Dia de fazer na-da. Só descansar. Ah, dei um pulo na praia, fiquei um tempo, mas começou a choviscar, puxei o barco embora. Vi um filme em DVD, preparei salada. Mudei a alimentação, voltei a comer muitos vegetais crus. O sistema digestivo anda estranhando. Acho que estava precisando mesmo de uma mudança. Não costumo comer vegetais crus em restaurantes, só em casa. Não arrisco na limpeza das folhas.
Vou passar o réveillon na Praia da Paciência, no Rio Vermelho. O ingresso da festa foi relativamente barato, mas não dará direito sequer a uma garrafa de água mineral. Melhor, não pretendo beber muito, só o mínimo para animar. Este ano os amigos estão espalhados pelo mundo, não vai rolar festa com turma grande.
Enquanto navego na internet e digito este texto, o gato Lilico passeia pela mesa do computador, pelo teclado e pelo meu colo. Sempre ronronando, parece que tem um motorzinho ligado na barriga.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
30.12.06
28.12.06
No Natal
De volta a Salvador, depois do Natal recheado de confraternizações e reuniões de amigos e familiares em Ilhéus.
A noite de Natal acorreu na bela casa, animada por aquela brincadeira do amigo ladrão, em que um pode pegar o presente do outro. É sempre muito divertido. Isto é, quando as pessoas levam na esportiva e não se apegam aos presentes. Desta vez o “mimo” mais engraçado foi um sapinho de pelúcia. A pessoa que o tirou da embalagem deu um grito e jogou sapo longe: “Uuuuuuuaaaaai, um sapo!!!”. Deu para perceber que ela detesta sapos.
Na mesa do jantar, grande variedade carnes: os tradicionais peru, tender, lombo de porco e pernil de carneiro. Para acompanhar, arroz selvagem com amêndoas, arroz com grãos diversos, salada de frango defumado, farofa de manteiga, torta de palmito. Antes do jantar, os deliciosos pãezinhos baianos de queijo (o petisco é uma glória da cozinha regional, que um dia vai tomar o país de assalto) ficavam à disposição para serem acompanhados com patê de frango, patê de queijo com geléia, além de uma conserva de berinjela com passas e castanhas, que estava de comer de joelhos.
Uma prima que reside em Salvador levou para o Natal um rapaz austríaco de 16 anos que está hospedado na casa dela, fazendo intercâmbio de inglês durante um mês. Como assim? No Brasil? É que o filho dela, da mesma faixa etária, também estuda inglês e é com ele que o austríaco conversa.. De quebra o estrangeiro ainda conhece a cultura do país tropical. Apesar da pouca idade, o austríaco, cuja língua natal é o alemão, já esteve na Inglaterra e na Turquia, fazendo intercâmbio nos mesmos moldes.
Aproveitei para praticar inglês, que anda meio enferrujado. De vez em quando alguma palavra em francês queria escapar, mas era contida. E lá fui eu tentar explicar para o austríaco os pratos servidos. As carnes são conhecidas, ok, sem problemas. Mas como explicar que é farofa de manteiga? E uma torta de palmito? Essas jóias da cozinha nacional – e somente daqui! -, presentes de norte a sul do país.
A torta virou “a dish made of a brazilian vegetable”. A farofa foi impossível. Não tive nenhuma presença de espírito na hora. O vocabulário sumiu. Como explicar que é feita de uma farinha retirada de um tubérculo em forma de raiz, que só é encontrada no Brasil e na África? E ainda fazer isso depois de ter tomado várias taças de um ótimo espumante argentino? Tarefa impossível.
O gringo preferiu não arriscar naquela areia e se concentrou nas carnes, vegetais e frutas, essas coisas mais familiares e menos exóticas.
A noite de Natal acorreu na bela casa, animada por aquela brincadeira do amigo ladrão, em que um pode pegar o presente do outro. É sempre muito divertido. Isto é, quando as pessoas levam na esportiva e não se apegam aos presentes. Desta vez o “mimo” mais engraçado foi um sapinho de pelúcia. A pessoa que o tirou da embalagem deu um grito e jogou sapo longe: “Uuuuuuuaaaaai, um sapo!!!”. Deu para perceber que ela detesta sapos.
Na mesa do jantar, grande variedade carnes: os tradicionais peru, tender, lombo de porco e pernil de carneiro. Para acompanhar, arroz selvagem com amêndoas, arroz com grãos diversos, salada de frango defumado, farofa de manteiga, torta de palmito. Antes do jantar, os deliciosos pãezinhos baianos de queijo (o petisco é uma glória da cozinha regional, que um dia vai tomar o país de assalto) ficavam à disposição para serem acompanhados com patê de frango, patê de queijo com geléia, além de uma conserva de berinjela com passas e castanhas, que estava de comer de joelhos.
Uma prima que reside em Salvador levou para o Natal um rapaz austríaco de 16 anos que está hospedado na casa dela, fazendo intercâmbio de inglês durante um mês. Como assim? No Brasil? É que o filho dela, da mesma faixa etária, também estuda inglês e é com ele que o austríaco conversa.. De quebra o estrangeiro ainda conhece a cultura do país tropical. Apesar da pouca idade, o austríaco, cuja língua natal é o alemão, já esteve na Inglaterra e na Turquia, fazendo intercâmbio nos mesmos moldes.
Aproveitei para praticar inglês, que anda meio enferrujado. De vez em quando alguma palavra em francês queria escapar, mas era contida. E lá fui eu tentar explicar para o austríaco os pratos servidos. As carnes são conhecidas, ok, sem problemas. Mas como explicar que é farofa de manteiga? E uma torta de palmito? Essas jóias da cozinha nacional – e somente daqui! -, presentes de norte a sul do país.
A torta virou “a dish made of a brazilian vegetable”. A farofa foi impossível. Não tive nenhuma presença de espírito na hora. O vocabulário sumiu. Como explicar que é feita de uma farinha retirada de um tubérculo em forma de raiz, que só é encontrada no Brasil e na África? E ainda fazer isso depois de ter tomado várias taças de um ótimo espumante argentino? Tarefa impossível.
O gringo preferiu não arriscar naquela areia e se concentrou nas carnes, vegetais e frutas, essas coisas mais familiares e menos exóticas.
23.12.06
Natal
O Natal tem gosto de saudade. Pelo menos para mim, que tenho a nostalgia impregnada na pele, apesar do disfarce, nem sempre convincente, de racionalidade. A lua no ascendente entrega o jogo. A lua está em signo de ar, mental, mas brilha minguante em conjunção no ascendente, em direção ao sol. A lua está junto de mercúrio, sempre querendo conversar e desabafar. Eles são amigos e confidentes.
Sinto saudade do meu pai, da minha avó, do meu avô. Sinto falta deles. Mas o Natal é tempo de celebrar a vida. De todos, presentes ou ausentes. Festejar aqueles que chegaram antes, aqueles que sempre estiveram presentes, aqueles que foram verdadeiros presentes. Festejar com os que chegaram na hora, com os que chegaram depois, com os que ainda virão. Com aqueles que já estão e que chegarão mais perto. Com aqueles que vão trazer e vão levar de volta alegria.
Feliz Natal - Merry Christmas - Joyeux Noël!
Sinto saudade do meu pai, da minha avó, do meu avô. Sinto falta deles. Mas o Natal é tempo de celebrar a vida. De todos, presentes ou ausentes. Festejar aqueles que chegaram antes, aqueles que sempre estiveram presentes, aqueles que foram verdadeiros presentes. Festejar com os que chegaram na hora, com os que chegaram depois, com os que ainda virão. Com aqueles que já estão e que chegarão mais perto. Com aqueles que vão trazer e vão levar de volta alegria.
Feliz Natal - Merry Christmas - Joyeux Noël!
17.12.06
Crazy. I’m crazy for feelings.
C.R.A.Z.Y- Loucos de Amor é um filme canadense. Do Québec, falado em francês. Foi o representante canadense do Oscar estrangeiro em 2005. Eu tinha visto em DVD, em cópia que consegui de alguém que baixou da internet. Versão sem legendas, não deu para entender quase nada das falas. Só deu para sentir e apreciar. Hoje vi no cinema, na Sala do Museu. A percepção foi bem mais profunda.
C.R.A.Z.Y é um dos filmes mais bacanas dos últimos tempos. Bem feito, tudo está no lugar correto, das sequências previsíveis aos delírios. Imagens primorosas, direção de arte de encher os olhos. Imagens belas e inusitadas. Figurinos, cenários, maquiagem. Personagens e cenários refletidos em óculos ray-ban, em retrovisores, em vidraças. Espelhos estão em toda a parte, até em frente da pia da cozinha. É um filme que celebra a beleza, mesmo quando não parece ser essa a intenção.
E o prato principal é a trilha sonora do filme. C.R.A.Z.Y. tem música de qualidade. Música que envolve e que quase tele-transporta para as décadas de sessenta, setenta e início dos anos oitenta. Pink Floyd, David Bowie, Rolling Stones e vários outros. De dar inveja às melhores produções americanas.
Zac nasceu no dia 25 de dezembro. A cada ano, no Natal, ele tem que comemorar o seu aniversário junto com a festa em família, com seus pais e os outros quatro irmãos homens. Ele é o número quatro entre os cinco rapazes. Sua mãe acredita que, pela data de aniversário e pelas dificuldades do parto, ele tem poderes especiais de cura. O seu pai lhe direciona um carinho especial e projeta nele várias de suas expectativas. O pai é um tipo atencioso que gosta de cantar músicas do francês Charles Aznavour nas comemorações familiares.
Só que, à medida que a sua sexualidade é depertada, Zac percebe que sente atração por outros rapazes. Está criado o vendaval de emoções alimentado pela culpa – ampliada pela religião católica - e pelo temor de desagradar os pais.
Talvez o ponto mais intenso e interessante do filme seja abordar a dificuldade de trilhar um caminho indesejado pela família, principalmente quando se tem um bom relacionamento com os pais. Ou seja, como é difícil fazer rupturas quando o que mais se deseja é agradar pessoas. Não que o outro caso seja pouco difícil, mas o diretor Jean-Marc Vallée, que também é co-autor do roteiro, mostra uma visão diferente daquela que seria esperada - talvez pelo senso comum e, quem sabe até, pelos psicólogos. Passa distante daquele chavão que todo gay teve um pai ausente e uma mãe dominadora. O filme quer mostrar que a definição da sexualidade vai muito além dos lugares-comuns.
C.R.A.Z.Y. é o nome formado pelas iniciais dos nomes dos cinco irmãos. Crazy é a música que ecoa em vários instantes da narrativa: “Crazy, I’m crazy for feelings...”. A canção é entoada pela cantora cantora favorita do pai de Zac. O irmão mais velho de Zac é louco dependente de drogas e traficante. Zac é jovem durante os loucos anos sessenta e setenta. Zac é “louco” por ter trilhado um caminho diferente.
C.R.A.Z.Y. deve ser visto mais de uma vez. E no cinema. Só a sala escura produz a verdadeira magia do envolvimento pela música e pelas imagens dos filmes.
C.R.A.Z.Y é um dos filmes mais bacanas dos últimos tempos. Bem feito, tudo está no lugar correto, das sequências previsíveis aos delírios. Imagens primorosas, direção de arte de encher os olhos. Imagens belas e inusitadas. Figurinos, cenários, maquiagem. Personagens e cenários refletidos em óculos ray-ban, em retrovisores, em vidraças. Espelhos estão em toda a parte, até em frente da pia da cozinha. É um filme que celebra a beleza, mesmo quando não parece ser essa a intenção.
E o prato principal é a trilha sonora do filme. C.R.A.Z.Y. tem música de qualidade. Música que envolve e que quase tele-transporta para as décadas de sessenta, setenta e início dos anos oitenta. Pink Floyd, David Bowie, Rolling Stones e vários outros. De dar inveja às melhores produções americanas.
Zac nasceu no dia 25 de dezembro. A cada ano, no Natal, ele tem que comemorar o seu aniversário junto com a festa em família, com seus pais e os outros quatro irmãos homens. Ele é o número quatro entre os cinco rapazes. Sua mãe acredita que, pela data de aniversário e pelas dificuldades do parto, ele tem poderes especiais de cura. O seu pai lhe direciona um carinho especial e projeta nele várias de suas expectativas. O pai é um tipo atencioso que gosta de cantar músicas do francês Charles Aznavour nas comemorações familiares.
Só que, à medida que a sua sexualidade é depertada, Zac percebe que sente atração por outros rapazes. Está criado o vendaval de emoções alimentado pela culpa – ampliada pela religião católica - e pelo temor de desagradar os pais.
Talvez o ponto mais intenso e interessante do filme seja abordar a dificuldade de trilhar um caminho indesejado pela família, principalmente quando se tem um bom relacionamento com os pais. Ou seja, como é difícil fazer rupturas quando o que mais se deseja é agradar pessoas. Não que o outro caso seja pouco difícil, mas o diretor Jean-Marc Vallée, que também é co-autor do roteiro, mostra uma visão diferente daquela que seria esperada - talvez pelo senso comum e, quem sabe até, pelos psicólogos. Passa distante daquele chavão que todo gay teve um pai ausente e uma mãe dominadora. O filme quer mostrar que a definição da sexualidade vai muito além dos lugares-comuns.
C.R.A.Z.Y. é o nome formado pelas iniciais dos nomes dos cinco irmãos. Crazy é a música que ecoa em vários instantes da narrativa: “Crazy, I’m crazy for feelings...”. A canção é entoada pela cantora cantora favorita do pai de Zac. O irmão mais velho de Zac é louco dependente de drogas e traficante. Zac é jovem durante os loucos anos sessenta e setenta. Zac é “louco” por ter trilhado um caminho diferente.
C.R.A.Z.Y. deve ser visto mais de uma vez. E no cinema. Só a sala escura produz a verdadeira magia do envolvimento pela música e pelas imagens dos filmes.
9.12.06
Calendário de festas
Um computador atacado por vírus e preocupações martelando na cabeça fazem o blog andar devagar. Acontece muita coisa, mas não dá tempo – ou sobra energia – para registrar. Não tem outro jeito, é preciso separar um tempo para escrever, pensar, gastar energia para estabelecer o raciocínio. Não tem mágica. Eu particularmente preciso ter a cabeça tranquila para raciocinar. Nunca fui daquele tipo de pessoa que tem dez mil atividades. Nunca fui e acho que nunca serei. Preciso ter a energia que o tempo livre me traz.
Para ter um pouco mais de conforto, hoje em dia abdico de vários compromissos sociais, festas e outras atividades culturais e de lazer. Muito do meu lazer consiste e ficar em casa, navegar na internet, ler, estudar um pouco de francês.
Mas a gente sempre acha uma brechinha.
Ontem, sexta-feira foi o dia de Nossa Senhora da Conceição Imaculada, padroeira de Salvador. Festa da Conceição da Praia. Missa non-stop na Basílica da Conceição da Praia, no Comércio, a partir das seis da manhã. Festas espalhadas pela cidade. O calendário de verão da cidade está oficialmente aberto. Mauricinhos, patricinhas, “gente bonita”, fazem as suas festas fechadas com inúmeras atrações musicais da cidade. O povão se diverte é na rua, nas proximidades da igreja, sem precisar pagar nada (além da bebida, é claro) nem vestir camisa para ficar igual a todo mundo. Não estive lá para conferir. Estava me restabelecendo da véspera.
Na quinta-feira, aniversário de uma amiga que comemorou 40 anos com grande festa. No salão nobre de um grande clube da cidade. Fantástico. Tomei espumante importado a noite inteeeira. Perdi as contas de quantas taças. Não dava nem para contar, pois mal o líquido baixava, o garçom vinha repor. A cerveja ficou esquecida. Nesse calor de verão, passo longe do uísque.
O bufê tinha um filé de salmão enorme, cortado em fatias finas como carpaccio. Os cortes devem ter sido feitos com o peixe ainda congelado. É o único modo conseguir aquele resultado. As pessoas se serviam das fatias e colocavam um molho escuro, que parecia ter shoyu entre os ingredientes, mas tinha um leve sabor adocicado de fundo. Molho doce e salgado. Uma coi-sa. Repeti e até hoje lembro com saudade. Havia anéis de lula (em um ótimo tempero com alecrim e pimenta-rosa), mexilhões, queijos inteiros, salada de grão-de-bico, conservas de pimentão, batatinha, berinjela e pepino com iogurte.
O prato principal foi um “picadinho tailandês”, bem interessante, que evocava um leve sabor de coco quimado. A carne era acompanhada de arroz de coco e uma pimenta dedo-de-moça decorativa, que poderia fazer parte do sabor, caso o convidado tivesse atrevimento. Mordi a ponta da pimenta, deu para suportar, mas não fui até o final.
O salão estava tão bacana que havia até lounge. Duas camas para quem quisesse relaxar.
Havia uma pista de dança com DJ. O povo ficou ainda mais animado com os óculos e perucas que foram distribuídos. O tema da festa tinha algo a ver com bonecas. Na parede da pista de dança havia uma montagem de várias bonecas tipo Barbie pintadas de dourado, em posições engraçadas, dentro e fora de bandejas em formato de coração.
Em uma iniciativa bacana, a aniversarante havia pedido aos convidados que levassem brinquedos, que seriam doados para o Natal de crianças carentes.
Dancei até as pernas doerem.
Na segunda-feira anterior fui a um fantástico caruru de Santa Bárbara, promovido por uma ONG de Salvador, que realiza um belo trabalho com adolescentes. Uma camisa criada por um artista era foi o ingresso para entrar no restaurante. Lá dentro, um tabuleiro de baiana com acarajé e abará à vontade. Outra mesa enorme com panelas de barro e uma imensa variedade de pratos. Além dos tradicionais caruru, vatapá e xinxim de galinha, havia rapadura, inhame, abóbora. Milho e feijão de todas as cores. Um grupo de samba animava a noite.
De repente, a chuva caiu. Veio forte e rapidinho foi embora. Como se fosse para avisar que ela estava ali por perto. Iansã, Oyá, ops, Santa Bárbara. Deusa dos raios e trovões.
Para ter um pouco mais de conforto, hoje em dia abdico de vários compromissos sociais, festas e outras atividades culturais e de lazer. Muito do meu lazer consiste e ficar em casa, navegar na internet, ler, estudar um pouco de francês.
Mas a gente sempre acha uma brechinha.
Ontem, sexta-feira foi o dia de Nossa Senhora da Conceição Imaculada, padroeira de Salvador. Festa da Conceição da Praia. Missa non-stop na Basílica da Conceição da Praia, no Comércio, a partir das seis da manhã. Festas espalhadas pela cidade. O calendário de verão da cidade está oficialmente aberto. Mauricinhos, patricinhas, “gente bonita”, fazem as suas festas fechadas com inúmeras atrações musicais da cidade. O povão se diverte é na rua, nas proximidades da igreja, sem precisar pagar nada (além da bebida, é claro) nem vestir camisa para ficar igual a todo mundo. Não estive lá para conferir. Estava me restabelecendo da véspera.
Na quinta-feira, aniversário de uma amiga que comemorou 40 anos com grande festa. No salão nobre de um grande clube da cidade. Fantástico. Tomei espumante importado a noite inteeeira. Perdi as contas de quantas taças. Não dava nem para contar, pois mal o líquido baixava, o garçom vinha repor. A cerveja ficou esquecida. Nesse calor de verão, passo longe do uísque.
O bufê tinha um filé de salmão enorme, cortado em fatias finas como carpaccio. Os cortes devem ter sido feitos com o peixe ainda congelado. É o único modo conseguir aquele resultado. As pessoas se serviam das fatias e colocavam um molho escuro, que parecia ter shoyu entre os ingredientes, mas tinha um leve sabor adocicado de fundo. Molho doce e salgado. Uma coi-sa. Repeti e até hoje lembro com saudade. Havia anéis de lula (em um ótimo tempero com alecrim e pimenta-rosa), mexilhões, queijos inteiros, salada de grão-de-bico, conservas de pimentão, batatinha, berinjela e pepino com iogurte.
O prato principal foi um “picadinho tailandês”, bem interessante, que evocava um leve sabor de coco quimado. A carne era acompanhada de arroz de coco e uma pimenta dedo-de-moça decorativa, que poderia fazer parte do sabor, caso o convidado tivesse atrevimento. Mordi a ponta da pimenta, deu para suportar, mas não fui até o final.
O salão estava tão bacana que havia até lounge. Duas camas para quem quisesse relaxar.
Havia uma pista de dança com DJ. O povo ficou ainda mais animado com os óculos e perucas que foram distribuídos. O tema da festa tinha algo a ver com bonecas. Na parede da pista de dança havia uma montagem de várias bonecas tipo Barbie pintadas de dourado, em posições engraçadas, dentro e fora de bandejas em formato de coração.
Em uma iniciativa bacana, a aniversarante havia pedido aos convidados que levassem brinquedos, que seriam doados para o Natal de crianças carentes.
Dancei até as pernas doerem.
Na segunda-feira anterior fui a um fantástico caruru de Santa Bárbara, promovido por uma ONG de Salvador, que realiza um belo trabalho com adolescentes. Uma camisa criada por um artista era foi o ingresso para entrar no restaurante. Lá dentro, um tabuleiro de baiana com acarajé e abará à vontade. Outra mesa enorme com panelas de barro e uma imensa variedade de pratos. Além dos tradicionais caruru, vatapá e xinxim de galinha, havia rapadura, inhame, abóbora. Milho e feijão de todas as cores. Um grupo de samba animava a noite.
De repente, a chuva caiu. Veio forte e rapidinho foi embora. Como se fosse para avisar que ela estava ali por perto. Iansã, Oyá, ops, Santa Bárbara. Deusa dos raios e trovões.
1.12.06
Oyá é a única que pode agarrar os chifres do búfalo
Oyá doma os raios e os búfalos. Oyá se cobre com a manta feita de couro de búfalo e segue disfarçada, apontando os chifres pela mata. Oyá é danada. Vai em frente, guerreando, lutando pela sua vida, pelos seus filhos.Oyá é filha de Marte. Quem tem proteção de Oyá segue para frente na vida. Abre caminhos e fecha fronteiras. Quem tem Oyá de proteção segue pela vida sem medo de errar e fazer de novo.
Oyá usa chifres e chicotes para conseguir as suas certezas. Oyá brilha no céu, entre os raios que nascem das nuvens escuras e ameaçadoras. Oyá surge brilhante na noite. Oyá guarda um monte de segredos. Só ela conversa com o mundo invisível.
Chifres grandes e imponentes, cor preta misteriosa, o búfalo ameaça os inimigos. Mas o búfalo é manso. É domesticável e trabalhador. Oyá se aproveita, mata o búfalo e toma os chifres para si. Pele e cornos se transformam em armas de guerra.
Oyá é cheia de surpresas. O que Oyá anda a nos reservar?
Oyá usa chifres e chicotes para conseguir as suas certezas. Oyá brilha no céu, entre os raios que nascem das nuvens escuras e ameaçadoras. Oyá surge brilhante na noite. Oyá guarda um monte de segredos. Só ela conversa com o mundo invisível.
Chifres grandes e imponentes, cor preta misteriosa, o búfalo ameaça os inimigos. Mas o búfalo é manso. É domesticável e trabalhador. Oyá se aproveita, mata o búfalo e toma os chifres para si. Pele e cornos se transformam em armas de guerra.
Oyá é cheia de surpresas. O que Oyá anda a nos reservar?
19.11.06
Os dias
O acesso à internet, lá onde trabalho, ficou ainda mais restrito. Nada de bate-papo, Orkut, etc. Até aí tudo bem. Mas agora até os pobres blogs têm restrição. Ou seja, impossível acessar o Festa dos Sentidos durante algum intervalo rápido de trabalho. Um saco.
Ando gastando os neurônios na elaboração de outras palavras e o resultado é que o blog anda sem combustível. Mas isso não significa que acabou. É só uma fase em que outras linhas estão com prioridade.
Conheci esta semana uma québecoise. Para quem não sabe, é a pessoa nativa da província do Québec, no Canadá. Fui apresentado a ela pela minha professora de francês, que também é canandense. Foi ótimo poder passar quase duas horas de aulas conversando em francês. Sim, já consigo entender boa parte dos diálogos e consigo me expressar em frases simples.
A canadense mora em Montréal e veio a Salvador fazer uma visita técnica em projetos sociais desenvolvidos aqui na cidade. Ela tem somente 26 e tem aparência de mais jovem. Ela trabalha com intercâmbio de jovens canadenses que vão para outros países para passar um tempo, ter experiência cultural e trabalhar em atividades sociais ligadas a comunidades carentes. Os jovens de países ricos precisam deste tipo de vivência para ampliar a sua visão de mundo. Interessante.
Como o brasileiro convive bem próximo da pobreza, não faz tanto sentido viajar para trabalhar em projetos sociais. Aqui ocorre uma coisa mais perversa. O jovem de classe média ou alta, via de regra, fecha os olhos para os seus vizinhos pobres, que estão por todos os lados. Nas sinaleiras, nas invasões, nas calçadas pedindo esmolas, na favela da rua ao lado. Os jovens colocam vendas nos olhos e se concentram na dura sobrevivência de terminar os estudos, fazer faculdade e se arriscar no mercado de trabalho, cada vez mais restrito e difícil
Isso vai perversamente fazendo com que as pessoas isolem mentalmente da realidade. Seria um instinto de auto-proteção?
Outro dia passou uma reportagem bizarra no Fantástico. No calçadão de uma praia do Rio de Janeiro, havia um mendigo embalado em um cobertor (talvez uma lona preta, não lembro bem). As pessoas passavam, tiravam fotos da paisagem perto dali – era uma bela praia, próxima de uma grande pedra. Só que a “embalagem” não era um mendigo. Era um cadáver. O homem estava morto e ninguém se dava conta. Posavam para fotos, bem ao lado.
Trata-se de cegueira coletiva ou a imagem de uma pessoa enrolada e caída na rua virou lugar-comum em nossas calçadas? Tristes trópicos.
Ando gastando os neurônios na elaboração de outras palavras e o resultado é que o blog anda sem combustível. Mas isso não significa que acabou. É só uma fase em que outras linhas estão com prioridade.
Conheci esta semana uma québecoise. Para quem não sabe, é a pessoa nativa da província do Québec, no Canadá. Fui apresentado a ela pela minha professora de francês, que também é canandense. Foi ótimo poder passar quase duas horas de aulas conversando em francês. Sim, já consigo entender boa parte dos diálogos e consigo me expressar em frases simples.
A canadense mora em Montréal e veio a Salvador fazer uma visita técnica em projetos sociais desenvolvidos aqui na cidade. Ela tem somente 26 e tem aparência de mais jovem. Ela trabalha com intercâmbio de jovens canadenses que vão para outros países para passar um tempo, ter experiência cultural e trabalhar em atividades sociais ligadas a comunidades carentes. Os jovens de países ricos precisam deste tipo de vivência para ampliar a sua visão de mundo. Interessante.
Como o brasileiro convive bem próximo da pobreza, não faz tanto sentido viajar para trabalhar em projetos sociais. Aqui ocorre uma coisa mais perversa. O jovem de classe média ou alta, via de regra, fecha os olhos para os seus vizinhos pobres, que estão por todos os lados. Nas sinaleiras, nas invasões, nas calçadas pedindo esmolas, na favela da rua ao lado. Os jovens colocam vendas nos olhos e se concentram na dura sobrevivência de terminar os estudos, fazer faculdade e se arriscar no mercado de trabalho, cada vez mais restrito e difícil
Isso vai perversamente fazendo com que as pessoas isolem mentalmente da realidade. Seria um instinto de auto-proteção?
Outro dia passou uma reportagem bizarra no Fantástico. No calçadão de uma praia do Rio de Janeiro, havia um mendigo embalado em um cobertor (talvez uma lona preta, não lembro bem). As pessoas passavam, tiravam fotos da paisagem perto dali – era uma bela praia, próxima de uma grande pedra. Só que a “embalagem” não era um mendigo. Era um cadáver. O homem estava morto e ninguém se dava conta. Posavam para fotos, bem ao lado.
Trata-se de cegueira coletiva ou a imagem de uma pessoa enrolada e caída na rua virou lugar-comum em nossas calçadas? Tristes trópicos.
12.11.06
Novidades gastronômicas
O suplemento Veja Salvador, em sua edição 2006/2007, chegou às casas e bancas. Dá para notar, a cada ano, que as opções de bares e restaurantes se ampliam em Salvador. Todo ano faço uma lista do que há para conferir. Desta vez, a relação está maior. Muita coisa abriu na cidade desde o final de 2005. Há várias novas opções de bares, restaurantes e até casa de shows. Fica visível que os empresários baianos e de fora estão investindo pesado na área de alimentação e diversão.
De algumas das novas opções eu já tinha visto ou ouvido falar. Mas o guia Veja Salvador traz coisas que eu nem imaginava. Resta separar grana e espaço no estômago. E malhar para perder os acúmulos.
De algumas das novas opções eu já tinha visto ou ouvido falar. Mas o guia Veja Salvador traz coisas que eu nem imaginava. Resta separar grana e espaço no estômago. E malhar para perder os acúmulos.
7.11.06
Volver
Tive o prazer e o privilégio de ver a pré-estréia de Volver, de Almodóvar, em sessão para jornalistas. Penelope Cruz deslumbrante no papel de Raimunda, uma mulher batalhadora e geniosa. É o melhor papel dela, até hoje. Um trabalho de uma magnitude que não foi possível antes em Hollywood. Ela está bem mais solta na fala e nos gestos. Tem-se a impressão de que ela precisou voltar à sua língua original para brilhar intensamente.
O tema do filme é a teia de relações entre as mulheres, sejam elas amigas ou parentes. Almodóvar parece querer provar que as mulheres estão próximas da auto-suficiência emocional. Ou, pelo menos, diluem as carências nas relações de amizade. Situação diferente de Fale com Ela, que mostrava a dependência feminina nas mãos de homens sensíveis.
O roteiro do filme é fantástico. Além do talento de diretor, Almodóvar tem a capacidade de escrever histórias fabulosas e envolventes. Muito talento em uma pessoa só. Ele continua transgressor. Em Volver, a família de Raimunda (mãe, irmã e filha) tem trajetória pouco convencional.
Maravilha. Mas eu continuo sentindo falta, nas últimas produções, daquele humor escrachado de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Kika, De Salto Alto. Mas acho que o diretor não retorna mais a este ponto. A sua carreira tomou outro rumo. É pura nostalgia minha.
O tema do filme é a teia de relações entre as mulheres, sejam elas amigas ou parentes. Almodóvar parece querer provar que as mulheres estão próximas da auto-suficiência emocional. Ou, pelo menos, diluem as carências nas relações de amizade. Situação diferente de Fale com Ela, que mostrava a dependência feminina nas mãos de homens sensíveis.
O roteiro do filme é fantástico. Além do talento de diretor, Almodóvar tem a capacidade de escrever histórias fabulosas e envolventes. Muito talento em uma pessoa só. Ele continua transgressor. Em Volver, a família de Raimunda (mãe, irmã e filha) tem trajetória pouco convencional.
Maravilha. Mas eu continuo sentindo falta, nas últimas produções, daquele humor escrachado de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Kika, De Salto Alto. Mas acho que o diretor não retorna mais a este ponto. A sua carreira tomou outro rumo. É pura nostalgia minha.
2.11.06
Convite
Imagine receber um convite para participar de um projeto muito interessante, nos moldes como você imaginou. Imagine realizar um trabalho com gente que você admira. Gente inteligente, capaz e produtiva. Um trabalho que você mal sabe por onde deve começar, mas que depende principalmente da emoção, daquilo que vem de dentro da sua alma. Da sua vontade, dos seus sonhos e delírios.
Um trabalho que, apenas pelo fato de estar participando, você já sente um friozinho na barriga, com uma pontinha de ansiedade e outra de grande satisfação.
Isso está acontecendo comigo. Só que não posso dar mais detalhes agora, pois as coisas só estão engatinhando. Participei de uma reunião e foi algo divertido, consistente e muito bom. Depois conto mais. Vou ter que apertar ainda mais a minha agenda, mas vai valer a pena.
Um trabalho que, apenas pelo fato de estar participando, você já sente um friozinho na barriga, com uma pontinha de ansiedade e outra de grande satisfação.
Isso está acontecendo comigo. Só que não posso dar mais detalhes agora, pois as coisas só estão engatinhando. Participei de uma reunião e foi algo divertido, consistente e muito bom. Depois conto mais. Vou ter que apertar ainda mais a minha agenda, mas vai valer a pena.
23.10.06
As cocadas atacam novamente
As cocadas ilheenses voltaram às paradas de sucesso durante as comemorações de São Cosme e Damião. Domingo foi o dia do aniversário de um primo que todo ano comemora a data com um mega-caruru. Reza a lenda que o caruru foi uma promessa feita e que terá que ser repetido todos os anos. Bom para quem fez a promessa e conseguiu alcançar a graça. Ótimo para os trezentos convidados da festa. Trezentos!
A festa ocorre na área verde de um condomínio que fica na orla de Salvador. O caruru acontece há alguns anos e já virou tradição familiar. O casal anfitrião tem o kit pronto para a festa. Pratos, talheres, panelas, toalhas de mesa. Para uma quantidade “econômica” de trezentas pessoas. Caruru é o nome do prato feito com quiabos, mas também é a refeição completa, que inclui vatapá, xinxim de galinha, feijão-fradinho, farofa, arroz e banana frita.
A chuva que estava prevista para todo o final de semana – que havia despencado durante a noite de sexta-feira para sábado - se segurou até as quatro da tarde, dando tempo suficiente para o almoço ser servido e festa transcorrer sem problemas. Os organizadores, no entanto, foram precavidos. Além do grande quiosque do local, montaram toldos para abrigar todas as mesas.
Uma baiana servia abarás e acarajés fritos na hora. Havia uma mesa onde dois rapazes preparavam e serviam caipiroscas de abacaxi, caju, morango e tangerina.
As cocadas ilheenses, como sempre, brilharam na festa. O único problema é que não tem quantidade que chegue para todo mundo, por mais que se reforce o número de bandejas. As cocadas vieram passeando do Sul da Bahia, transportadas por outra prima que veio para a festa. Servidas ao lado da mesa principal, a proposta era que fizessem o papel de sobremesa.
Sobremesa? Alguns convidados não agüentaram esperar e, antes mesmo de entrar na fila para fazer o prato do caruru, já tinha gente atacando as cocadinhas. Delícias macias de coco com leite condensado, chocolate, maracujá, que deixam todos enlouquecidos. Tinha gente que avançava com medo de não restar mais nenhuma na hora da sobremesa.
Na fila para fazer o prato, eu mesmo não perdi tempo e me servi logo de dois belos exemplares, que me ajudaram a reduzir o tempo de espera e a ansiedade pela comida baiana. Sabe como é, não dá para correr o risco de ficar sem nada.
A crônica do dia 06 de julho de 2004 (clique aqui para ler) foi lembrada, virou gozação geral. O tal do desembargador, que da outra vez havia pedido para levar um pratinho de cocadas para a esposa, não teve espaço com a concorrência acirrada. Provavelmente desistiu, ao perceber, talvez, que teria que entrar em luta corporal pelas sobremesas, caso insistisse na idéia.
A festa ocorre na área verde de um condomínio que fica na orla de Salvador. O caruru acontece há alguns anos e já virou tradição familiar. O casal anfitrião tem o kit pronto para a festa. Pratos, talheres, panelas, toalhas de mesa. Para uma quantidade “econômica” de trezentas pessoas. Caruru é o nome do prato feito com quiabos, mas também é a refeição completa, que inclui vatapá, xinxim de galinha, feijão-fradinho, farofa, arroz e banana frita.
A chuva que estava prevista para todo o final de semana – que havia despencado durante a noite de sexta-feira para sábado - se segurou até as quatro da tarde, dando tempo suficiente para o almoço ser servido e festa transcorrer sem problemas. Os organizadores, no entanto, foram precavidos. Além do grande quiosque do local, montaram toldos para abrigar todas as mesas.
Uma baiana servia abarás e acarajés fritos na hora. Havia uma mesa onde dois rapazes preparavam e serviam caipiroscas de abacaxi, caju, morango e tangerina.
As cocadas ilheenses, como sempre, brilharam na festa. O único problema é que não tem quantidade que chegue para todo mundo, por mais que se reforce o número de bandejas. As cocadas vieram passeando do Sul da Bahia, transportadas por outra prima que veio para a festa. Servidas ao lado da mesa principal, a proposta era que fizessem o papel de sobremesa.
Sobremesa? Alguns convidados não agüentaram esperar e, antes mesmo de entrar na fila para fazer o prato do caruru, já tinha gente atacando as cocadinhas. Delícias macias de coco com leite condensado, chocolate, maracujá, que deixam todos enlouquecidos. Tinha gente que avançava com medo de não restar mais nenhuma na hora da sobremesa.
Na fila para fazer o prato, eu mesmo não perdi tempo e me servi logo de dois belos exemplares, que me ajudaram a reduzir o tempo de espera e a ansiedade pela comida baiana. Sabe como é, não dá para correr o risco de ficar sem nada.
A crônica do dia 06 de julho de 2004 (clique aqui para ler) foi lembrada, virou gozação geral. O tal do desembargador, que da outra vez havia pedido para levar um pratinho de cocadas para a esposa, não teve espaço com a concorrência acirrada. Provavelmente desistiu, ao perceber, talvez, que teria que entrar em luta corporal pelas sobremesas, caso insistisse na idéia.
22.10.06
Buraco com vista para o mar
A chuva que caiu na cidade abriu uma cratera gigantesca no Porto da Barra. O buraco afundou parte da calçada e do asfalto. Passei de carro por perto e vi que poderiam caber uns dois ou três carros ali dentro. O fato interessante é que o muro de sustentação ficou intacto, pelo que pude enxergar. A pergunta que fica é: para onde foi toda aquela terra?
Aqui em Salvador de vez em quando isso acontece. Por causa de obras mal feitas, o escoamento das chuvas vai abrindo buracos enormes por debaixo da pavimentação. Os buracos parecem ser o resultado da ação de vermes que vão abrindo lentamente caminhos em matérias frágeis. Uma hora dessas a cidade toda vai afundar.
Também em Salvador, chegou-se ao cúmulo de a Prefeitura ser acionada pelo Ministério Público para cumprir exigência legais e possibilitar acessibilidade aos deficientes físicos no maior terminal de ônibus da cidade, a Estação da Lapa. As escadas rolantes estão quebradas, não há rampas adequadas, não há nenhum tipo de apoio a quem usa cadeira de rodas ou muletas.
Este é um país em que se chega ao cúmulo de a administração pública precisar ser acionada pela Justiça para dar ao cidadão condições básicas de vida. Seja transporte, saúde ou educação. Ora, a Prefeitura é que deveria dar o exemplo e ser a primeira a cumprir as orientações da lei, pois é ela que fiscaliza – e multa – as obras na cidade que não estão dentro da legislação.
As exigências do MP não fazem parte de nenhum projeto visionário de acesso facilitado para pessoas com deficiência. São recomendações básicas previstas em lei.
Sempre se alega que não há recursos para a manutenção. Cada dia fico mais descrente deste país. Não adiantam privatizações e modernizações se a roubalheira continua, não importa qual o governo, sem nenhum tipo de punição. Apesar de todas as denúncias tornadas públicas pelos meios de comunicação, o que se vê são políticos comprovadamente ladrões voltando ao poder. Cada país tem o governo que merece.
Aqui em Salvador de vez em quando isso acontece. Por causa de obras mal feitas, o escoamento das chuvas vai abrindo buracos enormes por debaixo da pavimentação. Os buracos parecem ser o resultado da ação de vermes que vão abrindo lentamente caminhos em matérias frágeis. Uma hora dessas a cidade toda vai afundar.
Também em Salvador, chegou-se ao cúmulo de a Prefeitura ser acionada pelo Ministério Público para cumprir exigência legais e possibilitar acessibilidade aos deficientes físicos no maior terminal de ônibus da cidade, a Estação da Lapa. As escadas rolantes estão quebradas, não há rampas adequadas, não há nenhum tipo de apoio a quem usa cadeira de rodas ou muletas.
Este é um país em que se chega ao cúmulo de a administração pública precisar ser acionada pela Justiça para dar ao cidadão condições básicas de vida. Seja transporte, saúde ou educação. Ora, a Prefeitura é que deveria dar o exemplo e ser a primeira a cumprir as orientações da lei, pois é ela que fiscaliza – e multa – as obras na cidade que não estão dentro da legislação.
As exigências do MP não fazem parte de nenhum projeto visionário de acesso facilitado para pessoas com deficiência. São recomendações básicas previstas em lei.
Sempre se alega que não há recursos para a manutenção. Cada dia fico mais descrente deste país. Não adiantam privatizações e modernizações se a roubalheira continua, não importa qual o governo, sem nenhum tipo de punição. Apesar de todas as denúncias tornadas públicas pelos meios de comunicação, o que se vê são políticos comprovadamente ladrões voltando ao poder. Cada país tem o governo que merece.
15.10.06
Na praia
O sol brilhante da primavera volta a atrair baianos para a praia. Depois de longa distância, volto a freqüentar as areias do Porto da Barra. Agora vou equipado com algo que possibilita a distância a qualquer tipo de ruído ou de música desagradável: o MP3 Player.
Há tempos não lembrava de que ir à praia poderia ser tão agradável. Músicas chatas sempre faziam diminuir o meu prazer de estar próximo do mar. E os locais com boa música estão cada dia mais escassos. Ou estarei ficando mais exigente?
Fiquei debaixo do sombreiro, ouvindo somente o que queria e vendo a vida passar. De vez em quando desligava o som e lia o texto teatral em francês que comprei em um sebo. Uma frase, dicionário na mão. Mais três frases, dicionário novamente. Assim caminha a aprendizagem...
Apesar de ser um texto mais profundo do que um simples romance, a leitura do texto teatral clássico tem me atraído porque não há aquele problema de perder alguma frase ou parágrafo e perder o fio da narrativa. Na peça teatral os personagens não são em grande quantidade e têm características bem visíveis e delimitadas. Quanto às suas falas, tento ler como se fossem poesia, como se as frases fossem versos e tivesssem seu sentido independente (ou não) do contexto. Para tentar captar o que for possível.
Entre um mergulho e outro, entre músicas e leitura, acompanhei personagens circulando por todos os lados. Perdidos entre letras e entre espaços de areia e mar.
Na volta para casa fui almoçar num daqueles restaurantes chineses da Barra. A comida, que estava saborosa, me fez um mal terrível. Nem tudo é perfeito num dia de sol.
Há tempos não lembrava de que ir à praia poderia ser tão agradável. Músicas chatas sempre faziam diminuir o meu prazer de estar próximo do mar. E os locais com boa música estão cada dia mais escassos. Ou estarei ficando mais exigente?
Fiquei debaixo do sombreiro, ouvindo somente o que queria e vendo a vida passar. De vez em quando desligava o som e lia o texto teatral em francês que comprei em um sebo. Uma frase, dicionário na mão. Mais três frases, dicionário novamente. Assim caminha a aprendizagem...
Apesar de ser um texto mais profundo do que um simples romance, a leitura do texto teatral clássico tem me atraído porque não há aquele problema de perder alguma frase ou parágrafo e perder o fio da narrativa. Na peça teatral os personagens não são em grande quantidade e têm características bem visíveis e delimitadas. Quanto às suas falas, tento ler como se fossem poesia, como se as frases fossem versos e tivesssem seu sentido independente (ou não) do contexto. Para tentar captar o que for possível.
Entre um mergulho e outro, entre músicas e leitura, acompanhei personagens circulando por todos os lados. Perdidos entre letras e entre espaços de areia e mar.
Na volta para casa fui almoçar num daqueles restaurantes chineses da Barra. A comida, que estava saborosa, me fez um mal terrível. Nem tudo é perfeito num dia de sol.
Fontana de Trevi
Muitas senhoras, algumas de idade bem avançada, subindo as escadas que conduzem à saída do Cinema do Museu, davam uma mostra do que estava por vir. O filme Elsa e Fred, do argentino Marcos Carnevale, mostra o romance de duas pessoas idosas, um “romance tardio”, como descrito no site da produção de 2005, que tem nacionalidade Espanha-Argentina.
Suave e envolvente, com um belo roteiro, também assinado pelo diretor, o filme mescla humor com a tristeza da decadência física causada pela idade. E, de quebra, rende uma bela homenagem ao cinema de Fellini, ao reproduzir cenas de A Doce Vida, com Anita Ekberg e Marcelo Mastroianni. Até o título deve ter sido inspirado em “Ginger e Fred”. O bom resultado é amplificado pela atuação de China Zorrilla (Conversando com Mamãe) como a idosa.
Mais uma vez o cinema argentino nos deixa com uma mistura de alegria e expectativa. Alegria por ver um trabalho de tanta qualidade feito pelos vizinhos. Expectativa para conferir se o cinema brasileiro consegue acompanhar o ritmo.
Suave e envolvente, com um belo roteiro, também assinado pelo diretor, o filme mescla humor com a tristeza da decadência física causada pela idade. E, de quebra, rende uma bela homenagem ao cinema de Fellini, ao reproduzir cenas de A Doce Vida, com Anita Ekberg e Marcelo Mastroianni. Até o título deve ter sido inspirado em “Ginger e Fred”. O bom resultado é amplificado pela atuação de China Zorrilla (Conversando com Mamãe) como a idosa.
Mais uma vez o cinema argentino nos deixa com uma mistura de alegria e expectativa. Alegria por ver um trabalho de tanta qualidade feito pelos vizinhos. Expectativa para conferir se o cinema brasileiro consegue acompanhar o ritmo.
12.10.06
Últimas - nem tão novas assim
Ai, ai. Muita coisa acontece e eu não consigo registrar aqui. O novo governador baiano foi eleito no primeiro turno com uma diferença enorme de votos. Nas pesquisas antes da eleição, ele perdia. E a diferença era grande. O que ocorreu na realidade? Todos se perguntam, sem alguma resposta coerente. A “dança das cadeiras” nos cargos públicos estaduais promete balançar estruturas, já que o atual grupo de governo está no poder há dezesseis anos.
Cinema
Pai, Filhos e etc. (Pere et Fils, França, Canadá, 2003) é um dos filmes mais divertidos dos últimos tempos. O ator francês Philippe Noiret está fenomenal no papel do pai que se finge de doente grave para que os três filhos se aproximem. Uma comédia sutil e eficiente, como há muito tempo eu não via. A platéia se dobra de dar risada com simples expressões faciais do ator. Para conferir.
Com direção de Neil Jordan, Café da Manhã em Plutão (Breakfast in Pluto, Inglaterra,Irlanda, 2005) traz o ator Cillian Murphy no papel de um(a?) crossdresser da Irlanda, abandonado na infância, que sai em busca da mãe em Londres. É interessante conferir a caracterização do ator, em um trabalho diferente, corajoso e marcante.
Cinema
Pai, Filhos e etc. (Pere et Fils, França, Canadá, 2003) é um dos filmes mais divertidos dos últimos tempos. O ator francês Philippe Noiret está fenomenal no papel do pai que se finge de doente grave para que os três filhos se aproximem. Uma comédia sutil e eficiente, como há muito tempo eu não via. A platéia se dobra de dar risada com simples expressões faciais do ator. Para conferir.
Com direção de Neil Jordan, Café da Manhã em Plutão (Breakfast in Pluto, Inglaterra,Irlanda, 2005) traz o ator Cillian Murphy no papel de um(a?) crossdresser da Irlanda, abandonado na infância, que sai em busca da mãe em Londres. É interessante conferir a caracterização do ator, em um trabalho diferente, corajoso e marcante.
30.9.06
Francófona
Creio que a cantora canadense Celine Dion é conhecida principalmente pelo grande sucesso da música-tema do filme Titanic, “My Heart Will Go On”. Agora que estou estudando francês, descobri que La Dion é natural do Québec, a parte francófona do Canadá. Portanto, ela canta muitas coisas em francês. E como canta bem.
De tanto ouvir aquela musica chata do Titanic, a pobre da Celine Dion ganhou apelidos nada encorajadores, como Celine Hedionda ou “a cantora que afundou o Titanic com seus agudos”. Agora, descobrindo o que ela canta em francês, a minha opinião mudou. Percebo que ela tem uma voz fantástica, sem aqueles agudos chatos que fazem parte do gosto médio americano. A cantora é um dos orgulhos da cultura do Québec. Mas, infelizmente, o que chega às paradas de sucesso internacional são sempre as versões americanas.
De tanto ouvir aquela musica chata do Titanic, a pobre da Celine Dion ganhou apelidos nada encorajadores, como Celine Hedionda ou “a cantora que afundou o Titanic com seus agudos”. Agora, descobrindo o que ela canta em francês, a minha opinião mudou. Percebo que ela tem uma voz fantástica, sem aqueles agudos chatos que fazem parte do gosto médio americano. A cantora é um dos orgulhos da cultura do Québec. Mas, infelizmente, o que chega às paradas de sucesso internacional são sempre as versões americanas.
25.9.06
Voto
A eleição é no próximo final de semana e ainda não sei em quem votar aqui no Estado. Os heróis foram para o espaço, as esperanças são mínimas. Resta pouca gente com uma história de vida coerente. Gabeira deveria morar na Bahia.
Sempre em evidência ficam os descendentes de famílias tradicionais no Estado, infelizmente. Mesmo que ainda possuam alguma força política, os tempos são outros, as oligarquias têm que dividir o seu poder. De um lado, alguns poucos detentores de grande poder econômico. De outro lado, grupos sociais organizados.
O lado positivo da grande desilusão política que se instalou no país é (pensando positivamente) uma gradual limpeza. Mas continuamos vemos na TV personagens que se fazem passar por palhaços. Definitivamente não tenho mais paciência para isso. Não se precisa mais da gozação como forma de protesto. Precisamos de gente honesta que cuide do país.
Caso alguém ainda não tenha notado, uma das consequências da revelação da lama política é o encolhimento da propaganda eleitoral. Poucos panfletos, camisetas, carreatas. Pouca coisa vista nas ruas. Sinal dos tempos.
Sempre em evidência ficam os descendentes de famílias tradicionais no Estado, infelizmente. Mesmo que ainda possuam alguma força política, os tempos são outros, as oligarquias têm que dividir o seu poder. De um lado, alguns poucos detentores de grande poder econômico. De outro lado, grupos sociais organizados.
O lado positivo da grande desilusão política que se instalou no país é (pensando positivamente) uma gradual limpeza. Mas continuamos vemos na TV personagens que se fazem passar por palhaços. Definitivamente não tenho mais paciência para isso. Não se precisa mais da gozação como forma de protesto. Precisamos de gente honesta que cuide do país.
Caso alguém ainda não tenha notado, uma das consequências da revelação da lama política é o encolhimento da propaganda eleitoral. Poucos panfletos, camisetas, carreatas. Pouca coisa vista nas ruas. Sinal dos tempos.
19.9.06
Fábula contemporânea
A internet é cheia de historinhas. Recebi um e-mail, vindo de uma amiga, que relata "o menor conto de fadas do mundo", que transcrevo.
"Era uma vez um rapaz que pediu a uma linda garota:
- Você quer se casar comigo?
Ela respondeu:
- NÃO!
E o rapaz viveu feliz para sempre, foi pescar, jogou futebol, conheceu muitas outras garotas, orgias, visitou muitos lugares, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava grana, bebia cerveja com os amigos sempre que estava com vontade e ninguém mandava nele. A moça teve celulite, varizes, a barriga cresceu, a bunda e os peitos caíram e ficou sozinha.
FIM"
Achei o conto incorretíssimo e respondi o e-mail, fazendo um comentário e propondo um outro desenrolar.
"Que história triste... Mas não é bem assim não. Me contaram de outro jeito. O rapaz, coitado, de tanto beber, virou alcóolatra e está com início de cirrose. Como se não bastasse, ficou impotente que não tem Viagra que dê jeito. Da última vez que tive notícias, ele estava apaixonado por uma gordinha celulítica dos peitos caídos que lhe fazia companhia e administrava os remédios na hora certa. Ele acreditava que uma enfermeira poderia lhe cair melhor, que ela daria as injeções com mais precisão, mas ele não tinha grana para pagar o serviço.
Foi isso o que me contaram, mas não sei se é verdade. De repente, ele até já morreu de tanto fazer farra, com o fígado e o estômago carcomidos. Mas com um sorriso no rosto. Fim."
"Era uma vez um rapaz que pediu a uma linda garota:
- Você quer se casar comigo?
Ela respondeu:
- NÃO!
E o rapaz viveu feliz para sempre, foi pescar, jogou futebol, conheceu muitas outras garotas, orgias, visitou muitos lugares, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava grana, bebia cerveja com os amigos sempre que estava com vontade e ninguém mandava nele. A moça teve celulite, varizes, a barriga cresceu, a bunda e os peitos caíram e ficou sozinha.
FIM"
Achei o conto incorretíssimo e respondi o e-mail, fazendo um comentário e propondo um outro desenrolar.
"Que história triste... Mas não é bem assim não. Me contaram de outro jeito. O rapaz, coitado, de tanto beber, virou alcóolatra e está com início de cirrose. Como se não bastasse, ficou impotente que não tem Viagra que dê jeito. Da última vez que tive notícias, ele estava apaixonado por uma gordinha celulítica dos peitos caídos que lhe fazia companhia e administrava os remédios na hora certa. Ele acreditava que uma enfermeira poderia lhe cair melhor, que ela daria as injeções com mais precisão, mas ele não tinha grana para pagar o serviço.
Foi isso o que me contaram, mas não sei se é verdade. De repente, ele até já morreu de tanto fazer farra, com o fígado e o estômago carcomidos. Mas com um sorriso no rosto. Fim."
16.9.06
Eu li, você lê
Recebi alguns comentários interessantes por conta do blog Festa dos Sentidos. Troquei alguns e-mails com o diretor de Guilda, que encontrou por acaso o comentário que fiz aqui sobre a peça. Eu o havia parabenizado pessoalmente pelo trabalho, mas não comentei que havia publicado o texto.
O pessoal de Carne em Verbo também me escreveu convidando para ver a peça, que está em cartaz no Teatro Sesi do Rio Vermelho, até o dia 1º de outubro. O elenco é composto por parte do grupo de uma das turmas do curso livre de teatro da Ufba. O grupo havia encenado Beijo no Asfalto e os atores leram o comentário que foi publicado aqui na época.
Na semana passada, recebi alguns comentários de pessoas que também passearam por estas bandas. O que me surpreende é que esse retorno acontece em um período de publicações pingadas em gotas. Várias atividades, trabalhos e estudos, secam as palavras das minhas mãos. Elas passam rápidas pela cabeça, não consigo domá-las e publicá-las. Também não posso comentar nada agora sobre projetos em andamento. Só quando eles puderem ser tocados com os olhos.
O pessoal de Carne em Verbo também me escreveu convidando para ver a peça, que está em cartaz no Teatro Sesi do Rio Vermelho, até o dia 1º de outubro. O elenco é composto por parte do grupo de uma das turmas do curso livre de teatro da Ufba. O grupo havia encenado Beijo no Asfalto e os atores leram o comentário que foi publicado aqui na época.
Na semana passada, recebi alguns comentários de pessoas que também passearam por estas bandas. O que me surpreende é que esse retorno acontece em um período de publicações pingadas em gotas. Várias atividades, trabalhos e estudos, secam as palavras das minhas mãos. Elas passam rápidas pela cabeça, não consigo domá-las e publicá-las. Também não posso comentar nada agora sobre projetos em andamento. Só quando eles puderem ser tocados com os olhos.
8.9.06
Marés
Deixo a cidade grande e vou descansar um pouco. O ônibus é confortável e o frio que faz lá fora é ampliado pelo ar-condicionado. Frio intenso. Chego, um belo café está à minha espera. Depois, a novidade: um computador novinho com acesso rapidíssimo à internet. Como descansar? Muita coisa para ler, para atualizar, para reler. Passeios pelo Orkut, coisa que não faço há muito tempo.
Desconecto, pois há longas e esclarecedoras conversas. Palavras que precisavam ser conhecidas. Novos nomes ao vocabulário comum. Novidades que atiçam a inquietação, mas não se trata de dor ou preocupação. Trata-se de impulso, de mudança, de renovação. O que parece ansiedade na verdade é excitação. Um monte de "ão".
Tudo, tudo agora parece tão calmo, tão harmônico, como sempre foi e parecia esquecido. Desacreditado. A tempestade que durou vários anos se acalmou. Sofremos e crescemos, como sempre acontece. A ressaca das ondas neste instante é resultado apenas da maré alta, imensa como nunca vi, acionada pela lua cheia e frio que persiste. Mais alguns dias prolongando o fim de um inverno tardio.
3.9.06
Roteiro
Final de semana cultural. Sexta-feira fui à estréia de Minha Amiga Mente Pra Mim, no Theatro XVIII. Sábado fui ao Cinema do Museu ver Estrela Solitária, belo filme de Win Wenders. Hoje fui assistir a Obrigado por Fumar, no Cinema do Museu.
Estrela Solitária é um filme genial. Um ator decadente (Sam Sheppard), perdido em álcool e drogas, abandona o set de filmagem e segue em busca do seu passado. A story line parece comum, mas o filme é envolvente e bem feito. Belíssimas locações e primorosos movimentos de câmera. Coisa do mestre Win Wenders. Muito interessante ver Jessica Lange envelhecida. Por onde ela andou desde o tempo em que era a estrela jovem e belíssima de King Kong (versão dos anos 80)? Como Hollywood é cruel com as mulheres acima dos quarenta anos.
Obrigado por Fumar mostra o trabalho de um lobista da indústria americana do fumo. O filme é forte e expõe aspectos muito interessantes da mídia, da indústria do cigarro e da própria indústria do cinema. O ator Aaron Ekhart atua de modo irrepreesível no papel de um ladino articulador de palavras e argumentos.
Minha Amiga Mente Pra Mim fala de uma amiga de praticamente toda a população brasileira: a televisão. Com Diogo Lopes e Márcia Andrade. Muita sátira e comentários políticos. O público parece ter aprovado. Eu particularmente não gosto quando há muita mistura de vídeo e teatro. Mas isso é cá com meus botões e suas casas.
Estrela Solitária é um filme genial. Um ator decadente (Sam Sheppard), perdido em álcool e drogas, abandona o set de filmagem e segue em busca do seu passado. A story line parece comum, mas o filme é envolvente e bem feito. Belíssimas locações e primorosos movimentos de câmera. Coisa do mestre Win Wenders. Muito interessante ver Jessica Lange envelhecida. Por onde ela andou desde o tempo em que era a estrela jovem e belíssima de King Kong (versão dos anos 80)? Como Hollywood é cruel com as mulheres acima dos quarenta anos.
Obrigado por Fumar mostra o trabalho de um lobista da indústria americana do fumo. O filme é forte e expõe aspectos muito interessantes da mídia, da indústria do cigarro e da própria indústria do cinema. O ator Aaron Ekhart atua de modo irrepreesível no papel de um ladino articulador de palavras e argumentos.
Minha Amiga Mente Pra Mim fala de uma amiga de praticamente toda a população brasileira: a televisão. Com Diogo Lopes e Márcia Andrade. Muita sátira e comentários políticos. O público parece ter aprovado. Eu particularmente não gosto quando há muita mistura de vídeo e teatro. Mas isso é cá com meus botões e suas casas.
Recado
Recebi um comentário muito gentil de uma amiga virtual, blogueira e leitora deste blog. Foi uma participação no “Blog Day 2006”, uma brincadeira que consiste em fazer indicações de outros blogs, com a seleção de um fragmento de texto do blog indicado e uma pequena apresentação. O comentário dela foi muito legal. Uma massagem no ego com óleo aromático. Valeu pessoinha!
22.8.06
A aprendizagem no tempo da tecnologia
Depois de algum tempo distante do estudo das línguas, estou de volta aos sons inéditos e palavras desconhecidas. Estou estudando francês. Anos depois da aprendizagem do inglês, e junto com as constantes consultas aos dicionários e gramáticas nativos, retorno aos dicionários e gramáticas de outras galáxias.
Desta vez, têm me impressionado a facilidade e os instrumentos que tecnologia nos possibilita nos estudos. Nada mais de perder horas folheando o dicionário procurando as traduções das palavras. Basta sentar na frente do computador, digitar ao que se quer e o programinha tradutor fornece imediatamente o significado.
Não consegui nenhum tradutor direto do francês para o português, mas o que passa do francês para o inglês tem me ajudado muito - inclusive a revisar a língua de Shakespeare. As consultas chegam inclusive às formas conjugadas do verbo - algo que o dicionário não possibilita. Isso enquanto a encomenda que fiz do livro de conjugações verbais não chega na livraria. Alguns sites, como o Babelfish, fazem a tradução direta, mas o meu acesso é discado, o que impede o trabalho on-line.
São tantas as possibilidades de aprendizagem mediadas pela tecnologia que penso que um dias as escolas de línguas não farão mais sentido. Há sites e mais sites com material para aprendizagem. Há um editado na França, o da Radio France Internacionale, que todos os dias publica notícias mundiais em linguagem simplificada, em versão escrita e falada pelos apresentadores, em ritmo pausado, para facilitar o entendimento.
Na internet há vários canais de televisão e rádio, há vídeos e também programas multimídia para o computador. E o PC ainda permite copiar filmes em DVD, para depois ver com calma, com o uso ou não de legendas, em português ou na língua em estudo. Bem, eu não possuo TV por assinatura, o que seria ainda mais uma opção para aprender.
Lembro que, no início dos anos 90, quando eu aprendia inglês, tudo que havia eram fitas cassete e filmes em vídeo. A escola em que eu estudava veiculou na TV um comercial no qual propalava a instalação de uma antena parabólica (!), por meio da qual eram captados sons e imagens de canais em inglês. A então nova ferramenta, na época um inovação, hoje parece perdida no tempo.
Depois fui estudar na Inglaterra e ficava babando com as maquininhas tradutoras dos japoneses na sala de aula. Os notebooks ainda não eram comuns - ou acessíveis - e os japoneses já estavam na frente. Enquanto os alunos folheavam e catavam nos enormes "Oxford Advanced Learners", em poucos segundos eles pegavam a tradução de palavras e expressões. Hoje a tradução instantânea está acessível a todos que têm computador.
A professora de francês fez uma coisa muito legal: elaborou um módulo "Phonétique", impresso, e gravou em CD as pronúncias de fonemas e palavras. Transformei tudo em MP3 e passei para o player.
Eu havia estudado francês durante alguns meses, alguns anos atrás, com uma professora particular. Tinha alguma noção, portanto. Apesar de o francês ser tão complexo quanto o português, a proximidade entre as duas línguas, ambas de origem latina, faz com que a leitura seja mais fácil de ser absorvida com pouca quantidade de vocabulário do que no caso do inglês. Mas eu quero ver na hora de escrever. Aí é que vai ser dureza. Não dá para confiar em tradutor.
Desta vez, têm me impressionado a facilidade e os instrumentos que tecnologia nos possibilita nos estudos. Nada mais de perder horas folheando o dicionário procurando as traduções das palavras. Basta sentar na frente do computador, digitar ao que se quer e o programinha tradutor fornece imediatamente o significado.
Não consegui nenhum tradutor direto do francês para o português, mas o que passa do francês para o inglês tem me ajudado muito - inclusive a revisar a língua de Shakespeare. As consultas chegam inclusive às formas conjugadas do verbo - algo que o dicionário não possibilita. Isso enquanto a encomenda que fiz do livro de conjugações verbais não chega na livraria. Alguns sites, como o Babelfish, fazem a tradução direta, mas o meu acesso é discado, o que impede o trabalho on-line.
São tantas as possibilidades de aprendizagem mediadas pela tecnologia que penso que um dias as escolas de línguas não farão mais sentido. Há sites e mais sites com material para aprendizagem. Há um editado na França, o da Radio France Internacionale, que todos os dias publica notícias mundiais em linguagem simplificada, em versão escrita e falada pelos apresentadores, em ritmo pausado, para facilitar o entendimento.
Na internet há vários canais de televisão e rádio, há vídeos e também programas multimídia para o computador. E o PC ainda permite copiar filmes em DVD, para depois ver com calma, com o uso ou não de legendas, em português ou na língua em estudo. Bem, eu não possuo TV por assinatura, o que seria ainda mais uma opção para aprender.
Lembro que, no início dos anos 90, quando eu aprendia inglês, tudo que havia eram fitas cassete e filmes em vídeo. A escola em que eu estudava veiculou na TV um comercial no qual propalava a instalação de uma antena parabólica (!), por meio da qual eram captados sons e imagens de canais em inglês. A então nova ferramenta, na época um inovação, hoje parece perdida no tempo.
Depois fui estudar na Inglaterra e ficava babando com as maquininhas tradutoras dos japoneses na sala de aula. Os notebooks ainda não eram comuns - ou acessíveis - e os japoneses já estavam na frente. Enquanto os alunos folheavam e catavam nos enormes "Oxford Advanced Learners", em poucos segundos eles pegavam a tradução de palavras e expressões. Hoje a tradução instantânea está acessível a todos que têm computador.
A professora de francês fez uma coisa muito legal: elaborou um módulo "Phonétique", impresso, e gravou em CD as pronúncias de fonemas e palavras. Transformei tudo em MP3 e passei para o player.
Eu havia estudado francês durante alguns meses, alguns anos atrás, com uma professora particular. Tinha alguma noção, portanto. Apesar de o francês ser tão complexo quanto o português, a proximidade entre as duas línguas, ambas de origem latina, faz com que a leitura seja mais fácil de ser absorvida com pouca quantidade de vocabulário do que no caso do inglês. Mas eu quero ver na hora de escrever. Aí é que vai ser dureza. Não dá para confiar em tradutor.
Comments
O post sobre a prática de asa delta em Santa Terezinha rendeu comentários bem interessantes. Os proprietários da fazenda onde fica situado o ponto turístico deixaram um comentário informando sobre o site que estão lançando e convidando para visitar novamente o local.
Uma amiga e colega jornalista, que trabalha na produção de uma TV em Salvador, me ligou dizendo que tinha lido o texto. Ela ficou surpresa quando viu o blog Festa dos Sentidos encabeçando a lista das pesquisas na internet sobre a cidade. Ela já havia navegado por aqui, mas nem lembrava mais do endereço. Os pais delas são provenientes daquela região e ela passou várias férias por lá.
O Google faz coisas do arco-da-velha.
Uma amiga e colega jornalista, que trabalha na produção de uma TV em Salvador, me ligou dizendo que tinha lido o texto. Ela ficou surpresa quando viu o blog Festa dos Sentidos encabeçando a lista das pesquisas na internet sobre a cidade. Ela já havia navegado por aqui, mas nem lembrava mais do endereço. Os pais delas são provenientes daquela região e ela passou várias férias por lá.
O Google faz coisas do arco-da-velha.
15.8.06
Eighties
Uma festa em Salvador está prometendo animar o final de semana. Trata-se de um revival dos anos oitenta. É a Festa Ploc, com direito a divulgação em outdoors e atrações tão díspares quanto estranhas: Luiz Caldas, Banda Ploc, grupo formado por Rosana, Luciano (ex-Trem da Alegria), Afonso (ex-Dominó), Silvinho Blau-Blau, Inimigos do Rei, Perdidos na Selva e outros seres extra-terrestres, provenientes de duas décadas atrás, que até então eram considerados exilados no espaço, talvez deglutidos por algum alien.
Uma boa sacada a história do chiclete Ploc, que não existe mais, perdido entre os alienígenas globalizadores Bubble Gummers e Tridents. Enviei um e-mail para alguns amigos tirando sarro: “Essa festa Ploc-ploc vai bombar. Todo mundo grudado lá. Quem não lembra daquele chicletinho da embalagem amarela? Das bolas que estouravam e grudavam no cabelo. Da carteira da sala de aula cheia de chicletes secos e de melecas na parte de baixo. Essas coisinhas meigas da nossa infância e adolescência.”
Seria mais interessante ainda se as pessoas resolvessem ir a caráter, e arriscassem aquelas preciosidades dos anos 80: blasers com ombreiras (argh!) e cabelos cortados naquele formato (pigmaleão?) repicado nas laterais e mais comprido na parte de trás.
Pelos comentários que circulam, acho que a festa vai ser tão concorrida que nem me aventuro a chegar por perto. Até pensei em ir com a minha fantasia de He-man (versão bombada) ou Esqueleto (versão anorexia), mas desisti da idéia. Vou ficar em casa ouvindo o CD do Balão Trágico. Desejo uma boa festa a quem se arriscar.
Uma boa sacada a história do chiclete Ploc, que não existe mais, perdido entre os alienígenas globalizadores Bubble Gummers e Tridents. Enviei um e-mail para alguns amigos tirando sarro: “Essa festa Ploc-ploc vai bombar. Todo mundo grudado lá. Quem não lembra daquele chicletinho da embalagem amarela? Das bolas que estouravam e grudavam no cabelo. Da carteira da sala de aula cheia de chicletes secos e de melecas na parte de baixo. Essas coisinhas meigas da nossa infância e adolescência.”
Seria mais interessante ainda se as pessoas resolvessem ir a caráter, e arriscassem aquelas preciosidades dos anos 80: blasers com ombreiras (argh!) e cabelos cortados naquele formato (pigmaleão?) repicado nas laterais e mais comprido na parte de trás.
Pelos comentários que circulam, acho que a festa vai ser tão concorrida que nem me aventuro a chegar por perto. Até pensei em ir com a minha fantasia de He-man (versão bombada) ou Esqueleto (versão anorexia), mas desisti da idéia. Vou ficar em casa ouvindo o CD do Balão Trágico. Desejo uma boa festa a quem se arriscar.
9.8.06
Hibridismo
Assiti a uma das coisas mais diferentes e interessantes do teatro baiano, na semana passada: Guilda. Cinco criaturas híbridas que se encontram confinadas em um mesmo ambiente, enquanto se preparam para participar de um concurso de beleza. Hibridismo corporal e travestismo são a tônica da montagem. Ops, olha o trocadilho.
Há umas sacadas bem interessantes. Dublagens de músicas imperdíveis: Maria Betânia em arranjo techno, Ângela Rorô, e até aquela música antiga de Maria Alcina que fala sobre o vendedor de bananas. Há também um número inteligente, hilário e inesquecível com a música da escrava Isaura: “Vida de negro é difícil, é difícil como quê...”
A peça é dirigida por Marcelo Sousa Brito, que também atua. Os demais atores não são profissionais nem estudantes de teatro. Talvez se o espetáculo tivesse um elenco com mais experiência, poderia se tornar ainda mais rico. Mas já está de bom tamanho.
O sucesso começou com a campanha para conseguir doação de sapatos do estilista Fernando Pires. Performances nas ruas e divulgação tiveram sucesso. O estilista gostou do projeto e criou sapatos exclusivos para a peça.
Depois da rápida temporada – lotadíssima – de três semanas no Cabaré dos Novos, no Theatro Vila Velha, resta torcer para Guilda voltar a ficar em cartaz. Para dar boas risadas. Uma dica: chegue com pelo menos meia hora de antecedência, pois a movimentação começa cedo.
Há umas sacadas bem interessantes. Dublagens de músicas imperdíveis: Maria Betânia em arranjo techno, Ângela Rorô, e até aquela música antiga de Maria Alcina que fala sobre o vendedor de bananas. Há também um número inteligente, hilário e inesquecível com a música da escrava Isaura: “Vida de negro é difícil, é difícil como quê...”
A peça é dirigida por Marcelo Sousa Brito, que também atua. Os demais atores não são profissionais nem estudantes de teatro. Talvez se o espetáculo tivesse um elenco com mais experiência, poderia se tornar ainda mais rico. Mas já está de bom tamanho.
O sucesso começou com a campanha para conseguir doação de sapatos do estilista Fernando Pires. Performances nas ruas e divulgação tiveram sucesso. O estilista gostou do projeto e criou sapatos exclusivos para a peça.
Depois da rápida temporada – lotadíssima – de três semanas no Cabaré dos Novos, no Theatro Vila Velha, resta torcer para Guilda voltar a ficar em cartaz. Para dar boas risadas. Uma dica: chegue com pelo menos meia hora de antecedência, pois a movimentação começa cedo.
30.7.06
Vôo livre no sertão
Uma cidadezinha do sertão baiano, distante uns 220 quilômetros de Salvador possui o melhor local do país para salto de vôo livre, a conhecida asa delta. Melhor do que as pedras do Rio de Janeiro ou de qualquer outro lugar. O turismo esportivo vem movimentando a região. Até estrangeiros têm aparecido. A cidade chama-se Santa Terezinha. Fica no Vale do Jiquiriçá e a cidade mais próxima de lá, a uns dez quilômetros, é Castro Alves.
Na planície da caatinga erguem-se alguns morros de onde saltam os aventureiros. É a Serra da Jibóia. A subida, por uma longa estrada de barro morro acima, precisa ser feita com veículo de motor possante. Lá de cima, uma vista fantástica da região. Há um deck de onde se inicia o vôo e a planície logo abaixo tem vegetação rasteira e ventos amigáveis. As características permitem descidas tranqüilas e bom tempo de permanência no ar.
O motivo da viagem não foi pular de asa delta, mas conhecer uma fazenda de gado. A sede, um casarão de vidraças quebradas, mas em reforma, costumava receber a visita de Lampião e seu bando, em suas trajetórias pelos sertões. Procurei saber a quem pertencia a fazenda nessa época, mas não consegui obter a informação. A região faz um calor miserável, mesmo no inverno. No verão deve ser insuportável.
Ao fim do dia, um almoço na pensão da cidade com refeição caseira: ensopado de carne de bode e uma picanha que estava fan-tás-ti-ca. Por 6 reais por cabeça, com direito a refri. Barriga cheia, pé na estrada, ao som techno do clube Pachá, de Buenos Aires, lembrança da viagem do ano passado. Para espantar o sono.
Na planície da caatinga erguem-se alguns morros de onde saltam os aventureiros. É a Serra da Jibóia. A subida, por uma longa estrada de barro morro acima, precisa ser feita com veículo de motor possante. Lá de cima, uma vista fantástica da região. Há um deck de onde se inicia o vôo e a planície logo abaixo tem vegetação rasteira e ventos amigáveis. As características permitem descidas tranqüilas e bom tempo de permanência no ar.
O motivo da viagem não foi pular de asa delta, mas conhecer uma fazenda de gado. A sede, um casarão de vidraças quebradas, mas em reforma, costumava receber a visita de Lampião e seu bando, em suas trajetórias pelos sertões. Procurei saber a quem pertencia a fazenda nessa época, mas não consegui obter a informação. A região faz um calor miserável, mesmo no inverno. No verão deve ser insuportável.
Ao fim do dia, um almoço na pensão da cidade com refeição caseira: ensopado de carne de bode e uma picanha que estava fan-tás-ti-ca. Por 6 reais por cabeça, com direito a refri. Barriga cheia, pé na estrada, ao som techno do clube Pachá, de Buenos Aires, lembrança da viagem do ano passado. Para espantar o sono.
23.7.06
Isso quer dizer alguma coisa
A cultura baiana de massas passa por uma fase de questionamentos. É significativo que existam dois espetáculos teatrais, Pague Pra Ver e Bloco dos Infames, com temáticas tão próximas. Ambos retratam e questionam a cena musical baiana popular.
Em Pague Pra Ver, um cantor (vivido por Igor Estefânio) quer fazer sucesso a todo custo. Texto e direção de João Sanches. Em Bloco dos Infames, uma cantora de axé music em decadência se vê abandonada pela sua empresária e produtora, que agora busca uma nova estrela, carne inédita no mercado, para disponibilizar aos leões, ou seja, às massas. Texto e direção de Filinto Coelho.
Pague Pra Ver
É muito bom que esse cenário artístico seja exposto. Como não poderia deixar de ser, as duas montagens têm bastante música e humor ferino, afiado, mais cortante do que um desaforo ou berro na cara. A discussão mais intensa recai sobre a comercialização e a banalização da arte. Onde fica o talento, se as tendências musicais são ditadas simplesmente pelo mercado? A culpa é de quem manipula ou de quem se submete às manipulações? O talento estará sempre sujeito à juventude e a uma bela figura física?
O teatro baiano está perfeito no papel de questionar essa realidade instituída pelo gosto medíocre, que resulta em atração de mais recursos financeiros, muitas vezes por motivos políticos. Afinal, a música popular tem um público bem maior. O que dificulta, na outra ponta, o direcionamento das verbas para outras formas de expressão artística.
Cada um com a sua parcela de culpa. A imprensa desastrada, especialmente a televisiva. Artistas com pouca capacidade, que só querem ir ao sabor das ondas e ganhar dinheiro, abrindo mão qualquer tipo de análise crítica do seu próprio trabalho. Produtores inescrupulosos.
Bloco dos Infames
No texto de Sanches, o personagem principal realiza os seus questionamentos internos. O texto de Filinto Coelho exibe personagens facilmente identi-ficadas com personalidades baianas. A cantora destronada é vítima da estrutura cruel do mercado artístico-cultural e procura dar um jeito de dar a volta por cima. Nem que seja apelando para um público de periferia. A sorte – para todos - é que, mudando ou não de público, sempre haverá algum trocado disponível.
E onde fica o talento, em uma terra onde existem “donos” de bandas, cujos componentes podem ser mudados pelos humores dos patrões, ao seu bel-prazer? Onde fica o direcionamento da carreira? Perde-se no vento.
Na vida real há um paradeiro nos ares criativos na música baiana. Não faltam cantores, músicos e bandas. Faltam composições de qualidade. Não são necessários mais personagens para estampar revistas de celebridades. Talentos são procurados. Alguns estão encobertos pelo desconhecimento do grande público, estão fazendo trabalhos menos comerciais. Ninguém agüenta mais lê lê lê lá lá lá, Vixe Mainha. Enjoou, encheu o saco.
Os elencos das duas peças são excelentes. Em Bloco dos Infames, Nadja Turenko, George Mascarenhas, Débora Menezes e Maria Marighella, com ótimos trabalhos corporais, baseados na técnica da Mímica Corporal Dramática. Em Pague Pra Ver, Igor Estefânio, Widoto Áquila, Mariana Freire e Virgínia Marinho.
Em se tratando de show de qualidade, vale a pena “pagar pra ver” o “bloco dos infames”. Mas só no teatro.
Em Pague Pra Ver, um cantor (vivido por Igor Estefânio) quer fazer sucesso a todo custo. Texto e direção de João Sanches. Em Bloco dos Infames, uma cantora de axé music em decadência se vê abandonada pela sua empresária e produtora, que agora busca uma nova estrela, carne inédita no mercado, para disponibilizar aos leões, ou seja, às massas. Texto e direção de Filinto Coelho.
Pague Pra Ver
É muito bom que esse cenário artístico seja exposto. Como não poderia deixar de ser, as duas montagens têm bastante música e humor ferino, afiado, mais cortante do que um desaforo ou berro na cara. A discussão mais intensa recai sobre a comercialização e a banalização da arte. Onde fica o talento, se as tendências musicais são ditadas simplesmente pelo mercado? A culpa é de quem manipula ou de quem se submete às manipulações? O talento estará sempre sujeito à juventude e a uma bela figura física?
O teatro baiano está perfeito no papel de questionar essa realidade instituída pelo gosto medíocre, que resulta em atração de mais recursos financeiros, muitas vezes por motivos políticos. Afinal, a música popular tem um público bem maior. O que dificulta, na outra ponta, o direcionamento das verbas para outras formas de expressão artística.
Cada um com a sua parcela de culpa. A imprensa desastrada, especialmente a televisiva. Artistas com pouca capacidade, que só querem ir ao sabor das ondas e ganhar dinheiro, abrindo mão qualquer tipo de análise crítica do seu próprio trabalho. Produtores inescrupulosos.
Bloco dos Infames
No texto de Sanches, o personagem principal realiza os seus questionamentos internos. O texto de Filinto Coelho exibe personagens facilmente identi-ficadas com personalidades baianas. A cantora destronada é vítima da estrutura cruel do mercado artístico-cultural e procura dar um jeito de dar a volta por cima. Nem que seja apelando para um público de periferia. A sorte – para todos - é que, mudando ou não de público, sempre haverá algum trocado disponível.
E onde fica o talento, em uma terra onde existem “donos” de bandas, cujos componentes podem ser mudados pelos humores dos patrões, ao seu bel-prazer? Onde fica o direcionamento da carreira? Perde-se no vento.
Na vida real há um paradeiro nos ares criativos na música baiana. Não faltam cantores, músicos e bandas. Faltam composições de qualidade. Não são necessários mais personagens para estampar revistas de celebridades. Talentos são procurados. Alguns estão encobertos pelo desconhecimento do grande público, estão fazendo trabalhos menos comerciais. Ninguém agüenta mais lê lê lê lá lá lá, Vixe Mainha. Enjoou, encheu o saco.
Os elencos das duas peças são excelentes. Em Bloco dos Infames, Nadja Turenko, George Mascarenhas, Débora Menezes e Maria Marighella, com ótimos trabalhos corporais, baseados na técnica da Mímica Corporal Dramática. Em Pague Pra Ver, Igor Estefânio, Widoto Áquila, Mariana Freire e Virgínia Marinho.
Em se tratando de show de qualidade, vale a pena “pagar pra ver” o “bloco dos infames”. Mas só no teatro.
19.7.06
Pra que?
A guerra entre Israel e o Líbano é podre, ridícula e triste. Vários descendentes de imigrantes libaneses no Brasil me fazem ter uma certa afinidade com aquele país. Ainda tem a maravilhosa cozinha, que tanto admiro: quibe, esfirra, azeite, coalhada seca, hortelã, trigo, grão-de-bico e outras delícias. O que está acontecendo é lastimável.
Na telinha
Que composição interessante é o programa "A Diarista". Fico pensando na química que acontece entre aqueles que realizam um espetáculo ou produto audiovisual. Entre aqueles que fazem o texto, os que dirigem e os que atuam para conseguir um resultado tão bacana. Entre a idéia, a concepção, o desenvolvimento e a realização. Pessoas que acreditam em um sonho, um projeto, tiram do papel e o transformam. É tudo mágico.
No último programa, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai trabalhar na casa de campo do Latino - o próprio cantor fazia o papel. A diarista fica tão enlouquecida pelo astro que começa a causar acidentes que o deixam todo estropiado. Acerta a cabeça, mãos, pernas. Deixa sabonetes no chão do banheiro. Ele escorrega, torce braços e pernas. Cláudia Rodrigues é impagável. De longe, é o seriado que gosto mais na TV brasileira.
No último programa, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai trabalhar na casa de campo do Latino - o próprio cantor fazia o papel. A diarista fica tão enlouquecida pelo astro que começa a causar acidentes que o deixam todo estropiado. Acerta a cabeça, mãos, pernas. Deixa sabonetes no chão do banheiro. Ele escorrega, torce braços e pernas. Cláudia Rodrigues é impagável. De longe, é o seriado que gosto mais na TV brasileira.
8.7.06
Final fogoso
O final de Belíssima, novela de Silvio de Abreu, premiou personagens libertários: lésbicas, gays, mulheres maduras dispostas a pagar por momentos de felicidade, fogosas mulheres casadas. As lésbicas, que o autor teve que apagar do roteiro em Torre de Babel, surgem glamurosas em um iate. Mesmo que só no último capítulo.
Em entrevista na Veja, o autor se declarou impressionado com a aceitação do público brasileiro com personagens cafajestes. E não é que ele deixou a malvada Bia Falcão numa boa, em Paris, tomando champagne com o garotão de luxo? Mesmo depois de a vilã passar muita gente para trás, roubar e matar.
Era de se esperar um final mais duro com ela, mesmo com a sugestão de que, fugitiva da polícia brasileira, estaria com a polícia internacional em seus calcanhares. Para o público fica sempre a cara de impunidade no país, como se a isso fosse um reflexo da política nacional. Ora, a política é que é um reflexo da população.
Quem deu um show, como sempre, foi Fernanda Montenegro. No papel de uma senhora com mais de 70 anos, beijando um rapaz na casa dos 20 e ainda fazendo comentários do tipo: “Você tem mãos divinas”. Como anotou um colunista, provavelmente para fazer bom uso delas.
Mulheres que pagam pelo prazer: não há limites de idade. Se os homens podem, por que não as mulheres? Uma vez ouvi um relato de que mulheres idosas ou com menos atributos físicos procuram realmente garotos de programa. O mérito do autor foi mostrar o assunto no horário nobre da TV. Ponto para ele.
Em entrevista na Veja, o autor se declarou impressionado com a aceitação do público brasileiro com personagens cafajestes. E não é que ele deixou a malvada Bia Falcão numa boa, em Paris, tomando champagne com o garotão de luxo? Mesmo depois de a vilã passar muita gente para trás, roubar e matar.
Era de se esperar um final mais duro com ela, mesmo com a sugestão de que, fugitiva da polícia brasileira, estaria com a polícia internacional em seus calcanhares. Para o público fica sempre a cara de impunidade no país, como se a isso fosse um reflexo da política nacional. Ora, a política é que é um reflexo da população.
Quem deu um show, como sempre, foi Fernanda Montenegro. No papel de uma senhora com mais de 70 anos, beijando um rapaz na casa dos 20 e ainda fazendo comentários do tipo: “Você tem mãos divinas”. Como anotou um colunista, provavelmente para fazer bom uso delas.
Mulheres que pagam pelo prazer: não há limites de idade. Se os homens podem, por que não as mulheres? Uma vez ouvi um relato de que mulheres idosas ou com menos atributos físicos procuram realmente garotos de programa. O mérito do autor foi mostrar o assunto no horário nobre da TV. Ponto para ele.
30.6.06
Não se avexe
Se avexe não...
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.
Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas.
Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.
Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa
Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...
Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar.
Ô coisa boa é namorar,
Ô coisa boa é namorar.
(Acioly Neto)
“Se avexe não” tem me feito pensar. Acho que é porque relaciono com o momento que estou vivendo. No filme A Máquina ( direção de João Falcão) há uma cena linda embalada pela canção. Em um baile de máscaras no sertão, tipo carnaval veneziano, uma velhinha canta, enquanto o rapaz procura a moça entre os mascarados. A voz da senhora é profunda, uma mistura de dor e alegria, de arrepiar.
Participei de um curso no qual a música foi utilizada em certo momento. Lembrei logo do filme. E procurei absorver a mensagem da letra. Não é que deu resultado? A lição que fica é que tudo tem o seu tempo, tudo tem a sua hora, não adianta ter agonia.
Mas nem sempre a gente acredita nisso.
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.
Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas.
Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.
Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa
Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...
Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar.
Ô coisa boa é namorar,
Ô coisa boa é namorar.
(Acioly Neto)
“Se avexe não” tem me feito pensar. Acho que é porque relaciono com o momento que estou vivendo. No filme A Máquina ( direção de João Falcão) há uma cena linda embalada pela canção. Em um baile de máscaras no sertão, tipo carnaval veneziano, uma velhinha canta, enquanto o rapaz procura a moça entre os mascarados. A voz da senhora é profunda, uma mistura de dor e alegria, de arrepiar.
Participei de um curso no qual a música foi utilizada em certo momento. Lembrei logo do filme. E procurei absorver a mensagem da letra. Não é que deu resultado? A lição que fica é que tudo tem o seu tempo, tudo tem a sua hora, não adianta ter agonia.
Mas nem sempre a gente acredita nisso.
24.6.06
Debaixo de chuva
A cidade está vazia, morta. Quase todas as lojas estão fechadas. As ruas dormem esquecidas pelos veículos. Não existe feriado ou qualquer outra data que esvazie tanto a cidade da Bahia quanto o São João.
Normalmente, nos finais de semana e nos dias em que não há trabalho, as pessoas vão às praias, às ruas. Tem sempre bastante movimento nas ruas. No São João, não. É a grande festa do interior. As estradas é que ficam cheias e os ônibus lotados. Qualquer canto do Estado é recanto para festa ou para descanso. Comida farta nas casas, é a grande tradição do interior.
Nunca gostei muito da festa de São João. Já fui a vários forrós em várias cidades, em várias regiões da Bahia. Atualmente prefiro descansar em Salvador, enquanto a cidade fica tranqüila. Aproveitei para ver um filme e colocar as leituras em dia.
O forró corre solto no Pelourinho. As ruas estreitas ficam apertadíssimas para tanta gente, para aqueles que não se atreveram ou não tiveram dinheiro para viajar. E o pior foi que caiu a maior chuva ontem na cidade, dessas de alagar tudo em minutos. Vi na TV que as pessoas dançavam debaixo de guarda-chuvas. Quanta coragem, ó brava gente.
Tive um convite super-legal para viajar para o interior, para a bela fazenda de uma amiga. Foi uma pena que o trabalho e o cansaço tenham me impedido de pegar a estrada.
Normalmente, nos finais de semana e nos dias em que não há trabalho, as pessoas vão às praias, às ruas. Tem sempre bastante movimento nas ruas. No São João, não. É a grande festa do interior. As estradas é que ficam cheias e os ônibus lotados. Qualquer canto do Estado é recanto para festa ou para descanso. Comida farta nas casas, é a grande tradição do interior.
Nunca gostei muito da festa de São João. Já fui a vários forrós em várias cidades, em várias regiões da Bahia. Atualmente prefiro descansar em Salvador, enquanto a cidade fica tranqüila. Aproveitei para ver um filme e colocar as leituras em dia.
O forró corre solto no Pelourinho. As ruas estreitas ficam apertadíssimas para tanta gente, para aqueles que não se atreveram ou não tiveram dinheiro para viajar. E o pior foi que caiu a maior chuva ontem na cidade, dessas de alagar tudo em minutos. Vi na TV que as pessoas dançavam debaixo de guarda-chuvas. Quanta coragem, ó brava gente.
Tive um convite super-legal para viajar para o interior, para a bela fazenda de uma amiga. Foi uma pena que o trabalho e o cansaço tenham me impedido de pegar a estrada.
15.6.06
Tem pagode no feijão
Sábado passado tive aula o dia inteiro, manhã e tarde. O povo na maior preguiça. Eu ficava me perguntando o tempo todo o que era que eu estava fazendo ali. Procurava respostas e não as achava. Fico sempre pensando: em breve haverá um assunto pelo qual eu me interesse, haverá algo que me motive. Mas fico sempre com uma pontinha de dúvida. O que acho bacana é conhecer novas pessoas, gente de todas as idades. Interessante como os papos variam. A turma vai se aproximando aos poucos, tem bastante gente de relações públicas, o que significa que boa parte gosta de se comunicar e se relacionar. Ou pelo menos deveria.
Da aula saí correndo para o aniversário de uma amiga, uma feijoada com motivos da copa. Acho bacana a criatividade nas variações das camisetas com motivos verde e amarelo. Também tem cinto, brinco, lenço, bandeirolas (estamos em época de São João), toalha de mesa, talher plástico e até confeito de bolo, tudo verde-amarelo.
As garotas ficaram dançando pagode na festa. Acho interessante que baianos e baianas parecem preferir dançar pagode em grupos do mesmo sexo. Apesar de a dança ter características sexuais visíveis, por causa do requebrado, a preferência no pagode é dançar só ou em um grupo, no qual todos fazem os mesmos movimentos. Uma coisa meio exibicionista, digamos assim. Mais baiano impossível.
Da aula saí correndo para o aniversário de uma amiga, uma feijoada com motivos da copa. Acho bacana a criatividade nas variações das camisetas com motivos verde e amarelo. Também tem cinto, brinco, lenço, bandeirolas (estamos em época de São João), toalha de mesa, talher plástico e até confeito de bolo, tudo verde-amarelo.
As garotas ficaram dançando pagode na festa. Acho interessante que baianos e baianas parecem preferir dançar pagode em grupos do mesmo sexo. Apesar de a dança ter características sexuais visíveis, por causa do requebrado, a preferência no pagode é dançar só ou em um grupo, no qual todos fazem os mesmos movimentos. Uma coisa meio exibicionista, digamos assim. Mais baiano impossível.
Mofo
Semanas corridas de aulas e trabalho. Blog anda esquecido. Muita coisa passa pela cabeça e não registro. Penso em escrever, não dá tempo, esqueço. Outras tantas coisas escrevo e não publico, ficam nos garranchos. Parei de rascunhar e não conseguir passar para o computador. As letras repousam no papel aguardando que um dia eu consiga terminar de digitá-las. Escrevi páginas e páginas em um caderno de capa amarela, durante uma viagem que fiz há algum tempo, mas não tenho sequer a coragem de relê-las. Comecei a escrever peças, algumas têm várias páginas escritas, mas não consigo terminá-las. Algum dia vou conseguir? Que farei com tanto rascunho?
A publicação no blog é rápida e indolor. Pelo menos não mofa na gaveta.
A publicação no blog é rápida e indolor. Pelo menos não mofa na gaveta.
14.6.06
3.6.06
O transporte e a vida
A greve de ônibus acabou, mas o movimento na cidade ainda não está regular. Algumas pessoas, principalmente aquelas que teriam que chegar ao trabalho, afirmam de forma veemente que os ônibus ainda não estão circulando. Quem saberá qual a realidade? Alguns dizem que a realidade é própria de cada um, mas nesse caso é preciso um filósofo para discorrer sobre o assunto.
Pobre população de uma das maiores cidades do país, que não conta com nenhum tipo de transporte urbano alternativo. Nem as peruas dão certo por aqui. Nada de metrô, nem bonde, nem de barco, na cidade rodeada de águas. Se nem o ex-ministro dos transportes, futuro candidato a governador do Estado, conseguiu concluir as obras do metrô, o que a população poderá esperar?
O pior é que o povo tem memória curta. Ninguém lembra que um certo comunicador e ex-político, hoje com grande sucesso na comunicação, durante a sua gestão pública foi acusado de responsável por gigantescos desvios de verbas que impediram a finalização do metrô de Salvador. E hoje o tal comunicador posa de paladino da justiça, denunciando ações nebulosas do governo e de empresas. A memória da população é volátil, desaparece no ar, infelizmente.
Em Salvador, nem as kombis e peruas funcionam. Em Recife, além de existir metrô, o transporte alternativo possibilita, até com certo conforto, o deslocamento das pessoas. Pobre Salvador, pobre povo.
(Continua no post abaixo)
Pobre população de uma das maiores cidades do país, que não conta com nenhum tipo de transporte urbano alternativo. Nem as peruas dão certo por aqui. Nada de metrô, nem bonde, nem de barco, na cidade rodeada de águas. Se nem o ex-ministro dos transportes, futuro candidato a governador do Estado, conseguiu concluir as obras do metrô, o que a população poderá esperar?
O pior é que o povo tem memória curta. Ninguém lembra que um certo comunicador e ex-político, hoje com grande sucesso na comunicação, durante a sua gestão pública foi acusado de responsável por gigantescos desvios de verbas que impediram a finalização do metrô de Salvador. E hoje o tal comunicador posa de paladino da justiça, denunciando ações nebulosas do governo e de empresas. A memória da população é volátil, desaparece no ar, infelizmente.
Em Salvador, nem as kombis e peruas funcionam. Em Recife, além de existir metrô, o transporte alternativo possibilita, até com certo conforto, o deslocamento das pessoas. Pobre Salvador, pobre povo.
(Continua no post abaixo)
Às vezes tenho vontade de deixar o carro em casa e ir trabalhar via transporte urbano. Penso duas vezes e desisto. Carro custa caro: gasolina, manutenção, impostos, seguros, aluguel de garagem (até isso tenho que pagar!). Mas, na terra-sem-lei que é a cidade do São Salvador, é desconfortável andar de transporte público.
Quando vim morar em Salvador, tive um choque com o transporte urbano. Eu morava no interior, a família tinha carro. Não ia na esquina à pé, ia de carro. Chegando na cidade grande, me deparei com o caos. Precisava ir às aulas na Faculdade e, por conseqüência, precisava andar de ônibus. Foi, no mínimo, educativo. Terapia de choque.
Eu detestava ter que acordar cedo para pegar ônibus. Só conseguia chegar atrasado nas aulas. Acostumado com as distâncias curtas da cidade pequena, achava um absurdo, um pesadelo, ter que acordar mais cedo para vencer os atrasos do trânsito engarrafado. O resultado foi que levei bomba em quase todas as matérias do primeiro semestre. Compreensível, pois eu tinha apenas dezessete anos, estava afastado da família e tinha que enfrentar uma nova rotina.
Eu morava no centro da cidade e estudava no campus da Universidade Federal situado nos bairros vizinhos de Ondina e Federação. Quando as aulas aconteciam em Ondina, era necessário descer e subir escadarias gigantescas que separavam os prédios, pois os ônibus passavam pela Federação.
Para quem não conhece, o bairro da Federação é um dos mais altos de Salvador. Já o bairro de Ondina fica no nível do mar. As salas onde aconteciam as aulas se espalhavam pelos dois locais. Dá para imaginar a quantidade de degraus a galgar. Outro dia, em visita a uma das Faculdades, vi o projeto de um teleférico para facilitar a vida dos alunos. O projeto está no papel até hoje.
No ano seguinte à minha chegada em Salvador, as coisas melhoraram um pouco. Minha irmã veio morar comigo e a família desalugou o imóvel que estava ocupado. Mudamos para lá, fiquei mais perto da Faculdade, mas senti muita falta dos amigos com os quais dividia o apartamento no centro da cidade. Foi um ano de muita aprendizagem, tanto nos estudos quanto na vida pessoal. Percebi que eu tinha dificuldade em estabelecer laços afetivos, de amizade ou amorosos.
O ano passou, o planeta Júpiter teve a delicadeza de transitar pelo meu signo. As coisa melhoraram profundamente. Ganhei um carro. Usado, mas que quebrava um galho muito grande. Caí na farra. Fiz novas e intensas amizades, que duram até hoje.
Quando vim morar em Salvador, tive um choque com o transporte urbano. Eu morava no interior, a família tinha carro. Não ia na esquina à pé, ia de carro. Chegando na cidade grande, me deparei com o caos. Precisava ir às aulas na Faculdade e, por conseqüência, precisava andar de ônibus. Foi, no mínimo, educativo. Terapia de choque.
Eu detestava ter que acordar cedo para pegar ônibus. Só conseguia chegar atrasado nas aulas. Acostumado com as distâncias curtas da cidade pequena, achava um absurdo, um pesadelo, ter que acordar mais cedo para vencer os atrasos do trânsito engarrafado. O resultado foi que levei bomba em quase todas as matérias do primeiro semestre. Compreensível, pois eu tinha apenas dezessete anos, estava afastado da família e tinha que enfrentar uma nova rotina.
Eu morava no centro da cidade e estudava no campus da Universidade Federal situado nos bairros vizinhos de Ondina e Federação. Quando as aulas aconteciam em Ondina, era necessário descer e subir escadarias gigantescas que separavam os prédios, pois os ônibus passavam pela Federação.
Para quem não conhece, o bairro da Federação é um dos mais altos de Salvador. Já o bairro de Ondina fica no nível do mar. As salas onde aconteciam as aulas se espalhavam pelos dois locais. Dá para imaginar a quantidade de degraus a galgar. Outro dia, em visita a uma das Faculdades, vi o projeto de um teleférico para facilitar a vida dos alunos. O projeto está no papel até hoje.
No ano seguinte à minha chegada em Salvador, as coisas melhoraram um pouco. Minha irmã veio morar comigo e a família desalugou o imóvel que estava ocupado. Mudamos para lá, fiquei mais perto da Faculdade, mas senti muita falta dos amigos com os quais dividia o apartamento no centro da cidade. Foi um ano de muita aprendizagem, tanto nos estudos quanto na vida pessoal. Percebi que eu tinha dificuldade em estabelecer laços afetivos, de amizade ou amorosos.
O ano passou, o planeta Júpiter teve a delicadeza de transitar pelo meu signo. As coisa melhoraram profundamente. Ganhei um carro. Usado, mas que quebrava um galho muito grande. Caí na farra. Fiz novas e intensas amizades, que duram até hoje.
28.5.06
Em casa
Domingo nublado e chuvoso, desisto de ir ao cinema. Este ano estou novamente com a carteira de estudante, o que facilita tudo. Mas simplesmente não tenho estômago para shoppings cheios de gente nos dias sem sol em uma cidade de praia. Concluí o texto, empurrando com força, para vez se o carro pega.
Madruga
Para escapar do sono e não perder o prazo de entrega de um texto, me entupi de café. Deu certo, mas a madrugada avança rápida e estou de olhos arregalados. Torço para que uma dose de scotch faça as pálpebras pesarem.
Mais cedo fui ver uma peça com texto de M. Rubens Paiva. Produção grande, cheia de anunciantes e patrocinadores, uma sorte na secura baiana. Teatro luxuoso, hall bem iluminado, público composto na maioria de moçoilas de nariz empinado e cabelos escovados e rapazotes bem-nutridos, criados à base de sucrilhos Kellog's. Achei o texto fraco, algumas cenas pareciam esquetes de um desses programas de humor televisivo que beiram a idiotia, do tipo Zorra Total.
Salva-se o ator Marcelo Prado, que confere bastante comicidade ao seu personagem. O mérito é todo dele, não das falas do seu personagem. Incrível como ele consegue passar do drama para a comédia em um piscar de olhos. Os demais atores fazem um trabalho correto. Mas o texto é muito raso, adolescente, não empolga. Não vi ninguém se levantar para aplaudir, o que normalmente acontece no teatro baiano.
Saindo do plano teatral, tenho pensado sobre as relações entre as pessoas. Acho interessante como há gente que precisa de limites. Não apenas precisam, mas também pedem. Exigem. Será algum tipo de carência? Acho que sim. É uma pena, pois não precisaria ser assim. Cada um deveria saber avaliar o alcance das suas ações por si só. Mas já que insistem...
Mais cedo fui ver uma peça com texto de M. Rubens Paiva. Produção grande, cheia de anunciantes e patrocinadores, uma sorte na secura baiana. Teatro luxuoso, hall bem iluminado, público composto na maioria de moçoilas de nariz empinado e cabelos escovados e rapazotes bem-nutridos, criados à base de sucrilhos Kellog's. Achei o texto fraco, algumas cenas pareciam esquetes de um desses programas de humor televisivo que beiram a idiotia, do tipo Zorra Total.
Salva-se o ator Marcelo Prado, que confere bastante comicidade ao seu personagem. O mérito é todo dele, não das falas do seu personagem. Incrível como ele consegue passar do drama para a comédia em um piscar de olhos. Os demais atores fazem um trabalho correto. Mas o texto é muito raso, adolescente, não empolga. Não vi ninguém se levantar para aplaudir, o que normalmente acontece no teatro baiano.
Saindo do plano teatral, tenho pensado sobre as relações entre as pessoas. Acho interessante como há gente que precisa de limites. Não apenas precisam, mas também pedem. Exigem. Será algum tipo de carência? Acho que sim. É uma pena, pois não precisaria ser assim. Cada um deveria saber avaliar o alcance das suas ações por si só. Mas já que insistem...
25.5.06
No hotel
Estou em um encontro de trabalho em um hotel bacana de Salvador, localizado à beira-mar. A falta do sol, neste pré-inverno, não tira o charme da praia. As refeições se sucedem em ritmo interminável e sem descanso. Não resisto e me entrego profundamente às carnes, peixes e mariscos.
Terminadas as atividades do dia, jantar caudaloso, madrugada avançando, as pessoas cantam incessantes ao som do violão. Tocando e desafinando, mas o que vale é a animação e a farra. O repertório passa da MPB ao brega. Teclo na sala ao lado, aproveitando o acesso gratuito. É bom ver pessoas alegres em eventos de trabalho, uma coisa que nem sempre possível acontecer.
Durante as discussões de trabalho, temas interessantes vinculados à educação, incluindo responsabilidade social de empresas.
Preciso descansar, pois mais tarde a batalha será intensa: um longo e fantástico café-da-manhã. Como visto em poucas ocasiões.
Terminadas as atividades do dia, jantar caudaloso, madrugada avançando, as pessoas cantam incessantes ao som do violão. Tocando e desafinando, mas o que vale é a animação e a farra. O repertório passa da MPB ao brega. Teclo na sala ao lado, aproveitando o acesso gratuito. É bom ver pessoas alegres em eventos de trabalho, uma coisa que nem sempre possível acontecer.
Durante as discussões de trabalho, temas interessantes vinculados à educação, incluindo responsabilidade social de empresas.
Preciso descansar, pois mais tarde a batalha será intensa: um longo e fantástico café-da-manhã. Como visto em poucas ocasiões.
20.5.06
Enrolando
Sem saco para ler os textos que tenho que ler, fico jogando Freecell no computador. A minha consciência sempre fica pesada pela perda de tempo. Ler que Chico Buarque, antes de começar a escrever, costuma ficar jogando paciência no computador, me deu certo conforto. Somos todos humanos. Nem sempre com o mesmo talento, é claro.
Prefiro ler textos que tratam de comunicação. Quando eles se referem a temas da administração sempre tenho mais preguiça e sinto que preciso fazer mais esforço. Os assuntos de comunicação fluem de modo mais fácil para mim. O curso que estou fazendo é uma mistura das duas áreas.
Nos atuais tempos de trabalho, descobri uma tendência em mim. Descobri que gosto de trabalhar com assuntos sociais. Até com uma certa inclinação para a promoção de algumas causas. E eu que sempre achei marketing um porre, me vejo estimulando pessoas a ajudar, a doar, a trabalhar. Enfim, penso que o objetivo compensa o esforço de trabalho e acho que é isso que tem me motivado.
Esta semana vou novamente, como no ano passado, dormir dois dias em um hotel bacana em Salvador. Vai ser uma mistura de trabalho e diversão. Bom para sair da rotina que me sufoca.
Fui ver a apresentação de um amigo no Cabaré dos Novos, no Teatro Vila Velha. Inspirado em um conto de Caio Fernando Abreu, o nome do espetáculo é Primeiro, Ato-me. Pena que é curto, não chega a 40 minutos. Muito bom conferir a evolução dele como ator, que já realiza um ótimo trabalho de mímica corporal-dramática. A sala ficou cheia só de amigos e parentes, dele e da diretora, que é estudante da Escola de Teatro.
Prefiro ler textos que tratam de comunicação. Quando eles se referem a temas da administração sempre tenho mais preguiça e sinto que preciso fazer mais esforço. Os assuntos de comunicação fluem de modo mais fácil para mim. O curso que estou fazendo é uma mistura das duas áreas.
Nos atuais tempos de trabalho, descobri uma tendência em mim. Descobri que gosto de trabalhar com assuntos sociais. Até com uma certa inclinação para a promoção de algumas causas. E eu que sempre achei marketing um porre, me vejo estimulando pessoas a ajudar, a doar, a trabalhar. Enfim, penso que o objetivo compensa o esforço de trabalho e acho que é isso que tem me motivado.
Esta semana vou novamente, como no ano passado, dormir dois dias em um hotel bacana em Salvador. Vai ser uma mistura de trabalho e diversão. Bom para sair da rotina que me sufoca.
Fui ver a apresentação de um amigo no Cabaré dos Novos, no Teatro Vila Velha. Inspirado em um conto de Caio Fernando Abreu, o nome do espetáculo é Primeiro, Ato-me. Pena que é curto, não chega a 40 minutos. Muito bom conferir a evolução dele como ator, que já realiza um ótimo trabalho de mímica corporal-dramática. A sala ficou cheia só de amigos e parentes, dele e da diretora, que é estudante da Escola de Teatro.
18.5.06
Desabafo
O tal Cláudio Lembo, atual governador de São Paulo, deu uma entrevista irada para a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo. Com a crise da segurança pública, acuado pela opinião pública e pela ação de FHC, Serra e Alckmin - que querem se livrar de qualquer tipo associação com a explosão da violência em São Paulo, o ninho dos tucanos - , o governador desceu a marreta na burguesia paulista, acusada de ser incapaz de agir para realizar melhorias sociais.
A jornalista jogou mais álcool no braseiro, dizendo que a burguesia paulista é capaz de pagar 900 reais por uma dose de certo conhaque no badalado Fasano. O suficiente para quase três salários-mínimos para três famílias. O governador lembrou até do velho conceito da casa-grande-e-senzala.
Há tempos não vejo um discurso tão inflamado. Nem entre os mais radicais da esquerda. E não é que ele tem razão?
O Brasil é do jeito que é não só por causa do governo. Mas também por causa da população. Não a população pobre ou classe média, que luta muito para ter uma vida digna. Esses até ajudam alguns necessitados. Que muitas vezes são os seus parentes ou amigos.
Os ricos é que não dividem nada. Uma classe social de mente pouco iluminada, que só quer acumular mais riqueza. A cada dia, mais brasileiros entram nas listas dos bilionários. A economia do país é uma das maiores do mundo. Por que há tanta pobreza e tanta riqueza concentrada? Porque os ricos não vêem aquele outro, o pobre, como um igual. Vêem-no como um ser inferior. Há vários preconceitos embutidos no olhar sobre a pobreza. Infelizmente essa é a herança nefasta da escravidão.
Os governantes, por sua vez, são um espelho da população, pois foi a própria população quem os colocou no poder. Eles são incapazes de realizar mudanças para diminuir privilégios. Ou instituir mecanismos de desenvolvimento e controle orçamentário, financeiro e de justiça. Mudanças que seriam úteis para grande parcela da população, mas aqueles que ganham vantagens fazem tudo para não perdê-las. O compadrio é um traço de comportamento endêmico entre os brasileiros. Sempre se dá um jeitinho de acobertar as coisas mal feitas pelos colegas e amigos. Vemos isso em todos os níveis. Casos de assédio moral e sexual se acumulam e são abafados com aposentarias nas empresas.
A burguesia brasileira é muito cruel. Salve-se quem puder.
A jornalista jogou mais álcool no braseiro, dizendo que a burguesia paulista é capaz de pagar 900 reais por uma dose de certo conhaque no badalado Fasano. O suficiente para quase três salários-mínimos para três famílias. O governador lembrou até do velho conceito da casa-grande-e-senzala.
Há tempos não vejo um discurso tão inflamado. Nem entre os mais radicais da esquerda. E não é que ele tem razão?
O Brasil é do jeito que é não só por causa do governo. Mas também por causa da população. Não a população pobre ou classe média, que luta muito para ter uma vida digna. Esses até ajudam alguns necessitados. Que muitas vezes são os seus parentes ou amigos.
Os ricos é que não dividem nada. Uma classe social de mente pouco iluminada, que só quer acumular mais riqueza. A cada dia, mais brasileiros entram nas listas dos bilionários. A economia do país é uma das maiores do mundo. Por que há tanta pobreza e tanta riqueza concentrada? Porque os ricos não vêem aquele outro, o pobre, como um igual. Vêem-no como um ser inferior. Há vários preconceitos embutidos no olhar sobre a pobreza. Infelizmente essa é a herança nefasta da escravidão.
Os governantes, por sua vez, são um espelho da população, pois foi a própria população quem os colocou no poder. Eles são incapazes de realizar mudanças para diminuir privilégios. Ou instituir mecanismos de desenvolvimento e controle orçamentário, financeiro e de justiça. Mudanças que seriam úteis para grande parcela da população, mas aqueles que ganham vantagens fazem tudo para não perdê-las. O compadrio é um traço de comportamento endêmico entre os brasileiros. Sempre se dá um jeitinho de acobertar as coisas mal feitas pelos colegas e amigos. Vemos isso em todos os níveis. Casos de assédio moral e sexual se acumulam e são abafados com aposentarias nas empresas.
A burguesia brasileira é muito cruel. Salve-se quem puder.
14.5.06
Antes do inverno
Chove e faz frio em maio como há muito não se vê em Salvador. Aproveito para dormir e ler. Costuma-se dizer que, com a passagem do tempo, o sono das pessoas vai diminuindo. Eu não tenho esse problema. Dormir é uma das coisas que acho mais prazerosas na vida. Adoro cochilar durante o dia, quando é possível. Com as horas ocupadas da semana, é nas tardes livres dos sábados e domingos que sobram os minutos para descanso. O sono reparador é uma benção para a saúde.
Com o sono eu aproveito para empurrar para depois o artigo para entregar e as postagens no blog - que caminha devagar há algum tempo, mas é resistente. Tomo café para despertar. Vou tentando, tentando, até que surge alguma coisa e as palavras começam a fluir pela frente.
Em domingo de restaurantes lotados de famílias, fiquei em casa, fiz uma massa italiana com frango (que estava semi-pronto, temperado, desfiado e congelado), azeitonas e tomates secos.
Durante o Festival Sala de Arte, assisti ontem a Uma Mulher Contra Hitler (Sophie Scholl - Die Letzten Tage, Alemanha, 2005), direção de Marc Rothemund, que ganhou 2 Ursos de Prata no Festival de Berlim, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Julia Jentsch), e foi indicado ao Oscar 2006 de filme estrangeiro.
Uma visão diferente dos filmes sobre o nazismo: a insatisfação dos alemães com o governo de Hiltler durante a Segunda Guerra. Sophie Scholl e seu irmão são estudantes universitários em Munique e fazem parte da Rosa Branca, uma organização contrária a Hitler. Eles são presos e julgados por distribuírem panfletos criticando o governo.
O clima é lento e angustiante. O roteiro é muito inteligente e informativo. A racionalidade e o pragmatismo dos alemães sempre presentes. É como se o filme dissesse que a dor deva ser sofrida calada, como se fosse uma missão a ser cumprida. Ou paga. Bem diferente da cultura latina que está próxima de nós.
Com o sono eu aproveito para empurrar para depois o artigo para entregar e as postagens no blog - que caminha devagar há algum tempo, mas é resistente. Tomo café para despertar. Vou tentando, tentando, até que surge alguma coisa e as palavras começam a fluir pela frente.
Em domingo de restaurantes lotados de famílias, fiquei em casa, fiz uma massa italiana com frango (que estava semi-pronto, temperado, desfiado e congelado), azeitonas e tomates secos.
Durante o Festival Sala de Arte, assisti ontem a Uma Mulher Contra Hitler (Sophie Scholl - Die Letzten Tage, Alemanha, 2005), direção de Marc Rothemund, que ganhou 2 Ursos de Prata no Festival de Berlim, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Julia Jentsch), e foi indicado ao Oscar 2006 de filme estrangeiro.
Uma visão diferente dos filmes sobre o nazismo: a insatisfação dos alemães com o governo de Hiltler durante a Segunda Guerra. Sophie Scholl e seu irmão são estudantes universitários em Munique e fazem parte da Rosa Branca, uma organização contrária a Hitler. Eles são presos e julgados por distribuírem panfletos criticando o governo.
O clima é lento e angustiante. O roteiro é muito inteligente e informativo. A racionalidade e o pragmatismo dos alemães sempre presentes. É como se o filme dissesse que a dor deva ser sofrida calada, como se fosse uma missão a ser cumprida. Ou paga. Bem diferente da cultura latina que está próxima de nós.
6.5.06
Em dias de chuva
A chuva voltou para deixar a cidade restrita aos shoppings. Fui em um abrigo deixar material de limpeza recolhido por doações. Almocei com um amigo que não via há oito anos. Horas e horas de conversa. A chuva dá sono. Muita preguiça para fazer o texto que tenho que entregar.
A população da gatolândia diminuiu aqui em casa. A gata foi morar em uma fazenda. Para a minha tranqüilidade, soube que uma garota de seis anos, que mora lá, se encantou com a felina e pediu ao pai para adotá-la.
Ontem vi Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, no Teatro Vila Velha. A peça rendeu indicação de Iara Colina à categoria de Melhor Atriz no prêmio Braskem. Com o sucesso obtido no Cabaré dos Novos, o espetáculo re-estreou no palco principal.
Comédia sobre três mulheres: uma divorciada depressiva, uma viúva evangélica carente e uma vegetariana-perua, Glória (Colina), que tem um caso com um homem casado. O texto é do venezuelano Gustavo Ott. Sem nada de excepcional, mas há alguns diálogos interessantes. As personagens beiram os clichês, as atrizes sustentam com determinação. Viviane Laert ótima como a evangélica.
Mais uma vez, ao freqüentar estréias e re-estréias, há a coincidência de haver um coquetelzinho rolando. Tomei dois copinhos de batida, belisquei alguma coisa e voltei para casa.
A população da gatolândia diminuiu aqui em casa. A gata foi morar em uma fazenda. Para a minha tranqüilidade, soube que uma garota de seis anos, que mora lá, se encantou com a felina e pediu ao pai para adotá-la.
Ontem vi Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, no Teatro Vila Velha. A peça rendeu indicação de Iara Colina à categoria de Melhor Atriz no prêmio Braskem. Com o sucesso obtido no Cabaré dos Novos, o espetáculo re-estreou no palco principal.
Comédia sobre três mulheres: uma divorciada depressiva, uma viúva evangélica carente e uma vegetariana-perua, Glória (Colina), que tem um caso com um homem casado. O texto é do venezuelano Gustavo Ott. Sem nada de excepcional, mas há alguns diálogos interessantes. As personagens beiram os clichês, as atrizes sustentam com determinação. Viviane Laert ótima como a evangélica.
Mais uma vez, ao freqüentar estréias e re-estréias, há a coincidência de haver um coquetelzinho rolando. Tomei dois copinhos de batida, belisquei alguma coisa e voltei para casa.
30.4.06
Valores
Uma pessoa ganha um prêmio em dinheiro. Um bom prêmio, mas não estratosférico. Uma grana que, se bem administrada, dá pra viver o resto da vida sem fazer muito esforço. A pessoa é merecedora do prêmio. Leva uma vida ascética e quase monástica, na qual o trabalho realizado tem um caráter humanitário que, somado às características expansivas pessoais, confere um carisma que não se encontra facilmente na ruas e nos cantos escuros da sociedade.
Com o prêmio, a pessoa ajuda alguns irmãos e parentes da extensa família. Procura se aproximar mais ainda das pessoas. De repente ocorre o escândalo. Um parente de segunda geração, um sobrinho pelo qual a pessoa tinha o maior carinho, entra na justiça alegando ser detentor de metade do prêmio. Na justiça! Solicitando inclusive o bloqueio dos bens adquiridos depois da premiação, e do restante do dinheiro ganho. A alegação foi que havia depositado, em certa época, um dinheiro - prontamente devolvido -, na conta da pessoa.
Anos antes, a pessoa havia ajudado o familiar. Antes mesmo de ganhar o prêmio. Ela o tinha como um filho. Nos bastidores sabe-se que o tal familiar tinha andado pelo exterior, onde ganhou muito dinheiro e suspeita-se, quase certeza, de forma e com substâncias ilícitas.
A vida é um filme. Fiquei impressionado. E triste por ter um exemplo tão torpe de ser humano rodeando uma pessoa conhecida.
O ser humano precisa resgatar urgente os seus valores. Não os monetários. Os humanos.
Com o prêmio, a pessoa ajuda alguns irmãos e parentes da extensa família. Procura se aproximar mais ainda das pessoas. De repente ocorre o escândalo. Um parente de segunda geração, um sobrinho pelo qual a pessoa tinha o maior carinho, entra na justiça alegando ser detentor de metade do prêmio. Na justiça! Solicitando inclusive o bloqueio dos bens adquiridos depois da premiação, e do restante do dinheiro ganho. A alegação foi que havia depositado, em certa época, um dinheiro - prontamente devolvido -, na conta da pessoa.
Anos antes, a pessoa havia ajudado o familiar. Antes mesmo de ganhar o prêmio. Ela o tinha como um filho. Nos bastidores sabe-se que o tal familiar tinha andado pelo exterior, onde ganhou muito dinheiro e suspeita-se, quase certeza, de forma e com substâncias ilícitas.
A vida é um filme. Fiquei impressionado. E triste por ter um exemplo tão torpe de ser humano rodeando uma pessoa conhecida.
O ser humano precisa resgatar urgente os seus valores. Não os monetários. Os humanos.
29.4.06
28.4.06
Mais gente
Ele chegou ainda bebê, com passos titubeantes amparando novas descobertas. O amarelo dos olhos compartilha a cor do tom mais escuro do pêlo. As patas brancas formam luvas compridas, que se emendam com a barriga recoberta de pêlos cor de neve. Sempre alvos, como só os gatos conseguem manter, com o providencial auxílio dos banhos de língua.
Logo no início ele despertou o ciúme dos outros. Miados se tornaram quase rugidos dos donos da casa. O pequeno, com a inocência das crianças, parecia imune às hostilidades. Nada abalava o seu apetite, entregava-se ágil à comida oferecida. Alguns dias depois, uma surpresa. A gata o adotou. Saudosa da ninhada que foi distanciada dela, recolheu o novato e passou ao chamego total. Ele não é filho, mas é neto. Filhote de uma das gatas da ninhada do ano passado.
Ao observar com mais cuidado, notei que o filhote passou a recorrer com freqüência às tetas da avó castrada e gorda. Curioso, fui checar. Incrivelmente havia leite. Em minha ignorância, eu imaginava que uma gata castrada fosse incapaz de produzir alimento para filhotes.
O veterinário me esclareceu a situação. Assim como nos humanos, o leite não é produzido pelo ovário, mas por outra glândula, se não me engano a hipófise, localizada no cérebro. E o que causa a produção do leite é o estímulo da sucção do filhote. Fiquei sabendo também que no reino animal até os machos podem produzí-lo.
O filhote agora está gordinho e grande. E ainda vai buscar a teta para mamar. A natureza é mais sábia que a gente pensa.
Ah, o nome dele é Cuca Lilico. Acredite.
Logo no início ele despertou o ciúme dos outros. Miados se tornaram quase rugidos dos donos da casa. O pequeno, com a inocência das crianças, parecia imune às hostilidades. Nada abalava o seu apetite, entregava-se ágil à comida oferecida. Alguns dias depois, uma surpresa. A gata o adotou. Saudosa da ninhada que foi distanciada dela, recolheu o novato e passou ao chamego total. Ele não é filho, mas é neto. Filhote de uma das gatas da ninhada do ano passado.
Ao observar com mais cuidado, notei que o filhote passou a recorrer com freqüência às tetas da avó castrada e gorda. Curioso, fui checar. Incrivelmente havia leite. Em minha ignorância, eu imaginava que uma gata castrada fosse incapaz de produzir alimento para filhotes.
O veterinário me esclareceu a situação. Assim como nos humanos, o leite não é produzido pelo ovário, mas por outra glândula, se não me engano a hipófise, localizada no cérebro. E o que causa a produção do leite é o estímulo da sucção do filhote. Fiquei sabendo também que no reino animal até os machos podem produzí-lo.
O filhote agora está gordinho e grande. E ainda vai buscar a teta para mamar. A natureza é mais sábia que a gente pensa.
Ah, o nome dele é Cuca Lilico. Acredite.
23.4.06
Chuva e cinema
Final de semana chuvoso, a população de Salvador, sem saber o que fazer, deslocou-se para os shopping centers, que ficaram entupidos de gente. Até as primeiras sessões de cinema da tarde estão com ocupação maior que o normal. Atualmente são as minhas favoritas. Além de mais vazias, custam quase a metade do preço. Não sei por que cargas d’água os donos de cinema não fizeram essa redução de preço antes. Melhor aumentar a freqüência, a preço mais baixo, do que ficar com o cinema vazio.
Vi Armações do Amor (Failure to Launch, EUA, 2006), com Sarah Jessica Parker e Mattew Matthew McConaughey. Comédia romântica sobre um trintão (McConaughey) que não quer sai da casa dos pais. Dispostos a se livrar do filho, eles contratam uma mulher (Parker) para conquistá-lo e tirá-lo de casa.
A grande curiosidade do filme é ver Sarah Jessica Parker atuar no cinema depois do sucesso do seriado Sex And The City. E ela não desaponta. É a mesma personagem, só que um pouco mais contida e menos auto-confiante que no seriado. Especial para agradar aos fãs - que esperam um replay de Carrie Bradshow - ou pouca versatilidade da atriz?
O outro filme foi Sra. Henderson Apresenta ( Mrs. Henderson Presents, Inglaterra, 2005), com direção do ótimo Stephen Frears e com Judi Dench no papel-título. Uma viúva rica compra um teatro e aproveita uma brecha nas leis inglesas da década de 1940 para produzir peças com cenas de nudez. Judi Dench dá um show de interpretação em um ótimo papel cômico.
O filme é um comédia inteligente e engraçadíssima com aquele humor inglês irônico e refinado. Teve duas indicações para o Oscar: Melhor Atriz (Judi Dench) e Melhor Figurino. Interessante por mostrar os bastidores do teatro musical na época da Segunda Guerra Mundial, quando os espetáculos tinham que conviver com as bombas nos arredores.
Vi Armações do Amor (Failure to Launch, EUA, 2006), com Sarah Jessica Parker e Mattew Matthew McConaughey. Comédia romântica sobre um trintão (McConaughey) que não quer sai da casa dos pais. Dispostos a se livrar do filho, eles contratam uma mulher (Parker) para conquistá-lo e tirá-lo de casa.
A grande curiosidade do filme é ver Sarah Jessica Parker atuar no cinema depois do sucesso do seriado Sex And The City. E ela não desaponta. É a mesma personagem, só que um pouco mais contida e menos auto-confiante que no seriado. Especial para agradar aos fãs - que esperam um replay de Carrie Bradshow - ou pouca versatilidade da atriz?
O outro filme foi Sra. Henderson Apresenta ( Mrs. Henderson Presents, Inglaterra, 2005), com direção do ótimo Stephen Frears e com Judi Dench no papel-título. Uma viúva rica compra um teatro e aproveita uma brecha nas leis inglesas da década de 1940 para produzir peças com cenas de nudez. Judi Dench dá um show de interpretação em um ótimo papel cômico.
O filme é um comédia inteligente e engraçadíssima com aquele humor inglês irônico e refinado. Teve duas indicações para o Oscar: Melhor Atriz (Judi Dench) e Melhor Figurino. Interessante por mostrar os bastidores do teatro musical na época da Segunda Guerra Mundial, quando os espetáculos tinham que conviver com as bombas nos arredores.
O peixe na rede
Fazendo busca no contador de acessos do blog, verifiquei que uma pessoa o acessou por meio da consulta “Origem da receita de peixe na folha de bananeira” no Google. O post sobre o assunto está logo aí abaixo.
Refiz a pesquisa e descobri várias coisas interessantes. No Sul do Brasil também há costume de assar peixe em folha de bananeira. Na foto ao lado há algo dessa categoria. Mas só na Bahia há a presença do dendê.
Continuei a acessar a listagem da pesquisa no Google e verifiquei que o Festa dos Sentidos estava em mais outro resultado. Como eu havia notado outras vezes, boa parte dos visitantes que chega aqui via pesquisa vem procurando alguma coisa sobre culinária baiana.
Mas o mais interessante foi achar um link para o site da Faculdade em que estudei. O link levava para um trabalho de reportagens feito sobre o dendê. Feito por quem? Por mim. Eu sabia que o trabalho estava disponível on-line, só não sabia onde achá-lo. Na verdade nunca nem havia procurado. O site da Faculdade é um verdadeiro labirinto. Cheio de mistérios e monstros, difícil de encontrar alguma coisa. Tenho medo de me perder ali e dar de cara com algum minotauro da semiótica, estética ou cibercultura.
O trabalho pode ser acessado aqui. A primeira parte é um relato sobre a confecção do próprio trabalho, chamado de memória. O nome do arquivo é o do meu orientador, atual diretor da Faculdade.
Refiz a pesquisa e descobri várias coisas interessantes. No Sul do Brasil também há costume de assar peixe em folha de bananeira. Na foto ao lado há algo dessa categoria. Mas só na Bahia há a presença do dendê.
Continuei a acessar a listagem da pesquisa no Google e verifiquei que o Festa dos Sentidos estava em mais outro resultado. Como eu havia notado outras vezes, boa parte dos visitantes que chega aqui via pesquisa vem procurando alguma coisa sobre culinária baiana.
Mas o mais interessante foi achar um link para o site da Faculdade em que estudei. O link levava para um trabalho de reportagens feito sobre o dendê. Feito por quem? Por mim. Eu sabia que o trabalho estava disponível on-line, só não sabia onde achá-lo. Na verdade nunca nem havia procurado. O site da Faculdade é um verdadeiro labirinto. Cheio de mistérios e monstros, difícil de encontrar alguma coisa. Tenho medo de me perder ali e dar de cara com algum minotauro da semiótica, estética ou cibercultura.
O trabalho pode ser acessado aqui. A primeira parte é um relato sobre a confecção do próprio trabalho, chamado de memória. O nome do arquivo é o do meu orientador, atual diretor da Faculdade.
14.4.06
Moqueca de peixe na folha
Há um prato na culinária baiana pouco conhecido, até mesmo em Salvador. A iguaria tem origem no Sul da Bahia e, pelas características, parece reunir influências africana e indígena. O prato é chamado de Moqueca de peixe na folha. A maiúscula é minha, uma pequena homenagem.
Um dos poucos livros de cozinha baiana, em que há registro da receita, é aquele de Paloma Jorge Amado, no qual ela reúne os pratos citados pelo pai em seus livros.
Toma-se um peixe carnudo e saboroso, de preferência o robalo. Tira-se a espinha central e aquela superior, que sustenta a barbatana. A cabeça é mantida. Prepara-se o tempero e deixa-se marinando por um tempo.
Perto da hora de assar, faz-se uma farofa úmida com um pouco de dendê e aproveitando os temperos da marinada. Envolve-se o peixe até que a massa fique com a espessura de um dedo. A seguir o peixe deverá ser empacotado em folhas de bananeira, amarrado por barbantes e levado ao forno.
A farofa torna-se uma massa deliciosa que lembra um pirão com crosta crocante. Se a farofa for mais seca, o revestimento ficará mais crocante. Se for mais úmida, o resultado lembrará um pirão saboroso. Bom dos dois jeitos.
Na hora de servir parte-se o peixe em fatias. No prato chegam os pedaços de carne branca do rei robalo, acompanhado do amarelo do dendê. O robalo é uma delícia que habita as águas dos encontros de rio e mar.
O prato tem características indígenas, pois é assado em folhas de bananeira. O dendê é a colaboração africana. E não adianta substituir o invólucro pela praticidade e modernidade do papel alumínio. O sabor não será o mesmo, pois as folhas transferem parte do seu sabor para o assado.
Tenho o privilégio de pertencer a uma família sul-baiana que prepara essa receita. Desde que os meus avós e tios-avós moravam na Fazenda Cachoeira, na estrada que liga Ilhéus a Itabuna.
A Moqueca de peixe na folha foi o prato de resistência do almoço da Sexta Santa. Os dois robalos assados sumiram questão de minutos. Ainda ficaram o vatapá, o caruru, o camarão, a moqueca de bacalhau, a moqueca de peixe, o feijão de leite. Uma lista quase sem fim. Mas isso é uma outra história.
Um dos poucos livros de cozinha baiana, em que há registro da receita, é aquele de Paloma Jorge Amado, no qual ela reúne os pratos citados pelo pai em seus livros.
Toma-se um peixe carnudo e saboroso, de preferência o robalo. Tira-se a espinha central e aquela superior, que sustenta a barbatana. A cabeça é mantida. Prepara-se o tempero e deixa-se marinando por um tempo.
Perto da hora de assar, faz-se uma farofa úmida com um pouco de dendê e aproveitando os temperos da marinada. Envolve-se o peixe até que a massa fique com a espessura de um dedo. A seguir o peixe deverá ser empacotado em folhas de bananeira, amarrado por barbantes e levado ao forno.
A farofa torna-se uma massa deliciosa que lembra um pirão com crosta crocante. Se a farofa for mais seca, o revestimento ficará mais crocante. Se for mais úmida, o resultado lembrará um pirão saboroso. Bom dos dois jeitos.
Na hora de servir parte-se o peixe em fatias. No prato chegam os pedaços de carne branca do rei robalo, acompanhado do amarelo do dendê. O robalo é uma delícia que habita as águas dos encontros de rio e mar.
O prato tem características indígenas, pois é assado em folhas de bananeira. O dendê é a colaboração africana. E não adianta substituir o invólucro pela praticidade e modernidade do papel alumínio. O sabor não será o mesmo, pois as folhas transferem parte do seu sabor para o assado.
Tenho o privilégio de pertencer a uma família sul-baiana que prepara essa receita. Desde que os meus avós e tios-avós moravam na Fazenda Cachoeira, na estrada que liga Ilhéus a Itabuna.
A Moqueca de peixe na folha foi o prato de resistência do almoço da Sexta Santa. Os dois robalos assados sumiram questão de minutos. Ainda ficaram o vatapá, o caruru, o camarão, a moqueca de bacalhau, a moqueca de peixe, o feijão de leite. Uma lista quase sem fim. Mas isso é uma outra história.
Prêmio de teatro
O Prêmio Braskem deste ano coroou o trabalho do diretor João Lima e do ator Lúcio Tranchesi, de O Sapato do Meu Tio, uma beleza de peça clown que diz muito sobre a aprendizagem. Diz não, apresenta. Ou representa. Não há falas e o espetáculo é majestoso, lírico e delicado, de levar às lágrimas. É a história de um palhaço mambembe (Tranchesi) que passa o conhecimento do seu ofício para o sobrinho, vivido por Alexandre Casali, que também seria merecedor da premiação de melhor ator.
É interessante que o espetáculo, sem nenhuma palavra articulada, também concorreu ao prêmio de melhor texto. Coerência ou falta de opção para indicações? Não sei responder.
A apresentação do prêmio foi ágil e dinâmica, sem se tornar chata por muitos falatórios. Gostei das imagens de Sofia Federico e dos dançarinos no palco. A arte teatral está nos premiados, não era preciso de mais espetáculo no palco.
Achei o coquetel fraco em relação aos anos anteriores. Bebidas à vontade, mas a comida estava regrada. Apesar de ter tomado somente 3 doses de uísque, acordei no dia seguinte meio ressaqueado. Acho que o rótulo de escocês era uma farsa.
Estou em Ilhéus, teclando depois do lauto almoço da Sexta-feira Santa.
É interessante que o espetáculo, sem nenhuma palavra articulada, também concorreu ao prêmio de melhor texto. Coerência ou falta de opção para indicações? Não sei responder.
A apresentação do prêmio foi ágil e dinâmica, sem se tornar chata por muitos falatórios. Gostei das imagens de Sofia Federico e dos dançarinos no palco. A arte teatral está nos premiados, não era preciso de mais espetáculo no palco.
Achei o coquetel fraco em relação aos anos anteriores. Bebidas à vontade, mas a comida estava regrada. Apesar de ter tomado somente 3 doses de uísque, acordei no dia seguinte meio ressaqueado. Acho que o rótulo de escocês era uma farsa.
Estou em Ilhéus, teclando depois do lauto almoço da Sexta-feira Santa.
8.4.06
Em dias
Consegui sobreviver à poeira e ao cheiro das tintas. Empurra móvel para lá e para cá, coloca as coisas dentro de caixas, cobre tudo com lona plástica. Como nenhum acontecimento chega sozinho, a pintura do apartamento ocorreu na mesma semana que as aulas do curso de pós-graduação começaram.
Agenda, pasta, crachá, carteira, chaves, objetos pessoais tinham que ficar em um local muito bem reservado, pois eu corria o risco de enlouquecer, caso não achasse alguma coisa necessária para sair de casa e conseguir chegar ao trabalho e às aulas.
Os gatos também sobreviveram à confusão. Acho que até gostaram, pois passearam bastante por cima e por dentro das montanhas negras formadas pela lona.
Neste semestre não estou fazendo teatro. E estou morrrrrrrendo de preguiça de estudar. No primeiro módulo tive aulas com uma excelente professora da USP, que é a papisa da comunicação organizacional aqui no Brasil.
Agora no segundo módulo, as aulas do professor são bem interessantes e divertidas. Ele é inteligentíssimo, culto, teatral e quase um comediante. O que não gosto muito no curso de forma geral é a ênfase nos aspectos da Administração. Palavras como gestão organizacional e planejamento estratético parecem doce na boca dos professores. Fico meio enjoado, pois é um discurso que canso de ouvir lá no trabalho.
Eu preferiria estar estudando cultura, cinema, teatro ou literatura. Só que esses temas têm poucas ofertas de cursos lato senso. Mas, enfim, estudar é preciso, sempre. E tenho que admitir que o curso está efetivamente relacionado com o meu trabalho.
De resto, sou quase uma assombração na sala. São só três homens perdidos num mar de quarenta e duas mulheres, entre jornalistas, publicitárias, marqueteiras, relações públicas e até secretárias. Na época da Faculdade, a quantidade de mulheres era maior, mas a diferença não era tão massacrante. Definitivamente faço parte de uma minoria.
Agenda, pasta, crachá, carteira, chaves, objetos pessoais tinham que ficar em um local muito bem reservado, pois eu corria o risco de enlouquecer, caso não achasse alguma coisa necessária para sair de casa e conseguir chegar ao trabalho e às aulas.
Os gatos também sobreviveram à confusão. Acho que até gostaram, pois passearam bastante por cima e por dentro das montanhas negras formadas pela lona.
Neste semestre não estou fazendo teatro. E estou morrrrrrrendo de preguiça de estudar. No primeiro módulo tive aulas com uma excelente professora da USP, que é a papisa da comunicação organizacional aqui no Brasil.
Agora no segundo módulo, as aulas do professor são bem interessantes e divertidas. Ele é inteligentíssimo, culto, teatral e quase um comediante. O que não gosto muito no curso de forma geral é a ênfase nos aspectos da Administração. Palavras como gestão organizacional e planejamento estratético parecem doce na boca dos professores. Fico meio enjoado, pois é um discurso que canso de ouvir lá no trabalho.
Eu preferiria estar estudando cultura, cinema, teatro ou literatura. Só que esses temas têm poucas ofertas de cursos lato senso. Mas, enfim, estudar é preciso, sempre. E tenho que admitir que o curso está efetivamente relacionado com o meu trabalho.
De resto, sou quase uma assombração na sala. São só três homens perdidos num mar de quarenta e duas mulheres, entre jornalistas, publicitárias, marqueteiras, relações públicas e até secretárias. Na época da Faculdade, a quantidade de mulheres era maior, mas a diferença não era tão massacrante. Definitivamente faço parte de uma minoria.
26.3.06
Pausa
O blog vai continuar sonolento. Pintura no apartamento, vou ter que desinstalar o computer. Espero que na próxima semana esteja tudo pronto.
Os gatos terão que ficar residindo na área de serviço. Tomara que não tenham problema com a tinta.
Os gatos terão que ficar residindo na área de serviço. Tomara que não tenham problema com a tinta.
22.3.06
Aniversário
Dona H., ariana do primeiro dia do calendário astrológico, decidiu comemorar os seus 60 anos ao lado de quase 80 (!) convidadas, entre amigas e parentes. Só para mulheres, na faixa dos 15 aos 80 e lá vai fumaça. Final de tarde, com a bela vista da Baía do Pontal, em Ilhéus. Festinha com direito a musica ao vivo, garçons servindo salgadinhos, coquetel de frutas e jantar light. Pena que não pude passar por lá.
Depois que o álcool do coquetel começou a fazer efeito, o ponto alto da festa ficou com a risadaria do sorteio de alguns mimos para as convidadas. Caixinhas trabalhadas com camisinhas-de-vênus e tanguinhas fio-dental estilo go-go girls. Presentinhos úteis para todas as idades e animações.
Alguns docinhos vieram de avião, correndo para me encontrar e ainda estão me esperando. Preciso voar.
Depois que o álcool do coquetel começou a fazer efeito, o ponto alto da festa ficou com a risadaria do sorteio de alguns mimos para as convidadas. Caixinhas trabalhadas com camisinhas-de-vênus e tanguinhas fio-dental estilo go-go girls. Presentinhos úteis para todas as idades e animações.
Alguns docinhos vieram de avião, correndo para me encontrar e ainda estão me esperando. Preciso voar.
Livros
A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst, toma as minhas horas e as minhas idéias. Estou entregue. Por outro lado, não consigo terminar O Templo do Pavilhão Dourado, do japonês Yukio Mishima. Tive as férias inteiras mas não o finalizei. O ritmo é muito lento, psicológico, incômodo. Restam somente 40 páginas e não consegui e não consigo me concentrar para terminá-lo. Não gostei do livro, que é tido como uma obra-prima. Ou será que me incomodou além do esperado?
19.3.06
Previsões
A passagem do planeta Júpiter por um signo sempre traz boa sorte para aqueles que nascem sob a influência daquele próprio signo. Desde o final de 2005, até o final de 2006, Júpiter transita pela constelação de Escorpião, o que confere bons argúrios para os escorpianos. Achei que isso seria um bom sinal para a reeleição do Presidente Lula.
A minha surpresa foi ler um texto bem interessante, pelo menos para quem tem um pouquinho de conhecimento de astrologia, sobre os aspectos astrológicos que envolvem a eleição deste anos. G. Alkmin também é escorpiano, como Lula. Escorpião é signo persistente e vingativo, que tende a levar tudo para o lado pessoal. A disputa promete ser dura.
Outro aspecto interessante é que as figuras femininas tendem a ganhar projeção e incomodar. Será que a senadora HH vai minar as forças de Lula?
Leia aqui o texto
A minha surpresa foi ler um texto bem interessante, pelo menos para quem tem um pouquinho de conhecimento de astrologia, sobre os aspectos astrológicos que envolvem a eleição deste anos. G. Alkmin também é escorpiano, como Lula. Escorpião é signo persistente e vingativo, que tende a levar tudo para o lado pessoal. A disputa promete ser dura.
Outro aspecto interessante é que as figuras femininas tendem a ganhar projeção e incomodar. Será que a senadora HH vai minar as forças de Lula?
Leia aqui o texto
16.3.06
Frescura
Depois de passar o verão na quentura, agora eu teclo sob as ondas de um ventilador de teto.
Para crianças
Conheci uma escritora famosa e muito simpática. Ela escreve poesia e livros de fazer criança arregalar o olho de alegria. Ela é professora e conta histórias. É irmã de gente mais famosa ainda – e tão talentosa quanto. Uma amiga leu para mim alguns pedaços do seu livro de cartas e foi de arrepiar.
Eu a conheci durante uma reunião para desenvolvimento de um trabalho social-artístico-cultural.
Há projetos a fazer. Há coisas a concretizar. Há pessoas a ajudar. Há gente que ajuda e gente que precisa de ajuda. É preciso ajudar quem ajuda. É preciso ajudar quem precisa de ajuda. Há muita gente que precisa. E muito. É preciso ajudar a quem se disponibiliza a ajudar.
Eu a conheci durante uma reunião para desenvolvimento de um trabalho social-artístico-cultural.
Há projetos a fazer. Há coisas a concretizar. Há pessoas a ajudar. Há gente que ajuda e gente que precisa de ajuda. É preciso ajudar quem ajuda. É preciso ajudar quem precisa de ajuda. Há muita gente que precisa. E muito. É preciso ajudar a quem se disponibiliza a ajudar.
12.3.06
Dia de carne
Churrasco é unanimidade nacional. Do sul ao norte, da casa pobre à rica. Da carne assando no domingão, em cima da laje, ao bufê contratado da churrascaria de luxo, os brasileiros não resistem às carnes espetadas e assadas nas brasas do carvão. Isto é, excluindo os vegetarianos, que não se conformam com o consumo de animais.
De modo geral não como muita carne vermelha. Houve épocas em que só comia peixe, frango e mariscos. Mas não resisto a um bom churrasco, igual ao que fui hoje, domingo. O meu prato é sempre alvo de gozações, pelo tamanho, digamos, além do esperado.
Prédio de classe média alta, aniversário de amigos de amigos, lá fui eu. Empresa contratada servindo, tudo no maior conforto, nem sinal de brasas, cinzas e fumaça. Pratinhos saindo com pedaços de carne, calabresa, coração de galinha e pão de alho assado. Cervejas, uísques, vinhos e roskas circulando. Verdadeira esbórnia.
A estratégia de quem oferece churrasco aos convidados é sempre a mesma. Serve-se a própria carne assada, calmamente, em pequenas porções, como se fosse tira-gosto. Quando a gente pensa que não vem mais nada, que já estamos satisfeitos, eis que a mesa de acompanhamentos é posta. Arroz branco, arroz temperado, feijão tropeiro, salada verde, maionese de batata, farofa, molho de pimenta e vinagrete.
Os acompanhamentos do churrasco variam de acordo com a região do país. Na Bahia, não pode faltar a salada de batata com maionese e o feijão tropeiro. Em outros lugares, a ênfase fica com a farofa, com a salada verde e até aipim (macaxeira).
Depois de ver tão bela mesa servida, como resistir? Faz-se um prato gigantesco, desta vez come-se com mais voracidade do que durante os aperitivos. Terminado o prato, dirige-se à mesa de sobremesas para adoçar o paladar.
A dieta vai para as cucuias.
De modo geral não como muita carne vermelha. Houve épocas em que só comia peixe, frango e mariscos. Mas não resisto a um bom churrasco, igual ao que fui hoje, domingo. O meu prato é sempre alvo de gozações, pelo tamanho, digamos, além do esperado.
Prédio de classe média alta, aniversário de amigos de amigos, lá fui eu. Empresa contratada servindo, tudo no maior conforto, nem sinal de brasas, cinzas e fumaça. Pratinhos saindo com pedaços de carne, calabresa, coração de galinha e pão de alho assado. Cervejas, uísques, vinhos e roskas circulando. Verdadeira esbórnia.
A estratégia de quem oferece churrasco aos convidados é sempre a mesma. Serve-se a própria carne assada, calmamente, em pequenas porções, como se fosse tira-gosto. Quando a gente pensa que não vem mais nada, que já estamos satisfeitos, eis que a mesa de acompanhamentos é posta. Arroz branco, arroz temperado, feijão tropeiro, salada verde, maionese de batata, farofa, molho de pimenta e vinagrete.
Os acompanhamentos do churrasco variam de acordo com a região do país. Na Bahia, não pode faltar a salada de batata com maionese e o feijão tropeiro. Em outros lugares, a ênfase fica com a farofa, com a salada verde e até aipim (macaxeira).
Depois de ver tão bela mesa servida, como resistir? Faz-se um prato gigantesco, desta vez come-se com mais voracidade do que durante os aperitivos. Terminado o prato, dirige-se à mesa de sobremesas para adoçar o paladar.
A dieta vai para as cucuias.
Cinema alternativo
Um fato interessantíssimo durante a festa foi saber que uma amiga que conheço há pouco tempo foi simplesmente namorada de F. Scorpion.
Quem?
Scorpion foi um ator pornô que morreu há pouco mais de um ano, por complicações médicas durante uma cirurgia de lipoaspiração. Ele estava no auge da carreira, aos 35 anos, depois de protagonizar e produzir inúmeros filmes pornôs, nos quais atuava com mulheres e com travestis. Entre os vários títulos, com os quais ganhou muito dinheiro, ele produziu uma sequência de filmes que chegou até ao Scorpion 49.
O destino das pessoas é uma coisa muito interessante. O nome verdadeiro era Flávio. Ele era de família rica, chegou a se formar em engenharia, mas o seu verdadeiro talento não estava nos números. Estava entre as pernas. Ele parece ter iniciado o que hoje soa como um chavão: tatuagem de escorpião e signo astrológico como um símbolo de sexualidade exacerbada.
A minha amiga o conheceu quando os dois eram estudantes de engenharia. Ele tinha parentes aqui em Salvador e eles se conheceram nas férias. Ela chegou a viajar para o Rio e ficar hospedada na bela casa de praia da família dele. A distância acabou encurtando o relacionamento e ela perdeu o contato.
Ela contou que ele sempre foi muito vaidoso, gostava de se depilar, de malhar, de fazer aeróbica. Gostava de posar e ser fotografado. Em uma época em que não era muito comum tanta vaidade masculina.
Tempos depois, ela soube que ele havia mudado de nome e andava fazendo filmes pornôs. Mais adiante veio a notícia do falecimento. As notícias da imprensa diziam que ele era casado com uma atriz pornô. E que nem ele nem ela se incomodavam que os dois atuassem. Mas, o que se conta à boca pequena, é que ele vivia com um travesti.
Pois é, ela conheceu as intimidades de namorar, na época sem imaginar, um futuro e promissor ator pornô. E diz que foi óoootimo, que o homem era um vulcão.
As pessoas têm talentos que até os deuses duvidam.
Quem?
Scorpion foi um ator pornô que morreu há pouco mais de um ano, por complicações médicas durante uma cirurgia de lipoaspiração. Ele estava no auge da carreira, aos 35 anos, depois de protagonizar e produzir inúmeros filmes pornôs, nos quais atuava com mulheres e com travestis. Entre os vários títulos, com os quais ganhou muito dinheiro, ele produziu uma sequência de filmes que chegou até ao Scorpion 49.
O destino das pessoas é uma coisa muito interessante. O nome verdadeiro era Flávio. Ele era de família rica, chegou a se formar em engenharia, mas o seu verdadeiro talento não estava nos números. Estava entre as pernas. Ele parece ter iniciado o que hoje soa como um chavão: tatuagem de escorpião e signo astrológico como um símbolo de sexualidade exacerbada.
A minha amiga o conheceu quando os dois eram estudantes de engenharia. Ele tinha parentes aqui em Salvador e eles se conheceram nas férias. Ela chegou a viajar para o Rio e ficar hospedada na bela casa de praia da família dele. A distância acabou encurtando o relacionamento e ela perdeu o contato.
Ela contou que ele sempre foi muito vaidoso, gostava de se depilar, de malhar, de fazer aeróbica. Gostava de posar e ser fotografado. Em uma época em que não era muito comum tanta vaidade masculina.
Tempos depois, ela soube que ele havia mudado de nome e andava fazendo filmes pornôs. Mais adiante veio a notícia do falecimento. As notícias da imprensa diziam que ele era casado com uma atriz pornô. E que nem ele nem ela se incomodavam que os dois atuassem. Mas, o que se conta à boca pequena, é que ele vivia com um travesti.
Pois é, ela conheceu as intimidades de namorar, na época sem imaginar, um futuro e promissor ator pornô. E diz que foi óoootimo, que o homem era um vulcão.
As pessoas têm talentos que até os deuses duvidam.
9.3.06
Da terrinha
Boa parte da horda de turistas que assolou a cidade no verão já partiu. A filas diminuíram e os camarões voltaram a nadar alegres sobre os acarajés do Rio Vermelho.
W. Moura e L. Ramos fazendo papel de baianos, calmamente curtindo cerveja e acarajés de Cira. Ninguém deu bola. Estavam tão autênticos que não foram reconhecidos.
W. Moura e L. Ramos fazendo papel de baianos, calmamente curtindo cerveja e acarajés de Cira. Ninguém deu bola. Estavam tão autênticos que não foram reconhecidos.
Mudança de nome
Depois que um dos maiores sucessos musicais do verão baiano, o grupo "Afrodisíaco", teve que mudar de nome, não restou alternativa. Virou o "Broxante".
6.3.06
Oscar
Gostei de os prêmios de melhor roteiro original e de melhor montagem terem ido para Crash. O filme é muito bom. J. Wilker disse que é cheio de clichês. Achei o comentário infeliz. A trama é muito bem montada, os detalhes vão se casando. Tudo bem que há situações pouco críveis, como no caso do policial que se transforma de algoz em herói. A mensagem da intolerância racial não é e nunca foi um clichê, não é toda hora que é vista no cinema americano.
Na categoria de melhor filme, eu preferia que Brokeback Mountain tivesse ganho o prêmio. O filme de Ang Lee ficou com melhor direção, roteiro adaptado e trilha sonora. Achei Munique, de Spielberg, desprestigiado. Reese Whitherspoon arrasando. Rica, premiada, bem casada. Ela tá com tudo, hein? Bacana é que ela não é assim um modelo de beleza.
Philipe Seymour mereceu com louvor o prêmio de melhor ator. Apareceu de de cabelos despenteados, bem diferente do seu personagem. Os atores de Brokeback estavam de barba e bigode. Com certeza para dar ar masculino e escapar dos caubóis gays.
Na categoria de melhor filme, eu preferia que Brokeback Mountain tivesse ganho o prêmio. O filme de Ang Lee ficou com melhor direção, roteiro adaptado e trilha sonora. Achei Munique, de Spielberg, desprestigiado. Reese Whitherspoon arrasando. Rica, premiada, bem casada. Ela tá com tudo, hein? Bacana é que ela não é assim um modelo de beleza.
Philipe Seymour mereceu com louvor o prêmio de melhor ator. Apareceu de de cabelos despenteados, bem diferente do seu personagem. Os atores de Brokeback estavam de barba e bigode. Com certeza para dar ar masculino e escapar dos caubóis gays.
3.3.06
Jornalismo sem sangue frio
Capote (Capote, EUA, 2005) retrata o jornalista americano Truman Capote, que escreveu o célebre livro-reportagem “A Sangue Frio”. O filme mostra como foi o processo de confecção do livro, que relata o que levou dois homens ao assassinato de quatro membros de uma família do interior dos Estados Unidos.
As artimanhas inicialmente utilizadas por Truman Capote para realizar o trabalho acabam virando o jogo contra ele próprio. As prorrogações de prazo para a execução dos assassinos, necessárias para a coleta de dados, tornaram-se tortura para o jornalista. A partir de certo ponto, ele precisava que a história se encerrasse, para que pudesse concluir o livro e publicá-lo. O processo durou vários anos. O livro foi um sucesso, é uma referência até hoje, mas fez com que a propensão de Capote para a bebida se agravasse.
Capote serve de espelho para jornalistas. Até onde se deve ir para obter informações? Até que ponto é ético chegar? O que se deve dizer às fontes e o que não se deve?
Os dramas de consciência acabaram por atingir em cheio o jornalista, que, durante o trabalho, passou a se identificar com aquele que se revelou o mais cerebral entre os dois criminosos – e que passou a fazer manipulações emocionais, das quais Capote não escapou.
Desempenho fabuloso de Philipe Seymour (Cold Mountain, Quase Famosos), que já ganhou o Globo de Ouro como melhor ator. Dicção perfeita e expressões faciais marcantes. À primeira vista um homem com disposição frágil e hesitante, talvez amplificada pelos trejeitos afeminados, mas de persistência férrea para a realização daquela que viria a ser a sua obra-prima.
As artimanhas inicialmente utilizadas por Truman Capote para realizar o trabalho acabam virando o jogo contra ele próprio. As prorrogações de prazo para a execução dos assassinos, necessárias para a coleta de dados, tornaram-se tortura para o jornalista. A partir de certo ponto, ele precisava que a história se encerrasse, para que pudesse concluir o livro e publicá-lo. O processo durou vários anos. O livro foi um sucesso, é uma referência até hoje, mas fez com que a propensão de Capote para a bebida se agravasse.
Capote serve de espelho para jornalistas. Até onde se deve ir para obter informações? Até que ponto é ético chegar? O que se deve dizer às fontes e o que não se deve?
Os dramas de consciência acabaram por atingir em cheio o jornalista, que, durante o trabalho, passou a se identificar com aquele que se revelou o mais cerebral entre os dois criminosos – e que passou a fazer manipulações emocionais, das quais Capote não escapou.
Desempenho fabuloso de Philipe Seymour (Cold Mountain, Quase Famosos), que já ganhou o Globo de Ouro como melhor ator. Dicção perfeita e expressões faciais marcantes. À primeira vista um homem com disposição frágil e hesitante, talvez amplificada pelos trejeitos afeminados, mas de persistência férrea para a realização daquela que viria a ser a sua obra-prima.
1.3.06
Cinzas
No último dia do Carnaval 2006, o DJ inglês Fatboy Slim, acompanhado dos brasileiros Patife e Marky, levou o circuito Barra-Ondina ao delírio. Quem imaginaria ver no Carnaval baiano a música eletrônica fazer sucesso? Mudanças. Já pensou se a moda pega e os trios passam a ser animados por artistas de fora?
Se cada vez mais o Carnaval é programado pensando no turismo, outros sons diferentes do axé soam mais familiares e mais fáceis, principalmente entre os estrangeiros. Era figurinha fácil ver os gringos cantando os hits de Mr. Slim.
Outra tendência irreversível é que os trios elétricos se tornaram palcos móveis e gigantes. Foi o que se viu no de Daniela Mercury. Cantora e dançarinas, todas fantasiadas, conduzindo o show. Foi o que se viu no bloco com o DJ inglês.
Achei o Crocodilo e Os Mascarados bem desanimados. A voz de Daniela estava bem reduzida e ela pôs outras pessoas para cantar no trio. Um recurso muito utilizado para economizar as gargantas do axé. Até um desanimado Orlando Moraes se arriscou a cantar. Em Os Mascarados não quase nenhum folião mascarado. A quinta-feira é o melhor dia do bloco.
A rua lotada e a chuva, que este ano felizmente só deu as caras na terça-feira, ajudaram a me trazer para casa mais cedo.
Se cada vez mais o Carnaval é programado pensando no turismo, outros sons diferentes do axé soam mais familiares e mais fáceis, principalmente entre os estrangeiros. Era figurinha fácil ver os gringos cantando os hits de Mr. Slim.
Outra tendência irreversível é que os trios elétricos se tornaram palcos móveis e gigantes. Foi o que se viu no de Daniela Mercury. Cantora e dançarinas, todas fantasiadas, conduzindo o show. Foi o que se viu no bloco com o DJ inglês.
Achei o Crocodilo e Os Mascarados bem desanimados. A voz de Daniela estava bem reduzida e ela pôs outras pessoas para cantar no trio. Um recurso muito utilizado para economizar as gargantas do axé. Até um desanimado Orlando Moraes se arriscou a cantar. Em Os Mascarados não quase nenhum folião mascarado. A quinta-feira é o melhor dia do bloco.
A rua lotada e a chuva, que este ano felizmente só deu as caras na terça-feira, ajudaram a me trazer para casa mais cedo.
27.2.06
Notícias de Carnaval
Os Filhos de Gandhy mudaram de cor. De negros passaram aos brancos-mauricinhos da Barra-Ondina. Incluindo turistas branquelos. O bloco de estivadores agora é de classe média. A imponência ficou mantida. A troca de colares por beijos também. O circuito da Barra ficou salpicado por turbantes coloridos de azul-marinho. Mais importante do que sair no bloco, no circuito do Pelourinho, é desfilar pela Barra com a tradicional vestimenta azul e branco. E ouviu “Olha o Gandhy aí”. E aspergir a alfazema no ar. Ou no pescoço de alguém. A pobre da cultura popular baiana está ficando cerceada pelos camarotes, pelo turismo e seus números milionários.
As cervejarias não se contentam somente em patrocinar os camarotes e trios. Teve uma que lançou o seu próprio bloco, com atrações nacionais e internacionais. Falcão do Rappa comandando a animação. Fãs enlouquecidos. Débora Secco no trio, posando de esposa devotada, low profile, exibindo apliques de dread locks louros, os famigerados bolos de cabelo grudado. Igualzinha ao maridão-rastaman.
Pessoas pagando para brincar no bloco e bancar propaganda para a empresa. Marca exibida pela Tv em todo o país. Uma jogada de mestre. Vale virar “case” de marketing. Não basta ser folião, tem que colaborar com o caixa da empresa.
Camarotes gigantescos com estrutura profissionalíssima. Todos com pista de dança. Em Ondina, um exemplo vivo do que é o Carnaval baiano. Um camarote tocava um som altíssimo que invadia as ruas. E, enquanto os pagantes estavam no maior marasmo, o povo lá embaixo se esbaldava com as músicas tocadas pelo DJ.
Xanddy vestido de gladiador romano, exibindo o regime que teve que fazer durante todo o ano para poder mostrar o físico na avenida. Ele é bom mesmo no pagode. Quando tenta cantar outra coisa, não tem o mínimo jeito. Pessoas que dançam pagode nas ruas parecem ter molas nos quadris. É impressio-nante.
O psicanalista Wilhem Reich, com a sua proposta de libertação das couraças de energia e da revolução sexual, morreria de fome na Bahia. Não teria necessidade de aplicar os seus exercícios para aqueles foliões.
Daniela Mercury filmada por Monique Gardenberg para chegar ao cinema. Crocodilo lotado de foliões e fãs. E ainda com patrocínio do Governo Federal. Isso é que é fazer cultura, nada de teatro ou literatura! Em clima liberal, foliões mostravam para quem quisesse ver o que o que a Globo não quis mostrar na Tv. Até rimou.
Cortejo Afro melhorou bastante o som. A bateria e os cantores conseguiam dialogar. Como de costume, havia presença maciça de estrangeiros. No belo trio estava escrita a mensagem: “Salve as casas de Candomblé”. Não entendi se era uma saudação ou um apelo contra a intolerância religiosa. Ou os dois sentidos. Espirituosamente, os cordeiros, além da numeração, levavam a inscrição “Homens Cordiais” nos coletes. Bloco feito por artistas, com ajuda de antropólogos e sociólogos é assim mesmo. Todo cheio de referências.
As cervejarias não se contentam somente em patrocinar os camarotes e trios. Teve uma que lançou o seu próprio bloco, com atrações nacionais e internacionais. Falcão do Rappa comandando a animação. Fãs enlouquecidos. Débora Secco no trio, posando de esposa devotada, low profile, exibindo apliques de dread locks louros, os famigerados bolos de cabelo grudado. Igualzinha ao maridão-rastaman.
Pessoas pagando para brincar no bloco e bancar propaganda para a empresa. Marca exibida pela Tv em todo o país. Uma jogada de mestre. Vale virar “case” de marketing. Não basta ser folião, tem que colaborar com o caixa da empresa.
Camarotes gigantescos com estrutura profissionalíssima. Todos com pista de dança. Em Ondina, um exemplo vivo do que é o Carnaval baiano. Um camarote tocava um som altíssimo que invadia as ruas. E, enquanto os pagantes estavam no maior marasmo, o povo lá embaixo se esbaldava com as músicas tocadas pelo DJ.
Xanddy vestido de gladiador romano, exibindo o regime que teve que fazer durante todo o ano para poder mostrar o físico na avenida. Ele é bom mesmo no pagode. Quando tenta cantar outra coisa, não tem o mínimo jeito. Pessoas que dançam pagode nas ruas parecem ter molas nos quadris. É impressio-nante.
O psicanalista Wilhem Reich, com a sua proposta de libertação das couraças de energia e da revolução sexual, morreria de fome na Bahia. Não teria necessidade de aplicar os seus exercícios para aqueles foliões.
Daniela Mercury filmada por Monique Gardenberg para chegar ao cinema. Crocodilo lotado de foliões e fãs. E ainda com patrocínio do Governo Federal. Isso é que é fazer cultura, nada de teatro ou literatura! Em clima liberal, foliões mostravam para quem quisesse ver o que o que a Globo não quis mostrar na Tv. Até rimou.
Cortejo Afro melhorou bastante o som. A bateria e os cantores conseguiam dialogar. Como de costume, havia presença maciça de estrangeiros. No belo trio estava escrita a mensagem: “Salve as casas de Candomblé”. Não entendi se era uma saudação ou um apelo contra a intolerância religiosa. Ou os dois sentidos. Espirituosamente, os cordeiros, além da numeração, levavam a inscrição “Homens Cordiais” nos coletes. Bloco feito por artistas, com ajuda de antropólogos e sociólogos é assim mesmo. Todo cheio de referências.
24.2.06
Feijão e folia
Na quinta-feira de Carnaval, a minha amiga E. tradicionalmente oferece aos deuses da folia - e aos amigos - uma feijoada fantástica. A melhor de todas. Digo sem a menor dúvida. A cozinheira dela produz a melhor feijoada que conheço. Leve e de um sabor que se eleva aos céus.
A feijoada dá forças à turma que sai da Vitória e vai acompanhar Margareth Menezes e o bloco Os Mascarados. Algumas pessoas se fantasiaram, a anfitriã e outras amigas foram vestidas de gueixas estilizadas. Interessante que ninguém é pagante do bloco, ficamos todos circulando na pipoca. Muita gente faz isso, pois cada dia fica mais caro pagar para sair dentro das cordas e ainda bancar a fantasia. Este ano o convidado do trio foi Eduardo Dusek que atacou com vários sucessos antigos.
Não adianta a cantora negar: o bloco dela é 100% GLS. Além da turma GL, os demais com certeza são simpatizantes – ou, pelo menos, tolerantes. Caso contrário, não conviveriam bem com as cenas de beijos, abraços e amassos que rolam por ali.
Fora do bloco havia personagens hilários. Havia a “Madre Pinta”, uma homenagem ao padre que anda fazendo sucesso em Salvador. Havia dois rapazes negros fantasiados de fadas, em vestidos cor-de-rosa berrante, com perucas coloridas e de sapatos altos. Eles brincavam com as pessoas que estavam por perto, fazendo um monte palhaçada. Mas a gozação maior foi quando “as fadas” pararam para mijar. Aí elas é que viraram objeto de brincadeira das pessoas que acompanhavam o trio.
Voltei para casa, dia amanhecendo, andando pela Barra. O exército de limpeza montado pela Prefeitura é impressionante. Minutos depois da passagem do último trio elétrico, desembarcam ônibus cheios dos soldados da vassoura e chegam carros-pipa de limpeza para dar banho nas ruas. O cheiro de mijo some.
Pessoas se aninham no Morro do Cristo e na praia para recuperar as forças. Tem gente que dorme por lá mesmo e nem volta para casa. Para economizar a passagem do ônibus.
Depois de tanto pular e andar, ainda tive que subir a pé uma parte da ladeira da Barra, onde ficava o prédio onde o carro estava estacionado. Cansativo, mas valeu. Acordei no início da tarde. Eu hoje, só amanhã.
A feijoada dá forças à turma que sai da Vitória e vai acompanhar Margareth Menezes e o bloco Os Mascarados. Algumas pessoas se fantasiaram, a anfitriã e outras amigas foram vestidas de gueixas estilizadas. Interessante que ninguém é pagante do bloco, ficamos todos circulando na pipoca. Muita gente faz isso, pois cada dia fica mais caro pagar para sair dentro das cordas e ainda bancar a fantasia. Este ano o convidado do trio foi Eduardo Dusek que atacou com vários sucessos antigos.
Não adianta a cantora negar: o bloco dela é 100% GLS. Além da turma GL, os demais com certeza são simpatizantes – ou, pelo menos, tolerantes. Caso contrário, não conviveriam bem com as cenas de beijos, abraços e amassos que rolam por ali.
Fora do bloco havia personagens hilários. Havia a “Madre Pinta”, uma homenagem ao padre que anda fazendo sucesso em Salvador. Havia dois rapazes negros fantasiados de fadas, em vestidos cor-de-rosa berrante, com perucas coloridas e de sapatos altos. Eles brincavam com as pessoas que estavam por perto, fazendo um monte palhaçada. Mas a gozação maior foi quando “as fadas” pararam para mijar. Aí elas é que viraram objeto de brincadeira das pessoas que acompanhavam o trio.
Voltei para casa, dia amanhecendo, andando pela Barra. O exército de limpeza montado pela Prefeitura é impressionante. Minutos depois da passagem do último trio elétrico, desembarcam ônibus cheios dos soldados da vassoura e chegam carros-pipa de limpeza para dar banho nas ruas. O cheiro de mijo some.
Pessoas se aninham no Morro do Cristo e na praia para recuperar as forças. Tem gente que dorme por lá mesmo e nem volta para casa. Para economizar a passagem do ônibus.
Depois de tanto pular e andar, ainda tive que subir a pé uma parte da ladeira da Barra, onde ficava o prédio onde o carro estava estacionado. Cansativo, mas valeu. Acordei no início da tarde. Eu hoje, só amanhã.