A trilha sonora regada a rock and roll e a bela edição de imagens não são suficientes para fazer um filme atraente, de narrativa cativante, já que o desenrolar dos fatos é conhecido ou facilmente previsível. A estratégia da direção foi abusar dos recursos de flash-back, o que acabou tornando o filme monótono e cansativo, mesmo com várias cenas de violência. O filme só vale mesmo como registro histórico do ator John Holmes, que morreu em 1988 vítima de AIDS.
Baseado em fatos reais, Crimes em Wonderland (EUA, Canada, 2003) retrata John C. Holmes (Val Kilmer), um lendário astro do cinema pornográfico norte-americano dos anos 60 e 70, que viu sua carreira ruir pelo vício em drogas pesadas. Holmes associa-se a um bando de traficantes e ladrões conhecidos como a gangue de Wonderland, que atuava nos subúrbios de Los Angeles. Para pagar uma dívida, ele articula com a gangue um assalto à casa de Eddie Nash (Eric Bogosian), criminoso libanês. O assalto torna-se violento e Nash prepara sua vingança contra o bando, provocando uma sangrenta chacina testemunhada pelo ator.
A trilha sonora regada a rock and roll e a bela edição de imagens não são suficientes para fazer um filme atraente, de narrativa cativante, já que o desenrolar dos fatos é conhecido ou facilmente previsível. A estratégia da direção foi abusar dos recursos de flash-back, o que acabou tornando o filme monótono e cansativo, mesmo com várias cenas de violência. O filme só vale mesmo como registro histórico do ator John Holmes, que morreu em 1988 vítima de AIDS.
20.12.04
A saga do garfo continua
Ontem jantei mais do que nunca. Amigos reunidos, o ciclo de festas etílico-gastronômico-comemorativas em continuação. No bufê da casa do aniversariante, uma fantástica mesa de entradas. Um enorme pernil de porco transformado em presunto defumado. Feito em casa!
A carne passou dias e dias maturando, depois em banho de temperos, depois em leve cozimento, a 80 graus centígrados. Segundo as informações obtidas, antes do cozimento a peça já tinha virado um presunto cru, estilo jamón espanhol ou presunto de Parma. Depois do cozimento ficou parecido com um Tender, só que mais saboroso e com mais personalidade. O interessante é que mesmos os pedaços internos do pernil estavam bem temperados e saborosos. Era o resultado da longa maturação e da infusão em ervas.
Além disso, na mesa de entradas ainda havia patê de fígado (tipo terrine) e de salmão. Barquetes de camarão e queijo.
O prato principal foi um bobó de camarão acompanhado de arroz branco. Uma delícia, com camarões enormes. Completando a mesa, havia salada verde com manga e kiwi e um molhinho especial, de alho, cebola, ervas, azeite de oliva e vinagre balsâmico. Simples e eficaz.
Os doces, ah, os doces. Um torta-merengue com suspiros, morangos e cerejas. Um outra torta de massa de pão-de-ló recoberta de doce de leite com coco. Quase não havia mais espaço em meu estômago, mesmo assim, não fugi da batalha e segui firme adiante, assim como os demais persistentes guerreiros do garfo que estavam no recinto.
Vários monstros reunidos, o que significa muitas risadas. Encontro com ex-professora da faculdade. Também havia gente ligada à moda baiana. Algumas pessoas de teatro. Isto é, um total de muita gente bacana. Conversei com este dramaturgo e blogueiro, com quem, nos últimos tempos, só trocava informações virtualmente. Também conheci este blogueiro.
18.12.04
Personal trainer impresso
Para quem nunca ouviu falar, Lian Gong não é nenhuma nova atriz-sensação do cinema oriental. É um método de ginástica terapêutica excelente para compensar dores causadas por má posturas ou movimentos repetitivos de trabalho. Alguma lembrança do seu computador?
Estou fazendo os execícios seguindo as instruções de um livro. Já viu algum maluco fazer ginástica seguindo um livro? Só é possível porque os movimentos são feitos lentamente.
O método Lian Gong foi criado por um médico chinês e já tem milhões de praticantes no mundo. Inspirados nas lutas marciais orientais, os movimentos têm ação focada em ombros, pescoço, costas, braços, pernas. Há algumas sequências que prometem alívio de dores lombares e até de problemas de hipertensão. Por conta dos bons resultados, os exercícios têm sido utilizados em empresas, para reduzir os problemas causados por LER (lesões por esforços repetitivos) dos funcionários.
Os exercícios trazem relaxamento de corpo e mente e alívio para aquelas incômodas dores após longas digitações ou leituras no computador. É ótimo. O desafio é persistir na prática.
Para quem nunca ouviu falar, Lian Gong não é nenhuma nova atriz-sensação do cinema oriental. É um método de ginástica terapêutica excelente para compensar dores causadas por má posturas ou movimentos repetitivos de trabalho. Alguma lembrança do seu computador?
Estou fazendo os execícios seguindo as instruções de um livro. Já viu algum maluco fazer ginástica seguindo um livro? Só é possível porque os movimentos são feitos lentamente.
O método Lian Gong foi criado por um médico chinês e já tem milhões de praticantes no mundo. Inspirados nas lutas marciais orientais, os movimentos têm ação focada em ombros, pescoço, costas, braços, pernas. Há algumas sequências que prometem alívio de dores lombares e até de problemas de hipertensão. Por conta dos bons resultados, os exercícios têm sido utilizados em empresas, para reduzir os problemas causados por LER (lesões por esforços repetitivos) dos funcionários.
Os exercícios trazem relaxamento de corpo e mente e alívio para aquelas incômodas dores após longas digitações ou leituras no computador. É ótimo. O desafio é persistir na prática.
17.12.04
Por e-mail
Sou o mais novo e empolgado proprietário de um exemplar de O Caderno de Cinema de Marina W. O livro chegou pelo correio e me trouxe pulsos acelerados.
Tive uma surpresa ao ler o texto introdutório. Eu já o havia lido antes no blog da autora, não lembro quando. É uma delícia: "Filmes são como livros. Eu gosto, você não. Você gosta, eu nem vejo. Eu gosto da palavra HELP escrita no céu no fim de Celebridades, do Woody Allen. Acho aquilo lindo. (...) Fred Astaire flutuando no ar. O carteiro gravando todos os sons para o poeta. Che Guevara atravessando o rio a nado. Os beijos!"
Esse texto tem um significado especial para mim. Quando o li pela primeira vez, era encerrado com "Os beijos, os beijos." Talvez a autora nem lembre disso. Achei o máximo, pois ela quebrava uma sequência de cenas de cinema e dava uma idéia de exaltação ainda maior, como se tivesse escrito rápido, quase arfante, para não esquecer. Como se estivesse a dizer: "Caramba, como fui esquecer de listar os beijos?".
Quando li o texto novamente, ela havia trocado por "Os beijos!", a expressão ficou mais assertiva. E também ótima, definitiva.
Para mim, ficou aquela impressão que ela decidiu apagar. "Os beijos, os beijos". Como se a emoção da lembrança dos beijos fosse ainda maior do que o texto pode conter.
Nada como ganhar um livro. De quebra, vindo pelo correio e com dedicatória.
Sou o mais novo e empolgado proprietário de um exemplar de O Caderno de Cinema de Marina W. O livro chegou pelo correio e me trouxe pulsos acelerados.
Tive uma surpresa ao ler o texto introdutório. Eu já o havia lido antes no blog da autora, não lembro quando. É uma delícia: "Filmes são como livros. Eu gosto, você não. Você gosta, eu nem vejo. Eu gosto da palavra HELP escrita no céu no fim de Celebridades, do Woody Allen. Acho aquilo lindo. (...) Fred Astaire flutuando no ar. O carteiro gravando todos os sons para o poeta. Che Guevara atravessando o rio a nado. Os beijos!"
Esse texto tem um significado especial para mim. Quando o li pela primeira vez, era encerrado com "Os beijos, os beijos." Talvez a autora nem lembre disso. Achei o máximo, pois ela quebrava uma sequência de cenas de cinema e dava uma idéia de exaltação ainda maior, como se tivesse escrito rápido, quase arfante, para não esquecer. Como se estivesse a dizer: "Caramba, como fui esquecer de listar os beijos?".
Quando li o texto novamente, ela havia trocado por "Os beijos!", a expressão ficou mais assertiva. E também ótima, definitiva.
Para mim, ficou aquela impressão que ela decidiu apagar. "Os beijos, os beijos". Como se a emoção da lembrança dos beijos fosse ainda maior do que o texto pode conter.
Nada como ganhar um livro. De quebra, vindo pelo correio e com dedicatória.
De Fome Zero a Regime Total
O governo Lula vai ter que se virar para continuar justificando o Fome Zero. A pesquisa do IBGE veio como uma pá de cal em cima do programa federal: 40,6% dos brasileiros estão acima do peso. A fome, no entanto, continua presente, concentrada nas mulheres do Nordeste rural. Pela pesquisa, foi detectado que o mais grave, na população com 20 anos ou mais, é o excesso de peso.
O IBGE aponta que a pobreza no Brasil não se manifesta por meio da fome, mas sim em termos de qualidade de vida e de desigualdade de rendimentos.
A doação de alimentos é só a primeira fase do Fome Zero. O programa vai além e procura incentivar o desenvolvimento regional sustentável. Mas o nome não dá mais. É demagógico e populista. E agora revela pouco embasamento na ação e cai em descrédito.
Você doaria alimentos para um país em que a população está acima do peso?
O governo Lula vai ter que se virar para continuar justificando o Fome Zero. A pesquisa do IBGE veio como uma pá de cal em cima do programa federal: 40,6% dos brasileiros estão acima do peso. A fome, no entanto, continua presente, concentrada nas mulheres do Nordeste rural. Pela pesquisa, foi detectado que o mais grave, na população com 20 anos ou mais, é o excesso de peso.
O IBGE aponta que a pobreza no Brasil não se manifesta por meio da fome, mas sim em termos de qualidade de vida e de desigualdade de rendimentos.
A doação de alimentos é só a primeira fase do Fome Zero. O programa vai além e procura incentivar o desenvolvimento regional sustentável. Mas o nome não dá mais. É demagógico e populista. E agora revela pouco embasamento na ação e cai em descrédito.
Você doaria alimentos para um país em que a população está acima do peso?
16.12.04
Simoninha, Fernanda Porto, Cláudio Zoli e Max de Castro
Para quem quiser saber mais sobre as atrações programadas para o Festival de Verão e decidir se vale a pena ou não dar uma chegada por lá, é só clicar aqui. O dia que achei mais interessante é a sexta-feira, quando o pessoal da bossa eletrônica, leia-se gravadora Trama, se apresenta.
Para quem quiser saber mais sobre as atrações programadas para o Festival de Verão e decidir se vale a pena ou não dar uma chegada por lá, é só clicar aqui. O dia que achei mais interessante é a sexta-feira, quando o pessoal da bossa eletrônica, leia-se gravadora Trama, se apresenta.
Projeto Sesi Comédia
Em janeiro, entram em cartaz os espetáculos Ciderela Black Power, Mirandolina (leia texto lá no site Claque) e Só o Faraó Tem Alma, no Teatro Sesi, no Rio Vermelho.
Vi Só o Faraó Tem Alma na Sala 5 da Escola de Teatro. O texto é muito interessante. Uma crítica mordaz ao mau uso do poder político.
Em janeiro, entram em cartaz os espetáculos Ciderela Black Power, Mirandolina (leia texto lá no site Claque) e Só o Faraó Tem Alma, no Teatro Sesi, no Rio Vermelho.
Vi Só o Faraó Tem Alma na Sala 5 da Escola de Teatro. O texto é muito interessante. Uma crítica mordaz ao mau uso do poder político.
15.12.04
Sedução atualizada
Alfie é um inglês que ganha a vida dirigindo limusines em Nova York. Conquistador inveterado, descarta as suas conquistas amorosas sem o menor remorso. Alfie - O Sedutor (EUA, Inglaterra, 2004) é a refilmagem de um sucesso dos anos 60 com Michael Caine no papel-título. Na versão atual, o desempenho é do inglês Jude Law (de Capitão Sky).
O Alfie dos anos 60 era cafajeste e lidava com as mulheres que eram reféns da ditadura dos costumes sociais antes da revolução sexual. O Alfie moderno valoriza roupas caras e mantém o desempenho de conquistador, mas se torna quase uma vítima de alguns exemplares poderosos do sexo feminino. Ele se reavalia o tempo todo e revela a sua fragilidade.
O filmagem mantém um certo clima dos anos 60, principalmente na trilha sonora, que é um dos destaques do filme. O Rolling Stone Mick Jagger é a voz que embala algumas cenas. Jude Law tem boa atuação, em papel inicialmente recusado por Brad Pitt.
Alfie é um inglês que ganha a vida dirigindo limusines em Nova York. Conquistador inveterado, descarta as suas conquistas amorosas sem o menor remorso. Alfie - O Sedutor (EUA, Inglaterra, 2004) é a refilmagem de um sucesso dos anos 60 com Michael Caine no papel-título. Na versão atual, o desempenho é do inglês Jude Law (de Capitão Sky).
O Alfie dos anos 60 era cafajeste e lidava com as mulheres que eram reféns da ditadura dos costumes sociais antes da revolução sexual. O Alfie moderno valoriza roupas caras e mantém o desempenho de conquistador, mas se torna quase uma vítima de alguns exemplares poderosos do sexo feminino. Ele se reavalia o tempo todo e revela a sua fragilidade.
O filmagem mantém um certo clima dos anos 60, principalmente na trilha sonora, que é um dos destaques do filme. O Rolling Stone Mick Jagger é a voz que embala algumas cenas. Jude Law tem boa atuação, em papel inicialmente recusado por Brad Pitt.
14.12.04
Mau humor
Acho amigo secreto de Natal uma coisa desnecessária. Entra ano, sai ano, as pessoas, quase sempre as mulheres, inventam a tal brincadeira meio sem graça. Em ambientes formais, com várias incompatibilidades, a chatice é maior ainda. É um festival de artificialidades. Aquela modalidade em que um rouba o presente do outro é até engraçada. Outras são o cúmulo da babaquice. Uma vez participei de uma em que a pessoa tinha completar a frase: "Se o meu amigo secreto fosse um carro seria...", até descrever a pessoa para que os demais descobrissem de quem se tratava. Dá para imaginar as pérolas que vinham daí.
O chato da brincadeira é que sempre é uma coisa meio imposta. Alguém dá a sugestão, a maioria não fica a fim de participar, mas quase ninguém ousa recusar, pois fica chato se não colaborar. Vixe, até rimou. Mesmo todo mundo achando um saco. Deve ser para combinar com o do Papai Noel.
Na entrega dos presentes, sempre tem um que não gostou do que recebeu. O outro esperava uma coisa diferente. Outro achou que pagou caro e levou presente barato. A melhor opção é colocar o valor o mais baixo possível, o que simplifica tudo e dá o tom de gozação aos presentes. Fica mais na realidade e na brincadeira.
Acho amigo secreto de Natal uma coisa desnecessária. Entra ano, sai ano, as pessoas, quase sempre as mulheres, inventam a tal brincadeira meio sem graça. Em ambientes formais, com várias incompatibilidades, a chatice é maior ainda. É um festival de artificialidades. Aquela modalidade em que um rouba o presente do outro é até engraçada. Outras são o cúmulo da babaquice. Uma vez participei de uma em que a pessoa tinha completar a frase: "Se o meu amigo secreto fosse um carro seria...", até descrever a pessoa para que os demais descobrissem de quem se tratava. Dá para imaginar as pérolas que vinham daí.
O chato da brincadeira é que sempre é uma coisa meio imposta. Alguém dá a sugestão, a maioria não fica a fim de participar, mas quase ninguém ousa recusar, pois fica chato se não colaborar. Vixe, até rimou. Mesmo todo mundo achando um saco. Deve ser para combinar com o do Papai Noel.
Na entrega dos presentes, sempre tem um que não gostou do que recebeu. O outro esperava uma coisa diferente. Outro achou que pagou caro e levou presente barato. A melhor opção é colocar o valor o mais baixo possível, o que simplifica tudo e dá o tom de gozação aos presentes. Fica mais na realidade e na brincadeira.
12.12.04
Destino
Os gatinhos estão prestes a sair de casa e ganhar o mundo. Um já foi embora e parece que se adaptou bem, surpreendentemente, ao lado de um cachorro. Os outros cinco correm por todos os lados espalhando energia pela casa. A maior pena é imaginar a gata-mãe miando e procurando os filhotes pelos cantos. O gato-pai é carinhoso que só. Abraça, lambe, mordisca os pequenos. Ainda assim, ele sentirá menos falta.
Sem se contentarem somente com o leite da gata, os pequenos já avançam sobre a ração dos pais. O resultado da gula fica pela casa e haja paciência e limpeza. Nem todos estão adaptados com a argila sanitária. Estão, portanto, prontos para o mundo.
O destino dos gatinhos está definido. As incertezas prometem criá-los sob seus cuidados. A natureza é sábia e em pouco tempo os deixa independentes. Enquanto seres humanos demoram vários anos para ficarem prontos para lutar pela sobrevivência - e às vezes chegam nos trinta anos sem conseguir - os animais são mais espertos. Em algumas semanas viram-se sozinhos.
Os gatinhos estão prestes a sair de casa e ganhar o mundo. Um já foi embora e parece que se adaptou bem, surpreendentemente, ao lado de um cachorro. Os outros cinco correm por todos os lados espalhando energia pela casa. A maior pena é imaginar a gata-mãe miando e procurando os filhotes pelos cantos. O gato-pai é carinhoso que só. Abraça, lambe, mordisca os pequenos. Ainda assim, ele sentirá menos falta.
Sem se contentarem somente com o leite da gata, os pequenos já avançam sobre a ração dos pais. O resultado da gula fica pela casa e haja paciência e limpeza. Nem todos estão adaptados com a argila sanitária. Estão, portanto, prontos para o mundo.
O destino dos gatinhos está definido. As incertezas prometem criá-los sob seus cuidados. A natureza é sábia e em pouco tempo os deixa independentes. Enquanto seres humanos demoram vários anos para ficarem prontos para lutar pela sobrevivência - e às vezes chegam nos trinta anos sem conseguir - os animais são mais espertos. Em algumas semanas viram-se sozinhos.
10.12.04
Invasão bárbara
A revista Trip fez uma reportagem hilária. Convocou alguns artistas meio esquecidos pela mídia para invadir a Ilha de Caras, o paraíso das celebridades. A Ilha estava fechada, diga-se de passagem. Olha só quem foi: a cantora Perla, a modelo e cantora Regininha Poltergeist (bombshell dos anos 90), Lacraia e MC Serginho (da Eguinha Pocotó). O cantor Biafra (aquele da música "Voar, voar, subir, subir...") foi convidado, mas não pôde ir.
Para sair do lugar-comum dos bufês servidos por chefs estrelados, o banquete servido aos invasores teve biscoito de polvilho, bolo Ana Maria e espigas de milho. Guaraná Caçulinha e vinho Sangue de Boi, em copos de plástico, mataram a sede. E, para aliviar o frio, uma garrafinha de bolso cheia de cachaça que a reportagem da revista dividiu com Perla e Lacraia.
E não foi só isso. Os invasores ainda ganharam o tradicional kit-jabá que a Caras oferece aos seus convidados. Desta vez providenciado pela Trip, veio embrulhado em papel celofane e tinha raquetes plásticas, touca de banho, pistola de água, elásticos de cabelo, conjuntos de maquiagem infantil.
Confira a reportagem com fotos aqui.
A revista Trip fez uma reportagem hilária. Convocou alguns artistas meio esquecidos pela mídia para invadir a Ilha de Caras, o paraíso das celebridades. A Ilha estava fechada, diga-se de passagem. Olha só quem foi: a cantora Perla, a modelo e cantora Regininha Poltergeist (bombshell dos anos 90), Lacraia e MC Serginho (da Eguinha Pocotó). O cantor Biafra (aquele da música "Voar, voar, subir, subir...") foi convidado, mas não pôde ir.
Para sair do lugar-comum dos bufês servidos por chefs estrelados, o banquete servido aos invasores teve biscoito de polvilho, bolo Ana Maria e espigas de milho. Guaraná Caçulinha e vinho Sangue de Boi, em copos de plástico, mataram a sede. E, para aliviar o frio, uma garrafinha de bolso cheia de cachaça que a reportagem da revista dividiu com Perla e Lacraia.
E não foi só isso. Os invasores ainda ganharam o tradicional kit-jabá que a Caras oferece aos seus convidados. Desta vez providenciado pela Trip, veio embrulhado em papel celofane e tinha raquetes plásticas, touca de banho, pistola de água, elásticos de cabelo, conjuntos de maquiagem infantil.
Confira a reportagem com fotos aqui.
9.12.04
Travestismo na polícia
Em cartaz há algumas semanas, a comédia As Branquelas (White Chicks, EUA, 2004) traz os atores e irmãos Shawn Wayans e Marlon Wayans nos papéis de Kevin e Marcus Copeland, dois atrapalhados agentes negros do FBI. Para investigar uma denúncia de sequestro, eles se disfarçam de mulheres louras. O filme é dirigido por Keenan Ivory Wayans ( de Todo Mundo em Pânico), também irmão dos atores.
Ao mostrar policiais negros transformados em louras, o argumento e o trailer dão impressão de comédia abobalhada. A surpresa é constatar uma história bem contada e engraçada, que não descamba para a baixaria e com várias referências ao mundo do cinema, música eletrônica, hip hop e moda.
Mais do que comédia, é uma aventura cômica com notas de romance, em duas horas de projeção, algo pouco comum no estilo besteirol. É sinal de que o filme tem assunto a abordar. Os irmãos Wayan têm ótima atuação, com garantia de proporcionar muitas risadas ao público.
Em cartaz há algumas semanas, a comédia As Branquelas (White Chicks, EUA, 2004) traz os atores e irmãos Shawn Wayans e Marlon Wayans nos papéis de Kevin e Marcus Copeland, dois atrapalhados agentes negros do FBI. Para investigar uma denúncia de sequestro, eles se disfarçam de mulheres louras. O filme é dirigido por Keenan Ivory Wayans ( de Todo Mundo em Pânico), também irmão dos atores.
Ao mostrar policiais negros transformados em louras, o argumento e o trailer dão impressão de comédia abobalhada. A surpresa é constatar uma história bem contada e engraçada, que não descamba para a baixaria e com várias referências ao mundo do cinema, música eletrônica, hip hop e moda.
Mais do que comédia, é uma aventura cômica com notas de romance, em duas horas de projeção, algo pouco comum no estilo besteirol. É sinal de que o filme tem assunto a abordar. Os irmãos Wayan têm ótima atuação, com garantia de proporcionar muitas risadas ao público.
7.12.04
Preparo físico para a gastronomia
A maratona de festividades promete. Neste final de ano, acabei ganhando a incumbência de dar sugestões e ajudar nos eventos lá de onde trabalho. Resultado: consegui convencer o povo a ir jantar em churrascaria-gourmet, além de descobrir que havia verba suficiente para o Chester da confraternização da equipe. Ainda vai ter festa de grande porte, com direito a show de música baiana e tudo mais. Isso só no plano corporativo.
Há almoços agendados com os amigos e a previsão é de festança de Natal no interior, organizada por familiares que quase competem para ver quem cozinha melhor. A preparação é tão caprichada que alguns ingredientes são levados daqui de Salvador. Eu aguentarei? Além disso, ainda há datas especiais e aniversários em dezembro.
Já estou em preparação física para as compensar as atividades estomacais extras. O dia em que houver evento, compenso bebendo chá de jiló (argh!) na outra refeição. Será o único jeito da barriga não retornar ào patamar em que já esteve.
Como se tudo não bastasse, ainda tenho a doce incumbência de pensar em um cardápio para aproveitar as ervas finas secas, o curry e as sementes de endro e de cominho que a minha amiga V. gentilmente trouxe de São Paulo para mim. Acho que só vou poder pensar nisso em janeiro. Se bem que, ao assistir no cinema o novo episódio de Bridget Jones - uma bomba por sinal, que transformou a jornalista inglesa quase em debilóide -, registrei que ela fala em um "peru com curry" na festa de Natal. Hmmm.
Com exceção da "apple pie", a famosa torta de maçã, alguns dos melhores pratos da cozinha inglesa são de origem indiana. Fiquei curioso e com vontade de experimentar o prato que leva curry. Quem sabe ainda em dezembro?
A maratona de festividades promete. Neste final de ano, acabei ganhando a incumbência de dar sugestões e ajudar nos eventos lá de onde trabalho. Resultado: consegui convencer o povo a ir jantar em churrascaria-gourmet, além de descobrir que havia verba suficiente para o Chester da confraternização da equipe. Ainda vai ter festa de grande porte, com direito a show de música baiana e tudo mais. Isso só no plano corporativo.
Há almoços agendados com os amigos e a previsão é de festança de Natal no interior, organizada por familiares que quase competem para ver quem cozinha melhor. A preparação é tão caprichada que alguns ingredientes são levados daqui de Salvador. Eu aguentarei? Além disso, ainda há datas especiais e aniversários em dezembro.
Já estou em preparação física para as compensar as atividades estomacais extras. O dia em que houver evento, compenso bebendo chá de jiló (argh!) na outra refeição. Será o único jeito da barriga não retornar ào patamar em que já esteve.
Como se tudo não bastasse, ainda tenho a doce incumbência de pensar em um cardápio para aproveitar as ervas finas secas, o curry e as sementes de endro e de cominho que a minha amiga V. gentilmente trouxe de São Paulo para mim. Acho que só vou poder pensar nisso em janeiro. Se bem que, ao assistir no cinema o novo episódio de Bridget Jones - uma bomba por sinal, que transformou a jornalista inglesa quase em debilóide -, registrei que ela fala em um "peru com curry" na festa de Natal. Hmmm.
Com exceção da "apple pie", a famosa torta de maçã, alguns dos melhores pratos da cozinha inglesa são de origem indiana. Fiquei curioso e com vontade de experimentar o prato que leva curry. Quem sabe ainda em dezembro?
4.12.04
Há algo de podre no reino mágico das celebridades
Olha a Luma novamente. Quando todo mundo pensava que a passista de escola de samba e expert em escândalos já havia se superado, lá vem ela de novo em seu requebrado. Volta às capas de revistas por causa da revelação do segredo do seu caso de amor. Que bombeiro, que nada. O espertão era outro dos modelos do calendário que ela patrocinava. Um policial chamado de Sigmar, que parece nome de cigarro.
A revista Caras mandou um fotógrafo aos confins de Itacaré para flagar a doce e arrojada Luma no dolce far niente com seu amor em um hotel de luxo. O casal percebeu e, ,junto com a direção do hotel, resolveu tirar satisfações com o pobre do enxerido paparazzo. Câmeras e arquivos digitais confiscados, ameaças e muita porrada depois, o fotógrafo volta à redação e escancara o ocorrido. Segundo a Caras, no interrogatório sofrido pelo fotógrafo, perguntaram se ele era contratado pelo ex-marido de Luma.
Será que a passista e o policial (parece até nome de filme da Boca do Lixo), além dos seus assessores, não imaginavam a propagação que a agressão iria tomar? Será que os fotógrafos só servem para quando as celebridades querem mostrar as suas novas casas e vestidos?
Qual a diferença de estar na capa de revistas como a Caras ou a Quem, seja por motivo de casamento badalado na igreja ou por um novo caso de amor, revelado por vias torpes?
Na coluna da Danuza Leão desta semana, ela desce o malho em Ronaldinho e Daniela Cicarelli. O casal apareceu na TV fazendo uma doação de 150 mil reais a uma entidade filantrópica. A jornalista acredita que a doação é ínfima perante o poder de fogo (financeiro) do jogador. Ela diz que tem gente ajuda com muito mais grana e não faz a mínima questão de aparecer.
O casal Fiona e Shrek parece ter mais uma parceria comercial do que qualquer outra coisa voltada à afeição mútua. Tudo é divulgado. Cada passo dado. Cada adiamento do casório. Cada charmosa e elegante liberação de gases dela. Se o monstro dublado por Bussunda fosse ator ou apresentador de TV, ainda caberia tanta exposição, já que a sua profissão, de certa forma, estaria próxima a isso. Mas o cara é jogador de futebol. E, como se não bastasse, milionário.
A vaidade de aparecer nas revistas parece que não os deixa antever a sede que a população tem de presenciar, mais do que casas, roupas ou festinhas, os escândalos que poderão vir - e que as revistas bem sabem mostrar, em forma de doce vingança contra os exibidos. Mas - loucura, loucura, loucura, como diria uma outra celebridade -, tem gente que insiste em repetir o velho clichê "falem mal, mas falem de mim". Não parece masoquismo?
3.12.04
Cordeiros de Glauber
Os dicionários não registram a palavra cordeiro na acepção utilizada popularmente na Bahia. Os cordeiros são a mão-de-obra contratada pelos blocos de Carnaval para segurar a corda que isola o povão dos foliões pagantes e das estrelas da música baiana.
A peça Esse Glauber, em cartaz no Theatro XVIII, tem texto de Aninha Franco, direção de Márcio Meireles e atuação de Rita Assemany e Diogo Lopes Filho. A peça retrata o trabalho dos cordeiros, que formam a parede humana que separa pobres de ricos, bonitos dos feios, instruídos dos ignorantes. Um tema atual e pouco abordado pelos meios de comunicação. Uma realidade local e muito própria, mas que, pelo alcance que o Carnaval tem, talvez seja possível de levar a qualquer lugar do país.
Os dois cordeiros Qualquer Um e Todo Mundo, enquanto aguardam a chegada daquele que virá fazer o pagamento, conversam sobre a vida e o trabalho. A personagem de Rita Assemany insurge-se contra a exploração daquela atividade e - pior dos piores - a possível falta de pagamento após dias e dias de labuta. Ela tenta despertar em seu colega de corda a consciência para os seus direitos. No que parece não ter muito sucesso, já que a propalada alegria do Carnaval, somada à ignorância, parece dissolver qualquer tipo de angústia causada por questionamentos econômicos e sociais. Enquanto isso, o seu colega tenta assediá-la.
O Carnaval no qual os cordeiros trabalham tem o tema "Deus e o Diabo na Terra do Sol", o que foi utilizado para fazer um gancho para o assunto Glauber Rocha. "Quem é esse Glauber?", perguntam-se os cordeiros, deixando clara a ignorância sobre um personagem do contexto histórico-cultural em que estão inseridos - e tema da festa da qual efetivamente fazem parte.
Um espetáculo tocante, fundo e pungente, mas suavizado pelo tom alternadamente cômico dos personagens. Uma conquista do texto, da direção e das atuações. Se não fosse pelas risadas despertadas, o assunto daria um tom tristíssimo ao espetáculo, conduzido pelas inquietações da personagem sob a emocionante atuação de Rita Assemany. O personagem de Diogo Lopes Filho faz o contraponto. É o marmanjo que só quer curtição, que "não tá nem aí". O ator tem ótima atuação, incluindo os trejeitos, modos de fala e expressões faciais do povo de Salvador, sem cair na caricatura.
A peça tem vários números musicais, interpretados pelos atores, acompanhados de músicos no palco. As letras são interessantíssimas. Escrachadas do primeiro ao último verso, são provenientes da verve de Aninha Franco. Se a presença dos músicos é destacada pelo som ao vivo e pela caracterização de uma banda de bloco de Carnaval, a proximidade com o público causa certo estranhamento. O palco do XVIII é pequeno, os percussionistas ocupam muito espaço e não parecem estar à vontade.
Exploração - Esse Glauber toca em um ponto doloroso do mercado de trabalho baiano. Pessoas são contratadas por diárias míseras, ficam sujeitas à violência, maus tratos, até fome e sede, uma vez que o lanche fornecido não é considerado suficiente. E ainda precisam investir os seus calçados - será que as solas chegarão inteiras aos últimos dias de Carnaval?
Até bem pouco tempo, os cordeiros ainda estavam expostos, sem nenhuma proteção, ao som ensurdecedor dos trios elétricos. Agora, pelo menos, eles possuem protetores auriculares. A discussão é levantada em um momento em que associações de cordeiros são formadas. Será essa a solução? A peça não toca nesse ponto, preferiu dar ênfase aos temas da pobreza, da falta de educação e da relação homem-mulher nas classes mais baixas. Os cordeiros são o resultado da baixa escolaridade, de falta de perspectiva profissional e da ganância dos donos dos blocos. Sai mais barato contratá-los do que a empresas de segurança, por exemplo. O trabalho de pesquisa do roteiro foi feito a partir de material em vídeo da jornalista Amaranta Cesar.
Mas não pense que tudo é dificuldade e desprazer. Os cordeiros tem a compensação de participar da festa, próximos dos cantores e bandas, além de ganhar algumas sobras de bebidas dos foliões. De algum modo, eles se sentem incluídos alí, naquele microcosmo social temporário. O grande sonho é chegar até o bufê dos camarotes. Mas isso não é privilégio deles, é algo compartilhado por boa parte da classe média.
Esse Glauber consegue conectar o tema dos cordeiros com a figura de Glauber Rocha, concebendo um gancho interessante para abordar um tema tão presente na atualidade baiana: os limites que separam as diferenças econômicas e sociais. Sendo assim, a corda dos blocos de Carnaval, que separa o povão da elite, é talvez um dos mais representativos símbolos.
Os dicionários não registram a palavra cordeiro na acepção utilizada popularmente na Bahia. Os cordeiros são a mão-de-obra contratada pelos blocos de Carnaval para segurar a corda que isola o povão dos foliões pagantes e das estrelas da música baiana.
A peça Esse Glauber, em cartaz no Theatro XVIII, tem texto de Aninha Franco, direção de Márcio Meireles e atuação de Rita Assemany e Diogo Lopes Filho. A peça retrata o trabalho dos cordeiros, que formam a parede humana que separa pobres de ricos, bonitos dos feios, instruídos dos ignorantes. Um tema atual e pouco abordado pelos meios de comunicação. Uma realidade local e muito própria, mas que, pelo alcance que o Carnaval tem, talvez seja possível de levar a qualquer lugar do país.
Os dois cordeiros Qualquer Um e Todo Mundo, enquanto aguardam a chegada daquele que virá fazer o pagamento, conversam sobre a vida e o trabalho. A personagem de Rita Assemany insurge-se contra a exploração daquela atividade e - pior dos piores - a possível falta de pagamento após dias e dias de labuta. Ela tenta despertar em seu colega de corda a consciência para os seus direitos. No que parece não ter muito sucesso, já que a propalada alegria do Carnaval, somada à ignorância, parece dissolver qualquer tipo de angústia causada por questionamentos econômicos e sociais. Enquanto isso, o seu colega tenta assediá-la.
O Carnaval no qual os cordeiros trabalham tem o tema "Deus e o Diabo na Terra do Sol", o que foi utilizado para fazer um gancho para o assunto Glauber Rocha. "Quem é esse Glauber?", perguntam-se os cordeiros, deixando clara a ignorância sobre um personagem do contexto histórico-cultural em que estão inseridos - e tema da festa da qual efetivamente fazem parte.
Um espetáculo tocante, fundo e pungente, mas suavizado pelo tom alternadamente cômico dos personagens. Uma conquista do texto, da direção e das atuações. Se não fosse pelas risadas despertadas, o assunto daria um tom tristíssimo ao espetáculo, conduzido pelas inquietações da personagem sob a emocionante atuação de Rita Assemany. O personagem de Diogo Lopes Filho faz o contraponto. É o marmanjo que só quer curtição, que "não tá nem aí". O ator tem ótima atuação, incluindo os trejeitos, modos de fala e expressões faciais do povo de Salvador, sem cair na caricatura.
A peça tem vários números musicais, interpretados pelos atores, acompanhados de músicos no palco. As letras são interessantíssimas. Escrachadas do primeiro ao último verso, são provenientes da verve de Aninha Franco. Se a presença dos músicos é destacada pelo som ao vivo e pela caracterização de uma banda de bloco de Carnaval, a proximidade com o público causa certo estranhamento. O palco do XVIII é pequeno, os percussionistas ocupam muito espaço e não parecem estar à vontade.
Exploração - Esse Glauber toca em um ponto doloroso do mercado de trabalho baiano. Pessoas são contratadas por diárias míseras, ficam sujeitas à violência, maus tratos, até fome e sede, uma vez que o lanche fornecido não é considerado suficiente. E ainda precisam investir os seus calçados - será que as solas chegarão inteiras aos últimos dias de Carnaval?
Até bem pouco tempo, os cordeiros ainda estavam expostos, sem nenhuma proteção, ao som ensurdecedor dos trios elétricos. Agora, pelo menos, eles possuem protetores auriculares. A discussão é levantada em um momento em que associações de cordeiros são formadas. Será essa a solução? A peça não toca nesse ponto, preferiu dar ênfase aos temas da pobreza, da falta de educação e da relação homem-mulher nas classes mais baixas. Os cordeiros são o resultado da baixa escolaridade, de falta de perspectiva profissional e da ganância dos donos dos blocos. Sai mais barato contratá-los do que a empresas de segurança, por exemplo. O trabalho de pesquisa do roteiro foi feito a partir de material em vídeo da jornalista Amaranta Cesar.
Mas não pense que tudo é dificuldade e desprazer. Os cordeiros tem a compensação de participar da festa, próximos dos cantores e bandas, além de ganhar algumas sobras de bebidas dos foliões. De algum modo, eles se sentem incluídos alí, naquele microcosmo social temporário. O grande sonho é chegar até o bufê dos camarotes. Mas isso não é privilégio deles, é algo compartilhado por boa parte da classe média.
Esse Glauber consegue conectar o tema dos cordeiros com a figura de Glauber Rocha, concebendo um gancho interessante para abordar um tema tão presente na atualidade baiana: os limites que separam as diferenças econômicas e sociais. Sendo assim, a corda dos blocos de Carnaval, que separa o povão da elite, é talvez um dos mais representativos símbolos.
1.12.04
Terror em família
Após quarenta anos de abandono, uma casa no interior da Espanha volta a ser ocupada, desta vez por uma família americana. Acontecimentos estranhos começam a ocorrer. A luz elétrica some sem explicação. O filho mais novo corre perigo. Dirigido pelo espanhol Jaume Balagueró e contando com um bom elenco, A Sétima Vítima (Darkness, EUA, Espanha, 2002) é suspense do início ao fim.
Mark (Ian Glen), o pai, após temporada na América, onde se casou, retorna para o país de origem e volta a sofrer de uma estranha doença, que o deixa fora da realidade. Maria (Lena Olin), a mãe, é enfermeira, mas não consegue reagir aos acontecimentos. A filha adolescente Regina (Anna Paquin) e o namorado Carlos (Fele Martínez, de A Má Educação) vão tentar resolver o mistério.
O filme traz uma série de clichês de filmes de terror e engasga em alguns pontos do roteiro, mas tem a vantagem de quase não utilizar cenas de sangue e violência e evitar o abuso de efeitos especiais, que normalmente deixam o aspecto artifical. O que vale aqui é a tensão sufocante que permeia a narrativa, lenta e angustiante. A Sétima Vítima ainda tem a vantagem de fugir dos finais óbvios dos filmes de terror.
Após quarenta anos de abandono, uma casa no interior da Espanha volta a ser ocupada, desta vez por uma família americana. Acontecimentos estranhos começam a ocorrer. A luz elétrica some sem explicação. O filho mais novo corre perigo. Dirigido pelo espanhol Jaume Balagueró e contando com um bom elenco, A Sétima Vítima (Darkness, EUA, Espanha, 2002) é suspense do início ao fim.
Mark (Ian Glen), o pai, após temporada na América, onde se casou, retorna para o país de origem e volta a sofrer de uma estranha doença, que o deixa fora da realidade. Maria (Lena Olin), a mãe, é enfermeira, mas não consegue reagir aos acontecimentos. A filha adolescente Regina (Anna Paquin) e o namorado Carlos (Fele Martínez, de A Má Educação) vão tentar resolver o mistério.
O filme traz uma série de clichês de filmes de terror e engasga em alguns pontos do roteiro, mas tem a vantagem de quase não utilizar cenas de sangue e violência e evitar o abuso de efeitos especiais, que normalmente deixam o aspecto artifical. O que vale aqui é a tensão sufocante que permeia a narrativa, lenta e angustiante. A Sétima Vítima ainda tem a vantagem de fugir dos finais óbvios dos filmes de terror.
30.11.04
Há tempo sem vir por aqui
Preciso escrever palavras que não querem sair de casa. Preciso esquecer de escrever para quem se dispuser a ler. Preciso esquecer da crítica e da auto-crítica. Preciso refazer um caminho. Preciso voltar a sentir os meus pulsos e impulsos. Preciso abandonar a racionalidade e optar pela via que me cabe.
Preciso esquecer que existe um mundo construído. Preciso adornar o contorno de pedras lisas. Preciso dormir cada vez mais para ver se me encontro em meu sono. Preciso de uma dose de coragem primitiva. Preciso sair do aprisionamento dos sentidos. Preciso de um bilhete de viagem para uma realidade distante.
Preciso consumir as letras do meu destino. Preciso sacar do bolso os papéis manchados de umidade. Preciso dizer a mim mesmo que o pouco me basta e que a paz vale mais do que o poder. Preciso concluir um ciclo de movimentos. Preciso dormir mais um pouco para que meu corpo se estenda sobre a quietude. Preciso de mais palavras desarticuladas. Preciso não precisar uní-las. Preciso. O que preciso é precioso. O que preciso é ser pouco preciso. Aquilo que preciso é embaçado e desarticulado. O que preciso é desarmar as conexões e os conceitos que tentam a todo o tempo se estabelecer.
Preciso desestruturar o raciocínio para que algo novo apareça. Preciso ouvir as vozes da inquietação. Preciso estabelecer uma série de novos padrões, para destruí-los logo a seguir. Preciso fazer valer as forças renovadoras de Plutão. Preciso ser impreciso.
28.11.04
Carne de fumeiro
O restaurante Caminho de Casa, no Itaigara, serve comida sertaneja de qualidade. Há um tempo, uma das receitas do local foi publicada na revista Cláudia Cozinha, com direito a perfil da proprietária e cozinheira. Foi o "Jacaré Penedense", que na verdade é peito de frango desfiado, com azeite-de-dendê e leite de coco. Uma delícia que experimentei da primeira vez em que estive no restaurante.
Depois que ouvi falar de um lauto sarapatel que ocorreu entre pessoas conhecidas, mas não muito próximas - não fui convidado, portanto -, fiquei saudoso do prato e fui experimentar o do Caminho de Casa. O serviço não decepcionou. Estava uma delícia. Além da boa cozinha, o restaurante é um local muito agradável, com paredes decoradas em estilo sertanejo-moderno-arrojado (o que é isso?!) e mesas ao ar livre.
Legal também é que os pratos estão disponíveis em porções diferenciadas. Meia e inteira, com especificação do peso (350 g de carne, por exemplo). Nunca vi tamanha precisão, é impossível que os pratos obedeçam exatamente à estimativa. Mas é algo excelente, pois diminui a responsabilidade do garçom em estimar a quantidade de pratos de acordo com o número de pessoas.
Com a ½ porção de sarapatel, pedimos, eu e mais dois amigos, carne de porco defumada na chapa, com cebolas. Também conhecida como carne de fumeiro, estava uma delícia, macia e com pouca gordura. Fumeiro, para quem desconhece, é o lugar onde são colocadas as carnes para defumar. Além da farofa e do vinagrete, pedimos pirão de aipim. O lombinho veio fervilhando na chapa sobre a chama do fogareiro.
Ah, eu voltei no tempo. Lembrei do meu pai, que costumava encomendar carne de fumeiro proveniente de Valença, no Baixo Sul do Estado. Nos últimos tempos, com o advento (humpf!) do colesterol, era algo que havia sumido da mesa da minha família. Foi ótimo reviver o prato, feito de modo tão saboroso. Mas a preocupação com o colesterol falou alto. Fui para casa, descansei um pouco e toca a caminhar pela orla de Amaralina para queimar as calorias.
A minha amiga E. (ela não vai gostar de ler isso...) comeu sofregamente. Antes de irmos à comida sertaneja, sugeri algum restaurante de pratos leves, como o Manjericão, no Rio Vermelho, próximo de casa. "Ah, eu fiz regime a semana toda, hoje eu quero é me esbaldar", ela disse. No dia-a-dia, ela almoça pouco e leve, em restaurantes vegetarianos. No sábado, procurando companheiro para o crime, ela me ligou. Para cair matando e se esbaldar nas carnes. E ainda pediu sobremesa. Um cheese cake congelado, que foi o único senão do almoço.
O restaurante Caminho de Casa, no Itaigara, serve comida sertaneja de qualidade. Há um tempo, uma das receitas do local foi publicada na revista Cláudia Cozinha, com direito a perfil da proprietária e cozinheira. Foi o "Jacaré Penedense", que na verdade é peito de frango desfiado, com azeite-de-dendê e leite de coco. Uma delícia que experimentei da primeira vez em que estive no restaurante.
Depois que ouvi falar de um lauto sarapatel que ocorreu entre pessoas conhecidas, mas não muito próximas - não fui convidado, portanto -, fiquei saudoso do prato e fui experimentar o do Caminho de Casa. O serviço não decepcionou. Estava uma delícia. Além da boa cozinha, o restaurante é um local muito agradável, com paredes decoradas em estilo sertanejo-moderno-arrojado (o que é isso?!) e mesas ao ar livre.
Legal também é que os pratos estão disponíveis em porções diferenciadas. Meia e inteira, com especificação do peso (350 g de carne, por exemplo). Nunca vi tamanha precisão, é impossível que os pratos obedeçam exatamente à estimativa. Mas é algo excelente, pois diminui a responsabilidade do garçom em estimar a quantidade de pratos de acordo com o número de pessoas.
Com a ½ porção de sarapatel, pedimos, eu e mais dois amigos, carne de porco defumada na chapa, com cebolas. Também conhecida como carne de fumeiro, estava uma delícia, macia e com pouca gordura. Fumeiro, para quem desconhece, é o lugar onde são colocadas as carnes para defumar. Além da farofa e do vinagrete, pedimos pirão de aipim. O lombinho veio fervilhando na chapa sobre a chama do fogareiro.
Ah, eu voltei no tempo. Lembrei do meu pai, que costumava encomendar carne de fumeiro proveniente de Valença, no Baixo Sul do Estado. Nos últimos tempos, com o advento (humpf!) do colesterol, era algo que havia sumido da mesa da minha família. Foi ótimo reviver o prato, feito de modo tão saboroso. Mas a preocupação com o colesterol falou alto. Fui para casa, descansei um pouco e toca a caminhar pela orla de Amaralina para queimar as calorias.
A minha amiga E. (ela não vai gostar de ler isso...) comeu sofregamente. Antes de irmos à comida sertaneja, sugeri algum restaurante de pratos leves, como o Manjericão, no Rio Vermelho, próximo de casa. "Ah, eu fiz regime a semana toda, hoje eu quero é me esbaldar", ela disse. No dia-a-dia, ela almoça pouco e leve, em restaurantes vegetarianos. No sábado, procurando companheiro para o crime, ela me ligou. Para cair matando e se esbaldar nas carnes. E ainda pediu sobremesa. Um cheese cake congelado, que foi o único senão do almoço.
27.11.04
Dos escritos
Toda vez que escrevo alguma coisa sobre cinema e teatro, gosto de checar, após o texto pronto e publicado, o que outros jornalistas e críticos escreveram sobre o assunto. Não qualquer profissional, mas aqueles que mais gosto e respeito. Tenho ficado satisfeito em notar que as minhas percepções coincidem, em grande parte, com as anotações publicadas por aqueles cujo trabalho acompanho.
Há um ano e meio faço uma coluna semanal de cinema que é publicada no house organ da empresa em que trabalho e aqui no blog. Sobre teatro, publico lá no Claque e também aqui. O número de textos sobre teatro não é muito grande, pois a minha frequência ao cinema é mais intensa. Há mais filmes do que peças disponíveis em Salvador.
Escrever sobre teatro é mais intenso e ao mesmo tempo mais delicado. Intenso por ter vivenciado o espetáculo aí, ao vivo, no calor da atuação. Delicado, pois os objetos de observação estão bem próximos, o que é uma coisa melindrosa. (Meu Deus, onde fui achar essa palavra? Heheheh). Ainda assim, acredito que é possível dizer as coisas de forma polida, elegante, sem grosserias. E, desse modo, fazer todas as observações. Admito que prefiro escrever sobre aquilo que me entusiasma. Sobre os filmes e peças que gostei, e dos quais surgem inúmeras anotações.
Procuro respeitar também aqueles espetáculos que não gosto. Acredito que conseguir elaborar um produto cultural é uma vitória. Principalmente concluir um filme ou colocar um espetáculo teatral em cartaz. Existe ali um grande esforço conjunto de várias pessoas e o resultado, melhor ou pior, é consequência da energia utilizada.
Toda vez que escrevo alguma coisa sobre cinema e teatro, gosto de checar, após o texto pronto e publicado, o que outros jornalistas e críticos escreveram sobre o assunto. Não qualquer profissional, mas aqueles que mais gosto e respeito. Tenho ficado satisfeito em notar que as minhas percepções coincidem, em grande parte, com as anotações publicadas por aqueles cujo trabalho acompanho.
Há um ano e meio faço uma coluna semanal de cinema que é publicada no house organ da empresa em que trabalho e aqui no blog. Sobre teatro, publico lá no Claque e também aqui. O número de textos sobre teatro não é muito grande, pois a minha frequência ao cinema é mais intensa. Há mais filmes do que peças disponíveis em Salvador.
Escrever sobre teatro é mais intenso e ao mesmo tempo mais delicado. Intenso por ter vivenciado o espetáculo aí, ao vivo, no calor da atuação. Delicado, pois os objetos de observação estão bem próximos, o que é uma coisa melindrosa. (Meu Deus, onde fui achar essa palavra? Heheheh). Ainda assim, acredito que é possível dizer as coisas de forma polida, elegante, sem grosserias. E, desse modo, fazer todas as observações. Admito que prefiro escrever sobre aquilo que me entusiasma. Sobre os filmes e peças que gostei, e dos quais surgem inúmeras anotações.
Procuro respeitar também aqueles espetáculos que não gosto. Acredito que conseguir elaborar um produto cultural é uma vitória. Principalmente concluir um filme ou colocar um espetáculo teatral em cartaz. Existe ali um grande esforço conjunto de várias pessoas e o resultado, melhor ou pior, é consequência da energia utilizada.
25.11.04
Furada
Jean-Paul Sartre foi um dos primeiros intelectuais europeus a se pronunciar sobre o filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Em viagem aos Estados Unidos, viu a projeção e escreveu para uma revista francesa. Bateu pesado. Disse que o impacto que o filme havia causado na América era por causa do provincianismo americano. Negou a contribuição técnica de Welles e o acusou de ser um intelectual sem raízes e de não ter respaldo popular. Ainda disse que não achava que o filme fosse um longo caminho a seguir.
Coitado. Cidadão Kane, até hoje, é considerado um dos melhores de todos os tempos.
Jean-Paul Sartre foi um dos primeiros intelectuais europeus a se pronunciar sobre o filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Em viagem aos Estados Unidos, viu a projeção e escreveu para uma revista francesa. Bateu pesado. Disse que o impacto que o filme havia causado na América era por causa do provincianismo americano. Negou a contribuição técnica de Welles e o acusou de ser um intelectual sem raízes e de não ter respaldo popular. Ainda disse que não achava que o filme fosse um longo caminho a seguir.
Coitado. Cidadão Kane, até hoje, é considerado um dos melhores de todos os tempos.
Comentários no ar
Os blogs ainda vão dar muito o que falar. Não duvide que daqui a algum tempo serão referência para aferir a opinião pública. Nos Estados Unidos, já revelaram o seu poder na eleição presidencial. Aqui na Bahia, em matéria sobre a polêmica da cobrança de estacionamento nos shoppings de Salvador, o jornal A Tarde citou as opiniões de "páginas pessoais", que errôneamente foram chamadas de bloggers. Para os jornalistas, os blogs podem ser ferramentas úteis e rápidas para coletar posicionamentos das pessoas sobre assuntos locais.
A dificuldade é achar algo escrito com opinião. Blog não é molho nem mousse, mas tem que ter consistência. Rárárá.
Os blogs ainda vão dar muito o que falar. Não duvide que daqui a algum tempo serão referência para aferir a opinião pública. Nos Estados Unidos, já revelaram o seu poder na eleição presidencial. Aqui na Bahia, em matéria sobre a polêmica da cobrança de estacionamento nos shoppings de Salvador, o jornal A Tarde citou as opiniões de "páginas pessoais", que errôneamente foram chamadas de bloggers. Para os jornalistas, os blogs podem ser ferramentas úteis e rápidas para coletar posicionamentos das pessoas sobre assuntos locais.
A dificuldade é achar algo escrito com opinião. Blog não é molho nem mousse, mas tem que ter consistência. Rárárá.
Ei, mãe, não sou mais menino
Os gatinhos estão crescendo e inauguram os primeiros passos. Os filhotes já tem destino mais ou menos certo. Por enquanto, ainda estão sendo amamentados. A mãe Kika os colocou debaixo da cama do quarto de visitas. Cuidadosa, ela os limpa o tempo todo. E não os deixa escapar do esconderijo.
Os filhotes ensaiam sair andando pela casa. Quando eles se distanciam, a mãe abocanha pelo pescoço e os traz de volta. Não quer deixá-los conhecer o mundo. Alguma semelhança com os humanos?
Os gatinhos estão crescendo e inauguram os primeiros passos. Os filhotes já tem destino mais ou menos certo. Por enquanto, ainda estão sendo amamentados. A mãe Kika os colocou debaixo da cama do quarto de visitas. Cuidadosa, ela os limpa o tempo todo. E não os deixa escapar do esconderijo.
Os filhotes ensaiam sair andando pela casa. Quando eles se distanciam, a mãe abocanha pelo pescoço e os traz de volta. Não quer deixá-los conhecer o mundo. Alguma semelhança com os humanos?
24.11.04
Dança Comigo?
John Clark (Richard Gere) é um advogado bem sucedido e entediado, que divide a vida entre o trabalho e a casa, a esposa Beverly (Susan Sarandon) e dois filhos adolescentes. Ao retornar para o lar, após o expediente, pelas janelas do trem urbano vê Paulina (Jennifer Lopez), uma bela professora de dança de salão. Ele decide se inscrever no curso só para ficar perto dela. Em Dança Comigo? (Shall We Dance?, EUA, 2004), o que Clark não contava, mais do que o interesse pela professora, é com a súbita identificação com a dança, algo que irá transformar a sua rotina e o fará rever conceitos.
Dança Comigo? é refilmagem de uma montagem japonesa de 1996 e tem números musicais interessantes, especialmente de ritmos latinos. É uma comédia romântica, com bons momentos de diversão, como convém aos musicais que abordam a dança. Ainda que alguns personagens sejam muito estereotipados.
Richard Gere, apesar de esforçado, não convence como bailarino. Por incrível que possa parecer, Jennifer Lopez tem melhor desempenho dramático que ele. Será que é porque ela tem poucas falas? Preste atenção na cena em que Clark e Paulina dançam ao som de tango com arranjo de música eletrônica. Som moderno sem perdar a dramaticidade da dança argentina.
John Clark (Richard Gere) é um advogado bem sucedido e entediado, que divide a vida entre o trabalho e a casa, a esposa Beverly (Susan Sarandon) e dois filhos adolescentes. Ao retornar para o lar, após o expediente, pelas janelas do trem urbano vê Paulina (Jennifer Lopez), uma bela professora de dança de salão. Ele decide se inscrever no curso só para ficar perto dela. Em Dança Comigo? (Shall We Dance?, EUA, 2004), o que Clark não contava, mais do que o interesse pela professora, é com a súbita identificação com a dança, algo que irá transformar a sua rotina e o fará rever conceitos.
Dança Comigo? é refilmagem de uma montagem japonesa de 1996 e tem números musicais interessantes, especialmente de ritmos latinos. É uma comédia romântica, com bons momentos de diversão, como convém aos musicais que abordam a dança. Ainda que alguns personagens sejam muito estereotipados.
Richard Gere, apesar de esforçado, não convence como bailarino. Por incrível que possa parecer, Jennifer Lopez tem melhor desempenho dramático que ele. Será que é porque ela tem poucas falas? Preste atenção na cena em que Clark e Paulina dançam ao som de tango com arranjo de música eletrônica. Som moderno sem perdar a dramaticidade da dança argentina.
23.11.04
Leis
O mundo gira e há de imperar a paz sobre as cabeças pensantes e não-pensantes. Todos serão iguais ou menos diferentes, no possível. As únicas leis pregadas pelas religiões serão: não faça o mal, a si mesmo e aos outros. O resto será consequência.
As palavras vão se soltando como pequenas explosões no ar, na terra, nos papéis, nas cordas vocais. As frases vão se armando e se articulando para alcançar alturas insuspeitas. De energia elas se formam para subir aos céus e dizer a todos: sejam felizes. Enquanto criaturas humanas, este é o real valor. Não importa dinheiro, projeção, beleza, sucesso, atenção de outras pessoas. Cada um é divino pelo simples fato de existir.
E isso, tão óbvio, parece estar esquecido.
O mundo gira e há de imperar a paz sobre as cabeças pensantes e não-pensantes. Todos serão iguais ou menos diferentes, no possível. As únicas leis pregadas pelas religiões serão: não faça o mal, a si mesmo e aos outros. O resto será consequência.
As palavras vão se soltando como pequenas explosões no ar, na terra, nos papéis, nas cordas vocais. As frases vão se armando e se articulando para alcançar alturas insuspeitas. De energia elas se formam para subir aos céus e dizer a todos: sejam felizes. Enquanto criaturas humanas, este é o real valor. Não importa dinheiro, projeção, beleza, sucesso, atenção de outras pessoas. Cada um é divino pelo simples fato de existir.
E isso, tão óbvio, parece estar esquecido.
Clima
Inexplicavelmente, a cidade amanheceu fria. Uma chuva fina caindo, o cinza imperando no céu. Estranho, em época de quase verão na cidade. É uma frente fria que vem do sul e promete estacionar por alguns dias.
Durante todo o ano, o tempo deveria ser desse modo. Uns dias de calor, outros dias mais amenos. Para variar, para não cansar, para mudar o astral, para mudar o guarda-roupa, para transformar o ambiente. Para alegrar e entristecer em doses minúsculas. Para renovar as ventos e as forças da mudança.
Inexplicavelmente, a cidade amanheceu fria. Uma chuva fina caindo, o cinza imperando no céu. Estranho, em época de quase verão na cidade. É uma frente fria que vem do sul e promete estacionar por alguns dias.
Durante todo o ano, o tempo deveria ser desse modo. Uns dias de calor, outros dias mais amenos. Para variar, para não cansar, para mudar o astral, para mudar o guarda-roupa, para transformar o ambiente. Para alegrar e entristecer em doses minúsculas. Para renovar as ventos e as forças da mudança.
21.11.04
Chá com bobagem
Foi a revista Veja que indicou como os melhores salgados e doces e salgados da cidade aqueles que saem dos fogões da Casa de Chá Belle's, na Barra. Com a informação em punho, no sábado o encontro foi marcado com ex-colegas da Faculdade - e agora de profissão.
O local não decepcionou, apesar da localização dificultada por falta de uma placa indicativa. No salão, ar condicionado gelado para dar o clima. Salgados excepcionais. O camarão empanado, com um toque de catupiry, é uma coisa. Frente à grande procura, o petisco sai toda hora, vem quentinho. O chocolate quente, hummm, uma diliça. Os pedaços de torta são enormes e os preços estão na média da cidade.
Foi interessante ver a saída de bandejas, já que a casa é fornecedora para eventos. Cada uma mais bacana que a outra. Teve uma hora que saiu uma cascata de camarões que atraiu os olhares de todos. Felizardos os que iriam participar da festa para onde os camarões estavam indo.
Conversa vai, conversa vem, uma das colegas chegou com uma novidade-bomba: ela vai se casar. Contou que conheceu um cara há pouco mais de um mês e resolveu se mudar de mala e sacola para Belém do Pará, onde o tal assessor de imprensa e futuro marido mora. As demais mulheres - a maioria do grupo - ficaram ensandecidas. Uma delas teve uma crise de risadas. Riu tanto que lágrimas verteram dos olhos. Elas não sabiam se riam de alegria, choravam pela atitude precipitada ou se morriam de inveja.
Elas ficaram enlouquecidas por que a noiva era no passado radicalmente contra o casamento. Agora era a "primeira a furar a fila do casamento e passar na frente", como uma delas reclamou. Parecia coisa de filme. Elas já imaginavam a situação na hora de pegar jogar o buquê de flores. Generosamente, queriam até repartí-lo.
Eu só dava risada. Era o único que ja sabia da novidade. Era pura brincadeira acertada para darmos risada no encontro dos colegas. A "noiva" não decepcionou no papel de atriz. Os demais ficaram meio atarantados pela "pegadinha", ensairam fazer bico, mas deram mais risadas no final. Como o casamento mexe com as pessoas...
19.11.04
A moqueca do dia seguinte
No último feriado, troquei a ida à praia pela ida à cozinha, apesar do sol que gritava lá fora. Aproveitei para preparar uma moqueca de peixe, prato que nunca havia me aventurado a cozinhar. A vítima escolhida para entrar na panela foi o peixe cavala que havia comprado um tempo atrás no mercado de frutos do mar de Salvador e que hibernava quieta em meu congelador.
Eu havia descongelado as postas na véspera. Cortei os temperos e pus a tomar sabor desde a noite anterior. A cavala é um peixe de carne deliciosa. Branquinha, sem gordura e de sabor suave, faz uma moqueca excepcional. Curiosamente, não está entre os peixes mais caros. É mais barata que a pescada ou o badejo e um pouco mais cara que o atum, que dizem que também faz uma moqueca deliciosa.
A minha paellera esmaltada azul, espanhola de origem, além de bonita, é a panela das três mil utilidades: serve para fazer risotos italianos, yakissobas, peixadas, arroz de polvo - e até paella.
Há pouco tempo, experimentei uma moqueca muito boa de cavala no restaurante Axego, no Pelourinho. Foi aí que eu fiquei conhecendo o tal peixe. O local é simples, mas os pratos são bem feitos, pelos proprios donos. O cardápio não é sempre o mesmo. Varia de acordo com o que é entregue pelos pescadores.
Pois bem, coloquei bastante limão e temperos na cavala. No dia seguinte, o início do cozimento. A panela larga, tipo caçarola, facilita a montagem do prato. Aí começou a mão-de-obra. Vira o peixe para lá, vira para cá, a fim de incorporar bem o tempero às postas e cozinhar corretamente.
Peixe já cozido, o toque final e indispensável: leite de coco e um pouquinho de dendê, só para dar a cor amarelo-dourado que caracteriza as jóias da culinária baiana.
O prato ficou saboroso, mas achei que poderia ter ficado ainda melhor, pois notei que o tempero não havia se impregnado totalmente ao peixe. Talvez, quem sabe no dia seguinte, se ainda existisse algum vestígio. No outro dia, experimentei novamente e a minha suposição se confirmou. O prato estava uma delícia. Sabor no ponto certo de sal.
Como é interessante a incorporação do sabor pela carne! Por isso, os pratos que têm preparo lento quase sempre são muito saborosos. Eis por que é necessário marinar com antecedência grandes peças de carne. Para o sabor alcançar todo o prato. E invadir o nosso paladar.
No último feriado, troquei a ida à praia pela ida à cozinha, apesar do sol que gritava lá fora. Aproveitei para preparar uma moqueca de peixe, prato que nunca havia me aventurado a cozinhar. A vítima escolhida para entrar na panela foi o peixe cavala que havia comprado um tempo atrás no mercado de frutos do mar de Salvador e que hibernava quieta em meu congelador.
Eu havia descongelado as postas na véspera. Cortei os temperos e pus a tomar sabor desde a noite anterior. A cavala é um peixe de carne deliciosa. Branquinha, sem gordura e de sabor suave, faz uma moqueca excepcional. Curiosamente, não está entre os peixes mais caros. É mais barata que a pescada ou o badejo e um pouco mais cara que o atum, que dizem que também faz uma moqueca deliciosa.
A minha paellera esmaltada azul, espanhola de origem, além de bonita, é a panela das três mil utilidades: serve para fazer risotos italianos, yakissobas, peixadas, arroz de polvo - e até paella.
Há pouco tempo, experimentei uma moqueca muito boa de cavala no restaurante Axego, no Pelourinho. Foi aí que eu fiquei conhecendo o tal peixe. O local é simples, mas os pratos são bem feitos, pelos proprios donos. O cardápio não é sempre o mesmo. Varia de acordo com o que é entregue pelos pescadores.
Pois bem, coloquei bastante limão e temperos na cavala. No dia seguinte, o início do cozimento. A panela larga, tipo caçarola, facilita a montagem do prato. Aí começou a mão-de-obra. Vira o peixe para lá, vira para cá, a fim de incorporar bem o tempero às postas e cozinhar corretamente.
Peixe já cozido, o toque final e indispensável: leite de coco e um pouquinho de dendê, só para dar a cor amarelo-dourado que caracteriza as jóias da culinária baiana.
O prato ficou saboroso, mas achei que poderia ter ficado ainda melhor, pois notei que o tempero não havia se impregnado totalmente ao peixe. Talvez, quem sabe no dia seguinte, se ainda existisse algum vestígio. No outro dia, experimentei novamente e a minha suposição se confirmou. O prato estava uma delícia. Sabor no ponto certo de sal.
Como é interessante a incorporação do sabor pela carne! Por isso, os pratos que têm preparo lento quase sempre são muito saborosos. Eis por que é necessário marinar com antecedência grandes peças de carne. Para o sabor alcançar todo o prato. E invadir o nosso paladar.
18.11.04
17.11.04
Mundo retrô-futurista
Um mundo totalmente criado em computador, em que elementos do passado, em clima claro-escuro de imagens embaçadas, convivem com máquinas espaciais ultra-avançadas. De quebra, a presença de estrelas de Hollywood. O filme Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (EUA, 2004) é fruto da obstinação do diretor estreante Kerry Conran, que começou a elaborar as imagens em seu próprio computador. O projeto ganhou a adesão dos atores Gwyneth Paltrow e Jude Law. Setenta milhões de dólares depois, o trabalho ficou pronto.
O desaparecimento de vários cientistas importantes instiga a repórter Polly Perkins (Gwyneth Paltrow). Com a ajuda do piloto Joe Sullivan (Jude Law), o tal Capitão Sky, ela se propõe a desvendar a trama, numa aventura que os leva a vários locais do mundo. Para isso, contarão com a ajuda da oficial britânica Franky Cook (Angelina Jolie).
Dos filmes de Indiana Jones, às antigas comédias românticas em que o casal briga o tempo todo e às imagens do expressionismo, há muitas referências em Capitão Sky. O resultado é aventura e diversão sem compromisso, em estilo sessão da tarde.
Um mundo totalmente criado em computador, em que elementos do passado, em clima claro-escuro de imagens embaçadas, convivem com máquinas espaciais ultra-avançadas. De quebra, a presença de estrelas de Hollywood. O filme Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (EUA, 2004) é fruto da obstinação do diretor estreante Kerry Conran, que começou a elaborar as imagens em seu próprio computador. O projeto ganhou a adesão dos atores Gwyneth Paltrow e Jude Law. Setenta milhões de dólares depois, o trabalho ficou pronto.
O desaparecimento de vários cientistas importantes instiga a repórter Polly Perkins (Gwyneth Paltrow). Com a ajuda do piloto Joe Sullivan (Jude Law), o tal Capitão Sky, ela se propõe a desvendar a trama, numa aventura que os leva a vários locais do mundo. Para isso, contarão com a ajuda da oficial britânica Franky Cook (Angelina Jolie).
Dos filmes de Indiana Jones, às antigas comédias românticas em que o casal briga o tempo todo e às imagens do expressionismo, há muitas referências em Capitão Sky. O resultado é aventura e diversão sem compromisso, em estilo sessão da tarde.
16.11.04
Uh hu!
Ganhei um livro no sorteio feito por um dos meus blogs favoritos. Fui o primeiro fora do eixo Rio-SP a responder o que as atrizes Natalie Wood, Elizabeth Taylor e Melanie Griffith têm em comum. Elas se casaram duas vezes com o mesmo homem: Natalie com Robert Wagner, Liz Taylor e Richard Burton e Melanie com Don Jonhson.
A autora do blog está lançando um livro: O Caderno de Cinema de Marina W. e vai mandar um exemplar para mim. Se o trabalho for tão legal quanto o que ela escreve na internet, será um sucesso. Não vejo a hora de tê-lo em mãos. Valeu, Maria Adriana!
Ganhei um livro no sorteio feito por um dos meus blogs favoritos. Fui o primeiro fora do eixo Rio-SP a responder o que as atrizes Natalie Wood, Elizabeth Taylor e Melanie Griffith têm em comum. Elas se casaram duas vezes com o mesmo homem: Natalie com Robert Wagner, Liz Taylor e Richard Burton e Melanie com Don Jonhson.
A autora do blog está lançando um livro: O Caderno de Cinema de Marina W. e vai mandar um exemplar para mim. Se o trabalho for tão legal quanto o que ela escreve na internet, será um sucesso. Não vejo a hora de tê-lo em mãos. Valeu, Maria Adriana!
15.11.04
Aula de cinema
Má Educação (La Mala Educación, Espanha, 2004) é um filme que só poderia ter sido realizado por um diretor consagrado como o espanhol Pedro Almodóvar. Até poderia ter sido feito por outro cineasta, mas dificilmente alcançaria a divulgação e o sucesso que vem obtendo. Talvez ficasse restrito às salas do circuito cultural.
O mais novo trabalho de Almodóvar é um filme que trata de assuntos difíceis e delicados, que não são abordados com frequência e coragem, mesmo no cinema autoral. Pedofilia na Igreja Católica, homossexualismo, travestismo, consumo de drogas são mostrados de forma clara, direta e ousada.
O mexicano Gael García Bernal, no papel de Ignácio, reafirma que veio para ficar no panteão dos grandes atores. A sua sensibilidade ao interpretar um travesti cantando (dublando?) a música Quizás, Quizás, Quizás é intensa e delicada. Bernal também protagoniza de forma convincente cenas eróticas fortes.
O diretor soube extrair o melhor do ator. Segundo Almodóvar, "a câmera busca Gael". O resultado são perfeitos enquadramentos de câmera em close-up, seja com o ator travestido ou na versão sem maquiagem. Bernal, que recentemente compôs o herói Che Guevara na juventude, agora se transforma em um baixinho frágil, dissimulado e intensamente sexual.
O roteiro, que levou vários anos para ser elaborado por Almodóvar, é simplesmente genial. As narrativas se intercruzam e vão sendo magistralmente costuradas pela direção, com desfecho coerente e bem-feito, que consegue articular todas as peças.
Má Educação não tem o apelo emocional de Fale com Ela, trabalho anterior do espanhol. Desta vez, o exercício intelectual do texto fala mais alto e é o ponto forte do filme. Almodóvar reforça o seu lugar entre os maiores do cinema atual. O talento é ainda mais brilhante pela conjugação do roteiro e direção na mão da mesma pessoa.
14.11.04
A mídia nos grotões
Uma grande empresa trouxe para Salvador um seminário de comunicação de alto nível. Profissionais de todo o país discutiram a regionalização da mídia. O seminário foi conduzido por ninguém menos que Alberto Dines, do Observatório da Imprensa.
Na quarta-feira, após a abertura do evento, um coquetel muito interessante, perfeitamente dentro da proposta de regionalização: foram servidos acarajés e abararás e no bufê havia escondidinho (purê de aipim com carne-do-sol), casquinha de siri, arrumadinho (carne-do-sol e linguiça em pequenos pedaços, junto com feijão fradinho).
Uma grande empresa trouxe para Salvador um seminário de comunicação de alto nível. Profissionais de todo o país discutiram a regionalização da mídia. O seminário foi conduzido por ninguém menos que Alberto Dines, do Observatório da Imprensa.
Na quarta-feira, após a abertura do evento, um coquetel muito interessante, perfeitamente dentro da proposta de regionalização: foram servidos acarajés e abararás e no bufê havia escondidinho (purê de aipim com carne-do-sol), casquinha de siri, arrumadinho (carne-do-sol e linguiça em pequenos pedaços, junto com feijão fradinho).
10.11.04
Gaiola de rouxinóis
Visto por mais de sete milhões de pessoas na França e pré-candidato ao Oscar de filme estrangeiro, A Voz do Coração (Les Choristes, França, 2004), de Christophe Barratier, é belo, bem feito e emocionante. Sem cair no melodrama fácil, é capaz de levar o público às lágrimas.
Na década de 40, um músico torna-se inspetor de um colégio interno de meninos problemáticos. Para diminuir os conflitos, monta um coral. Talentos são revelados e as transformações são surpreendentes.
Filmes de professores que realizam mudanças não são novidade nas telas. De Ao Mestre com Carinho, passando por Sociedade dos Poetas Mortos, o cinema utiliza bem o apelo emocional da época escolar, seja com crianças ou jovens. Em A Voz do Coração, a música é o grande agente de transformação e responsável por alguns dos melhores momentos. Imperdível.
Visto por mais de sete milhões de pessoas na França e pré-candidato ao Oscar de filme estrangeiro, A Voz do Coração (Les Choristes, França, 2004), de Christophe Barratier, é belo, bem feito e emocionante. Sem cair no melodrama fácil, é capaz de levar o público às lágrimas.
Na década de 40, um músico torna-se inspetor de um colégio interno de meninos problemáticos. Para diminuir os conflitos, monta um coral. Talentos são revelados e as transformações são surpreendentes.
Filmes de professores que realizam mudanças não são novidade nas telas. De Ao Mestre com Carinho, passando por Sociedade dos Poetas Mortos, o cinema utiliza bem o apelo emocional da época escolar, seja com crianças ou jovens. Em A Voz do Coração, a música é o grande agente de transformação e responsável por alguns dos melhores momentos. Imperdível.
8.11.04
Reunião etílica
Recebi um convite para uma reunião com conhecidos. Convite para uma open house, partindo de uma colega de trabalho. Gentilmente, ela convida os companheiros de labuta para apresentar a nova casa. Sutilmente, ela pediu a outra colega para sondar as preferências de bebidas dos convidados. Isto é, a preferência entre as modalidades da "água que boi não bebe".
Imbuído no espírito Amadiano, lembrei do velho Quincas Berro D'Água. Pelos delírios da minha imaginação, não concordei que boi não bebe mais daquela água. Até passarinho anda bebendo água que pinga do alambique. Ou resta alguma dúvida que os atropelamentos de urubus pelos aviões não são por causa do lixo acumulado nos arredores dos aeroportos?
Para mim, não há problemas etílicos. De bom grado aceito água, refrigerante, "Seu Veja", vinho, vodca, gim, tequila, uma dose de boa pinga, catuaba selvagem e suco de cacto. Com toda a boa vontade, sem reclamar, achando bom e querendo mais. Agora é só esperar.
Falando assim, vão me achar um pinguço. Rárárá.
Recebi um convite para uma reunião com conhecidos. Convite para uma open house, partindo de uma colega de trabalho. Gentilmente, ela convida os companheiros de labuta para apresentar a nova casa. Sutilmente, ela pediu a outra colega para sondar as preferências de bebidas dos convidados. Isto é, a preferência entre as modalidades da "água que boi não bebe".
Imbuído no espírito Amadiano, lembrei do velho Quincas Berro D'Água. Pelos delírios da minha imaginação, não concordei que boi não bebe mais daquela água. Até passarinho anda bebendo água que pinga do alambique. Ou resta alguma dúvida que os atropelamentos de urubus pelos aviões não são por causa do lixo acumulado nos arredores dos aeroportos?
Para mim, não há problemas etílicos. De bom grado aceito água, refrigerante, "Seu Veja", vinho, vodca, gim, tequila, uma dose de boa pinga, catuaba selvagem e suco de cacto. Com toda a boa vontade, sem reclamar, achando bom e querendo mais. Agora é só esperar.
Falando assim, vão me achar um pinguço. Rárárá.
6.11.04
O prefeito eleito de Salvador, João Henrique, concedeu longa entrevista, pelo menos para os padrões televisivos, ao jornal da TV Bahia, que pertence ao grupo oponente. O espaço diponibilizado ao novo governante é um bom sinal. Parece que o clima político será de tranquilidade. Melhor para a cidade, que não suporta mais esperar a realização de obras como o metrô.
4.11.04
Na passarela
A gatinha Kika (ver foto no post dia 29.09) acabou de dar à luz a seis (!) belos exemplares de gatinhos pêlo curto. Preguiçosos, eles ainda não se adiantaram a abrir os pequenos olhos, relutando em perceber o mundo que os rodeia. Dos seis filhotes, dois parecem com o pai Ronrom, de pêlo tigrado preto, branco e cinza. Dois parecem com a mãe, pêlo tigrado preto e amarelo. Os outros dois são tigrados só em amarelo e branco, com focinho rosado.
Frente à impossibilitade de caber tanta gente em um exíguo apartamento, os gatinhos estão sendo oferecidos a pessoas cuidadosas e carinhosas, que gostem de gatos e que se proponham a dedicar um pouco da atenção diária aos bichanos. Em troca terão companhia, com direito a ronronados frequentes após o consumo da ração. Promessa de pêlo sempre macio e limpo por lambidas frequentes. Educado, o gatinho não sujará a casa, pois sempre fará uso do sanitário particular, com granulos de argila sanitária, que pode ser adquirida a baixo custo em algum supermercado.
Solicita-se somente que as unhas sejam frequentemente aparadas, a fim de evitar arranhões não intencionais na pele dos donos e nos móveis da casa. Ah, outra coisa, gatos e plantas não combinam. Os bichanos são estrelas, não gostam de dividir atenção e cuidados.
A retribuição é a presença frequente e elegante, sem barulhos, com caminhadas de muita classe dentro de casa. Não é à toa que a passarela dos desfiles de moda é chamada de catwalk, em inglês. À noite, ele ou ela subirá suavemente na sua cama e silenciosamente lhe fará companhia, a uma distância segura para evitar pernadas ou safanões.
Alguém se habilita?
A gatinha Kika (ver foto no post dia 29.09) acabou de dar à luz a seis (!) belos exemplares de gatinhos pêlo curto. Preguiçosos, eles ainda não se adiantaram a abrir os pequenos olhos, relutando em perceber o mundo que os rodeia. Dos seis filhotes, dois parecem com o pai Ronrom, de pêlo tigrado preto, branco e cinza. Dois parecem com a mãe, pêlo tigrado preto e amarelo. Os outros dois são tigrados só em amarelo e branco, com focinho rosado.
Frente à impossibilitade de caber tanta gente em um exíguo apartamento, os gatinhos estão sendo oferecidos a pessoas cuidadosas e carinhosas, que gostem de gatos e que se proponham a dedicar um pouco da atenção diária aos bichanos. Em troca terão companhia, com direito a ronronados frequentes após o consumo da ração. Promessa de pêlo sempre macio e limpo por lambidas frequentes. Educado, o gatinho não sujará a casa, pois sempre fará uso do sanitário particular, com granulos de argila sanitária, que pode ser adquirida a baixo custo em algum supermercado.
Solicita-se somente que as unhas sejam frequentemente aparadas, a fim de evitar arranhões não intencionais na pele dos donos e nos móveis da casa. Ah, outra coisa, gatos e plantas não combinam. Os bichanos são estrelas, não gostam de dividir atenção e cuidados.
A retribuição é a presença frequente e elegante, sem barulhos, com caminhadas de muita classe dentro de casa. Não é à toa que a passarela dos desfiles de moda é chamada de catwalk, em inglês. À noite, ele ou ela subirá suavemente na sua cama e silenciosamente lhe fará companhia, a uma distância segura para evitar pernadas ou safanões.
Alguém se habilita?
3.11.04
Garotas ousadas
Numa pacata cidade da Inglaterra, cansadas de palestras sobre as propriedades do brócolis e de aulas sobre geléias e tapeçaria, mulheres de meia-idade resolvem ajudar na melhoria de um hospital. Para angariar fundos, decidem posar nuas para o calendário anualmente produzido pelo Women's Institute. Uma para cada mês, mostrando seus dotes domésticos.
Inspirado em fatos reais, Garotas do Calendário (Calendar Girls, Inglaterra, 2003), é dirigido por Nigel Cole (O Barato de Grace) e traz no elenco Helen Mirren e Julie Waters. Comédia típicamente inglesa, com humor fino e irônico, discute de forma sutil a valorização da pessoas com mais de 50 anos. O filme lembra Ou Tudo ou Nada, também comédia produzida na Inglaterra, em que um grupo de senhores desempregados resolve montar um grupo de strip-tease.
Junto com a boa diversão, é interessante conferir a vida no interior da Inglaterra, que parece perdida no tempo. O que contrasta com a condição de um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Numa pacata cidade da Inglaterra, cansadas de palestras sobre as propriedades do brócolis e de aulas sobre geléias e tapeçaria, mulheres de meia-idade resolvem ajudar na melhoria de um hospital. Para angariar fundos, decidem posar nuas para o calendário anualmente produzido pelo Women's Institute. Uma para cada mês, mostrando seus dotes domésticos.
Inspirado em fatos reais, Garotas do Calendário (Calendar Girls, Inglaterra, 2003), é dirigido por Nigel Cole (O Barato de Grace) e traz no elenco Helen Mirren e Julie Waters. Comédia típicamente inglesa, com humor fino e irônico, discute de forma sutil a valorização da pessoas com mais de 50 anos. O filme lembra Ou Tudo ou Nada, também comédia produzida na Inglaterra, em que um grupo de senhores desempregados resolve montar um grupo de strip-tease.
Junto com a boa diversão, é interessante conferir a vida no interior da Inglaterra, que parece perdida no tempo. O que contrasta com a condição de um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
1.11.04
28.10.04
Para gostar de comer bem
Para gostar de comer bem, é preciso não ter preconceitos - ou ter o mínimo possível. Saber comer bem não é comer muito, nem escolher pratos caros. É experimentar sabores e deixar que o paladar viaje por atmosferas e mundos distantes.
O não gostar de alguma coisa é quase sempre resultado de experiência pouco feliz na hora de comer. A criança que foi obrigada a consumir quiabo, espinafre ou qualquer outra coisa, vai provavelmente registrar no futuro a recusa àquela comida.
Negar a permissão e o acesso a novos sabores, sob o discurso do "não gosto", sem mesmo provar, indica pouca disponibilidade de expandir horizontes. Comida é cultura. A bagagem cultural, como se sabe, é adquirida com vivência e experiência. A abertura para novos paladares indica novas possibilidades.
Pessoas que moram em locais no interior, sem acesso ao mar, frequentemente não gostam de peixes e mariscos. Não foram habituados a consumí-los. Imagine o estranhamento ao se deparar com um caranguejo inteiro pela frente. Por onde começar a comer? Já alguns litorâneos, por exemplo, aqui na Bahia, evitam as comidas sertanejas, por taxá-las de pesadas.
É difícil gostar de tudo. Impossível. Sempre haverá algo que não será suportável - ou, ao menos, desejável. Bacana é poder experimentar sem preconceitos, abrindo mão de sabores que já conhecidos e se entregando ao prazer da novidade.
Para gostar de comer bem, é preciso não ter preconceitos - ou ter o mínimo possível. Saber comer bem não é comer muito, nem escolher pratos caros. É experimentar sabores e deixar que o paladar viaje por atmosferas e mundos distantes.
O não gostar de alguma coisa é quase sempre resultado de experiência pouco feliz na hora de comer. A criança que foi obrigada a consumir quiabo, espinafre ou qualquer outra coisa, vai provavelmente registrar no futuro a recusa àquela comida.
Negar a permissão e o acesso a novos sabores, sob o discurso do "não gosto", sem mesmo provar, indica pouca disponibilidade de expandir horizontes. Comida é cultura. A bagagem cultural, como se sabe, é adquirida com vivência e experiência. A abertura para novos paladares indica novas possibilidades.
Pessoas que moram em locais no interior, sem acesso ao mar, frequentemente não gostam de peixes e mariscos. Não foram habituados a consumí-los. Imagine o estranhamento ao se deparar com um caranguejo inteiro pela frente. Por onde começar a comer? Já alguns litorâneos, por exemplo, aqui na Bahia, evitam as comidas sertanejas, por taxá-las de pesadas.
É difícil gostar de tudo. Impossível. Sempre haverá algo que não será suportável - ou, ao menos, desejável. Bacana é poder experimentar sem preconceitos, abrindo mão de sabores que já conhecidos e se entregando ao prazer da novidade.
27.10.04
Dodge Ball
Nos Estados Unidos, o jogo de queimada (ou baleado, aqui na Bahia) é chamado de dodge ball e considerado um esporte, ainda que de segunda linha. E a queimada é a grande atração da comédia Com a Bola Toda (Dodge Ball, EUA, 2004).
Peter LaFleur (Vince Vaughn) é o dono da academia Average Joe, decadente e cheia de dívidas. Quem pretende comprá-la é o egocêntrico White Goodman (Ben Stiller), dono de um império da ginástica, as academias Globo. O banco credor põe a advogada Kate (Christine Taylor) para cuidar da cobrança. Ela se apaixona por Peter e decide ajudá-lo a salvar a academia. Com a ajuda de funcionários e de alguns poucos clientes assíduos, eles resolvem formar um time e se inscrever no torneio de queimada para ganhar 50 mil dólares de prêmio e pagar a hipoteca.
O filme traz humor adolescente, mas sem apelações ao tema do sexo, recorrente nas comédias atuais. As cenas de competição ajudam a segurar o pique, proporcionando diversão sem compromisso. Aparição relâmpago do ator Chuck Norris, estrela de filmes de luta dos anos 80, no papel dele mesmo, agora como um dos juízes do torneio.
Nos Estados Unidos, o jogo de queimada (ou baleado, aqui na Bahia) é chamado de dodge ball e considerado um esporte, ainda que de segunda linha. E a queimada é a grande atração da comédia Com a Bola Toda (Dodge Ball, EUA, 2004).
Peter LaFleur (Vince Vaughn) é o dono da academia Average Joe, decadente e cheia de dívidas. Quem pretende comprá-la é o egocêntrico White Goodman (Ben Stiller), dono de um império da ginástica, as academias Globo. O banco credor põe a advogada Kate (Christine Taylor) para cuidar da cobrança. Ela se apaixona por Peter e decide ajudá-lo a salvar a academia. Com a ajuda de funcionários e de alguns poucos clientes assíduos, eles resolvem formar um time e se inscrever no torneio de queimada para ganhar 50 mil dólares de prêmio e pagar a hipoteca.
O filme traz humor adolescente, mas sem apelações ao tema do sexo, recorrente nas comédias atuais. As cenas de competição ajudam a segurar o pique, proporcionando diversão sem compromisso. Aparição relâmpago do ator Chuck Norris, estrela de filmes de luta dos anos 80, no papel dele mesmo, agora como um dos juízes do torneio.
26.10.04
Delícia de grão
O arroz é um vegetal sem sabor, e talvez seja essa a sua melhor qualidade. Por não ter sabor, o arroz dá vida a tudo que se aproxima dele. E ainda tem a vantagem prática de poder ser apreciado como prato único, seja em forma de sushi, risoto italiano, paella, galinhada ou qualquer outro acepipe feito em uma única panela. Mais uma vantagem, são pratos que não sujam muita coisa - e a panela de preparo, se for apresentável, ainda pode ir à mesa..
Fazer um arroz bacana não é difícil, mas é preciso ter paciência e dedicação. Esperar que o arroz absorva o líquido e cozinhe. Essa exigência talvez seja a maior dificuldade em prepará-lo. Um arroz simples e bem feito, só com alho e um fio de óleo, pode ser consumido puro, de tão bom que fica.
Não adianta fazer um prato de arroz com milhares de coisas, do tipo milho, ervilha, azeitona, presunto, salsicha e o escambau. Se o arroz não for bem temperado, não fica tão bom. Na pressa, às vezes vale o arroz escorrido, cozido em bastante água e sal e que não corre o risco de ficar empapado. Mas o sabor nunca será o mesmo.
Ah, que delícia é preparar um risoto de arroz arbóreo batendo papo, mexendo a colher, jogando vinho na panela e para dentro da goela. Nada se compara àquele arroz que absorve o caldo da galinha, carne ou do camarão, mais vinho, leite ou até mesmo suco de laranja. O arroz absorve tudo e transforma em sabor divino.
O arroz é um vegetal sem sabor, e talvez seja essa a sua melhor qualidade. Por não ter sabor, o arroz dá vida a tudo que se aproxima dele. E ainda tem a vantagem prática de poder ser apreciado como prato único, seja em forma de sushi, risoto italiano, paella, galinhada ou qualquer outro acepipe feito em uma única panela. Mais uma vantagem, são pratos que não sujam muita coisa - e a panela de preparo, se for apresentável, ainda pode ir à mesa..
Fazer um arroz bacana não é difícil, mas é preciso ter paciência e dedicação. Esperar que o arroz absorva o líquido e cozinhe. Essa exigência talvez seja a maior dificuldade em prepará-lo. Um arroz simples e bem feito, só com alho e um fio de óleo, pode ser consumido puro, de tão bom que fica.
Não adianta fazer um prato de arroz com milhares de coisas, do tipo milho, ervilha, azeitona, presunto, salsicha e o escambau. Se o arroz não for bem temperado, não fica tão bom. Na pressa, às vezes vale o arroz escorrido, cozido em bastante água e sal e que não corre o risco de ficar empapado. Mas o sabor nunca será o mesmo.
Ah, que delícia é preparar um risoto de arroz arbóreo batendo papo, mexendo a colher, jogando vinho na panela e para dentro da goela. Nada se compara àquele arroz que absorve o caldo da galinha, carne ou do camarão, mais vinho, leite ou até mesmo suco de laranja. O arroz absorve tudo e transforma em sabor divino.
23.10.04
Parentes
Eu vou me permitir falar em modo bem pessoal. Acabo de vir da festa de casamento de um primo. Festa bonita e bacana. Ainda sob os eflúvios etílicos de duas doses de scotch black label, eu me atrevo a teclar.
A muito custo fui à festa, brigando comigo mesmo. Só mesmo uma pessoa querida para me fazer ir a um casamento. Acho uma coisa batida e manjada, cafona, falsa, acho que não existe mais o "felizes até que a morte os separe". Não gosto de qualquer tipo de festa formal, do tipo formatura, casamento, noivado, etc. Acho tudo um saco. Isso sem contar que o primo estava casando pela segunda vez...
Mas o tempo passa, a gente amadurece. Aquela velha mania adolescente e rebelde de negar a família vai ficando para trás. A festa, mais do que o gosto do convidado, é um momento especial para quem convida. Recebi um abraço caloroso do noivo, que me fez perceber que havia tomado a decisão correta de ir.
Há um tempo, eu tinha o título do filme do italiano Mario Monicelli, "Parente é Serpente", quase como um mantra. Apesar de atualmente me render a um novo modo de pensar, ainda continuo acreditando que "felicidade é ter uma família calorosa e amorosa - a vários quilômetros de distância".
Por outro lado, vejo que o trabalho e as nossas relações profissionais nos obrigam a ter contatos próximos e constantes com colegas de trabalho, clientes, patrões, etc. Pessoas, muitas vezes, com as quais não temos a menor afinidade. E acabamos nos aproximando, seja por contingência ou falta de opção.
Então por que negar que há satisfação em reencontrar parentes? Pessoas com as quais, querendo ou não, temos histórias em comum. Histórias que têm mais verdade em seu interior que muitas de nossas relações mais frequentes. Veja bem , não prego reuniões familiares constantes e interações contínuas. Mas o contato esporádico pode ser bom. Talvez, no máximo, umas três vezes por ano.
E você, o que pensa disso?
Eu vou me permitir falar em modo bem pessoal. Acabo de vir da festa de casamento de um primo. Festa bonita e bacana. Ainda sob os eflúvios etílicos de duas doses de scotch black label, eu me atrevo a teclar.
A muito custo fui à festa, brigando comigo mesmo. Só mesmo uma pessoa querida para me fazer ir a um casamento. Acho uma coisa batida e manjada, cafona, falsa, acho que não existe mais o "felizes até que a morte os separe". Não gosto de qualquer tipo de festa formal, do tipo formatura, casamento, noivado, etc. Acho tudo um saco. Isso sem contar que o primo estava casando pela segunda vez...
Mas o tempo passa, a gente amadurece. Aquela velha mania adolescente e rebelde de negar a família vai ficando para trás. A festa, mais do que o gosto do convidado, é um momento especial para quem convida. Recebi um abraço caloroso do noivo, que me fez perceber que havia tomado a decisão correta de ir.
Há um tempo, eu tinha o título do filme do italiano Mario Monicelli, "Parente é Serpente", quase como um mantra. Apesar de atualmente me render a um novo modo de pensar, ainda continuo acreditando que "felicidade é ter uma família calorosa e amorosa - a vários quilômetros de distância".
Por outro lado, vejo que o trabalho e as nossas relações profissionais nos obrigam a ter contatos próximos e constantes com colegas de trabalho, clientes, patrões, etc. Pessoas, muitas vezes, com as quais não temos a menor afinidade. E acabamos nos aproximando, seja por contingência ou falta de opção.
Então por que negar que há satisfação em reencontrar parentes? Pessoas com as quais, querendo ou não, temos histórias em comum. Histórias que têm mais verdade em seu interior que muitas de nossas relações mais frequentes. Veja bem , não prego reuniões familiares constantes e interações contínuas. Mas o contato esporádico pode ser bom. Talvez, no máximo, umas três vezes por ano.
E você, o que pensa disso?
21.10.04
Astros
A lua mingua e aguarda a chegada da boa nova. Os ímpetos diminuem e esperam conjunções de forças propícias. Há tanto a falar e existem palavras aprisionadas entre os dedos. Existem vivências e imagens claras e duradouras ao mesmo tempo. Os momentos estão em acordo com os movimentos das marés, ao sabor da lua.
As informações são vigorosas, são intensas, são muitas. Elas insistem em reverberar contra a parede de proteção que foi erigida. Há um mundo a construir e há de haver energia. O esforço perdido está novamente se concentrando em impulso. A lua mingua quase em lua nova: aproxima-se do sol para o casamento da emoção com a energia da luz.
Como todo ser iluminado, a lua reflete o dom da luz do sol. Que emana e empreende a luz pelo fogo celeste. Fogo é destruição, mas é luz. O sol traz alegria, mas arde e queima. As luminárias convivem em harmonia, em momentos únicos. A lua se divide em fases, rodando e contornando todas as vias do mundo.
20.10.04
Acalentado
No dia em que eu for rico não terei
mansões, carrões, piscina, apê na Europa:
com brilho e auê meu tipo não se dopa
nem paga aula de assunto que não sei.
Na mesa, porém, quero, como um rei,
jantar com antessopa e sobressopa:
toalha pode ser até de estopa,
mas sopa no meu prato será lei!
Não falo da sopinha trivial
que todo mundo toma no jantar,
tão rala que parece chá com sal:
Refiro-me às que lembro de tomar
no tempo em que a colher, descomunal,
no prato mergulhava, feito um mar...
Glauco Mattoso
No dia em que eu for rico não terei
mansões, carrões, piscina, apê na Europa:
com brilho e auê meu tipo não se dopa
nem paga aula de assunto que não sei.
Na mesa, porém, quero, como um rei,
jantar com antessopa e sobressopa:
toalha pode ser até de estopa,
mas sopa no meu prato será lei!
Não falo da sopinha trivial
que todo mundo toma no jantar,
tão rala que parece chá com sal:
Refiro-me às que lembro de tomar
no tempo em que a colher, descomunal,
no prato mergulhava, feito um mar...
Glauco Mattoso
19.10.04
Família vesus carreira
Em Menina dos Olhos (Jersey Girl, EUA, 2003), após a morte de sua esposa Gertrude (Jennifer Lopez), Ollie Trinke (Ben Affleck), relações públicas de sucesso na área musical, vê sua carreira declinar, pela necessidade de cuidar da filha recém-nascida Gertie. Eles então se mudam de Nova York para Nova Jersey, onde fica a casa do pai de Ollie.
Enquanto ele busca forças para seguir em frente, a garota se adapta ao novo lugar. O filme é dirigido por Kevin Smith (Procura-se Amy) e traz Liv Tyler (Armaggedon) e Jason Biggs (American Pie) no elenco.
O filme inicia em tom de drama, passa pela comédia e finaliza novamente no drama, para retratar a relação de pai e filha. Mostra basicamente ganhos e perdas de abrir mão da carreira profissional para dedicação quase que integral à família. Escrito pelo diretor e inspirado em sua experiência real como pai, o roteiro é convincente e tocante, sem os rotineiros desfechos de vida arrumada, típicos dos filmes americanos. Destaque para a atuação da garotinha Raquel Castro, melhor do que o galã e canastrão Ben Affleck.
Em Menina dos Olhos (Jersey Girl, EUA, 2003), após a morte de sua esposa Gertrude (Jennifer Lopez), Ollie Trinke (Ben Affleck), relações públicas de sucesso na área musical, vê sua carreira declinar, pela necessidade de cuidar da filha recém-nascida Gertie. Eles então se mudam de Nova York para Nova Jersey, onde fica a casa do pai de Ollie.
Enquanto ele busca forças para seguir em frente, a garota se adapta ao novo lugar. O filme é dirigido por Kevin Smith (Procura-se Amy) e traz Liv Tyler (Armaggedon) e Jason Biggs (American Pie) no elenco.
O filme inicia em tom de drama, passa pela comédia e finaliza novamente no drama, para retratar a relação de pai e filha. Mostra basicamente ganhos e perdas de abrir mão da carreira profissional para dedicação quase que integral à família. Escrito pelo diretor e inspirado em sua experiência real como pai, o roteiro é convincente e tocante, sem os rotineiros desfechos de vida arrumada, típicos dos filmes americanos. Destaque para a atuação da garotinha Raquel Castro, melhor do que o galã e canastrão Ben Affleck.
18.10.04
Dança engajada
A grande atração do final de semana foi o III Ateliê de Coreógrafos Brasileiros, que acontece até quarta-feira, dia 20. O Teatro Castro Alves esteve lotado, a preço acessível. Dez reais a inteira e cinco a meia.
No sábado as atrações foram "Construindo Janice", de Kleber Damasco, de Goiás, e "Samba do Crioulo Doido", de Luiz de Abreu, de São Paulo.
"Construindo Janice" é um trabalho sutil e delicado, com bailarinas interagindo com imagens provenientes de um retroprojetor. Isso mesmo, um retroprojetor. Esse é talvez o maior mérito: conseguir proporcionar tantas e belas interações de dança e imagens a partir de um equipamento tão tosco e sem graça. Um desenhista fica traçando linhas e projetando desenhos, à medida que as bailarinas executam os seus movimentos. Um resultado muito agradável de ser visto, ainda que as imagens acabem roubando um pouco da cena, em detrimento da dança.
O "Samba do Crioulo Doido" fez grande sucesso. Dez bailarinos, nove homens e uma mulher, negros e completamente nus, fazem um espetáculo ousado, crítico e quase panfletário sobre a condição do negro na cultura brasileira. Em um cenário de painel de bandeiras brasileiras, os bailarinos começam a se movimentar sob a batida forte de Elza Soares, na música que diz que "a carne mais barata do mercado é a carne negra". No final da primeira coreografia, os bailarinos ficam enfileirados, totalmente iluminados na beira do palco, como em uma vitrine.
Fica patente a crítica ao papel de objeto sexual que os negros exercem. Os bailarinos usam botas prateadas e altíssimas, daquelas utilizadas pelas mulatas e negras sambistas. Imagem marcante e consagrada internacionalmente, pela veiculação do Carnaval carioca nas TVs do mundo.
Em Cabaré da Raça, peça encenada pelo Bando de Teatro Olodum, é utilizado um expediente semelhante: homens negros aparecem nus para enxovalhar a mítica da sexualidade da raça negra.
Na parte final da coreografia, os bailarinos vestem um traje que tem forma e desenho de bandeira brasileira - ou será a bandeira em formato de traje? O público aplaudiu de pé e com animação.
A grande atração do final de semana foi o III Ateliê de Coreógrafos Brasileiros, que acontece até quarta-feira, dia 20. O Teatro Castro Alves esteve lotado, a preço acessível. Dez reais a inteira e cinco a meia.
No sábado as atrações foram "Construindo Janice", de Kleber Damasco, de Goiás, e "Samba do Crioulo Doido", de Luiz de Abreu, de São Paulo.
"Construindo Janice" é um trabalho sutil e delicado, com bailarinas interagindo com imagens provenientes de um retroprojetor. Isso mesmo, um retroprojetor. Esse é talvez o maior mérito: conseguir proporcionar tantas e belas interações de dança e imagens a partir de um equipamento tão tosco e sem graça. Um desenhista fica traçando linhas e projetando desenhos, à medida que as bailarinas executam os seus movimentos. Um resultado muito agradável de ser visto, ainda que as imagens acabem roubando um pouco da cena, em detrimento da dança.
O "Samba do Crioulo Doido" fez grande sucesso. Dez bailarinos, nove homens e uma mulher, negros e completamente nus, fazem um espetáculo ousado, crítico e quase panfletário sobre a condição do negro na cultura brasileira. Em um cenário de painel de bandeiras brasileiras, os bailarinos começam a se movimentar sob a batida forte de Elza Soares, na música que diz que "a carne mais barata do mercado é a carne negra". No final da primeira coreografia, os bailarinos ficam enfileirados, totalmente iluminados na beira do palco, como em uma vitrine.
Fica patente a crítica ao papel de objeto sexual que os negros exercem. Os bailarinos usam botas prateadas e altíssimas, daquelas utilizadas pelas mulatas e negras sambistas. Imagem marcante e consagrada internacionalmente, pela veiculação do Carnaval carioca nas TVs do mundo.
Em Cabaré da Raça, peça encenada pelo Bando de Teatro Olodum, é utilizado um expediente semelhante: homens negros aparecem nus para enxovalhar a mítica da sexualidade da raça negra.
Na parte final da coreografia, os bailarinos vestem um traje que tem forma e desenho de bandeira brasileira - ou será a bandeira em formato de traje? O público aplaudiu de pé e com animação.
17.10.04
Decadência com sensibilidade
Um Minuto de Silêncio é o nome da peça que esteve em cartaz no Teatro Sesc/Senac Pelourinho este final de semana. Encenada pelo grupo cearense Teatro Novo, mostra o encontro de um entregador de remédios com uma ex-prostituta louca e decadente, que ainda aguarda pela chegada do seu príncipe encantado. Ela está prestes a ser despejada, pois o prédio onde mora será implodido. O entregador de remédios pode ser a sua salvação.
Anunciada como uma comédia, a peça ai tomando ares de drama, ao mostrar a dor da prostituta, que de inicio ataca o entregador, aprisionando-o. A veia cômica e escrachada inicial então dá lugar à densidade dramática, à medida que o assédio sexual da prostituta transforma-se em confissão e desabafo. Tudo sob um olhar carinhoso do autor sobre os personagens.
A prostituta vai relembrando o passado e o glamour dos bordéis, com a nostalgia de uma época em que eram frequentados por políticos e pessoas importantes. Ela revela a sua paixão por aquele que lhe prometeu amor eterno, mas desapareceu, o que a fez enlouquecer.
Uma história urbana, doce e pungente, possível em qualquer grande cidade. Texto inspirado em fato vivenciado pelo autor, Aldo Marcozzi. Bom trabalho dos atores Ana Marlene e Thales Valério. Direção interessante, com a inserção de bailarinos e atores locais, em fantasias de Carnaval, que trazem magia e energia à cena.
Pena que a peça é curtinha - uma hora somente. A peça veio a Salvador por intermédio da Caravana Funarte e passa por Feira de Santana, Caruaru e Recife.
Um Minuto de Silêncio é o nome da peça que esteve em cartaz no Teatro Sesc/Senac Pelourinho este final de semana. Encenada pelo grupo cearense Teatro Novo, mostra o encontro de um entregador de remédios com uma ex-prostituta louca e decadente, que ainda aguarda pela chegada do seu príncipe encantado. Ela está prestes a ser despejada, pois o prédio onde mora será implodido. O entregador de remédios pode ser a sua salvação.
Anunciada como uma comédia, a peça ai tomando ares de drama, ao mostrar a dor da prostituta, que de inicio ataca o entregador, aprisionando-o. A veia cômica e escrachada inicial então dá lugar à densidade dramática, à medida que o assédio sexual da prostituta transforma-se em confissão e desabafo. Tudo sob um olhar carinhoso do autor sobre os personagens.
A prostituta vai relembrando o passado e o glamour dos bordéis, com a nostalgia de uma época em que eram frequentados por políticos e pessoas importantes. Ela revela a sua paixão por aquele que lhe prometeu amor eterno, mas desapareceu, o que a fez enlouquecer.
Uma história urbana, doce e pungente, possível em qualquer grande cidade. Texto inspirado em fato vivenciado pelo autor, Aldo Marcozzi. Bom trabalho dos atores Ana Marlene e Thales Valério. Direção interessante, com a inserção de bailarinos e atores locais, em fantasias de Carnaval, que trazem magia e energia à cena.
Pena que a peça é curtinha - uma hora somente. A peça veio a Salvador por intermédio da Caravana Funarte e passa por Feira de Santana, Caruaru e Recife.
13.10.04
Dogma da sacanagem
O festejado diretor dinamarquês Lars von Trier, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes por Dançando no Escuro, agora ataca como produtor de fitas pornográficas. Segundo o site E-pipoca há até mandamentos para a nova modalidade do "Dogma". São eles: emoção e sensualidade prioritárias; roteiro verossímil; proibição de cenas de sexo gratuias em benefício de um incremento sutil do desejo; e a rejeição de toda violência.
O Dogma original causou uma revolução no cinema europeu nos anos 90: foi um movimento de cineastas que pregavam cenários simples, poucos recursos financeiros, poucas e tremulantes câmeras, boas histórias. Cinema simples e eficaz. Trier foi um dos expoentes desse movimento. Foi quem ficou mais famoso e hoje produz filmes com estrelas e recursos de Hollywood, ainda que continuem sendo filmes pouco fáceis para o grande público.
Não deixa de ser interessante ver um diretor tido com "cult" enveredar por uma área tão pouco reconhecida pela qualidade, ainda que de grande poderio financeiro. Enquanto o cinema americano movimenta 30 bilhões de dólares por ano, a indústria pornô (vídeos e DVDs) gira em torno dos 10 bilhões. Não é pouca coisa.
O erotismo sempre foi inspirador das artes plásticas e da literatura. Talvez na indústria do cinema, dominada pelos Estados Unidos, cuja sociedade tem um componente de puritanismo muito forte, haja pouca abordagem de sexualidade nos filmes. É um paradoxo, já que existe uma indústria pornô tão potente, convivendo lado a lado.
Alguns cineastas, uns mais outros menos famosos, já fizeram tentativas de filmes pornôs como obras de arte. Esse parece ser agora o objetivo do dinamarquês. Será que ele consegue? Mais do que uma proposta séria, o novo Dogma parece mais uma jogada de marketing.
O festejado diretor dinamarquês Lars von Trier, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes por Dançando no Escuro, agora ataca como produtor de fitas pornográficas. Segundo o site E-pipoca há até mandamentos para a nova modalidade do "Dogma". São eles: emoção e sensualidade prioritárias; roteiro verossímil; proibição de cenas de sexo gratuias em benefício de um incremento sutil do desejo; e a rejeição de toda violência.
O Dogma original causou uma revolução no cinema europeu nos anos 90: foi um movimento de cineastas que pregavam cenários simples, poucos recursos financeiros, poucas e tremulantes câmeras, boas histórias. Cinema simples e eficaz. Trier foi um dos expoentes desse movimento. Foi quem ficou mais famoso e hoje produz filmes com estrelas e recursos de Hollywood, ainda que continuem sendo filmes pouco fáceis para o grande público.
Não deixa de ser interessante ver um diretor tido com "cult" enveredar por uma área tão pouco reconhecida pela qualidade, ainda que de grande poderio financeiro. Enquanto o cinema americano movimenta 30 bilhões de dólares por ano, a indústria pornô (vídeos e DVDs) gira em torno dos 10 bilhões. Não é pouca coisa.
O erotismo sempre foi inspirador das artes plásticas e da literatura. Talvez na indústria do cinema, dominada pelos Estados Unidos, cuja sociedade tem um componente de puritanismo muito forte, haja pouca abordagem de sexualidade nos filmes. É um paradoxo, já que existe uma indústria pornô tão potente, convivendo lado a lado.
Alguns cineastas, uns mais outros menos famosos, já fizeram tentativas de filmes pornôs como obras de arte. Esse parece ser agora o objetivo do dinamarquês. Será que ele consegue? Mais do que uma proposta séria, o novo Dogma parece mais uma jogada de marketing.
12.10.04
Kill Bill Vol.2
Desta vez, Quentin Tarantino carrega as tintas na carga dramática. As cenas de lutas e violência, mescladas a humor nonsense e quase sempre referencial, continuam presentes, mas dividem o espaço com as lágrimas e os dramas familiares e de relacionamentos. Foi o caminho encontrado por Tarantino, diretor e roteirista, para explicar e fechar a história da Noiva que vai se vingar do ex-noivo, Bill, e de seus seguidores.
Talvez não houvesse mesmo outro jeito para concluir uma história tão amalucada. O Volume 2 é mais real, se é que isso é possível em filme de Tarantino. Os duelos de espada e as artes marciais continuam, mas se perde um pouco daquela mágica da primeira parte, em que as loucuras das lutas em estilo oriental e as músicas que as embalam fazem a delícia da narrativa.
Ainda assim as referências são marcantes. A aproximação rápida da câmera, no estilo dos filmes de kung-fu. A vaidade do mestre chinês e sua longa barba, que provoca risos. O clima de faroeste. As músicas de seriados antigos de TV. Até nos créditos finais, em fontes de estilo antigo, sobre imagens preto-e-branco. Uma salada bem temperada. É esse um dos grandes talentos do cineasta: misturar tantas referências e estilos cinematográficos e conseguir um bom resultado.
Desta vez, Quentin Tarantino carrega as tintas na carga dramática. As cenas de lutas e violência, mescladas a humor nonsense e quase sempre referencial, continuam presentes, mas dividem o espaço com as lágrimas e os dramas familiares e de relacionamentos. Foi o caminho encontrado por Tarantino, diretor e roteirista, para explicar e fechar a história da Noiva que vai se vingar do ex-noivo, Bill, e de seus seguidores.
Talvez não houvesse mesmo outro jeito para concluir uma história tão amalucada. O Volume 2 é mais real, se é que isso é possível em filme de Tarantino. Os duelos de espada e as artes marciais continuam, mas se perde um pouco daquela mágica da primeira parte, em que as loucuras das lutas em estilo oriental e as músicas que as embalam fazem a delícia da narrativa.
Ainda assim as referências são marcantes. A aproximação rápida da câmera, no estilo dos filmes de kung-fu. A vaidade do mestre chinês e sua longa barba, que provoca risos. O clima de faroeste. As músicas de seriados antigos de TV. Até nos créditos finais, em fontes de estilo antigo, sobre imagens preto-e-branco. Uma salada bem temperada. É esse um dos grandes talentos do cineasta: misturar tantas referências e estilos cinematográficos e conseguir um bom resultado.
11.10.04
Jazz e risos
Igual a Tudo na Vida (Anything Else, EUA, 2003), o mais novo trabalho de Woody Allen lançado no Brasil - há outro filme mais recente, produzido em 2004 - , volta a abordar temas que compõem a marca registrada do cineasta: o jazz, a vida em Nova York e personagens neuróticos.
Um escritor iniciante, Jerry Falks (Jason Biggs, de American Pie), tem rotina e percepção de mundo alteradas quando se apaixona por Amanda (Christina Ricci, de Monster, O Oposto do Sexo, A Família Adams), excêntrica e imprevisível. Woody Allen atua como David Dobel, também escritor, judeu e neurótico, que inicia amizade e passa a aconselhar Arthur.
Os momentos musicais são marcantes. A participação da cantora canadense de jazz Diana Krall, ao piano, em uma boate. Billie Hollyday embalando quase todo o filme. Até Stockard Channing ao piano. Para quem não se lembra, ela cantava em Grease, era uma das inimigas de Sandy.
Desta vez, Allen, diretor e roteirista, parece não ver soluções para os conflitos de relacionamentos existentes entre os nova-iorquinos. O melhor seria mesmo sair de lá para tentar a vida em outro lugar, como na pujante Hollywood?
Jason Biggs não convence o suficiente como o jovem e neurótico escritor. A imagem dele ainda está muito associada ao adolescente cabeça-de-vento - e tarado - da comédia American Pie. A escolha do ator foi inclusive alvo de críticas. Já Christina Ricci vem se consagrando em papéis de amalucada.
O humor é ponto forte, conduzido por personagens neuróticos e seus psicanalistas que mais atrapalham do que ajudam, pelo menos na visão do cineasta. Diversão inteligente, diálogos cheios de referências na literatura e música - e de ironias em cima disso. Um das mais divertidos trabalhos de Woody Allen em sua produção recente.
Igual a Tudo na Vida (Anything Else, EUA, 2003), o mais novo trabalho de Woody Allen lançado no Brasil - há outro filme mais recente, produzido em 2004 - , volta a abordar temas que compõem a marca registrada do cineasta: o jazz, a vida em Nova York e personagens neuróticos.
Um escritor iniciante, Jerry Falks (Jason Biggs, de American Pie), tem rotina e percepção de mundo alteradas quando se apaixona por Amanda (Christina Ricci, de Monster, O Oposto do Sexo, A Família Adams), excêntrica e imprevisível. Woody Allen atua como David Dobel, também escritor, judeu e neurótico, que inicia amizade e passa a aconselhar Arthur.
Os momentos musicais são marcantes. A participação da cantora canadense de jazz Diana Krall, ao piano, em uma boate. Billie Hollyday embalando quase todo o filme. Até Stockard Channing ao piano. Para quem não se lembra, ela cantava em Grease, era uma das inimigas de Sandy.
Desta vez, Allen, diretor e roteirista, parece não ver soluções para os conflitos de relacionamentos existentes entre os nova-iorquinos. O melhor seria mesmo sair de lá para tentar a vida em outro lugar, como na pujante Hollywood?
Jason Biggs não convence o suficiente como o jovem e neurótico escritor. A imagem dele ainda está muito associada ao adolescente cabeça-de-vento - e tarado - da comédia American Pie. A escolha do ator foi inclusive alvo de críticas. Já Christina Ricci vem se consagrando em papéis de amalucada.
O humor é ponto forte, conduzido por personagens neuróticos e seus psicanalistas que mais atrapalham do que ajudam, pelo menos na visão do cineasta. Diversão inteligente, diálogos cheios de referências na literatura e música - e de ironias em cima disso. Um das mais divertidos trabalhos de Woody Allen em sua produção recente.
10.10.04
Que vem do mar
Quando o Mercado Municipal de Frutos do Mar, em Salvador, foi inaugurado, houve muita polêmica. Os tradicionais vendedores de peixes e mariscos na Feira de São Joaquim protestaram, e com vontade. Afinal, teriam que pagar altas taxas à Prefeitura para alugar e utilizar os boxes no novo local.
Difícil para os comerciantes, bom para os consumidores. Estacionamento fácil, preços em conta e boa oferta de produtos. Conforto na compra. O ambiente é limpo, com azulejos brancos e azuis. Cada box possui pia.
Outro dia, fiz a festa do mar: badejo, atum, cavala, camarão e polvo. Encontra-se tudo e mais um pouco por lá, a preços bem melhores que nos supermercados.
Alguns boxes estão vazios. É preciso ter volume de vendas para garantir os lucros dos comerciantes. Com o perdão do trocadilho, não é para peixe pequeno.
Sem trocadilho, tinha cada peixão... Tinha atum enorme, gigantesco, com cara de quem veio do alto mar, de lugares distantes, contando histórias de outros mundos. Parecia peixe-espada de filme. Tinha camarão-pistola do tamanho de um palmo. Tinha aratu, siri-mole e lula. Tinha chumbinho e sururu. Tinha cheiro de peixe e tinha maresia que trazia lembrança da praia. As batidas de martelos ecoavam por todos os lados: eram as postas pulando para as mãos dos moquequeiros de plantão.
Quando o Mercado Municipal de Frutos do Mar, em Salvador, foi inaugurado, houve muita polêmica. Os tradicionais vendedores de peixes e mariscos na Feira de São Joaquim protestaram, e com vontade. Afinal, teriam que pagar altas taxas à Prefeitura para alugar e utilizar os boxes no novo local.
Difícil para os comerciantes, bom para os consumidores. Estacionamento fácil, preços em conta e boa oferta de produtos. Conforto na compra. O ambiente é limpo, com azulejos brancos e azuis. Cada box possui pia.
Outro dia, fiz a festa do mar: badejo, atum, cavala, camarão e polvo. Encontra-se tudo e mais um pouco por lá, a preços bem melhores que nos supermercados.
Alguns boxes estão vazios. É preciso ter volume de vendas para garantir os lucros dos comerciantes. Com o perdão do trocadilho, não é para peixe pequeno.
Sem trocadilho, tinha cada peixão... Tinha atum enorme, gigantesco, com cara de quem veio do alto mar, de lugares distantes, contando histórias de outros mundos. Parecia peixe-espada de filme. Tinha camarão-pistola do tamanho de um palmo. Tinha aratu, siri-mole e lula. Tinha chumbinho e sururu. Tinha cheiro de peixe e tinha maresia que trazia lembrança da praia. As batidas de martelos ecoavam por todos os lados: eram as postas pulando para as mãos dos moquequeiros de plantão.
7.10.04
Riqueza
Sinto os tesouros se acumulando para o dia em que poderão ser utilizados. É preciso e precioso juntar as pérolas da existência como se fossem as últimas encontradas no baú do mundo. Tenho que me orgulhar delas. Olhá-las e admirá-las. Elas me pertencem, podem não significar nada para o mundo, mas são as minhas pequenas riquezas. As minhas vestes preciosas, delírios de riqueza e pobreza.
Preciso guardar as pérolas como se fossem relíquias de civilização que ficou sem registro. De um novo mundo que naufragou. As pérolas irão ressurgir como pequenas fontes de luz branca, para conduzem ao caminho adequado. As pérolas serão as estrelas de um céu escuro.
As pérolas se transformarão em palavras, que serão bondosas. As palavras não serão usadas para ferir. As palavras serão utilizadas como forças ocultas que semearão a humanidade. As palavras deverão servir para nutrir as forças da civilização cada vez mais esquecida.
As palavras tomarão forma e serão mais fortes do que o raciocínio lógico. As palavras continuarão contidas nos livros e nos gestos. As palavras serão masculinas e femininas. As palavras vão andar com as suas pernas e braços. Em breve, as palavras saberão o que dizer. Serão como pérolas mais que brilhantes. Serão ofuscantes na qualidade e na beleza.
Sinto os tesouros se acumulando para o dia em que poderão ser utilizados. É preciso e precioso juntar as pérolas da existência como se fossem as últimas encontradas no baú do mundo. Tenho que me orgulhar delas. Olhá-las e admirá-las. Elas me pertencem, podem não significar nada para o mundo, mas são as minhas pequenas riquezas. As minhas vestes preciosas, delírios de riqueza e pobreza.
Preciso guardar as pérolas como se fossem relíquias de civilização que ficou sem registro. De um novo mundo que naufragou. As pérolas irão ressurgir como pequenas fontes de luz branca, para conduzem ao caminho adequado. As pérolas serão as estrelas de um céu escuro.
As pérolas se transformarão em palavras, que serão bondosas. As palavras não serão usadas para ferir. As palavras serão utilizadas como forças ocultas que semearão a humanidade. As palavras deverão servir para nutrir as forças da civilização cada vez mais esquecida.
As palavras tomarão forma e serão mais fortes do que o raciocínio lógico. As palavras continuarão contidas nos livros e nos gestos. As palavras serão masculinas e femininas. As palavras vão andar com as suas pernas e braços. Em breve, as palavras saberão o que dizer. Serão como pérolas mais que brilhantes. Serão ofuscantes na qualidade e na beleza.
6.10.04
Regime
Maioneses, cremes e queijos. Carnes, patês, mousses e recheios cremosos: caiam fora! Get out! O colesterol anda acima do permitido. Volto urgente à alimentação leve que sempre tive. Valham-me alfaces, rúculas, espinafres e todo o exército de vegetais crus. O máximo permitido será um peixinho sem gordura. Vale salmão.
Ai, ai. Ponha menos responsabilidade na comilança, rapaz. O problema foi a falta, por um bom período, de exercícios físicos. O máximo permitido era a digitação no computador e o lento passar de páginas de algum livro - às vezes de gastronomia, pecado maior, que dá fome só de olhar e ler. A bicicleta ergométrica andava esquecida. As caminhadas na agradável praia de Amaralina, impossibilitadas pelas chuvas do inverno. Agora não há mais desculpas.
Os mariscos, as delícias do mar, infelizmente tem colesterol altíssimo. Camarão? É um tirano. Da comida vegetariana, que sempre fui adepto, enjoei do cardápio, depois de tanta utilização.
Também, fui achar de fazer exames justamente na época que estou cozinhando e passando muito tempo em casa. Aí, na hora de fazer a comida, é um toque de creme aqui, manteiga ali, leite de coco acolá. Devia ter deixado para fazer os exames em minha rotina normal, quando almoço pelo menos três vezes por semana em restaurante vegetariano. Oba! Não tinha pensado nisso. O cenário não é tão feio assim. Escrever ajuda a desanuviar as idéias. Volta, camarão, vem correndo para o seu lar: o meu panelão!
Maioneses, cremes e queijos. Carnes, patês, mousses e recheios cremosos: caiam fora! Get out! O colesterol anda acima do permitido. Volto urgente à alimentação leve que sempre tive. Valham-me alfaces, rúculas, espinafres e todo o exército de vegetais crus. O máximo permitido será um peixinho sem gordura. Vale salmão.
Ai, ai. Ponha menos responsabilidade na comilança, rapaz. O problema foi a falta, por um bom período, de exercícios físicos. O máximo permitido era a digitação no computador e o lento passar de páginas de algum livro - às vezes de gastronomia, pecado maior, que dá fome só de olhar e ler. A bicicleta ergométrica andava esquecida. As caminhadas na agradável praia de Amaralina, impossibilitadas pelas chuvas do inverno. Agora não há mais desculpas.
Os mariscos, as delícias do mar, infelizmente tem colesterol altíssimo. Camarão? É um tirano. Da comida vegetariana, que sempre fui adepto, enjoei do cardápio, depois de tanta utilização.
Também, fui achar de fazer exames justamente na época que estou cozinhando e passando muito tempo em casa. Aí, na hora de fazer a comida, é um toque de creme aqui, manteiga ali, leite de coco acolá. Devia ter deixado para fazer os exames em minha rotina normal, quando almoço pelo menos três vezes por semana em restaurante vegetariano. Oba! Não tinha pensado nisso. O cenário não é tão feio assim. Escrever ajuda a desanuviar as idéias. Volta, camarão, vem correndo para o seu lar: o meu panelão!
5.10.04
Fermentando
O Festa dos Sentido tem recebido várias visitas procurando informações sobre o "fermento de Jerusalém" ou a receita do "pão de Padre Marcelo Rossi", que na verdade é um bolo, e muito bom. O post sobre o assunto foi publicado no dia 19.09.
Soube que o Padre Marcelo Rossi disse em entrevista no rádio que não tem nada a ver com o assunto, que não espalhou receita nenhuma. O que já era esperado. Trata-se de mais uma lenda urbana.
O interessante na corrente é o fermento fresco, que deve ser passado de uma pessoa para outra. Segundo o texto explicativo, o original veio de Jerusalém. É replicado com a adição de leite, açúcar e farinha para dar continuidade à corrente. É interessante ver as bolhas que emanam e aumentam o volume do fermento. E não precisa de refrigeração.
Outra coisa interessante na receita é a adição de uma colher de sopa de fermento químico de bolo - composto basicamente de bicarbonato de sódio e outros sais -, quantidade suficiente para fazer um bolo normal, sem o tal fermento do Oriente.
Uma leitora ganhou o fermento e questionou se não azedaria, depois de tanta multiplicação e já que não precisa de refrigeração.
A fermentação natural se processa pela ação de levedura natural e bactérias de ácido lático sobre a farinha. Convivendo harmoniosamente e gerando os gases, os alcoóis e os ácidos que conferem ao pão o gosto e a textura atraente.
Nas origens, antes do fermento comprado em supermercado, a levedura era obtida durante a fermentação de uvas, ou da própria farinha de trigo integral. As informações são de Jeffrey Steingarten, crítico de gastronomia da Vogue, no livro "O Homem que Comeu de Tudo".
Acredito que o fermento "de Jerusalém" não deve esperar muito tempo sem ser usado, pois aí os ácidos e alcoóís formados vão agir demais no sabor, inutilizando a massa. Para se precaver disso, basta confiar no próprio nariz e testar o cheiro, que deverá ser agradável. Caso contrário, o destino é o lixo.
O Festa dos Sentido tem recebido várias visitas procurando informações sobre o "fermento de Jerusalém" ou a receita do "pão de Padre Marcelo Rossi", que na verdade é um bolo, e muito bom. O post sobre o assunto foi publicado no dia 19.09.
Soube que o Padre Marcelo Rossi disse em entrevista no rádio que não tem nada a ver com o assunto, que não espalhou receita nenhuma. O que já era esperado. Trata-se de mais uma lenda urbana.
O interessante na corrente é o fermento fresco, que deve ser passado de uma pessoa para outra. Segundo o texto explicativo, o original veio de Jerusalém. É replicado com a adição de leite, açúcar e farinha para dar continuidade à corrente. É interessante ver as bolhas que emanam e aumentam o volume do fermento. E não precisa de refrigeração.
Outra coisa interessante na receita é a adição de uma colher de sopa de fermento químico de bolo - composto basicamente de bicarbonato de sódio e outros sais -, quantidade suficiente para fazer um bolo normal, sem o tal fermento do Oriente.
Uma leitora ganhou o fermento e questionou se não azedaria, depois de tanta multiplicação e já que não precisa de refrigeração.
A fermentação natural se processa pela ação de levedura natural e bactérias de ácido lático sobre a farinha. Convivendo harmoniosamente e gerando os gases, os alcoóis e os ácidos que conferem ao pão o gosto e a textura atraente.
Nas origens, antes do fermento comprado em supermercado, a levedura era obtida durante a fermentação de uvas, ou da própria farinha de trigo integral. As informações são de Jeffrey Steingarten, crítico de gastronomia da Vogue, no livro "O Homem que Comeu de Tudo".
Acredito que o fermento "de Jerusalém" não deve esperar muito tempo sem ser usado, pois aí os ácidos e alcoóís formados vão agir demais no sabor, inutilizando a massa. Para se precaver disso, basta confiar no próprio nariz e testar o cheiro, que deverá ser agradável. Caso contrário, o destino é o lixo.
4.10.04
Vingança americana
Vi Dogville em DVD. Cento e setenta minutos de filme, quase peça teatral, sem cenários, só com marcações no chão e a eventual entrada de veículos no, digamos, palco. O filme passou no cinema e fui adiando, adiando, sem coragem de enfrentar a longa duração. Em casa, assisti em duas partes. Não consegui ver todo de uma vez.
O diretor Lars von Trier consegue criar um clima bem parecido com Dançando no Escuro, com Bjork. As personagens de Nicole Kidman (Dogville) e Bjork (Dançando no Escuro), que agora me escapam os nomes, são subjulgadas, quase escravizadas, por outras pessoas e não conseguem reagir à violência. O mérito do diretor, nos dois filmes, é criar o clima angustiante, quase insuportável.
O ritmo vagaroso de Dogville possibilita acompanhar as reações e as mudanças de comportamento, em uma velocidade que se aproxima da que acontece na vida real.
Se a proposta era uma crítica incisiva à sociedade americana, como foi divulgado, o filme não atingiu seu objetivo. A escravização de pessoas ou povos fragilizados, não é mérito da sociedade americana. Infelizmente, faz parte da natureza humana, das nações européias colonizadoras às tribos africanas. Atualmente englobando as nações credoras que emprestam dinheiro e cobram juros altíssimos aos países pobres por intermédio do FMI.
A reviravolta em Dogville, no entanto, reitera o comportamento de vingança que faz parte da característica bélica da sociedade americana. Nisso, o cinema de Hollywood está cheio de exemplos, dos filmes policiais aos de guerra, passando por Charles Bronson, Stallone e Schwarzenegger.
Novidade teria sido se fosse incorporada à narrativa uma palavrinha que parece não fazer parte do vocabulário americano: perdão. Mas aí estaria configurada a irrealidade. Talvez a lição do filme seja a de que eles não perdoam nem a si mesmos.
Vi Dogville em DVD. Cento e setenta minutos de filme, quase peça teatral, sem cenários, só com marcações no chão e a eventual entrada de veículos no, digamos, palco. O filme passou no cinema e fui adiando, adiando, sem coragem de enfrentar a longa duração. Em casa, assisti em duas partes. Não consegui ver todo de uma vez.
O diretor Lars von Trier consegue criar um clima bem parecido com Dançando no Escuro, com Bjork. As personagens de Nicole Kidman (Dogville) e Bjork (Dançando no Escuro), que agora me escapam os nomes, são subjulgadas, quase escravizadas, por outras pessoas e não conseguem reagir à violência. O mérito do diretor, nos dois filmes, é criar o clima angustiante, quase insuportável.
O ritmo vagaroso de Dogville possibilita acompanhar as reações e as mudanças de comportamento, em uma velocidade que se aproxima da que acontece na vida real.
Se a proposta era uma crítica incisiva à sociedade americana, como foi divulgado, o filme não atingiu seu objetivo. A escravização de pessoas ou povos fragilizados, não é mérito da sociedade americana. Infelizmente, faz parte da natureza humana, das nações européias colonizadoras às tribos africanas. Atualmente englobando as nações credoras que emprestam dinheiro e cobram juros altíssimos aos países pobres por intermédio do FMI.
A reviravolta em Dogville, no entanto, reitera o comportamento de vingança que faz parte da característica bélica da sociedade americana. Nisso, o cinema de Hollywood está cheio de exemplos, dos filmes policiais aos de guerra, passando por Charles Bronson, Stallone e Schwarzenegger.
Novidade teria sido se fosse incorporada à narrativa uma palavrinha que parece não fazer parte do vocabulário americano: perdão. Mas aí estaria configurada a irrealidade. Talvez a lição do filme seja a de que eles não perdoam nem a si mesmos.
2.10.04
Sobre camarões escondidos e ilhados
Não posso falar pelo resto do país, mas os consumidores baianos parecem estar voltando a consumir em restaurantes à la carte. Mesmo que sejam daqueles que servem só alguns poucos pratos, que ficam semiprontos, em que o consumidor só escolhe os acompanhamentos.
Os restaurantes de refeições fast food estão se proliferando. No shopping Iguatemi, em Salvador, há quatro dessa categoria. Enfileirados, servindo pratos com um certo toque de refinamento. Camarões, filés, frangos, saladas, peixes e massas em diferentes versões.
Os preços não são exorbitantes. Ao menos quando comparados com os dos restaurantes a quilo. As porções são generosas.O preço parece ser um dos motivos por que esses locais de prato-pronto-feito-na-hora estão tendo tanto sucesso.
Não consigo conceber por que certos restaurantes, principalmente vegetarianos, precisam ter o quilo a quase vinte e quatro reais. Ainda que utilizem alguns ingredientes caros ( cogumelos, temperos importados, tofu, etc.) não há justificativa para o preço abusivo. As comidas são feitas de uma vez só, a maior parte dos ingredientes - os vegetais - são mais baratos que as carnes. O resultado é que é possível pedir prato pronto, feito na hora, por preço mais em conta, quando se pensa na quantidade de comida.
Hoje experimentei um escondidinho de camarão, em um dos restaurantes fast food do shopping. Camarões com cebolas, tomates, leite de coco e requeijão cremoso, recoberto por um purê de aipim. Não estava de todo mal, mas não era nenhuma maravilha. Parecia que tinham misturado o camarão aferventado com molho e temperos e jogaram o purê de aipim por cima. O que provavelmente foi feito. Faltava incorporação do sabor ao camarão. Faltava um toque manteiga no purê de aipim.
Em um restaurante sertanejo de Salvador, há um prato chamado "O Sertão vai Virar Mar", que é o camarão ensopado, com leite de coco, rodeado de purê de aipim. A mesma receita do escondidinho, com outra arrumação do prato. O camarão fica no centro, ilhado, esperado para ser salvo por algum garfo providencial.
Há um tempo, a jornalista e mestra Helô Sampaio publicou a receita no jornal A Tarde. Na época ela fazia a coluna Comes e Bebes. Preparei o prato e, modéstia à parte, ficou excepcional. Melhor do que aquele que comi no shopping.
Não posso falar pelo resto do país, mas os consumidores baianos parecem estar voltando a consumir em restaurantes à la carte. Mesmo que sejam daqueles que servem só alguns poucos pratos, que ficam semiprontos, em que o consumidor só escolhe os acompanhamentos.
Os restaurantes de refeições fast food estão se proliferando. No shopping Iguatemi, em Salvador, há quatro dessa categoria. Enfileirados, servindo pratos com um certo toque de refinamento. Camarões, filés, frangos, saladas, peixes e massas em diferentes versões.
Os preços não são exorbitantes. Ao menos quando comparados com os dos restaurantes a quilo. As porções são generosas.O preço parece ser um dos motivos por que esses locais de prato-pronto-feito-na-hora estão tendo tanto sucesso.
Não consigo conceber por que certos restaurantes, principalmente vegetarianos, precisam ter o quilo a quase vinte e quatro reais. Ainda que utilizem alguns ingredientes caros ( cogumelos, temperos importados, tofu, etc.) não há justificativa para o preço abusivo. As comidas são feitas de uma vez só, a maior parte dos ingredientes - os vegetais - são mais baratos que as carnes. O resultado é que é possível pedir prato pronto, feito na hora, por preço mais em conta, quando se pensa na quantidade de comida.
Hoje experimentei um escondidinho de camarão, em um dos restaurantes fast food do shopping. Camarões com cebolas, tomates, leite de coco e requeijão cremoso, recoberto por um purê de aipim. Não estava de todo mal, mas não era nenhuma maravilha. Parecia que tinham misturado o camarão aferventado com molho e temperos e jogaram o purê de aipim por cima. O que provavelmente foi feito. Faltava incorporação do sabor ao camarão. Faltava um toque manteiga no purê de aipim.
Em um restaurante sertanejo de Salvador, há um prato chamado "O Sertão vai Virar Mar", que é o camarão ensopado, com leite de coco, rodeado de purê de aipim. A mesma receita do escondidinho, com outra arrumação do prato. O camarão fica no centro, ilhado, esperado para ser salvo por algum garfo providencial.
Há um tempo, a jornalista e mestra Helô Sampaio publicou a receita no jornal A Tarde. Na época ela fazia a coluna Comes e Bebes. Preparei o prato e, modéstia à parte, ficou excepcional. Melhor do que aquele que comi no shopping.
30.9.04
O trabalho do caruru e vatapá
Em homenagem aos santos gêmeos Cosme e Damião - e ao meu estômago-, resolvi fazer vatapá e caruru, aproveitando alguns quiabos que ganhei de presente. Mesmo quem mora em cidade grande, às vezes, se o santo ajuda, abocanha alguma lembrancinha que vem da zona rural.
Vatapá, eu já tinha feito uma vez. Caruru, nunca. Fui seguindo as instruções do fabuloso "Meu Caderno de Receitas para Todos dos Dias", de Maria Célia Midlej, a fada madrinha da cozinha do Sul da Bahia. Antes de ser dona de buffet, ela dava aula de culinária. Por isso, o livro é simples e bem didático.
Para começar, toca a cortar os quiabos. Que dureza. Primeiro é preciso selecionar os que estão macios e serão utilizados. Para isso, pressiona-se a ponta inferior, mais fina. Se partir o pedaço inteiro, está bom. Se não partir, e em vez disso abrir, é porque o quiabo está duro e fibroso, não serve para cozinhar. Entre os quiabos que havia ganho, nem todos estavam macios, tive que descartar alguns.
Lavei os quiabos e cortei fora as cabeças. Cortei em cruz e fui picando tudo. A epopéia começou aí. Tem que cortar bem pequeno. Meia hora depois, quiabos picotados, pus em um pouco de água com sal e levei a ferver. Enquanto isso, moí os camarões secos e defumados no liquidificador, separando alguns inteiros para colocar na panela. Peneirei e joguei fora o que não passou pela peneira. Para os gatos (em meu caso) ou para o cachorro. A mesma coisa com os amendoins e as castanhas.
Nas receitas dos vatapá e caruru, a única coisa fácil de fazer é quanto aos temperos. Basta jogar cebolas, alhos, tomates e temperos verdes no liquidificador e bater tudo.
Primeira vez no preparo, achei de colocar muita água e sal nos quiabos. Tive que esperar um tempão para a água evaporar. Aí joguei os temperos batidos no liquidificador e previamente refogados em um pouco de óleo. Adicionei camarão, amendoins e castanhas. Deixei cozinhar. Quase pronto, joguei o dendê, deixei a ferver só mais um pouco. Fim da primeira etapa.
Fiz o vatapá com farinha de trigo. Também pode ser usada farinha de mandioca ou pão francês (de sal) embebido (parece bêbado, mas não é!) no leite. Pus a farinha no liquidificador junto com leite de coco e um pouco de leite de vaca, para misturar sem embolar.
Joguei a massa na panela com os temperos e fui mexendo, mexendo, mexendo (a colher de pau, não as cadeiras!), adicionando mais leite para não ficar grosso. No final do cozimento, o toque de cor e sabor: o dendê.
Entre uma coisa e outra, ainda coloquei alguns pedaços de bacalhau para aferventar e tirar o sal. Retirei peles e espinhas, desfiei. O objetivo era misturar no vatapá, mas, atendendo a pedidos, deixei separado. Coloquei um pouco do tempero (o mesmo do vatapá, que serviu para tudo), azeite de oliva e salsa picada. Depois de tudo pronto, ainda preparei o arroz branco.
A brincadeirinha durou mais de duas horas e meia. Ainda acham que comida baiana é simples. Muito pelo contrário. É trabalhosa, refinada e os ingredientes não são baratos - são todos especiais para a ocasião. Não é aquela comida que se faz com "o que tem na geladeira". Mas o resultado compensa.
Se for bem feita, a comida de dendê não é pesada. O problema é que os pratos quase sempre são sobrecarregados de azeite e leite de coco. Procuro usar o mínimo possível. Comida, para estar saborosa, não precisa de muita gordura. Aliás, comida gordurosa está sempre mal-feita, pode reparar. O que dá sabor é o tempero.
Em homenagem aos santos gêmeos Cosme e Damião - e ao meu estômago-, resolvi fazer vatapá e caruru, aproveitando alguns quiabos que ganhei de presente. Mesmo quem mora em cidade grande, às vezes, se o santo ajuda, abocanha alguma lembrancinha que vem da zona rural.
Vatapá, eu já tinha feito uma vez. Caruru, nunca. Fui seguindo as instruções do fabuloso "Meu Caderno de Receitas para Todos dos Dias", de Maria Célia Midlej, a fada madrinha da cozinha do Sul da Bahia. Antes de ser dona de buffet, ela dava aula de culinária. Por isso, o livro é simples e bem didático.
Para começar, toca a cortar os quiabos. Que dureza. Primeiro é preciso selecionar os que estão macios e serão utilizados. Para isso, pressiona-se a ponta inferior, mais fina. Se partir o pedaço inteiro, está bom. Se não partir, e em vez disso abrir, é porque o quiabo está duro e fibroso, não serve para cozinhar. Entre os quiabos que havia ganho, nem todos estavam macios, tive que descartar alguns.
Lavei os quiabos e cortei fora as cabeças. Cortei em cruz e fui picando tudo. A epopéia começou aí. Tem que cortar bem pequeno. Meia hora depois, quiabos picotados, pus em um pouco de água com sal e levei a ferver. Enquanto isso, moí os camarões secos e defumados no liquidificador, separando alguns inteiros para colocar na panela. Peneirei e joguei fora o que não passou pela peneira. Para os gatos (em meu caso) ou para o cachorro. A mesma coisa com os amendoins e as castanhas.
Nas receitas dos vatapá e caruru, a única coisa fácil de fazer é quanto aos temperos. Basta jogar cebolas, alhos, tomates e temperos verdes no liquidificador e bater tudo.
Primeira vez no preparo, achei de colocar muita água e sal nos quiabos. Tive que esperar um tempão para a água evaporar. Aí joguei os temperos batidos no liquidificador e previamente refogados em um pouco de óleo. Adicionei camarão, amendoins e castanhas. Deixei cozinhar. Quase pronto, joguei o dendê, deixei a ferver só mais um pouco. Fim da primeira etapa.
Fiz o vatapá com farinha de trigo. Também pode ser usada farinha de mandioca ou pão francês (de sal) embebido (parece bêbado, mas não é!) no leite. Pus a farinha no liquidificador junto com leite de coco e um pouco de leite de vaca, para misturar sem embolar.
Joguei a massa na panela com os temperos e fui mexendo, mexendo, mexendo (a colher de pau, não as cadeiras!), adicionando mais leite para não ficar grosso. No final do cozimento, o toque de cor e sabor: o dendê.
Entre uma coisa e outra, ainda coloquei alguns pedaços de bacalhau para aferventar e tirar o sal. Retirei peles e espinhas, desfiei. O objetivo era misturar no vatapá, mas, atendendo a pedidos, deixei separado. Coloquei um pouco do tempero (o mesmo do vatapá, que serviu para tudo), azeite de oliva e salsa picada. Depois de tudo pronto, ainda preparei o arroz branco.
A brincadeirinha durou mais de duas horas e meia. Ainda acham que comida baiana é simples. Muito pelo contrário. É trabalhosa, refinada e os ingredientes não são baratos - são todos especiais para a ocasião. Não é aquela comida que se faz com "o que tem na geladeira". Mas o resultado compensa.
Se for bem feita, a comida de dendê não é pesada. O problema é que os pratos quase sempre são sobrecarregados de azeite e leite de coco. Procuro usar o mínimo possível. Comida, para estar saborosa, não precisa de muita gordura. Aliás, comida gordurosa está sempre mal-feita, pode reparar. O que dá sabor é o tempero.